RELATÓRIO DA INSPEÇÃO NO CENTRO EDUCACIONAL DO JOVEM (CEJ) MANGABEIRA JOÃO PESSOA PB. Período: 23 de abril a 15 de junho de 2015



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Transcrição:

RELATÓRIO DA INSPEÇÃO NO CENTRO EDUCACIONAL DO JOVEM (CEJ) MANGABEIRA JOÃO PESSOA PB Período: 23 de abril a 15 de junho de 2015 1 PARTICIPANTES Padre Saverio Paolillo (Padre Xavier) - Conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba, Integrante do CEDHOR Centro de Direitos Humanos Dom Oscar Romero, Agente da Pastoral do Menor da Arquidiocese da Paraíba e integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente; Renan Palmeira Costa - Conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba Presidente do Movimento do Espírito Lilás- MEL; Olímpio Rocha Assessor Jurídico do CEDHPB e do CEDHOR; Tárcio Teixeira - Presidente do Conselho Regional de Serviço Social CRESS; Roberta Chaves de Souza Conselheira do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (CEDCA) e membro da Pastoral do Menor da Arquidiocese da Paraíba; 2 - METODOLOGIA A visita, como é de praxe nas inspeções do CEDH-PB e CEDCA, se deu sem anúncio prévio, conforme autorizado em lei. Além da observação dos espaços e situações, foi utilizado o contato direto com os internos, com os servidores e com a direção. Também foi utilizada uma câmera fotográfica, onde foram registradas as imagens expostas neste relatório. 3 - MOTIVAÇÃO DA VISITA Averiguação de reiteração de denúncia de supostos maus tratos aos jovens e outras irregularidades. 1

4 INFORMAÇÕES SOBRE A UNIDADE O Centro Educacional do Jovem CEJ - é uma Unidade de Atendimento Socioeducativo da Fundação Desenvolvimento da Criança e do Adolescente FUNDAC - vinculada à Secretaria de Estado e do Desenvolvimento Humano e está situada á Avenida Santa Bárbara s/n, no Bairro Jardim Cidade Universitária, em João Pessoa Pb. O prédio é da década de 1970 e era utilizada para o atendimento de adolescentes em cumprimento de medida de internação provisória. A partir do dia 22 de maio deste ano passou a ser ocupada por jovens do sexo masculino, autores de ato infracional, com idade entre 18 e 21 anos, em cumprimento de medida de internação. Conforme, relato da direção, a mudança se deu para acomodar melhor os jovens visto que o outro espaço era insuficiente para abrigar todo mundo. A estrutura física não segue as diretrizes do Sistema Nacional Socioeducativo Sinase (Resolução 119/2006 do Conanda). A arquitetura socioeducativa deve ser concebida como espaço que permita a visão de um processo indicativo de liberdade, não de castigos e nem da sua naturalização. No caso das entidades e/ou programas de execução de medidas socioeducativas de internação, a organização do espaço físico deverá prever e possibilitar a mudança de fases do atendimento do adolescente mediante a mudança de ambientes (de espaços) de acordo com as metas estabelecidas e conquistadas no plano individual de atendimento (PIA), favorecendo maior concretude em relação aos seus avanços e/ou retrocessos do processo socioeducativo. Sendo assim, são três as fases do atendimento socioeducativo: a) fase inicial de atendimento: período de acolhimento, de reconhecimento e de elaboração por parte do adolescente do processo de convivência individual e grupal, tendo como base as metas estabelecidas no PIA; b) fase intermediária: período de compartilhamento em que o adolescente apresenta avanços relacionados nas metas consensuadas no PIA; e c) fase conclusiva: período em que o adolescente apresenta clareza e conscientização das metas conquistadas em seu processo socioeducativo. Independentemente da fase socioeducativa em que o adolescente se encontra, há necessidade de se ter espaço físico reservado para aqueles que se encontram 2

