TRANSFORMAÇÕES NO MERCADO DE TRABALHO E DESAFIOS PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL.



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Transcrição:

TRANSFORMAÇÕES NO MERCADO DE TRABALHO E DESAFIOS PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL. Clemente Ganz Lúcio Diretor Técnico do DIEESE Brasília, 21 de março de 2007. 1. CONTRATO SOCIAL É UMA ESCOLHA 1.1. A Proteção Social é uma dimensão essencial do novo contrato social que materialize projetos, políticas, programas e ações que permitam superar as desigualdades presentes em uma sociedade que valoriza sua diversidade. 1.2. O desenvolvimento sustentável exige a inclusão de todos e a superação das desigualdades é uma condição necessária para orientar o crescimento econômico no sentido do desenvolvimento. 1.3. A Previdência, como parte do Sistema de Proteção Social, é uma das dimensões que estruturam um novo contrato social através de um acordo que estabelece compromissos entre gerações para viabilizar o pleno acesso ao bem estar após a vida de trabalho. 1.4. A Proteção Social exige um acordo social para assistir aqueles que foram afastados ou impedidos de gerar sua cidadania econômica através do mercado de trabalho. 1.5. O contrato social é uma construção política na história de uma sociedade. O modo como se faz também define o seu resultado. 1.6. Um novo contrato social identifica e assume opção por mudança e 1.6.1. Explicita o problema (sua história, estado presente). 1.6.2. Declara os desafios; 1.6.3. Constrói a visão de futuro, objetivos e metas; 1.6.4. Estabelece compromissos com ações e recursos. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 1

2. Aos trabalhadores interessa um Sistema Previdenciário que: 2.1. Incorpore as dimensões de solidariedade social e de seguro coletivo, 2.2. Favoreça a superação da desigualdade econômica e social no país, e. 2.3. seja sólido e sustentável do ponto de vista de financiamento. 3. HISTÓRIA 3.1. Crescimento do Brasil no século XX e constituição do sistema previdenciário em ambiente favorável. 3.2. Nos últimos 25 anos tivemos estagnação, endividamento e crise de financiamento do Estado. 3.2.1. Dramáticas conseqüências para o mercado de trabalho. 4. SITUAÇÃO PRESENTE NO MERCADO DE TRABALHO 4.1. Mudança na composição da ocupação (Gráfico 1). 4.2. Duplicou-se a taxa de desemprego. 4.3. Agravam-se as situações de desemprego: 4.3.1. Aberto 4.3.2. Oculto pelo trabalho precário 4.3.3. Oculto pelo desalento 4.4. Inatividade motivos: 4.4.1.1. Falta de experiência 4.4.1.2. idade 4.4.1.3. qualificação 4.4.1.4. Oportunidade. 4.5. Precarização: 4.5.1. Condições de trabalho; 4.5.2. Formas de contração: 4.5.2.1. Aumento dos sem carteira; 4.5.2.2. Aumento dos autônomos. 4.6. Queda no salário real e na massa de rendimentos. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 2

5. A análise das relações entre mercado de trabalho e Previdência Social pode ser feita a partir do ponto de vista do financiamento do sistema e a partir do ponto de vista dos trabalhadores. 6. Quanto ao financiamento do Sistema 6.1. Devem ser considerados dois aspectos: As posições na ocupação (uma vez que em algumas formas de inserção a taxa de não contribuição é mais elevada); e As remunerações (que são fontes dos descontos). 7. Segundo a posição na ocupação 7.1. Os dados mais recentes indicam uma elevação do peso do emprego assalariado com carteira assinada na estrutura ocupacional (pelo menos para os mercados metropolitanos; mas mesma tendência é demonstrada pelos dados do CAGED). 7.2. Isso configura um sinal positivo para o financiamento da Previdência Social. 50,0 45,0 40,0 35,0 GRÁFICO 1 Evolução da composição da ocupação segundo posições RMSP - 1995 a 2006 (%) % 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 Assal. setor priv com cart. Assal. setor priv sem cart. Assalariados setor público Autônomos Empregadores Empregados domésticos Demais 0,0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 3

