COMPENSAÇÃO Fundamentação: artigo 368 a 380 do Código Civil. Ex.: Antônio comprou um livro de Direito Penal por R$2,00, vendido por Maria. Porém, Maria tinha uma dívida com Antônio no valor de R$100,00 pela compra de um livro de Direito Civil. Desta forma, houve a compensação extinção da dívida do Antônio, perante a Maria, tendo em vista o instituto da COMPENSAÇÃO. Definição: Ocorre a compensação quando duas ou mais pessoas forem ao mesmo tempo credores e devedores umas das outras, extinguindo-se as obrigações até o ponto em que se encontrarem, onde se equivalerem (Art. 368, C.C.). Base deste instituto: Princípio da Economia ESPÉCIES I - Compensação Legal (Art. 369, C.C.) Reciprocidade de Débitos: as partes são igualmente: credoras e devedoras Líquidas: valor determinado (objeto) e certeza (existência) Vencidas: aquelas que podem ser cobradas (exigibilidade atual da demanda) Idoneidade na Obrigação: Art. 186/186 C.C. Fungíveis: coisas que podem ser substituídas (Art. 85, C.C.)
Segundo Silvio Rodrigues (Direito Civil, 2002, p. 212) É irrelevante o problema da capacidade das partes nos casos de compensação legal, haverá o efeito retroativo e que beneficia inclusive as obrigações acessórias do débito. Art. 741,VI, CPC o juiz apenas reconhece a configuração da compensação legal, sendo que não pode ser de ofício (Execução Aparelhada citada no artigo: é o crédito com condições de ser exigido execultivamente, sendo que este título independe de sentença prévia). II Compensação Convencionada (Art. 369 e 375, C.C.) Quando houver um acordo de vontade entre as partes; Aplicam-se os requisitos da compensação legal, apenas na medida do possível; III Compensação Judicial Ocorre por meio de decisão judicial que reconhece no processo o fenômeno da extinção obrigacional; A compensação judicial pode ter origem na convencional ou legal; Para parte da doutrina esta espécie não existe, pois o juiz decide conforme a lei. Portanto, ela seria legal; Geralmente a compensação em Juízo é realizada via reconvenção (Art. 315, C.P.C.) Princípio da Uniformidade/Fungibilidade Total: Embora do mesmo gênero, as coisas fungíveis, não se compensarão nos casos em que diferem na qualidade, quando especificada no contrato (art. 370, C.C.). Ex.: Antônio comprou um livro de Direito Penal por R$2,00, vendido por Maria. Entretanto, neste contrato de compra e venda, Maria e Antônio fixaram cláusula no
contrato que só poderia ser compensado este valor se a nova dívida fosse exatamente do mesmo valor de R$2,00. Quanto aos Prazos de Favor: São aqueles concedidos graciosamente pelo credor, não obstam a compensação. Princípio da Boa-fé Objetiva (Art. 372, CC): não poderá o devedor valer-se da graça para afastar a compensação Ex.: Antônio devedor, vencido sua dívida, requer um prazo de moratória de mais três meses para Maria. Neste período, Maria contrai uma dívida com Antônio, porém, maliciosamente, Antônio cobra de Maria falando que não pode ocorrer a compensação alegando o prazo de favor concedido pela Malu - Estamos diante da Regra de Ouro que prevê: não faça contra o outro o que você não faria contra si mesmo. Dívidas Pagáveis em Lugares Diferentes: Estas não poderão ser compensadas sem a dedução das despesas necessárias à operação, sendo que as partes podem convencionalmente dividir as despesas entre os sujeitos (Art. 378, CC). Este dispositivo visa evitar o enriquecimento sem causa. Da Compensação e Imputação em Pagamento C.C. - Art. 379 Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento C.C. - Art. 352 - A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos
