Juro lealdade à bandeira dos Estados Unidos da... autch! No terceiro ano, as pessoas adoram dar beliscões. Era o Zezinho-Nelinho-Betinho.



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Transcrição:

ÍTULO 1 Juro lealdade à bandeira dos Estados Unidos da... autch! No terceiro ano, as pessoas adoram dar beliscões. Era o Zezinho-Nelinho-Betinho. Julinho sussurrou. Vou pensar no teu caso respondi -lhe, também num sussurro. O Zezinho -Nelinho -Betinho chama -se, na verdade, Zezinho. Sei-o agora. Mas, no princípio do ano, tratava -o pelos três nomes em «inho», porque nunca conseguia lembrar -me de qual deles era o seu. Ele gostava disso. E agora anda a tentar convencer -me a acrescentar mais um. A semana passada, tentou «Zinho», mas eu disse que não. Tem de ser um nome a sério. 1

Está bem disse -lhe, depois do juramento de lealdade à bandeira. Fica Zezinho -Nelinho -Betinho -Julinho. O meu professor olhou para mim e levou a mão ao ouvido. É o nosso sinal de código para Devias Estar a Ouvir. De maneira que me endireitei na cadeira e ouvi, embora se discutissem apenas coisas do género «Levante a mão quem não está presente» ou «Quem tem dinheiro para comprar leite?» Mas, logo a seguir, a aula tornou -se interessante. Clementina, por favor vai ao gabinete da Diretora Coelho chamá-la. Sempre que o meu professor precisa que se trate de algum assunto no gabinete da diretora, pede -me a mim. Isso acontece porque eu sou muitíssimo responsável. Pronto, está bem, também pode ser porque sou mandada para lá tantas vezes que já podia lá chegar de olhos fechados. Coisa que tentei fazer uma vez. Vocês nem imaginam a quantidade de nódoas negras com que uma pessoa pode ficar apenas por chocar com um bebedouro. 2

Assim que cheguei ao gabinete da Diretora Coelho, ela estendeu a mão para, como de costume, receber o recado do professor a explicar -lhe o que acontecera. Não, nada disso. Hoje não há conversinhas! disse -lhe. Hoje vim cá só para levá -la para a nossa sala de aula. Ah, está bem disse ela. Já são horas. Enquanto avançávamos pelo corredor, recordei -lhe que na sexta -feira também não tinha sido chamada ao seu escritório para ter uma conversinha.

Teve saudades minhas? O meu professor disse que eu tive um dia em grande. Disse que o terceiro ano parecia estar mesmo a correr -me bem. De facto reparei que não apareceste, Clementina disse a Diretora Coelho. Na verdade, ouvi dizer que tiveste uma semana muito proveitosa. Parabéns. O teu professor comentou que ultimamente têm conseguido alcançar uma grande sintonia. Sinfonia? Sintonia. Quer dizer que trabalham bem em conjunto. Que se compreendem um ao outro. De volta à sala, o meu professor sentou -se e deixou a Sra. Coelho tomar conta da aula, porque ela é a chefe dele. Mas sorria. A Sra. Coelho também sorria, quando disse: Meninos, tenho algumas novidades para vos dar. O que me fez pensar que se tratava de boas notícias. Só que não eram. Como estou certa de que todos vocês sabem continuou ela, o vosso professor interessa -se muito pelo Egito antigo. 4

Então não sabíamos? Pela sala de aula estavam espalhadas múmias, esfinges e pirâmides e, ao longo do último mês, os temas das aulas tinham sido sempre o Egito isto e o Egito aquilo. O que até era bom. A minha professora do ano anterior era doida pelos Bons Velhos Tempos na 5

Pradaria, o que até teria sido giro se ela não gostasse apenas de fazer coisas dentro de casa... como toucas e pão de milho. Apetecia -me muito mais fazer coisas dos Bons Velhos Tempos da Pradaria fora de casa, como laçar búfalos, procurar ouro e apanhar uns fora da lei a beber cerveja em saloons. Mas a minha professora do ano passado dizia sempre que não, que tínhamos de fazer toucas e cozinhar pães de milho e passar o dia todo sentados. Além de que essas outras coisas eram dos Bons Velhos Tempos do Faroeste. Só de me lembrar a chatice que foi o ano passado quase que ia adormecendo. Mas não adormeci, pois queria saber que boas notícias eram essas que a diretora tinha para nos dar. Quando soube que o programa deste ano das Aventuras para Professores era uma escavação arqueológica no Egito, propus o vosso professor continuou a Sra. Coelho. Parecia orgulhosa de si mesma, mas eu não percebia bem qual era o motivo de tanta alegria. 6

E tenho todo o prazer em anunciar -vos que, este fim de semana, soubemos que o senhor D Matz é finalista! Quando a Diretora Coelho pronunciou o nome do nosso professor, todos os alunos sustiveram a respi ração ao mesmo tempo. Isto porque «D Matz» é quase uma asneira. Ou melhor, se dissermos muito depressa, quase parece que estamos a chamar -lhe «demente». Mas claro que ninguém iria querer chamar -lhe uma coisa dessas. No primeiro dia de aulas, estava com tanto cuidado para não dizer mal o seu nome que não consegui dizer. E não, não estou a brincar. No intervalo pedi -lhe desculpa e expliquei -lhe que isso só tinha acontecido por estar tão preocupada com a possibilidade de dizê -lo mal. O Sr. D Matz respondeu que compreendia e que, além do mais, era natural que tal viesse a acontecer mais cedo ou mais tarde. Porém, desde então, todos os miúdos o tratam apenas por «Professor». Decidimos que é melhor não arriscar. Acho que a Diretora Coelho não estava minimamente preocupada em enganar -se. Deve ter pensado 7

assim: E se for mandada para o gabinete da diretora, qual é o problema? Eu vivo lá! O senhor D Matz partirá hoje depois do almoço, e passará a semana no Comité das Aventuras para Professores. Mas voltaremos a vê -lo na sexta -feira na Câmara. Vai ser realizada uma cerimónia para nomear o professor escolhido, e nós fomos convidados. Então, se tiver vencido, o senhor D Matz irá voar para o Egito para a sua grande aventura. Todos nós voltámos a conter a respiração ao ouvi- la pronunciar o nome, e eu fiquei tão distraída que quase nem ouvi o que ela disse a seguir. Mais ainda fui a tempo: O que significa que estará ausente durante o resto do ano. A Sra. Coelho continuou a falar, mas a frase ausente durante o resto do ano ecoava de tal maneira nos meus ouvidos que não consegui ouvir mais nada. Olhei para o meu professor. Esperei que ele saltasse da cadeira e dissesse: «Não, não, desculpe lá,

senhora Coelho. Não posso ir -me embora, porque prometi ficar aqui. Aqui mesmo, nesta sala, disse aos meus alunos: Serei o vosso professor este ano. O ano ainda não acabou, de maneira que tenho de ficar aqui e ser seu professor. Não vou quebrar a promessa que fiz.» Mas ele não fez nada disso. Limitou -se a permanecer sentado na sua cadeira e sorria à Sra. Coelho! Trata -se de uma Oportunidade Extraordinária afirmava a diretora Coelho com a sua voz de letras maiúsculas. Devíamos estar todos muito orgulhosos do senhor D Matz. Todos os miúdos aplaudiram e fizeram cara de quem estava muito feliz pela Oportunidade Extraordinária e cheios de orgulho pelo nosso professor. Eu cá, não. Não acho que quebrar uma promessa seja motivo para ter orgulho de alguém.