7.3. O Gráfico 1 mostra: A queda da proporção dos assalariados com carteira até 2000/2001 e posterior elevação; A elevação da participação dos autônomos até 2003, seguida de diminuição; e O aumento do peso dos sem carteira até 2000/2001 e posterior sustentação. GRÁFICO 2 Evolução da ocupação e remuneração real média segundo a RAIS Brasil - 1999 a 2005 (base 1999 = 100) 140,00 120,00 100,00 80,00 60,00 Nº Trab. Rem. Média 40,00 20,00 0,00 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fonte: RAIS / MTE. Elaboração própria. 7.4. O Gráfico 2 (com base na RAIS) revela um ritmo acentuado de crescimento do chamado emprego formal (empregados do setor privado com carteira e funcionários públicos) desde 1999. A taxa de crescimento do emprego RAIS, no período, é de 4,5% ao ano. Quanto à remuneração média, ela atingiu o piso em 2003 e, desde então, vem se recuperando, sem voltar ao patamar anterior a 2002. 8. Ainda assim permanece alta a proporção dos que não contribuem para a Previdência (Gráfico 3): Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 4

GRÁFICO 3 Proporção de ocupados que contribuem para a Previdência segundo a posição na ocupação RMSP - 1995 a 2006 (%) 100,0 90,0 80,0 % 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 Assal. setor priv com cart. Assal. setor priv sem cart. Assalariados setor público Autônomos Empregadores Empregados domésticos Demais Total 10,0 0,0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. 8.1. O Gráfico 3 traz as taxas de contribuição à Previdência segundo as posições na ocupação, para 2006 e anos anteriores. As posições com menores taxas de contribuição são: Assalariados sem carteira Trabalhadores autônomos Demais (profissionais universitários autônomos, em larga maioria) Empregados domésticos empregadores 8.2. Mais interessante, porém, é fazer uma leitura combinada dos Gráficos 3 e 4. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 5

GRÁFICO 4 Composição da ocupação segundo posição RMSP 2006 (%) 8,2 2,2 4,4 Assal. setor priv com cart. Assal. setor priv sem cart. 43,1 Assalariados setor público 19,7 Autônomos Empregadores Empregados domésticos Demais 8,6 13,7 Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. 8.3. Assim, tomando as categorias mais importantes, os assalariados com carteira, que correspondem a 43% da estrutura ocupacional, contribuem plenamente para a Previdência; dos sem carteira (que são 13,7% da ocupação), apenas 10% contribuem; e do total dos autônomos (quase 20% da estrutura ocupacional), menos de 20% contribuem. 8.4. Em relação às formas de inserção ocupacional, cabe ressaltar que o assalariamento sem carteira é forma de burlar o ordenamento jurídico do país e, como tal, deve ser combatido. 8.5. Como já visto no Gráfico 1, o peso do trabalho por conta-própria cresceu na segunda metade da década de 1990, período muito negativo para o mercado de trabalho, passando a decrescer depois de 2003. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 6

8.6. Quanto aos autônomos, as medidas deveriam ser: Estimular a inclusão dos legítimos e Combater as formas espúrias de assalariamento disfarçado. 9. Mesmo mantendo a essência da forma atual de financiamento, ainda há grande reserva de potenciais contribuintes, além dos atuais ocupados que não contribuem: 9.1. Desempregados (Gráfico 5); e 9.2. Mulheres em idade ativa que se encontram fora da força de trabalho (Gráfico 6) 25,0 GRÁFICO 5 Evolução da taxa de desemprego total RMSP - 1985 a 2006 (%) 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 % Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Quanto aos dados do Gráfico 5, interessa dizer que, em 2006, pouco menos de 16% de trabalhadores que poderiam estar contribuindo para a Previdência não o faziam, antes de tudo por estarem desempregados. Mais do que isso, talvez estivessem utilizando recursos de fundos públicos (seguro-desemprego, bolsa-família, BPC etc.) em função de sua situação de desempregados. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 7