Regra da Imputação: Declaração 1ª do Devedor; (silêncio) Declaração 2º do Credor; (silêncio) 3º a lei decidirá (Imputação Legal - seguinte ordem: juros vencidos e depois as dividas principais; dívida que venceu em primeiro lugar; dívida mais onerosa; maior taxa de juros). TERCEIROS Compensação por Terceiro O terceiro não pode compensar a dívida existente entre devedor e credor (Art. 376, C.C.) Salvo: Fiador - Este poderá compensar sua dívida com a do credor da dívida originária. Portanto, parte da doutrina apresenta este artigo como a comprovação da não existência da Teoria Dualista nos casos da fiança (Art. 371, C.C.). Para Maria Helena Diniz: trata-se de exceção à reciprocidade das dívidas, sendo assegurado ao fiador o direito de regresso contra o devedor principal (Código Civil, 2010, p. 365-366). Não se Admite a Compensação em prejuízo de Direito de Terceiro Trata-se da proteção da boa-fé objetiva (Art. 380, C.C.) Ex.: Maria comprou uma casa (situada em Florianópolis) de Antônio, no valor de R$100.000,00. Poucos dias depois, Maria sofreu uma execução de uma ação indenizatória de Danos Morais, sendo que o tramite desta execução resultou na penhora de seu imóvel do Rio de Janeiro RJ (o único que ficava naquele estado). Porém, passados poucos dias, Maria vendeu para Antônio seu carro no valor de R$100.000,00, neste negócio ficou acertado que haveria a compensação das dívidas
com a entrega da casa (do Rio de Janeiro RJ) pertencente á Malu para Antônio - (esta hipótese não poderá haver a compensação). Cessão de Crédito à Terceiros O credor poderá ceder seu crédito para um terceiro (Cessão de Crédito), mas precisa notificar ao devedor primeiro para o caso de oposição. Neste caso, caso não se manifeste contrário, não poderá opor ao cessionário (terceiro) a compensação, que antes da cessão poderia opor ao cedente (credor originário), conforme previsto no Art. 377, C.C.. DOS IMPEDIMENTOS E EXCLUDENTES Causas Impeditivas de Compensação: - Previstas no Art. 373, e incisos, C.C. a) Esbulho : é a retirada forçada do bem de seu possuidor, que pode se dar violentamente ou clandestinamente (Ex.: Art. 1224, CC). b) Furto: Art. 155, CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel ; c) Roubo : Art. 157, CP subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzindo à impossibilidade de resistência ; d) Originar-se do Comodato: empréstimo gratuito de coisas infungíveis (Art. 579 e seguintes, CC); e) Originar-se do Depósito: depósito a título gratuito ou oneroso em que uma parte confia a guarda do objeto móvel (Art. 627 e seguintes, CC); f) Originar-se de Dívidas Alimentares: por envolverem direitos da personalidade (Ex.: art. 1.707, CC);
g) Bens Impenhoráveis: salário, livros, vestuário, etc. (Art. 649, incisos e parágrafos, CPC). Cláusula Excludente e Cláusula que Possibilite a Renuncia da Compensação Baseado nos Princípios da Autonomia Privada e da Liberdade Contratual (Art. 375, CC) 1ª) Corrente Proibido Esta Cláusula Quando as Partes Forem Assimétricas - Judith Martins Costa Por consequência, também aqui opera a tutela da confiança, por forma a obstar a renuncia quando venha em prejuízo de direitos de terceiros ou, no caso de assimetria substancial entre as partes (como ocorre na relação de consumo, por expressa estatuição legal CDC, art. 4º, inciso I), quando venha a prejudicar os legítimos interessados da parte considerada vulnerável e, portanto, merecedora de uma especial tutela jurídica (Comentários ao Novo Código Civil, 2003, p. 625). Ex.: contratos de adesão Art. 424, CC 2ª) Corrente Proibido esta Cláusula em Compensação Legal - Flávio Tartuce (...) aponta que a compensação legal, principalmente se ocorre no âmbito judicial, envolve matéria de ordem pública (pela relação com o princípio da economia), não havendo validade das ditas cláusulas de exclusão e renuncia (Direito Civil, 2013, p. 177) 3ª) Corrente Permitido em Todos os Casos - Caio Mário da Silva Pereira não sendo, como não é, de ordem pública, afasta-se a compensação pela renuncia prévia de um dos devedores ou após a coincidência das dívidas (Instituições de Direito Civil, 2004, p. 262)
