ANO 5 NÚMERO 34 FEVEREIRO DE 2015 PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO



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ANO 5 NÚMERO 34 FEVEREIRO DE 2015 PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO 1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS Os resultados apresentados pelos principais indicadores de desempenho da economia brasileira não têm sido nada animadores nesse início de ano. A inflação está em alta e ultrapassou o limite máximo da meta estabelecida pelo governo, as contas do governo apresentaram resultados primários anuais negativos pela primeira vez em 2014, depois de um longo período de superávits anuais e as perspectivas não são nada animadoras em relação a uma possível retomada de crescimento da economia brasileira. Nesse quadro desanimador a manutenção da baixa taxa de desemprego é uma dos aspectos positivos, apesar das diversas incertezas que pairam sobre sua manutenção. No setor externo tivemos em 2014 o primeiro déficit na Balança Comercial desde o ano 2000, resultado da piora do comercio internacional, e da perda de competitividade de nossas mercadorias tendo em vista uma grande concentração de produtos básicos na nossa pauta de exportação, em detrimento dos produtos industrializados. Para 2015 a perspectiva é de reversão desse quadro, com a volta do superavit na Balança Comercial, embora os resultados de janeiro ainda mantenham a situação de déficit. 2- CONTAS GOVERNAMENTAIS Prof. Flávio Riani Ao longo dos últimos anos, mais precisamente desde o governo FHC, as contas públicas brasileiras vêm sendo gerenciadas com o claro objetivo de gerar superávits primários. Como se sabe, esses resultados são obtidos através da comparação entre as receitas não financeiras arrecadadas pelo governo, especificamente as tributárias, e os gastos com pessoal, manutenção e custeio da máquina pública e alguns investimentos básicos. Ao longo dos últimos anos (mais precisamente de 1995 a 2013) a carga tributária brasileira passou de um patamar de 25% do PIB para 36%, elevando-se em quase 40% em termos reais. Nesse mesmo período os gastos mencionados aumentaram em proporções inferiores a esse patamar com o objetivo de gerar superávits primários para pagamento dos juros da dívida. Porém, os saldos gerados foram anualmente inferiores ao volume requerido para pagamento dos juros, sendo a diferença refinanciada e incorporada ao estoque final da dívida pública. O resultado desse processo foi que o estoque da Dívida Pública Bruta alcançou R$ 3,5 TRILHÕES EM DEZEMBRO DE 2014, equivalente a 69% do PIB brasileiro, com um acréscimo no seu estoque de R$ 384 bilhões entre 2013 e 2014. EXPEDIENTE Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler Dom Walmor Oliveira de Azevedo Reitor Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Vice-Reitora Professora Patrícia Bernardes Assessor Especial da Reitoria Professor José Tarcísio Amorim Chefe de Gabinete do Reitor Professor Paulo Roberto Souza Chefia do Departamento de Economia Professora Ana Maria Botelho Coordenação do Curso de Ciências Econômicas Professora Ana Maria Botelho Coordenação Geral Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 Avenida Dom José Gaspar, 500 Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 Tel: 3319.4309 www.pucminas.br/iceg/conjuntura icegdigital@pucminas.br

Gráfico 1 -Brasil -Dívida Pública Bruta R$ bilhões 4.000 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500-3.561 3.177 384 2013 2014 Acréscimo Fonte: STN Diferentemente do que vinha ocorrendo nos últimos anos, em 2014, o governo, nas suas três esferas: União, Estados e Municípios, não gerou superávits primários para pagamento dos juros da dívida. Comparativamente a 2013, a tabela 1 destaca o comparativo dos resultados primários, dos juros devidos, o valor dos juros que deveriam ter sido pagos e a parcela não paga e refinanciada. Tabela 1 - Brasil - Governo Consolidado Resultado primário, juros da dívida pública e refinanciamento 2013-2014 Itens 2013 2014 R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB 1 - Juros devidos da dívida pública 249 5,14 311 6,06 2 - Resultado Primário 91 1,88-32 -0,62 3 - Refinanciamento ( 1-2) 158 3,26 343 6,68 Fonte: BACEN Dados da tabela 1 mostram que enquanto em 2013 o setor público consolidado gerou um superávit primário de R$ 91 bilhões, em 2014 houve um déficit primário de R$ 32,0. O último resultado primário anual deficitário apresentado pelo governo ocorreu há 18 anos, ainda na era FHC. Esses resultados mostram que mesmo em situações superavitárias, como a de 2013, o valor obtido foi insuficiente para pagar sequer os juros da dívida. Com isso, houve necessidade de refinanciar a diferença de R$ 158 bilhões incorporando-a ao estoque da dívida.