100,0 GRÁFICO 6 Taxa de participação na força de trabalho por sexo e total RMSP - 1995 e 2006 (%) % 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 1995 2006 Homens Mulheres Total Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Além dos desempregados, os inativos adultos constituem também uma outra fonte de possíveis trabalhadores e contribuintes para o sistema social (Gráfico 6). Especialmente as mulheres adultas podem vir a ser empregadas numa taxa mais expressiva, em particular se forem mais bem equacionados os desafios da esfera da reprodução humana (isto é, os desafios da organização do trabalho para o domicílio e para a família e das relações de gênero). 10. Segundo as remunerações 10.1. Para um financiamento mais adequado do Sistema Previdenciário, a remuneração média dos trabalhadores da ativa deveria crescer à frente do benefício médio dos aposentados e pensionistas. 10.2. Nos últimos anos, a remuneração média dos ocupados e o salário médio dos assalariados vieram decaindo e apenas bem recentemente esboçam reação. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 8

R$ GRÁFICO 7 Evolução dos rendimentos médios do total dos ocupados e dos assalariados - RMSP - 1995 a 2006 (em R$ de nov/06) 1.800,00 1.600,00 1.400,00 1.200,00 1.000,00 800,00 600,00 400,00 200,00 0,00 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Assalariados Ocupados Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. O Gráfico 7 mostra como os rendimentos (tanto dos ocupados em geral quanto dos assalariados em particular) caem de 1997 até 2003 e, desde então, esboçam uma reação sutil. 11. O estímulo e a disponibilidade financeira para a associação ao Sistema (e a seu financiamento) são cerceados pelos baixos salários praticados no Brasil. Ficam patentes no Gráfico 8 (a seguir) os baixos níveis remuneratórios praticados. Pouco mais de metade dos ocupados recebem, no máximo, 2 SM. Entre os contratados à margem da modalidade padrão e entre os autônomos, 65% a 70% dos trabalhadores recebem até 2 SM. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 9

100,0 GRÁFICO 8 Composição segundo faixa de rendimentos das formas de inserção RMSP 2006 (%) 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 Mais de 5 SM Mais de 2 até 5 SM Mais de 1 até 2 SM 1 SM Menos de 1 SM 30,0 20,0 10,0 0,0 Total de Ocupados Contratados à margem do padrão Contratados no padrão Conta Própria Empregados Domésticos Outros Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. 12. É importante ressaltar que, dada a forma de financiamento da Previdência Pública, as variáveis demográficas (discutidas na primeira reunião do Fórum da Previdência) são filtradas pelas variáveis do mercado de trabalho (além de o serem também pelos fatores econômicos e institucionais). Ou seja, considerando-se o atual sistema de financiamento da Previdência, a análise da dinâmica demográfica deve ser combinada à investigação do comportamento do mercado de trabalho (nas dimensões emprego e renda) para se obter uma compreensão mais completa e mais realista dos desafios da Previdência. 14. Na perspectiva dos trabalhadores 14.1. O mercado de trabalho brasileiro ainda é marcado por profunda heterogeneidade (em termos de condições de trabalho, formas de contratação, de remuneração, de formas de inserção, de jornada etc.). 14.2. É um grande desafio para a Previdência criar regras gerais para situações tão diferenciadas; Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 10

