Técnica de crushing na remoção de material cortico-nuclear com vitréctomo 23 G. A nossa experiência



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Oftalmologia - Vol. 37: pp.237-244 Artigo Original Técnica de crushing na remoção de material cortico-nuclear com vitréctomo 23 G. A nossa experiência Maria Picoto 1, Filipe Isidro 1, Sofia Donato 2, António Rodrigues 3, Fernanda Vaz 4 1 Interno do internato complementar de Oftalmologia do Hospital de Egas Moniz (H.E.M.), Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (C.H.L.O) 2 Assistente Hospitalar de Oftalmologia do H.E.M., C.H.L.O 3 Director de Serviço de Oftalmologia do H.E.M., C.H.L.O 4 Assistente Graduada de Oftalmologia do H.E.M., C.H.L.O. Serviço de Oftalmologia, Hospital de Egas Moniz Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. RESUMO Objectivo: ta complicada. Comparar os resultados funcionais e os eventos adversos desta técnica de acordo com o tempo decorrido entre a cirurgia de catarata e a vvpp. Desenho do estudo: Estudo retrospectivo Participantes e métodos: Avaliação duma série consecutiva de 42 doentes submetidos a vvpp período de 5 anos. Resultados primários: 42 olhos de 42 doentes com média de idades de 79,4±7,51 e follow-up anteriormente com a técnica de facofragmentação. Resultados secundários: - 2 Conclusões: - entre os dois grupos de doentes. Palavras-chave ABSTRACT Purpose: Vol. 37 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2013 237

Design: Methods and patients: Primary results: - Secondary results: 2 Conclusion: Key-words INTRODUÇÃO mento posterior na cirurgia de catarata tem uma incidência de 0,1 a 1,6% 10,19. Apesar de raro, este evento está associado a complicações graves e a maus resultados funcionais. A remoção dos fragmentos de núcleo com vvpp 23 técnica de facofragmentação, que necessita da conversão de uma das portas 23 em 20G para o facofragmentador 1,15. Por outro lado, o momento ideal para a realização da vitrectomia é controverso. Alguns estudos referem que a intervenção precoce no mesmo dia da cirurgia de catarata ou dentro de 1 a 2 semanas, se associa a melhores resultados 19. Outros trabalhos demonstram resultados visuais semelhantes independentemente do timing dessa intervenção 10. Saber critérios de urgência para este tipo de intervenção contribuindo para a organização do trabalho nos serviços. Ou contribuindo para uma melhor rentabilização dos recursos. O presente estudo é tanto quanto é do nosso conheci- primário é avaliar os resultados desta técnica. Os objectivos secundários são comparar os resultados funcionais e os eventos adversos de acordo com o intervalo de tempo decorrido entre a cirurgia de catarata e a vvpp. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospectivo, que incluiu todos os doentes mentos deste após cirurgia de catarata durante um zando a técnica de crushing no H.E.M, C.H.L.O. ausência de follow-up de LIO e fragmentos do cristalino, catarata congénita, tia diabética e história de trauma grave. Os doentes foram divididos em dois grupos com base no timing decorrido entre a cirurgia de catarata e a Foram revistos os processos clínicos e recolhidos os seguintes dados: idade, género, história de doença ocu- rata, após a cirurgia de catarata, após a vvpp, tempo decorrido entre cirurgia de catarata e a vvpp, complica- implantada. Os dois grupos de doentes foram comparados utili- 2 e o teste t de student. Considerou-se 238 Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

Técnica de crushing na remoção de material cortico-nuclear com vitréctomo 23 G. A nossa experiência RESULTADOS O estudo incluiu 42 olhos de 42 doentes, 9 homens 79,4 ± 7,51. O follow-up médio foi de 16,1 ±15,32 meses cada em dois grupos com base no timing decorrido entre a por grupos, a MAVC no pré-operatório e na última avaliação foi de 0,18 ± 0,17 e 0,43 ± 0,35 respectivamente. A PIO média no pré-operatório antes da cirurgia de catarata, após cirurgia de catarata e após vvpp foi de 15,88 ± 3,35, 27,34 ± 15,07 e 16,61 ± 3,99. Observaram-se complicações em 63,2% dos casos. na primeira semana. O tempo médio de espera para vitrectomia neste grupo foi de 4,1 ± 2,42 dias, comparado com 22,04 ± 20,96 dias no grupo operado mais tardiamente. Em todos os doentes foi utilizada a técnica de crushing para Os dois grupos não apresentaram diferenças com signi- follow-up 2 2 Na análise por grupos consoante o timing da vitrecto- 0,43 ± 0,37 e no grupo operado mais tardiamente foi de 0,49 Graf. 1 - Tabela 1 Dados Grupo 1 Grupo 2 Amostra Global 42 Idade média ± dp 78,26±8,43 80,35±6,71 79,40±7,51 Tempo médio de follow-up Tempo médio para a vvpp 15,84±16,19 4,11±2,42 16,30±14,92 22,04±20,96 16,10±15,32 13,92±17,89 LIO implantada - - - LIO CP LIO de CA Afaquia Vol. 37 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2013 239

