O Mundo Material vs. O Mundo das Ideias



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Transcrição:

Meu Grande Modo Grego de Pensar Parte 1 Tim Hegg TorahResource 2006 Todos os direitos reservados Traduzido por Rayssa Natasha B. Mafra ------------------------------------------------------- Uma noite, um capitão de um navio de guerra da Marinha Americana viu uma luz vindo direto em sua direção. Ele avisou adiante: Mude o curso em 20 graus. Então veio a resposta: Aviso que mude o seu curso em 20 graus. O capitão não aceitou a resposta e enviou a mensagem: Eu sou um capitão. Mude o curso em 20 graus. A resposta veio de volta: Eu sou um marinheiro de segunda classe, mude o curso em 20 graus. Nesse momento o capitão estava furioso. Eu sou um navio de batalha!, ele disse, Mude o curso em 20 graus! Para o qual veio a resposta: Eu sou um farol! 1 Claramente, nossas pressuposições governam como nós enxergamos a realidade e as decisões que tomamos a vida. Todos nós temos um conjunto de pressuposições ou o que nós podemos chamar de visão de mundo. Mais frequentemente do que não, nós temos essa visão de mundo desde os nossos primeiros dias, instalada em nós pela nossa sociedade e cultura. Nós passamos pela vida frequentemente despercebidos de que estamos a ver tudo através das lentes coloridas das nossas pressuposições. Apenas quando a verdade revelada de Deus ilumina nossos corações e mentes nós somos capazes de ver as coisas da perspectiva de Deus para ver as coisas como elas realmente são. Na nossa cultura ocidental, as lentes da visão de mundo que usamos derivam primariamente da filosofia grega dos tempos antigos. Mesmo que não saibamos nada sobre os pensadores gregos como Platão e Aristóteles, suas pressuposições filosóficas esculpiram e moldaram a maneira como interpretamos a realidade e particularmente como nós pensamos sabre Deus e Sua atividade no âmbito da história da humanidade. Quando nós lemos a Bíblia com uma mentalidade grega, nós, inevitavelmente, a interpretamos mal, porque os autores humanos das Escrituras eram hebreus e não gregos. A eterna e inspirada Palavra do Todo- Poderoso estão cobertas com a cosmovisão semítica, e não com as vestimentas dos filósofos gregos. É verdade que há áreas em comum entre os dois, mas também há contrastes marcantes. Em muitos casos, as duas cosmovisões são completamente diferentes. O Mundo Material vs. O Mundo das Ideias Platão, que nasceu em 428 AC (cerca de 60 anos depois da história de Ester), viveu em Atenas onde fundou uma Academia. Lá ele ensinou os fundamentos da sua filosofia idealística, o que cativou, em grande escala, as mentes do seu mundo e do nosso. Platão acreditava que a realidade existia no domínio das ideias, não no mundo material. Para ilustrar essa doutrina principal de sua filosofia, ele ofereceu a analogia da caverna. Considere uma caverna, escavada fundo dentro de um dos lados de uma montanha. Conforme o buraco da caverna avança, ele se abre em um largo espaço onde escravos, sentados no chão, estão emprisionados com cadeias. Acima deles, em uma reentrância, estão manipuladores de marionetes se esquentando ao fogo. Conforme a luz do fogo brilha, ela leva sombras das marionetes na última parede da caverna. Os que estão emprisionados veem as sombras na parede e acreditam que essas são reais. Mas, obviamente, elas não são. São apenas sombras. Apenas ao se libertarem de suas cadeias, se virando e escalando de volta de dentro da caverna para fora, as pessoas são capazes de ver a luz e perceber que o que eles primeiro acharam que era realidade, em fato são apenas sombras. Na parábola de Platão, a caverna representa o mundo físico. Aqueles emprisionados na caverna escura são as deseducadas massas da humanidade. Os manipuladores de marionetes representam o mundo das ideias, conceitos e formas, enquanto que a luz do fogo é o conceito de Platão de uma força impessoal (o Demiurgo) que projeta as ideias, conceitos e formas sobre o mundo criado. Para Platão, então, o domínio da realidade e verdade existem na forma ou ideia da coisa em vez de na própria coisa. Para ele, o que nós experimentamos através dos nossos sentidos no mundo físico são apenas sombras da realidade. Portanto, verdade é obtida através do exercício 1