14.3. Por exemplo, um desafio grande é contemplar a situação do trabalhador que começa a trabalhar muito jovem, em condições de trabalho e de saúde precárias e, portanto, com expectativa de vida mais curta, ao mesmo tempo em que incorpora o trabalhador de colarinho branco, nível educacional superior e expectativa de vida sueca. 15. Constituem ameaça à efetivação do direito à aposentadoria: 15.1. A curta permanência na ocupação (em termos médios), 15.2. O tempo médio de desemprego, 15.3. A permanência estrutural na zona cinzenta entre a inatividade, o desemprego e a ocupação precária, 15.4. As mudanças relativamente freqüentes na ocupação e na forma de inserção. 16. É necessário ampliar o tempo de permanência no emprego (ou na ocupação) e conter a rotatividade. GRÁFICO 9 Distribuição dos assalariados do setor privado com e sem carteira assinada, segundo tempo de emprego no trabalho principal RMSP 2005 (%) 50,0 45,0 40,0 % 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 Até 6 meses Mais de 6 a 12 meses Mais de 1 a 2 anos Mais de 2 a 5 anos Mais de 5 anos 0,0 Assalariado com Carteira Assalariado sem Carteira Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 11

No Gráfico 9, chama a atenção o curto período de tempo de ocupação. Além disso, é impressionante a grande concentração de assalariados sem carteira na faixa de até 6 meses (46,9% - quase metade dos sem carteira ). Se somarmos as três primeiras faixas, veremos que cerca de 45% dos com carteira e 76% dos sem carteira estão há, no máximo, dois anos na ocupação corrente. GRÁFICO 10 Distribuição dos assalariados do setor privado com carteira e dos estatutários do setor público segundo tempo de permanência no emprego - Brasil 2005 (%) 18,0% 16,0% 14,0% 12,0% 10,0% 8,0% 6,0% 4,0% 2,0% 0,0% Ate 2,9 meses De 3,0 a 5,9 meses De 6,0 a 11,9 meses De 12,0 a 23,9 meses De 24,0 a 35,9 meses De 36,0 a 59,9 meses De 60,0 a 119,9 meses 120 meses ou mais Fonte: RAIS / MTE. Elaboração própria. O Gráfico 10 mostra para o Brasil que, mesmo para as posições na ocupação mais estáveis (assalariados com carteira e funcionários públicos), o tempo de permanência na ocupação tende a ser curto. Somando as quatro primeiras faixas, constata-se que quase 50% desses ocupados estão há no máximo dois anos no mesmo emprego. 17. A Previdência (e, em termos mais gerais a Seguridade Social) pode ser financiada, ainda mais do que hoje já é, por outras fontes que não a folha de pagamento. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 12

18. O desenvolvimento econômico (entendido como crescimento com maior justiça e compartilhamento de ganhos) é instrumento necessário para viabilizar um melhor financiamento da Previdência, porque pode trazer: 18.1. Aumento de salários dos trabalhadores da ativa; 18.2. Aumento da ocupação; 18.3. Redução de formas inseguras e desprotegidas de ocupação (o que, combinado com os dois pontos anteriores, gera uma expansão da base de contribuição); 18.4. Redução do desemprego; 18.5. Possível expansão da taxa de participação (com elevação da taxa feminina de atividade); e. 18.6. Ampliação do tempo de permanência na ocupação. 19. Quanto ao Custo do Trabalho, 19.1. Um estudo realizado no âmbito do IPEA 1 revela importantes informações para o debate sobre o tema do custo do trabalho, em particular, da previdência social, e sobre os encargos sociais. 19.2. No capítulo 7 2, demonstra-se que o peso da previdência social na estrutura de gasto com pessoal na indústria de transformação, vem caindo anualmente, sendo de 15,9% em 1996 contra 14,5% em 2003. 19.3. Extremamente significativas são as indicações de que a relação entre os gastos com pessoal e os custos totais também são declinantes, caindo de 19,3% em 1996 para 12,4% em 2003, bem como diminui a relação entre os gastos com pessoal e os custos das operações industriais, que naqueles anos caiu de 40,4% para 23,2%. 1 Tecnologia,exportação e emprego/organizadores: João Alberto De Negri, Fernanda De Negri, Danilo Coelho- Brasília:IPEA, 2006.503p. 2 Noronha, Eduardo G.; De Negri, Fernanda e Artur, Karen Custos do Trabalho, Direitos Sociais e Competitividade Industrial p. 161 a 201. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 13