Tabela 2 Dados Grupo 1 Grupo 2 p Amostra Global AV média pré-op 0,12 ± 0,14 0,24 ± 0,18 t, p=0,192 0,18 ± 0,17 AV media pos op D1 0,12 ± 0,15 0,21 ± 0,20 t, p=0,197 0,17 ± 0,18 AV media pos op 1m 0,24 ± 0,26 0,30 ± 0,19 t, p=0,430 0,27 ± 0,22 AV media pos op 3m 0,39 ± 0,34 0,44 ± 0,26 t, p=0,614 0,42 ± 0,30 AV media pos op 6m 0,43 ± 0,41 0,57 ± 0,33 t, p=0,342 0,51 ± 0,37 AV media ultimo fup 0,35 ± 0,35 0,57 ± 0,33 t, p=0,192 0,43 ± 0,35 31.6% 50% 2, p=0,233 41.5% 68.4% 50% 2, p=0,233 58.5% 2 estatístico nas MAVC dos dois grupos de doentes, no 1º avaliação. - apresentaram complicações dentro da janela da vitrectomia hemorragia supracoroideia, 1 doente com edema da cornea A PIO media pré cirurgia de catarata era de 15,40 ± 3,5 era de 29,5 ± 16,93 mmhg e 26,05 ± 14,14 mmhg nos gru- a PIO era de 15,24 ± 6,59 mmhg e 15,95 ± 3,24 mmhg nos Graf. 2 240 Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

Técnica de crushing na remoção de material cortico-nuclear com vitréctomo 23 G. A nossa experiência Tabela 3 Dados Grupo 1 Grupo 2 Amostra Global PIO média pré-op 15,40 ± 3,50 16,28 ± 3,27 15,88 ± 3,35 PIO media pós cirurgia de catarata 29,50 ± 16,93 26,05 ± 14,14 27,34 ± 15,07 PIO media pos vvpp D1 16,60 ± 9,09 15,41 ± 5,97 15,89 ± 7,30 PIO media pos vvpp 1m 15,61 ± 7,77 14,09 ± 4,69 14,73 ± 6,13 PIO media pos vvpp 3m 16,07 ± 5,60 15,58 ± 5,42 15,79 ± 5,42 PIO media pos vvpp 6m 17,08 ± 5,06 16,20 ± 2,88 16,61 ± 3,99 PIO media ultimo fup 15,24 ± 6,59 15,95 ± 3,24 15,64 ± 4,92 Tabela 4 Avaliação da PIO excluindo doentes com glaucoma e glaucoma secundário a S. Pseudo-esfoliativo (GPXF). Doentes sem glaucoma/gpxf Grupo 1 Grupo 2 p Amostra Global PIO média pré-op 15,7 ± 3,13 15,08 ± 2,72 t, p = 0,592 15,38 ± 2,87 PIO média pós cirurgia de catarata 31,00 ± 18.09 27,43 ± 15,12 t, p = 0,604 28,92 ± 16,14 PIO média último fup 15,92 ± 7,08 16,53 ± 3,23 t, p = 0,766 16,25 ± 5,27 glaucoma secundário a síndrome pseudo-esfoliativo, os dois grupos de doentes continuam a não diferir de forma Observaram-se complicações após cirurgia de catarata Graf. 3 Complicações observadas em qualquer momento após ci- Edema Macular Cistóide, DR, Descolamento de retina.. Relativamente ao período decorrido após vvpp, obser- um doente apresentava HTIO no ultimo follow-up DISCUSSÃO Tanto quanto é do nosso conhecimento este estudo é o - substituição do facofragmentador. O nossos resultados demonstram que a técnica de usada como alternativa à tradicional vitrectomia com recurso adicional ao facofragmentador, evitando assim a conversão de uma das portas de entrada para 20G, tornando desta forma o procedimento mais simples e seguro, mesmo na presença de núcleos inteiros e de grande dureza. Estudos anteriores com vvpp 23G reportam a necessidade de alargamento da esclerotomia com recurso ao faco- 1,2,5. Na literatura revista apenas um estudo refere a remoção dos fragmentos do núcleo ou mesmo núcleos completos sem facofragmentador utilizando o vitrectomo 25G numa amostra de apenas 17 doentes 6. Vol. 37 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2013 241