ameaçados em sua integridade física e psicológica, denominada no SINASE de convivência protetora. A Unidade se parece com um presídio. Os alojamentos são celas, com pouca ventilação e luminosidade. Algumas delas se parecem com grutas, conforme definição dada pelos próprios jovens. As paredes estão cheias de mofo e de pichações. Durante as inspeções havia restos de comidas para todo e qualquer canto. O único critério seguido para a separação dos jovens parece ser o das facções. A unidade possui área administrativa, salas de atendimento, cozinha (desativada), refeitório utilizado somente para receber as visitas dos familiares, quadra de esporte e campo de futebol. Parte da unidade passa por um processo de reforma executada com a mão de obra dos próprios jovens. Segundo informações repassadas pela direção da Unidade, nos dias das inspeções havia 134 Jovens Internados, sendo que o Sinase prevê unidades de, no máximo, 40 internos, podendo chegar a um máximo de 90 jovens se, no mesmo terreno, existir mais de uma unidade, que não é o caso do CEJ. Neste sentido, cada Unidade terá até quarenta adolescentes, conforme a resolução nº 46/96 do Conanda, 40 sendo constituída de espaços residenciais denominados de módulos (estruturas físicas que compõem uma Unidade), com capacidade não superior a quinze adolescentes. No caso de existir mais de uma Unidade em um mesmo terreno, o atendimento total não poderá ultrapassar a noventa adolescentes (Resolução 119/2006 do Conanda). Recursos humanos: quanto à equipe de trabalho, além do diretor, normalmente há 24 agentes sócios educativos de plantão segundo uma escala de serviço de 12/36 horas, 4 psicólogos, 3 assistentes sociais e equipe de atendimento médico, além de outros profissionais destinados a outras atividades. Não tem dentista. A equipe é insuficiente se confrontada com aquilo que é previsto na Resolução 119 do Conanda que, entre outras exigências, prevê um técnico a cada 20 internos: 3

Para atender até quarenta adolescentes na medida socioeducativa de internação a equipe mínima deve ser composta por: 01 diretor 01 coordenador técnico 02 assistentes sociais 02 psicólogos 01 pedagogo 01 advogado (defesa técnica) Demais profissionais necessários para o desenvolvimento de saúde, escolarização, esporte, cultura, lazer, profissionalização e administração Socioeducadores. As atribuições dos socioeducadores deverão considerar o profissional que desenvolva tanto tarefas relativas à preservação da integridade física e psicológica dos adolescentes e dos funcionários quanto às atividades pedagógicas. Este enfoque indica a necessidade da presença de profissionais para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e profissionalizantes específicas. A relação numérica de socioeducadores deverá considerar a dinâmica institucional e os diferentes eventos internos, entre eles férias, licenças e afastamento de socioeducadores, encaminhamentos de adolescentes para atendimentos técnicos dentro e fora dos programas socioeducativos, visitas de familiares, audiências, encaminhamentos para atendimento de saúde dentro e fora dos programas, atividades externas dos adolescentes. A relação numérica de um socioeducador para cada dois ou três adolescentes ou de um socioeducador para cada cinco adolescentes dependerá do perfil e das necessidades pedagógicas destes; A relação numérica de um socioeducador para cada adolescente ocorrerá em situações de custódia hospitalar que exige o acompanhamento permanente (24 horas); A relação numérica de dois socioeducadores para cada adolescente ocorrerá quando a situação envolver alto risco de fuga, de autoagressão ou agressão a outros; A relação numérica de um socioeducador para cada dois adolescentes ocorrerá nas situações de atendimento especial. Neste caso, muitas vezes devido ao quadro de comprometimento de ordem emocional ou mental, associado ao risco de suicídio, é necessário que se assegure vigília constante. Cabe sublinhar ainda uma vez que os agentes socioeducativos são funcionários de empresa terceirizada. O CEJ possui Plano Político pedagógico PPP, mas não tem inscrição no Conselho estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente conforme previsto na Lei Federal 12.594/2012 - Sinase. 4