19.4. Concluem os autores (p 164) que: As informações e estatísticas produzidas no presente estudo confirmam nossa hipótese inicial que, quanto maior o capital das empresas, mais voltadas para o mercado externo e mais inovadoras, melhores são suas práticas contratuais. Se tal hipótese estiver correta, detecta-se a inadequação da ênfase do debate público e técnico atual sobre a necessidade de redução de custo do trabalho para o aumento da competitividade (...) 20. No capítulo 3 3 dessa mesma obra, os autores tratam da estratégia competitiva de um conjunto de empresas, classificadas por eles como: a) As firmas que inovam e diferenciam produtos, que adotam estratégias de competição mais vantajosas e compõem o segmento mais dinâmico da indústria; b) As especializadas em produtos padronizados, que possuem foco na redução de custos; c) Firmas tradicionais, que não diferenciam produtos e têm produtividade menor. 21. Algumas das principais características desses grupos de empresas evidenciam-se no quadro abaixo. Chama atenção o fato de as empresas inovadoras serem em menor número, com relativa participação no faturamento e a menor quantidade de pessoal. Por sua vez, as especializadas têm forte participação no faturamento e no emprego. Já as empresas tradicionais representam 77% do total, com grande participação no emprego e menor participação no faturamento. 3 De Negri, João Alberto e Freitas, Fernando A Influência das Estratégias Competitivas das Empresas sobre os Salários p. 69 a 99. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 14

INDICADORES POR TIPO DE EMPRESAS (*) Número de Firmas Faturamento Pessoal ocupado Estratégia competitiva Abs % % média % R$ milhões Inovam e diferenciam produtos 1.199 1,7 162.464,5 25,9 545,9 13,2 Especializadas em produtos padronizados 15.311 21,3 393.492,7 62,6 158,1 48,7 Não diferenciam e têm produtividade menor 55.495 77,1 72.143,5 11,5 34,2 38,2 Total 72.005 100 628.100,7 100,0 69,1 100,0 (*) Elaborado a partir do estudo de De Negri e Freitas 22. Embora o trabalho não discuta a questão previdenciária, suas informações são pertinentes ao debate, especialmente no que diz respeito à questão da base de cálculo da incidência contributiva, se sobre a folha salarial ou sobre o faturamento ou ainda sob uma forma mista. 23. No quadro construído abaixo, observa-se que as empresas tradicionais com forte participação no emprego contribuem para a previdência em mais do que o dobro relativamente ao faturamento, quando comparada com as Firmas Inovadoras e as Especializadas. Ou seja, quanto mais intensiva em capital, menor a contribuição previdenciária em relação ao faturamento. INDICADORES POR TIPO DE EMPRESAS (*) Estratégia competitiva Contribuição previdenciária (**) Faturamento / Remuneração Contr. Prev / Faturamento Inovam e diferenciam produtos R$ 2.135,41 15,2 1,3 Especializadas em produtos padronizados R$ 4.712,94 16,8 1,2 Não diferenciam e têm produtividade menor R$ 2.129,70 6,9 2,9 Total R$ 8.978,05 14,1 1,4 (*) Elaborado a partir do estudo de De Negri e Freitas (**) Calculado com base em 20% da remuneração 24. A título de exercício para o debate, elaborou-se um cálculo, considerando a incidência combinada, com alíquota de 10% sobre a remuneração e o Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 15