Por outro lado, em 2014, o governo, além de não ter pago nem parte dos juros da dívida, teve ainda que refinanciar o déficit de R$ 32 bilhões, gerando uma necessidade de refinanciamento de R$ 343 bilhões. 2.1 AJUSTES E PRIMEIROS RESULTADOS Face aos resultados fiscais e ao fraco desempenho econômico em 2014, manifestados por diversos indicadores econômicos relativos ao Brasil, o governo federal estabeleceu um conjunto de medidas na tentativa de melhorar os resultados das contas públicas, como uma forma de voltar a dar credibilidade ao governo, na expectativa de que com isso, poder-se-ia induzir um ambiente econômico menos pessimista no país. Para tanto o governo implantou um conjunto de medidas com o objetivo de elevar as receitas tributárias e, por outro lado, estabeleceu uma rígida política de contenção de gastos. Apesar desse esforço, os resultados fiscais iniciais alcançados no primeiro mês do ano deixam claras as dificuldades que o governo terá para obter os valores projetados para o ano. A tabela 2 destaca os resultados fiscais do governo federal comparativamente entre os meses de janeiro de 2015 com o do mesmo período do ano anterior. Os dados mostram que os resultados das políticas governamentais relativas à elevação das receitas ainda não foram capazes de gerar efeitos positivos significativos sobre sua arrecadação. Tanto é que a receita líquida do governo federal apresentou variação nominal negativa quando se compara a arrecadação de janeiro de 2014 com a de janeiro de 2013. Considerando o efeito da inflação, tais receitas apresentam quedas reais próximas a 6,5%. Tal resultado mostrou que as medidas tomadas pelo governo para elevação das receitas (volta da CIDE, retiradas de isenções, diminuição de incentivos, elevação do IOF, elevação de alíquotas de importação, etc) foram, em janeiro, incapazes de contrabalançar a queda da arrecadação oriunda do arrefecimento das atividades econômicas. Tabela 2 - Brasil - Resultado Fiscal - Governo Federal Valores Nominais Itens R$ bilhões Variação Jan.2014 Jan.2015 jan.2015/jan.2014 1 - Receita Líquida 103,1 102,90-0,2 2 - Despesa Total 90 92,50 2,8 3 - Resultado Primário 13,1 10,40-20,6 Fonte: Ministério da Fazenda Por outro lado apesar de não ter ainda aprovado o orçamento para 2015 e das medidas de controle de gastos implantadas pelo governo, a variação nos gastos foi positiva, gerando um aumento nominal de 2,8%. O resultado final dessas variações foi uma obtenção de um superávit primário de R$ 10,4 bilhões no primeiro mês do ano, inferior até mesmo em termos nominais ao valor alcançado em janeiro de 2013. Além disso, este resultado foi o menor obtido em meses de janeiro desde 2009. Apesar desse resultado o governo mantém a meta de superávit de 1,2% do PIB para 2015. Tal percentual equivale a R$ 66,3 bilhões para o governo consolidado. Desse montante, prevê-se alcançar R$ 55, bilhões através do governo federal e R$ 11 bilhões são esperados por resultados estimados pelos estados e municípios.