Fundamentado no Princípio do Pacta Sunt Servanda O contrato faz lei entre as partes. Ele considera uma norma de ordem meramente privada. DA COMPENSAÇÃO DE DÍVIDA FISCAL Quanto a Compensação de Dívida Fiscal? A Medida Provisória nº 104/2003, depois convertida em Lei 10.677/2003, revogou o Art. 374, CC que previa a matéria da compensação, no que concerne às dívidas fiscais e parafiscais, é regida pelo disposto neste capítulo. 1ª) Corrente: Intuito Político da Revogação - STJ Corrente majoritária pelos tribunais (Ex.: REsp. 1.025.992/2008-SC). Porém, não comentam sobre o efeito represtinatório. Efeito Represtinatório: é a possibilidade do retorno de uma lei revogada (CC/1916), com a revogação (pela Lei 10.677/2003) da sua revogadora (CC/2002). 2ª) Corrente: Impossibilidade do Efeito Represtinatório (Mário Luiz Delgado, Nelson Nery Jr. Direito Tributário) É possível aplicar a compensação prevista no Código Civil às dívidas fiscais, pois a compensação era vedada pelo artigo 1.017 do CC/1916 (revogado pelo CC/2002), salvo nos casos previstos em lei. Fundamentos: Art. 2º, 3º, LINDB Inconstitucionalidade desta revogação pela Medida Provisória 104/2003, tendo em vista sua origem (Poder Executivo).
QUESTÕES 1º) A empresa de Antônio vendeu um carro (Corsa) para Maria no valor de R$20.000,00 (com taxa de juros de 0,25% ao mês) no dia 1ª de janeiro do corrente ano, mas fixou o pagamento em uma única parcela para julho do mesmo ano. No mês de março, a mesma empresa de Antônio vendeu mais dois carros para Maria, um (Fusca) no valor de R$10.000,00 (com juros de 1,00% ao mês), e uma (BMW) no valor de R$100.000,00 (taxa de juros de 0,10% ao mês), ambos os carros devem ser pagos em dezembro do mesmo ano. Neste caso, não havia especificado a forma de pagamento desta dívida (se presencialmente, ou depósito em conta). Assim, no dia 10 de setembro do mesmo ano, Maria efetuou um depósito na conta da empresa de Antônio no valor de R$40.000,00, mas não avisou nada para Antônio. Passados três meses, Antônio também não comentou nada. Desta forma, com o falecimento de Antônio em novembro do mesmo ano, ciente que sua filha assumiu a empresa, mas está em dúvida se houve pagamento de todos os carros, responda. Questão: a) houve pagamento dos carros?; b) Se houve: qual seria esta forma de pagamento (especifique)?; c) Se houve: quais (ou qual) carros foram pagos (especifique)? Justifique e fundamente sua resposta. 2ª) Há dez anos, Antônio reside no Condomínio Infiltralópolis. Porém, passados dois anos sem pagar o condomínio, o mesmo acabou recebendo uma notificação de cobrança. Furioso, o mesmo enviou um email para a administradora do condomínio com os seguintes dizeres: eu realmente devo estes dez R$2.400,00. Porém, meu apartamento está cheio de infiltrações, por culpa de um cano do condomínio que estourou e ocasionou esta depreciação de grande monta, pois todos os cômodos estão com as paredes infiltradas. Neste caso, o condomínio não aceitou e propôs uma ação de cobrança. Desta forma, em contestação Antônio propôs que houvesse a compensação, tendo em vista a infiltração do seu apartamento que cada vez mais piora, sendo que agora todo o piso está soltando devida esta infiltração. Questão: Diante dos fatos narrados acima, caso você fosse o juiz desta ação, qual seria sua decisão: a) diante do pedido de Compensação de Antônio? b) Caso julgue procedente o pedido de compensação, qual seria a espécie? Justifique e fundamente.