Art. 9 o Os Estados e o Distrito Federal inscreverão seus programas de atendimento e alterações no Conselho Estadual ou Distrital dos Direitos da Criança e do Adolescente, conforme o caso. Art. 11. Além da especificação do regime, são requisitos obrigatórios para a inscrição de programa de atendimento: I - a exposição das linhas gerais dos métodos e técnicas pedagógicas, com a especificação das atividades de natureza coletiva; II - a indicação da estrutura material, dos recursos humanos e das estratégias de segurança compatíveis com as necessidades da respectiva unidade; III - regimento interno que regule o funcionamento da entidade, no qual deverá constar, no mínimo: a) o detalhamento das atribuições e responsabilidades do dirigente, de seus prepostos, dos membros da equipe técnica e dos demais educadores; b) a previsão das condições do exercício da disciplina e concessão de benefícios e o respectivo procedimento de aplicação; e c) a previsão da concessão de benefícios extraordinários e enaltecimento, tendo em vista tornar público o reconhecimento ao adolescente pelo esforço realizado na consecução dos objetivos do plano individual; IV - a política de formação dos recursos humanos; V - a previsão das ações de acompanhamento do adolescente após o cumprimento de medida socioeducativa; VI - a indicação da equipe técnica, cuja quantidade e formação devem estar em conformidade com as normas de referência do sistema e dos conselhos profissionais e com o atendimento socioeducativo a ser realizado; e VII - a adesão ao Sistema de Informações sobre o Atendimento Socioeducativo, bem como sua operação efetiva. Parágrafo único. O não cumprimento do previsto neste artigo sujeita as entidades de atendimento, os órgãos gestores, seus dirigentes ou prepostos à aplicação 5

das medidas previstas no art. 97 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Art. 81. As entidades que mantenham programas de atendimento têm o prazo de até 6 (seis) meses após a publicação desta Lei para encaminhar ao respectivo Conselho Estadual ou Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente proposta de adequação da sua inscrição, sob pena de interdição. 5 RELATO DO HISTÓRICO DE VISITAS NA UNIDADE E DE IRREGULARIDADES E ILEGALIDADES ENCONTRADAS 5.1 Inspeção da Comissão de Medidas Socioeducativas (CMS) do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do dia 23 de abril de 2015 No dia 22 de abril de 2015, no final da tarde, houve uma rebelião no Centro Educacional do Jovem (CEJ), razão pela qual, no dia seguinte, 23 de abril, a Comissão de Medidas Socioeducativas do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e Adolescente (CEDCA/PB), composta pelos Conselheiros Roberta Chaves, Ana Targino e Saverio Paolillo (Padre Xavier este também conselheiro do CEDHPB), dirigiu-se ao local, por volta das 13h30, para realizar uma inspeção. Esta visita foi acompanhada pela Sra. Sandra Marrocos, diretora-presidenta da Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente (FUNDAC), responsável pelo CEJ. Na inspeção foi constatado que, durante a rebelião, houve a destruição parcial de duas alas do CEJ. 6

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Depois da visita às instalações destruídas, a Comissão pediu para conversar com os jovens que participaram da rebelião. Eles se encontravam recolhidos em outros alojamentos, estando somente de bermudas, sem quaisquer pertences pessoais e sem colchões para dormir, porque os colchões, segundo relato da direção, haviam sido retirados por estarem com cheiro de queimado. Alguns deles, relataram ter sofrido agressões por parte dos monitores após o término da rebelião, mostrando os ferimentos supostamente causados pelos supostos agressores. Segundo depoimento da direção, tais ferimentos teriam sido provocados pelos próprios jovens. 8

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Cabe ressaltar que, durante a rebelião, teriam sido agredidos também alguns agentes socioeducativos que realizavam intervenção para evitar consequências piores. Um deles sofreu uma queimadura no braço. Ainda apresenta uma cicatriz no local do ferimento. Segundo relato do mesmo a membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos, ele não teria recebido nenhum apoio por parte da Fundac, inclusive não passou por atendimento psicológico necessário para quem fica exposto a situações de violência como aquela que ocorreu durante a rebelião. Os jovens disseram também aos membros da Comissão que havia outros colegas com mais ferimentos, recolhidos em outros espaços, razão pela qual os membros da Comissão solicitaram à direção da unidade ser conduzidos a esses outros locais citados pelos jovens, mas foram ardilosamente conduzidos para a unidade de internação provisória (CEA), prédio ao lado, onde havia jovens que não tinham nada a ver com a rebelião. Depois, a pedido do diretor de segurança da FUNDAC, Sr. Bruno, o Pe. Xavier foi conversar com um jovem que teria sido o pivô da rebelião, pois teria tido sua morte encomendada, segundo relato do próprio, através de uma ordem que teria chegado de um presídio. Ele relatou também que os agentes perceberam a movimentação e conseguiram salvar o jovem antes que ele fosse morto, por volta das 8h30, do dia 22 de abril. Sendo aquele dia de visita, o diretor achou por bem não aplicar nenhuma sanção naquele momento, garantindo a entrada dos familiares que já estavam esperando do lado de fora. Logo depois da saída dos familiares, porém, a rebelião explodiu, resultando na destruição das alas, como acima descrito. Ao indagarem a respeito das providências tomadas pela direção e pela própria FUNDAC em relação aos fatos ocorridos durante a rebelião e à apuração da responsabilidade quanto à quebra do patrimônio público e às supostas agressões, os membros da Comissão foram informados de que até então não havia sido aberto nenhum procedimento. Inclusive, segundo relatos dos jovens, nenhum deles como também nenhum agente havia sido submetido a exames de lesões corporais. Além do atendimento médico prestado a todos os feridos, a direção da unidade determinou que todos os jovens que participaram da rebelião 12

