SENHORES ILUSTRES CONSÓCIOS DA COMISSÃO DE DIREITO DO TRABALHO. Tive a honra de receber a indicação para emitir opinião jurídica sobre o conteúdo do Projeto de Lei n" 1.429/2011 de autoria do Deputado Antônio Roberto (PV -MG). o referido PL restringe o monitoramento de correspondência eletrônica pelo empregador público ou privado, admitindo-o nos casos de e-mail corporativo desde que haja prévia e expressa manifestação do empregado quanto a possibilidade do monitoramento. Estipula ainda como infração por seu descumprimento a reparação por dano moral sem prejuízo de apuração de eventuais danos materiais causados ao empregado pelo indevido monitoramento. 2 o referido PL tem o seguinte texto: ******************** o Congresso Nacional decreta: Art. 1 Esta Lei dispõe sobre restrições ao monitoramento de correspondência eletrônica por parte do empregador. Art. 2 É proibido o monitoramento de correspondência eletrônica dos empregados, por parte do empregador, seja do setor público como da iniciativa privada, salvo no caso de endereço eletrônico corporativo mantido pelo empregador e quando houver prévia e expressa manifestação quanto à possibilidade de seu monitoramento. Art. 3 A infração ao disposto no artigo anterior implica dano moral por parte do empregador, sem prejuízo de eventuais danos materiais decorrentes da ação de monitoramento. Art. 4 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. ********************
Atualmente se encontra na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP) tendo recebido proposição de emendas e substitutivos, nomeadamente a apresentação do Substituto do Dep. Chico Lopes (PC do B/Ceará) que será objeto de minha opinião também. É louvável a iniciativa legislativa sobre tema de suma importância as relações de trabalho razão pela qual opino pela aprovação do projeto de lei com algumas sugestões de alteração do seu conteúdo, inclusive, encampadas pelo parecer do Dep. Chico Lopes. A primeira sugestão de alteração reside na ressalva contida no PL de prévia e expressa autorização do empregador do monitoramento. Penso, todavia, não ser adequado exigrr que o empregador obtenha expressa autorização do empregado para monitorar e-mails corporativos.' É de conhecimento comum que o e-mail corporativo nada mais é do que uma ferramenta de trabalho, de propriedade da empresa, fomecida ao empregado para que as tarefas que lhe foram confiadas sejam realizadas. E nem mesmo a existência de senha pessoal do empregado para acesso a essa ferramenta poderia transmudar sua natureza visto que referida senha (concedida pelo empregador) tem como função precípua proteger os interesses do interessado final no conteúdo do e-mail: a própria corporação.? 3 1 Não ingressarei na seara do e-mail pessoal porque referido PL não versa sobre isso, mas tenho ponto de vista firmado e consolidado que o empregador também pode estabelecer, através do exercício do seu poder regulamentar, limites quanto ao uso do computador da empresa para a utilização do e-mail pessoal quando acessado, por exemplo, em horário de trabalho. Imaginemos a hipótese do empregado utilizar o computador da empresa para acessar o seu e-rnall pessoal desrespeitando as mesmas normas traçadas pelo empregador para uso do e-mail corporativo. Penso não haver razão para distinguir tais situações de modo que o empregador poderá limitar o acesso à internet e ao e-mail particular para fins pessoais durante a realização do trabalho. 2 Essa é a posição adotada majoritariamente pelo TST conforme bem ilustra a ementa adiante transcrita: TRIBUNAL SUPERIORDO TRABALHO: PROVA ILíCITA - E-MAIL CORPORATIVO - JUSTA CAUSA - DIVULGAÇÃO DE MATERIAL PORNOGRÁFICO 1. Os sacrossantos direitos do cidadão à privacidade e ao sigilo de correspondência, constitucionalmente assegurados, concernem à comunicação estritamente pessoal, ainda que virtual [e-rnail particular). Assim, apenas o e-rnatl pessoal ou particular do empregado, socorrendo-se de provedor próprio, desfruta da proteção constitucional e legal de inviolabilidade. 2. Solução diversa impõe-se em se tratando do chamado e-mail corporativo. instrumento de comunicação virtual mediante o qual o empregado louva-se de terminal de computador e de provedor da empresa, bem assim do próprio