3- SETOR EXTERNO: BALANÇA COMERCIAL TEM DÉFICIT EM 2014 PROF. RICARDO F. RABELO A Balança Comercial Brasileira voltou a apresentar déficit em 2014, a primeira vez desde o ano 2000. No período janeiro-dezembro de 2014, tivemos exportações de US$ 225,101 bilhões, com queda de 7,0%, pela média diária em relação a 2013.. As importações também tiveram queda de 4,5% sobre 2013, totalizando US$ 229,060 bilhões. Já o saldo comercial acumulou déficit de US$ 3,959 bilhões contra superávit de US$ 2.286 milhões registrados em 2013. Gráfico 2 Balança Comercial Brasileira - 2000-2014 300 250 200 US$ Bilhões 150 100 50 Exportação Importação Saldo 0-50 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Anos A explicação para estes resultados negativos reside em vários fatores. O primeiro deles se refere ao comportamento dos índices de preço e quantum de nossas exportações que, ao contrário de anos anteriores, demonstram uma queda significativa. De acordo com a FUNCEX (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), em 2014 o índice de preço caiu 5,3% e o de quantum 1,8% em relação a 2013. No que diz respeito ao fator agregado, os preços caíram em todas as três categorias de produtos, com queda mais acentuada nos básicos (-8,9%) seguidos de semimanufaturados (-4,2%) e manufaturados (-1,0). Em volume, houve queda das exportações de semimanufaturados (-0,6%) e os manufaturados (-1,0%). Já os básicos, apresentaram crescimento expressivo ( 6,4%) mostrando o dinamismo do setor exportador de commodities, em especial as agrícolas. Já em valor exportado, comparando-se 2014 com 2013, houve queda em todas as categorias, mas com maior recuo dos manufaturados (-13,7%, para US$ 80,211 bilhões), seguidos

de semimanufaturados (-4,8%, para US$ 29,065 bilhões) e, mostrando a menor queda, os básicos (-3,1%, para US$ 109,557 bilhões). Esse é outro fator explicativo do mau desempenho do setor TABELA 3 VARIAÇÃO (%) DOS ÍNDICES DE PREÇO E QUANTUM JANEIRO / DEZEMBRO 2014/2013 Preço Quantum Exportação Total -5,3-1,8 Básicos -8,9 6,4 Semimanufaturados -4,2-0,6 Manufaturados -1,0-12,6 Elaboração: FUNCEX Obs : Dados preliminares sujeitos a alterações externo: a queda de participação dos produtos industrializados na nossa pauta de exportação, passando de 51% em 2013 para 48,5%, significativamente deixando de ter mais de 50% do total de produtos exportados. Nesse aspecto, os básicos aumentaram sua participação de 46,7% para 48,7%, seguidos sos seminufaturados que tiveram pequeno crescimento de 12,6% para 12,9%. Já os manufaturados apresentaram queda de 38,4% em 2013 para 48,5% em 2014. Outro fator importante do déficit em 2014 está no comportamento de nossos mercados no exterior. Em regra geral, ao contrário de outros anos, houve retração da importação em quase todos os mercados importantes, com exceção dos EUA e da Europa Oriental. O resultado é a retração de 7% de nossas exportações em 2014 em relação a 2013. Com participação de 12,1% na nossa pauta exportadora, as nossas exportações para os EUA cresceram em 2014 de 9,2%, para US$ 27,1 bilhões. Já o crescimento de 9,7% das exportações para Europa Oriental, deveu-se basicamente ao aumento de 28,8% das exportações para Rússia chegando ao total de US$ 3,8 bilhões. No restante das regiões tivemos expressivas quedas das exportações, com queda de 15,2% para o Mercosul, com a Argentina,terceiro comprador mais importante do Brasil, apresentando uma queda de 27,2% de exportações em comparação com 2013. Outro mercado importante para o Brasil, a China, principal destino comercial no bloco asiático, apresentou queda de vendas, em comparação com 2013, de 11,8%, no valor de US$ 40,6 bilhões. Finalmente, registrou-se também uma queda de 12% nas exportações para a União Européia, passando de US$ 47,8 bilhões em 2013 para US$ 42,0 bilhões em 2014. Apenas a Alemanha mostrou um pequeno crescimento de 1,2% nas compras do Brasil, tendo os demais parceiros comerciais da região apresentando significativas quedas como Países Baixos (US$ 13,0 bilhões, -24,8%), Bélgica (US$ 3,3 bilhões, -8,5%);, Espanha (US$ 3,3 bilhões, -8,3%); e França (US$ 2,96 bilhões, -14,0%).