permanecessem trancados em seus alojamentos por trinta dias com suspensão de todas as atividades e da visita dos familiares. Já no dia 23, antes de sair, a comissão solicitou verbalmente à Presidente da FUNDAC que todos os jovens e agentes socioeducativos supostamente vitimizados, independentemente da natureza e da autoria da suposta agressão, fossem encaminhados para realização de exame de corpo de delito e formalização de boletim de ocorrência, com o fito de verificar a procedência das agressões, como também criasse uma Comissão de Avaliação Disciplinar para aplicação de sanções conforme previsto na Lei 12.594/2012, art. 71-75. 5.2 Inspeção dos Conselho Estadual de Direitos Humanos do dia 04 de maio de 2015 A partir de denúncias de mães de internos do CEJ ao Conselho Estadual de Direitos Humanos, no dia 4 de maio, os Conselheiros Renan Palmeira e Saverio Paolillo, acompanhados pelo dr. Olímpio Rocha, assessor jurídico do CEDHPB, voltaram ao CEJ para verificar a situação e constataram que os jovens que participaram da rebelião ainda estavam amontoados nos alojamentos, sem colchões, sem pertences pessoais, só de bermudas. Os conselheiros pediram que eles mostrassem como faziam para dormir. 13

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Os mesmos relataram que não havia sido tomada nenhuma providência pela FUNDAC quanto às denúncias de supostos maus-tratos ocorridos após a 15

rebelião de 22 de abril. Inclusive, os mesmos diziam que desde o dia da rebelião, se encontravam trancafiados nos alojamentos, sem participação em qualquer atividade escolar ou pedagógica e sem visita dos familiares. Segundo disseram, a direção havia comunicado que eles ficariam naquela condição por trinta dias, como sanção pela rebelião. Ao serem perguntados se haviam sido submetidos a processo disciplinar, todos disseram que não. Também disseram que havia outros jovens abrigados em outro espaço, externo à unidade, e que apresentariam sinais mais claros das agressões sofridas. Forneceram detalhes mais precisos a respeito de sua localização. Diante desses depoimentos, os conselheiros solicitaram ao diretor da unidade que os levasse até o prédio externo da unidade, localizado ao lado direito da entrada do CEJ. Inicialmente, o diretor titubeou, mas, diante insistência, levou os conselheiros ao local citado, que apresentava aspecto de abandono e sem quaisquer condições de habitabilidade. Trata-se de uma casinha cercada por mato, sem banheiro, com várias celas sem luminosidade e ventilação, totalmente insalubres. O local é ironicamente chamado de esperança. Nesse local foram encontrados mais de vinte jovens, somente de bermudas, sem pertences pessoais, com marcas de agressões supostamente sofridas ainda na rebelião, conforme relataram. Vide fotos. Janela das celas 16

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A colher utilizada para a alimentação era um pedaço de garrafa peti 19