Os nossos resultados funcionais são semelhantes aos descritos com recurso ao facofragmentador e também ao estudo de Lawrence e colaboradores com recurso apenas ao 31% e 83% na maioria das séries, sendo de 42,3% na nossa série 10, 15, 2, 9. - nos estudos publicados. No nosso 16,6% dos doentes do ocular prévia apenas 14,3% dos doentes apresentaram AV a 41% dos doentes desenvolvem glaucoma, 3,6% a 21,5% DR e 3,3 a 61,1 EMC 2,7 EMC. O estudo de Lawrence 8 tomo 25 G, revelou HTIO em 5,9% dos doentes, zero casos de DR e 29,4% de casos de EMC, contudo é difícil comparar estes resultados com os nossos dada a pequena amostra desse estudo. Os estudos que defendem a utilização do facofragmen- muito difícil a remoção dos fragmentos de núcleo grandes culdade na manipulação dos mesmos. Estes factores prolongariam o tempo cirúrgico e aumentariam as manobras dentro do olho, o que por sua vez, poderia conduzir a mais complicações como glaucoma e EMC 19,1,2. Actualmente, com o reconhecimento das vantagens da vitrectomia 23 ou 25G, muitos cirurgiões estão a começar a favorecer a vvpp por pequena incisão na remoção de fragmentos do cristalino. Esta abordagem é mais comummente utilizada para os casos em que os fragmentos nucleares são de pequena dimensão e/ou restos corticais. No presente estudo demonstramos que é possível remo- tamanho e densidade elevadas sem recurso ao facofragmentador, com tempos cirúrgicos semelhantes e a mesma incidência de complicações. elevadas, duty cycle do que qualquer vitréctomo 20G. Dadas as características removam efectivamente material intra-ocular mais denso, rial nuclear como demonstrado nesta série de olhos. Além disso o facofragmentador poderá ter um efeito nefasto na retina, uma vez que são utilizados ultrasons dentro da cavidade vítrea. Este estudo não mostrou vantagem da abordagem pre- - mentos deste na cavidade vítrea na sequência de cirurgia de catarata. O momento ideal para a vvpp é ainda alvo de discussão 10 mente na avaliação individualizada de cada caso. Quando vítrea na sequencia de cirurgia de catarata, o doente é referenciado à secção de retina e vítreo, sendo-lhe instituída remoção do material é agendada de acordo com a urgência da situação que se prende essencialmente com a PIO e com com as condições de visualização nomeadamente a transparência corneana. A abordagem no mesmo dia poderá minimizar os riscos anestésicos bem como a insatisfação do doente, no entanto - serviços. Por outro lado, apenas 4 estudos com amostras de pequenas dimensões estabeleceram uma preferência pela cirurgia no mesmo dia, 20,4,16,13 tendo sido vários os estudos de complicações com esta abordagem 12, 6. Alguns estudos reportaram mesmo piores resultados visuais com vitrectomia no mesmo dia vs vitrectomia programada 3, 17, 18 resultados comparáveis em termos de AV e complicações. Modi e colaboradores, estudaram 569 olhos, 117 dos quais efectuaram vvpp no mesmo dia e também observaram resultados comparáveis 10. Barthelmes e colaboradores estudaram 42 olhos sub- sendo o tempo médio para a vvpp de 18 dias. Não obser- 0,2 logmar independentemente do tempo decorrido entre a a cirurgia 14 dias após cirurgia de catarata, enquanto que 242 Revista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

Técnica de crushing na remoção de material cortico-nuclear com vitréctomo 23 G. A nossa experiência No nosso estudo não se observaram diferenças em ter- tes. O tempo médio decorrido entre a cirurgia de catarata e menos de uma semana e no grupo operado depois de uma semana respectivamente. As limitações deste estudo são a sua natureza retrospectiva e ausência de grupo controlo, contudo em termos éticos seria difícil efectuar um estudo prospectivo. Em conclusão, o nosso estudo demonstrou que o uso Esta técnica pode ser considerada uma alternativa à facofragmentação dados os bons resultados visuais e ana- gens da vitrectomia por microincisão, como a redução do ção intra-ocular e do tempo de recuperação pós-operatório núcleo ou de fragmentos deste após cirurgia de catarata. São ainda necessários mais estudos que comparem a vvpp 23G, 25G e 20g na remoção de material do cristalino Por outro lado, a decisão do momento ideal para a cirur- tém-se multifactorial dependendo da preferência do cirurgião, da logística local e da avaliação clínica. De acordo com os nossos resultados, não parece haver que as duas abordagens são aceitáveis na prática clínica. BIBLIOGRAFIA 1. Baker PS, Spirn MJ, Chiang A. 23-Gauge Transcon- Lens Fragments. Am J Ophthalmol 2011;152:624 627. - 32:1749 1755. 3. Borne MJ, Tasman W, Regillo C, Malecha M, Sarin L. in retained intravitreal lens fragments after phacoemul- Clin Ophthalmol. 2011;5:1737-43. - - Ophthalmol. 2009;147:587 594 849, 2010 9. Margherio RR, Margherio AR, Pendergast SD, Williams GA, Garretson BR, Strong LE, et al. Vitrec- - - 2013;156:454 459 of Retained Intravitreal Lens Fragments After Cataract - 13. Romero-Aroca P, Fernandez-Ballart J, Mendez-Marin I, Salvat-Serra M, Baget-Bernaldiz M, Bull-Calvo JA. Management of nucleus loss into the vitreous: long term follow up in 63 patients. Clin Ophthalmol. 14. Schaal S, Barr CC, Management of retained lens America. 2001; December; 14. las K. Timing of dislocated nuclear fragment mana- 17. Stilma JS, van der Sluijs FA, van Meurs JC, Mertens DA. Occurrence of retained lens fragments after pha- Vol. 37 - Nº 4 - Outubro-Dezembro 2013 243

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