intelectual da filosofia pelo qual ideias adicionais e conceitos são descobertos. Dessa forma, o mundo da nossa existência é dualístico. O mundo material não tem sentido essencial em e de si mesmo. Apenas a forma ou ideia dão sentido. Se a pessoa quer ter verdadeiro conhecimento, então, ele tem que encontra-lo em sua mente, não no mundo no qual ela vive. Tal dualismo Platônico entrou na teologia da Igreja Cristã emergente de várias maneiras. Primeiro, como a Igreja Cristã se separou da sinagoga, ela naturalmente procurou por líderes entre os homens educados, a maioria dos quais haviam sido educados nas academias gregas. Os Pais gregos da Igreja primitiva trouxeram com eles a cosmovisão grega não qual eles foram treinados. Talvez isto é visto na maioria da hermenêutica alegórica com o qual a maioria deles leem as Escrituras. Além do mais, o aumento do Gnosticismo na primitiva Igreja Cristã é diretamente ligado a cosmovisão Platônica. Segundo, Agostinho (345 430 DC), que se tornou um dos teólogos mais proeminentes da Igreja Cristã do quarto século, era um estudante e reconhecido proponente da filosofia de Platão antes de se converter. Após sua conversão ao Cristianismo, ele procurou mostrar como a filosofia Platônica era essencialmente correta, e como ela compreendia a essência da verdade bíblica. Dizendo em como o pai de Ambrósio tinha afirmado isso no início de sua carreira teológica, Agostinho escreveu:... ele me congratulou porque eu não ido com os escritos de outros filósofos, cheios de erros e enganos de acordo com os elementos desse mundo, mas sim nos trabalhos dos plantonistas Deus e Seu mundo são introduzidos em todas as maneiras. 2 Agostinho é considerado um dos principais pilares do pensamento cristão, ficando entre Paulo e Lutero 3. Como tal, sua influência sobre o pensamento cristão e particularmente suas interpretações das epístolas de Paulo através da peneira da filosofia platônica permaneceu bem estabelecida no cristianismo hoje. Em contraste à cosmovisão grega, a perspectiva hebreia era unifica em vez de dualística. O universo criado, que consiste de ambos domínios: visível e invisível, são um todo unificado. Realidade existe em ambos os domínios, e uma não é melhor do que a outra. Quando Deus criou o mundo no qual vivemos, Ele declarou que era bom, e assim o mundo físico não é primariamente mal ou, de alguma forma, inferior ao mundo imaterial. Idéias ou ideais não tem valor ao menos que, na verdade, eles venham a ser reais no mundo físico. Enquanto o pensamento platônico ensina que é a intenção que conta, Deus nos diz que é o mitzvah que conta. Certamente, a motivação correta é importante na obediência à Deus, mas boas intenções não são o suficiente. Não é difícil ver como a cosmovisão dualística grega se tornou a norma em muito do cristianismo ocidental. Um dos aspectos mais importantes é a noção de que a fé verdadeira existe no domínio das ideais em concordar intelectualmente com uma lista de doutrinas ou um credo da Igreja. Fé é vista como um assunto privado que toma o lugar no coração ou mente de alguém e, portanto, não pode ser julgada. Muitos podem argumentar que Paulo afirma tal definição de fé quando ele escreve: Se, com tua boca confessares Yeshua como Senhor e, em seu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. (Romanos 10:9) Mas Paulo não está escrevendo de uma perspectiva dualística, como se a confissão e crença de alguém pudesse ser divorciada de suas ações. Confessar Yeshua como Senhor significa que a pessoa está pronta e determinada a obedecê-lo como Senhor. Além disso, o verso dez explica que tal confissão e crença resulta em justiça, o que, no contexto, certamente significa viver piedosamente assim como ser justo diante na corte de justiça de Deus. Uma pessoa pensar que ele ou ela pode obedecer a Deus em meu coração sem demonstrar uma vida em conformidade aos mandamentos de Deus é perder completamente o que Paulo quer dizer. Na verdade, os capítulos 6 e 7 de Romanos tratam principalmente de como a fé genuína resulta em uma mudança radical nas ações de uma pessoa. E Paulo escreve anteriormente em Romanos: Porque os simples ouvidores da Torá não são justos diante de Deus, mas os que praticam a Torá hão de ser justificados. (Romanos 2:13) 2