Enfim, sendo o e-rnail corporativo apenas uma ferramenta de trabalho não se encontra abrangido pela inviolabilidade do sigilo de correspondência. Este ponto revela a impropriedade do conteúdo do projeto de lei que exige prévio consentimento do empregado para fiscalização de sobredita ferramenta. A meu juízo bastará ao empregador dar prévia ciência ou conhecimento ao empregado de que seu e-mail corporativo será objeto de monitoramento por se tratar de ferramenta de trabalho. É que a ciência ao empregado da fiscalização empreendida pelo empregador é suficiente para afastar a alegação de ato ilícito violador a intimidade ou privacidade do obreiro valendo ressaltar que a verificação de e- mail no ambiente de trabalho deverá ser realizada, sempre, de modo razoável para não que se chancele um absolutismo do poder diretivo do empregador. A doutrina de primeira linha - aqui bem representada pela pena do eminente Ministro do TST Alexandre Agra Belmonte - se coloca em idêntico sentido: 4 "Deve a empresa dar ciência aos empregados das condutas que não são admitidas pela empresa; de eventuais limitações no uso dos equipamentos eletrônicos e penalidades decorrentes da transgressão; bem como conscientizar os seus empregados, de forma a evitar a prática de atos que possam lhe causar prejuízos. A empresa responde, junto a terceiros, pelos danos causados pelo empregado e deles de ressarcirá em caso de culpa ou dolo." (BELMONTE, Alexandre Agra. O monitoramento da correspondência eletrônica nas relações de trabalho. São Paulo: LTr. 2004, p. 92). Enfim, com a ressalva de ponto de vista aqui plenamente aqui justificada penso que os todos os demais pontos do projeto de lei em discussão merecem acolhimento. De outro lado, estou de acordo com a posição manifestada pelo voto do Relator do referido projeto de lei, Dep. CHICO LOPES quando diz ser mais endereço eletrônico que lhe é disponibilizado igualmente pela empresa. (TST RR613;00.7-1ª T. - ReI. Min. João Oreste Dalazen - DJU 10.06.2005) (grifas nossos)
apropriado que o assunto não seja tratado em diploma esparso, mas sim na Consolidação das Leis do Trabalho. Abaixo transcrevo as razões do nobre congressista: Apesar de concol"damos inteiramente com a matéria, entendemos que ela não deva ser tratada em diploma esparso, mas inserida na Consolidacão das Leis do Trabalho, visto que o sigilo de coltespondência protegido está atrelado a uma relação de trabalho. Essa providência vai ao encontro no disposto na Lei Complementar n 95, de 1998, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, e estabelece normas para a consolidação dos atos normativos. Comungo desta posição. O conteúdo normativo da matéria recomenda sua inserção na CLT em observância a boa técnica legislativa exigi da pela LC n.? 95/1998 aliado ao fato de se tratar de cláusula contratual trabalhista. Com efeito, o substitutivo apresentado pelo voto do Relator se encontra abaixo: 5 COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO. SUBSTITUTIVO AO PROJETO DE LEI No 1.429, DE 2011 Acrescenta dispositivo à Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, a fim de disciplinar o monitoramento de correspondência eletrônica por parte do empregador. o CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1 A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei n 5.452, de 1 0 de maio de 1943, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 486-A: "Art. 486 - A. É proibido o monitoramento da correspondência eletrônica do empregado. 1 0 O disposto neste artigo não se aplica quando: I - o endereço eletrônico for corporativo e TI - o empregador der ciência ao empregado, de modo claro e inequívoco, de que poderá haver monitoramento dessa correspondência.
2 A infração ao disposto neste artigo sujeita o empregador ao pagamento em favor do empregado: Uma última palavra. O substitutivo tal como posto tem por consequência automática a exclusão aos trabalhadores do serviço público, solução - sob a minha ótica - também adequada por reservar as respectivas leis de regência de tais empregados o disciplinamento da matéria. Pelo agregado de razões aqui vertidas, opino pela aprovação do projeto de lei n.? 1.429, de 2011 nos termos do substitutivo apresentado pelo Dep. CHICO LOPES. '-., 0.:.;; \\..\~,'.,._'. \\..J Daniel' F:Apom'iiíP-Gl:flrçaJvcs-ViCi.:t:a _ Adv. Insc. OABlRinz 102.609 --- 6