restante incidindo sobre o faturamento, de forma a igualar a taxa de contribuição das empresas Inovadoras e das Especializadas à das Tradicionais, em 2,9% sobre o faturamento. Tal simulação indica que haveria um crescimento significativo da contribuição previdenciária (de cerca de 100%) do conjunto de todas essas empresas. 25. Previdência e Proteção Social. A questão aqui é ressaltar o resgate da dívida social para com os trabalhadores rurais, que também ajudaram a construir o país com o seu trabalho, em condições de trabalho penosas e, na maioria das vezes, sem os direitos socais. As chamadas aposentadorias rurais visam também amenizar a profunda desigualdade social gerada por um processo de concentração de capital altamente excludente e concentrador de renda. 25.1 Conforme apresentado no Gráfico 11 (abaixo), O grau de pobreza entre os idosos é substancialmente inferior ao da população mais jovem e, caso não houvesse as transferências previdenciárias (considerando também os segurados dos Regimes Próprios de Previdência Social RPPS), a pobreza entre os idosos aumentaria substancialmente. (Apresentação do Ministro da Previdência e Seguridade Social, em dezembro de 2006.) Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 16

GRÁFICO 11 Nível de Pobreza por Idade* Brasil 2004 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% % de Pobres 60,0% 50,0% 40,0% Linha de Pobreza Estimada (Caso não houvesse transferências previdenciárias) 30,0% 20,0% 10,0% Linha de Pobreza Observada 0,0% 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 Idade Com Rendimentos Previdenciários Sem Rendimentos Previdenciários Fonte: PNAD 2004 - Elaboração: SPSMPS. Obs: 1) Inclusive área rural da Região Norte. 2) Foram considerados apenas os habitantes de domicílios onde todos os moradores declararam a integralidade de seus rendimentos. * Linha de Pobreza = ½ salário mínimo. 26. Se não há expansão do mercado consumidor, o aumento da produtividade (decorrente do investimento tecnológico, de mudanças no processo de gestão, de facilidade na circulação das mercadorias e informações, etc.) aumenta a capacidade de produzir economizando trabalho humano. Como enfrentar essa questão em uma sociedade onde a inserção no mercado de trabalho confere cidadania aos indivíduos? 27. Algumas políticas e medidas para enfrentar os desafios impostos pelo estreitamento das possibilidades de inserção produtiva mais estável e segura, que fundamenta a cidadania e a organização social, podem ser: 27.1. Política de garantia de emprego para todos; 27.2. Redução da jornada de trabalho com manutenção dos salários; Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 17

27.3. Postergação da entrada dos jovens no mercado de trabalho associada ao investimento no estudo, no trabalho comunitário e social, na vida cultural e esportiva; 27.4. Antecipação da aposentadoria integração o tempo de vida produtiva ao trabalho comunitário e ao acesso aos bens e serviços culturais e de lazer. 28. O mercado de trabalho responde a um ordenamento econômico voltado para um padrão de acúmulo de renda e riqueza que expressam um padrão de consumo. O debate atual evidencia que esse modo de viver, que beneficia 1,5 bilhão de pessoas e exclui o triplo de seres humanos, inviabilizará em pouco tempo a vida no planeta. E, mais, não há recurso disponível para promover uma equalização para todos do padrão atual (e nem é desejável esse modo de produção, consumo e desperdício). O desafio planetário será buscar um outro modo de vida, o que significa a construção de um novo e diferente contrato social planetário e, nele, as questões da proteção e seguridade social permanecerão centrais. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 18

ANEXO Composição das categorias de formas de inserção utilizada pela metodologia PED. Contratados à margem da modalidade padrão : inclui os assalariados sem carteira do setor privado, os assalariados sem carteira do setor público, os terceirizados e os autônomos que trabalham para uma empresa. Contratados na modalidade padrão : inclui os assalariados com carteira do setor privado, os assalariados com carteira do setor público e os estatutários. Conta própria : inclui os autônomos que trabalham para mais de uma empresa, os autônomos que trabalham para o público em geral e os donos de negócio familiar. Outros : inclui os empregadores, os profissionais universitários autônomos, etc. Transformações no mercado de trabalho e desafios para a Previdência Social no Brasil 19