Por esse texto, Paulo não está sugerindo que alguém pode alcançar a justificação diante de Deus através de boas obras. O que ele está ensinando é que aqueles que são justificados (justos) aos olhos de Deus irão, inevitavelmente, demonstrar essa justiça na maneira em que obedecem a Deus. Paulo claramente concorda com Tiago: fé sem obras é morta (Tiago 2:26). De fato, fé morta não é fé de maneira alguma. A cosmovisão grega que dominou o cristianismo primitivo e continua bem fundamentado na Igreja hoje é também responsável pelo método alegórico de interpretação da Bíblia. Um dos assuntos mais batidos na Igreja grega primitiva era a maneira em que a Torá parecia sempre lidar com os aspectos mundanos da vida terrena. Certamente, eles raciocinaram, Deus não poderia estar tão preocupado com comida, roupas, doenças de pele, a maneira como os animais são tratados, latrinas e coisas como essas! Desde que, para eles, o domínio das ideias era o que realmente contava, eles raciocinaram que as leis e instruções da Torá lidando com assuntos físicos do dia-a-dia deveria ter um mais sentido mais profundo, espiritual. E como, para eles, o espiritual significava não-físico, eles procuraram interpretar a Torá e outras Escrituras alegoricamente para descobrir o verdadeiro sentido espiritual para a alma. Portanto, as leis alimentares foram relacionadas com a companhia que a pessoa mantém, as roupas tinham a ver com ser vestido com a justiça de Cristo, as leis sobre as doenças de pele tinham o seu sentido verdadeiro em combater o pecado, as leis sobre os animais realmente significavam sobre como devemos tratar uns aos outros, e cavar uma latrina fora do acampamento foi dado para ensinar que nós deveríamos nos separar do mundo e suas sujeiras. Dessa forma, eles poderiam se sentir confiante de que estavam obedecendo a Deus enquanto ao mesmo tempo desprezando o sentido literal do texto. Afinal de contas, o real significado do texto era o sentido profundo espiritual, que tinha relevância para o seu próprio interior, não o físico dessa pessoa, sua existência mundana. Da mesma forma é fácil de entender, uma vez que nós percebemos a cosmovisão da qual essa teologia e hermenêutica vieram, como a Igreja frequentemente apontava um dedo acusador para a comunidade judaica, dizendo que eles estavam encadeados à sua obediência inferior à letra da Torá. Lendo Paulo com uma mente grega, a letra mata, mas o espírito vivifica (2Coríntios 3:6) reforçou sua visão platônica. À Igreja, no que lhe dizia a respeito, os judeus eram como os prisioneiros encadeados na caverna de Platão, pensando que eles viam a realidade enquanto de fato o que eles viam eram apenas sombras na parede. Essa hermenêutica alegórica deu lugar a uma outra significativa e devastadora teologia na Igreja Cristã. Raciocinando que Deus não poderia estar assim tão preocupado com uma nação física como Israel, a Igreja ensinou a substituição de Israel com um reino espiritual de crentes. Deus lidando com os descendentes físicos de Jacó era, portanto, considerado como apenas um precursor da realidade mais importante Sua aliança eterna com um povo espiritual, a Igreja. Em seu centro, a Teologia da Substituição ou Supersessionismo é construída sobre uma cosmovisão grega que deprecia o mundo físico ao elevar o domínio não-físico das ideias. Maturidade teológica é marcada por deixar o mundo mundano dos eventos do