TABELA 4 MERCADOS COMPRADORES JANEIRO / DEZEMBRO 2014/2013 - US$ MILHÕES FOB Janeiro/Dezembro Var.% 2014/13 Part. % 2014 2013 p/média diária 2014 2013 Ásia 73.513 77.659-5,3 32,7 32,1. China 40.616 46.026-11,8 18,0 19,0 América Latina e Caribe 46.045 53.555-14,0 20,5 22,1 - Mercosul (2) 25.054 29.533-15,2 11,1 12,2. Argentina 14.282 19.615-27,2 6,3 8,1 - Demais da AL e Caribe 20.991 24.022-12,6 9,3 9,9 União Europeia 42.047 47.772-12,0 18,7 19,7 EUA (1) 27.144 24.863 9,2 12,1 10,3 Oriente Médio 10.419 10.954-4,9 4,6 4,5 África 9.701 11.087-12,5 4,3 4,6 Europa Oriental 4.583 4.178 9,7 2,0 1,7 Demais 11.649 11.966-2,6 5,2 4,9 TOTAL 225.101 242.034-7,0 100,0 100,0 Fonte: SECEX/M DIC. Janeiro-Dezembro/2014: 253 dias úteis; Janeiro-Dezembro/2013: 253 dias úteis (1) inclui Porto Rico. (2) inclui Venezuela, a partir de agosto/2012. 3.1 NOVO DÉFICIT EM JANEIRO E AS PERSPECTIVAS PARA 2015 Os dados divulgados pelo MDIC sobre o desempenho da balança comercial brasileira em janeiro mostram que a trajetória de 2014 está se mantendo em 2015.No mês, as exportações registraram o valor de US$ 13,704 bilhões. Em relação a janeiro de 2014, as exportações acusaram queda de 10,4%, e de 17,9% em relação a dezembro de 2014, pela média diária. As importações somaram US$ 16,878 bilhões. Comparando com o mesmo período de 2014., as importações registraram queda de 12,0%. No mês, considerando o fator agregado das exportações permanece um mau desempenho dos produtos manufaturados, cujas vendas caíram 14,6% em relação janeiro de 2014 acompanhados pelos produtos básicos, com retração de 11,1%, Por outro, ressalte-se o bom desempenho dos produtos semimanufaturados cujas vendas cresceram +3,1%.. No que diz respeito ao destino das exportações, permanece o mau desempenho do Mercosul, cujas vendas decresceram 25,5%. As exportações para a Argentina, acusaram queda de 26,1% em relação a janeiro de 2014 Também se mantém esse comportamento as exportações para a Ásia, que recuaram 12,4%, e para a China, com retração de 35,3%.. Mesmo aqueles destinos que tiveram boa performance em 20-14, como a Europa Oriental e EUA, apresentaram resultados negativos de 32,6% e 3,0% respectivamente. Na mesma linha, a União Européia acusou 11

retração de 6,0% nas suas aquisições de produtos brasileiros, passando de US$ 3,0 bilhões para US$ 2,7 bilhões. Por outro lado, as exportações para o Oriente Médio cresceram 11,9%, passando para US$ 846 milhões em janeiro de 2015, uma soma reduzida em relação aos outros destinos tradicionais das exportações brasileiras. De qualquer forma, espera-se que em 2015 o setor externo recupere parte de seu dinamismo anterior, obtendo novamente um resultado positivo na Balança Comercial e continuando a financiar o déficit de transações correntes com a forte entrada de capital estrangeiro, tanto de investimento externo direto como de investimentos de portfólio. Fortalece essa perspectiva uma maior aceleração da economia americana, já iniciada em 2014, podendo alcançar mais de 3% em 2015, o que não se dará com a União Européia, cujo desempenho não deve ultrapassar os 1,5% e mesmo com a China, que não deve ultrapassar os 7%. Outro fator positivo para as exportações deve ser a desvalorização do real, que deve alcançar valores acima de 2,7 em relação com o dólar, estimulando a competitividade de nossos produtos no exterior. Assim, a expectativa para 2015 é de um superávit na ordem de US$ 4 bilhões, contra um déficit de US$ 3,959 bilhões em 2014. O cenário pessimista reduz o saldo, em função da inflação, mas esta pode ser contrabalançada pela baixa dos preços do petróleo, um item que ainda pesa mais nas importações que nas exportações da balança comercial brasileira.