dia-a-dia para o mundo celestial de truísmos teológicos. Tal perspectiva deu lugar a crença de que o profetas de Israel não prometeram o reino milenar do Messias em um Templo restaurado em Jerusalém. Compreendendo alegoricamente os profetas, o Templo futuro é interpretado como sendo a Igreja com o Messias reinando do céu. Até mesmo hoje, Amilenarismo é um ensino bem estabelecido em muitas denominações Cristãs principais. A cosmovisão hebreia, contudo, nunca considerou o mundo físico como inferior ao domínio não-físico, nem eleva as ideias sobre as ações. O mundo físico foi dotado com as bênçãos de Deus na criação, e tais bênçãos permanecem mesmo que com a entrada do pecado, a criação geme por redenção (Romanos 8:22). Desfrutar do que Deus criou é, portanto, um empreendimento espiritual, e deveria ser feito com um coração de gratidão e bênçãos à Ele. Ele nos deu todas as coisas boas para contentamento (1 Timóteo 6:17), por isso é que, de uma perspectiva rabínica, existe uma benção para todas as coisas. Em tudo dê graças (1 Tessalonicenses 5:18). Além disso, não existe nada neutro no nosso mundo, uma parte como que secular em nossas vidas que não é nem sagrada ou profana. Em vez disso, tudo em nosso mundo é ou boa (e portanto pode santificar a Deus) ou má: Detestai o mal, apegando-vos ao 3

bem (Romanos 12:9). Dessa forma, nosso trabalho, nossa recreação, nossos hobbies, assim como nosso tempo de oração em conjunto e individual e adoração todos aspectos de nossas vidas são para serem santificados à Deus como o meio pelo qual nós O glorificamos (1 Coríntios 10:31). Como a Torá nos ensina: guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele voa achegareis. (Deuteronômio 13:4). Lógica Linear vs. Lógica de Blocos Na filosofia platônica da Grécia antiga, verdade existiam como fatos brutos, o que significa que fatos eram considerados com existência própria, independentes de qualquer fonte. Em contraste com as Escrituras que claramente define Deus como a fonte de toda a verdade, e o temor ao Senhor como o princípio da sabedoria do homem e conhecimento (Provérbios 1:7, 9:10), para os gregos, conhecimento e verdade eram disponíveis para qualquer um que os perseguissem intelectualmente. Além disso, uma vez que a verdade era considerada com existência própria, ela era vista como um corpo de fatos coerentes perfeitamente amarrados juntos em uma sequência lógica. Tal integração lógica de toda a verdade produziam uma Lógica Linear. Ela pode ser ilustrada pelo que chamamos de efeito dominó. Considere um círculo de dominós colocados em pé de forma que quando um deles é derrubado todos do círculo caem. Na lógica grega, todos os fatos estão conectados. Portanto, se alguém chega ao fato A, esse o leva inevitavelmente ao fato B, que leva ao fato C, e assim por diante. O sistema todo falha, contudo, se o que parece com um fato oferece uma clara contradição a outros fatos. Em tal caso, ou o fato fora-de-lugar é considerado como irreal ou não-verdadeiro, ou o fato fora-de-lugar demonstra que o próprio sistema é falho. Deixe-me ilustrar com vários exemplos teológicos. As Escrituras ensinam que Deus tem ordenado todas as coisas (Romanos 8:28; 11:36; etc.). As Escrituras também ensinam que a oração pode mudar as coisas (Mateus 7:7; Tiago 4:2). Na lógica linear grega, esses dois fatos aparentemente contraditórios não podem existir em um sistema unificado de verdade. Um deles tem que ser falso. É nesse tipo de lógica linear que dá lugar a sistemas teológicos competidores, um no qual as pessoas acreditam que Deus ordena todas as coisas e no qual, portanto, procura diminuir a eficácia da oração, e a outra, onde a ordenação soberana dos eventos por Deus é negada e a oração é enfatizada como o meio para mudar o nosso mundo. Um outro exemplo pode ser visto na revelação de Deus ao homem. As Escrituras ensinam que Deus é um espírito invisível e que ninguém pode vê-lo (João 1:18; 4:24; 1 Tomóteo 1:17). Contudo, em Êxodo 24:9-10 o texto claramente afirma que Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e 70 anciões de Israel viram o deus de Israel. Ainda mais, Gênesis 18:1 diz que Adonai apareceu a Abraão. E Yeshua ensinou, Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus (Mateus 5:8). Novamente, com a mentalidade grega, tais fatos dispersantes precisam ser reconciliados eles não podem coexistir no unificado sistema de teologia. Portanto, várias explanações têm sido oferecidas para explicar um lado ou o outro. Muitos outros exemplos como esse podem ser oferecidos. Mas o fato mais óbvio a observar é que apesar dos autores bíblicos, com certeza, deveriam estar a par de tais aparentes contradições, eles nunca ofereceram uma explicação que poderia reconciliar tais diferenças. Certamente João sabia a Torá e conhecia a história de Deus aparecendo a Abraão (Gênesis 18:1). Ele dever ter lido Êxodo 24:9-10 muitas vezes, e ainda assim ele escreve que nenhum homem jamais viu a Deus (João 1:18) e não dá nenhuma explicação posterior para como as suas palavras podem ser reconciliadas com aquelas da Torá. A razão que os autores bíblicos não dão explicação alguma para o que nos parece como contradições é porque eles não sentiram necessidade de fazer tais explicações. Eles não estavam operando com a mentalidade grega da lógica linear. Em vez disso, começando com a premissa que toda a verdade é revelada por Deus, eles prontamente aceitaram o fato de que na mente de Deus, toda verdade era coerente e unificada, ainda que, no entendimento finito do homem, verdade inevitavelmente conteria mistérios além do nosso entendimento. Moisés escreveu: 4

As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta Torá. (Deuteronômio 29:29) De mesma forma, Salomão nos ensina: Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim. (Eclesiastes 3:11) Isso quer dizer que o homem, criado à imagem de Deus, tem o inato senso de eternidade, que tudo, de alguma forma, se encaixa. Contudo, tentando juntar todas as peças, ele, inevitavelmente, vem ao seu próprio fim sem ser capaz de completar todo o quebra-cabeça. Sendo esse o caso, apenas duas opções válidas se apresentam: resignação ao desespero de sua própria incapacidade, ou fé no Deus de Israel que, somente Ele, sabe todas as coisas. Salomão claramente opta pela última opção, porque ele termina Eclesiastes admoestando todos a temer a Deus e guardar os Seus mandamentos (Eclesiastes 12:13). Ele afirma o reinado de Deus apesar de muitas aparentes contradições sobre os quais ele escreve. Nós entendemos, então, o que ele quer dizer com O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Provérbios 1:7). A procura do conhecimento será fútil se a pessoa não está pronta, desde o princípio, a reconhecer suas próprias limitações e uma prontidão a confiar em Deus para o que ele não pode explicar. A epistemologia hebreia, então, começa por admitir que o conhecimento do homem irá sempre falhar em produzir um sistema de verdade inteiramente coerente. Em vez de forçar todos os fatos em uma sequência linear de lógica, os escritores bíblicos afirmam a tensão de viver com verdade que parecem ser contraditórias. Marvin Wilson o chama de lógica em blocos, com o qual ele quer dizer que conceitos eram expressos em unidades contentoras próprias ou blocos de pensamento. 4 Ao invés de uma lógica linear na qual deve prosseguir em uma única linha desde as premissas até a conclusão (a ilustração do dominó), os hebreus reconheciam que a realidade entendida do ponto de vista de Deus (e revelada nas Escrituras) pode aparecer como contraditória a essa mesma realidade vista pela perspectiva limitada da mente humana. Todos os fatos em um dado bloco são coerentes, mas um bloco de fatos pode apresentar paradoxos e aparente contradições com outro bloco. Em fato, reconhecer e afirmar a sabedoria infinita de Deus (Romanos 11:33; Isaías 40:13) pressupões e afirma o conhecimento finito do homem. Isso não significa que deixamos de tentar oferecer uma explanação lógica às aparentes contradições que podem aparecer na Bíblia, nem que nós evitamos o trabalho duro dos estudiosos por simplesmente rotular todas as dificuldades como mistérios inexplicáveis. Do contrário, nós deveríamos fazer tudo em nosso poder para mostrar como a verdade revelada de Deus se encaixa harmoniosamente, e também reconhecendo que em alguns casos nenhuma explicação satisfatória será encontrada e que a nossa habilidade para receber o que as Escrituras dizem vem da nossa fé, não das nossas habilidades intelectuais para derivar uma lógica coerente. 5 Isso não é mais aparente em nenhum outro do que no mistério da encarnação. Incapaz de descansar no inexplicável mistério do Emanuel (Deus conosco), os gregos e latinos pais da Igreja formularam um sistema de lógica linear para explicar a encarnação enquanto os seus oponentes utilizaram o mesmo tipo de lógica para prova-los em erro. A mesma batalha teológica sobre a encarnação continua hoje, e frequentemente ambos os lados do debate recorrem à lógica linear para provar suas posições. Em contraste, João afirma a encarnação sem a necessidade de providenciar um sistema coerente de lógica para provar. Ele simplesmente diz que a Palavra era Deus e que a Palavra se tornou carne e habitou entre nós (João 1:1, 14). E claramente, para João, a Palavra é Yeshua. Ele afirma a verdade absoluta do Deus conosco mas deixa isso como um mistério explicável apenas na mente de Deus. E Paulo concorda: Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória. (1 Timóteo 3:16) O Que Isso Significa Para Nós 5

Despir-nos da mentalidade grega que caracteriza nossa cultura ocidental é uma tarefa difícil mas necessária se nós esperamos compreender as Escrituras em seus próprios termos. Como Wilson observa: É particularmente difícil para ocidentais aqueles cujos padrões de ensino foram influenciados mais pelos gregos e romanos que pelos hebreus de apanhar a lógica em blocos das Escrituras. Quando nós abrimos a Bíblia, portanto, uma vez que não somos orientais, nós somos convidados, como Robert Martin-Achard diz, à nos submeter a um tipo de conversão intelectual ao mundo hebreu do oriente. 6 Certamente, se nós falhamos em ler as Escrituras de sua perspectiva hebreia na qual foi escrita, nós vamos inevitavelmente mal interpretá-la pela importação do dualismo grego e contornando o texto sagrado dentro de um sistema de lógica linear. Nossas teologias sistemáticas, caprichosamente empacotado na lógica linear, predetermina como nós interpretamos as Escrituras quando o contrário é o que deveria acontecer: o texto sagrado deveria determinar a nossa teologia. É fácil de ver, então, que enquanto desejamos retornar à perspectiva da Torá, é necessário que nós abandonemos nossa cosmovisão grega e procuremos ler e entender a Bíblia a partir da mentalidade hebreia na qual ela foi escrita. Na parte dois desse artigo, nós vamos explorar como a cosmovisão grega afetou o entendimento da Igreja do Evangelho, o processo de santificação, e o mundo por vir. 1 2 3 4 5 6 Citado da Christian Overman, Assumptions that Affect Our Lives (Ablaze Pu., 1989), p. 15. Confissões, 8.2. B. B. Warfield, The Works of Benjamin B. Warfield. vol. 10.: Studies in Turtullian and Augustine (Oxford, 1932 [reimpresso por Hendrickson Pub, 2003]), 4.265. Marvin Wilson, Our Father Abraham (Eerdmans, 1989), p. 150. Isso não está a sugerir que nossa fé é carente de intelecto, mas está a sugerir que confiar que as Escrituras são a verdadeira revelação de Deus é ima epistemologia superior que o empirismo ou o racionalismo. Hebreus 11:1 ensina que fé compreende realidade (hupostasis) e apresenta evidência (elegxos) para o que não se vê. Aceitar como verdadeiro os mistérios de Deus no qual nem o empirismo ou o racionalismo podem explicar não é um salto no escuro sem inteligência. É repousar sobre a verdade revelada que apenas a fé pode compreender. Marvin Wilson, Our Father Abraham, p. 150. 6