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A comissão, ao considerar aquela estrutura, denominada continuamente pelo próprio diretor como isolamento, totalmente incompatível com as normas de referência do SINASE, solicitou ao diretor imediatas providências para o deslocamento daqueles jovens para espaços mais adequados, além de externar certo mal-estar pelo fato da direção não ter mostrado aquele espaço antes, por ocasião da inspeção realizada no dia 23 de abril pela Comissão de Medidas Socioeducativas do CEDCA. O pedido dos conselheiros, porém, não foi atendido naquele dia. 5.3 Reunião de representantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos com a Direção da FUNDAC No dia 5 de maio, os conselheiros Renan Palmeira, Pe. Xavier e Guiany Campos realizaram uma reunião com a FUNDAC, na presença de sua diretora presidenta e demais diretores. Durante essa reunião, os conselheiros relataram tudo aquilo que haviam visto no dia anterior, no CEJ, como também 22

descreveram quanto levantado na visita realizada nos dias 06 e 07 de abril no Centro Socio Educativo Edson Mota CSE localizado no bairro Mangabeira em João Pessoa, inspeção objeto de relatório específico. Entre os vários assuntos tratados, os membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos fizeram as seguintes solicitações: realização de concurso para a seleção dos funcionários, melhoria das condições de trabalho e capacitação continuada dos mesmos; abertura de procedimento para apuração dos fatos ocorridos no dia 22 de abril, desde a tentativa de homicídio, a participação dos jovens na rebelião e a conduta dos agentes, sobretudo, após o término da rebelião; encaminhamento dos jovens e agentes supostamente feridos para exames de lesões corporais; suspensão de toda e qualquer sanção aplicada até a instalação de Comissão Administrativa Disciplinar conforme Lei Federal 12594/2012, art. 71-75, para a aplicação das medidas disciplinares garantindo o direito ao contraditório mediante a participação de defensor público; imediata remoção dos jovens que se encontravam no isolamento, conduzindo-os ao espaço comum do CEJ; garantia da visita dos familiares no dia 10 de maio, por se tratar do dia das mães a interdição definitiva daquele espaço utilizado como isolamento e a instalação de espaço adequado para a aplicação de medidas de proteção (espaço protetivo) após a instalação do devido processo administrativo, conforme a Lei do Sinase. Art. 16. A estrutura física da unidade deverá ser compatível com as normas de referência do Sinase.... 2 o A direção da unidade adotará, em caráter excepcional, medidas para proteção do interno em casos de risco à sua integridade física, à sua vida, ou à de outrem, comunicando, de imediato, seu defensor e o Ministério Público. 23

Naquela oportunidade, a diretora presidenta afirmou não saber da utilização daquele local indicado como isolamento, pois acreditava que o mesmo havia sido interditado há muito tempo. Em relação à visita do dia das mães, o diretor de segurança disse que não tinha condições de segurança para realização das mesmas. Quanto ao concurso, afirmou que estava em andamento o processo para a realização do mesmo em 2016. A diretora presidente relatou também os avanços conseguidos nos últimos anos, sublinhando sobretudo o fato de haver 8 jovens cursando faculdade. 5.4 Da visita ao CEJ de membros da Comissão de Medidas Socioeducativas do CEDCA/PB com a dra. Antonieta Maroja, juíza da vara da Infância e da Juventude da Capital no dia 06 de maio de 2015 No dia 6 de maio, Padre Xavier e Roberta Sousa, membros da Comissão de Medidas Socioeducativas do CEDCA/PB, a convite da Dra. Antonieta Maroja, juíza da Infância e Juventude da Comarca da Capital, voltaram ao CEJ e acompanharam a Meritíssima em nova visita a todos os espaços da unidade, inclusive ao isolamento, onde ainda se encontravam os jovens. Ela solicitou a remoção dos jovens dali, voltando ao espaço comum, tendo sido atendida no final da tarde daquele mesmo dia. Mais uma vez, porém, a direção comunicou que a visita dos familiares continuaria suspensa, por falta de condições de segurança e por entender que o espaço havia ficado prejudicado com a rebelião. 5.5 Inspeção conjunta de membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos, CEDCA/PB e Conselho Regional de Serviços Social realizada no dia 15 de junho de 2015 Finalmente, no dia 15 de junho, após receber mais denúncias, via telefone, de supostas agressões ocorridas no CEJ, o CEDHPB deliberou realizar outra inspeção no CEJ, em parceria com o CRESSPB e com a Comissão de Medidas Socioeducativas do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente. Às 13h, estiveram no local Pe. Xavier, Renan Palmeira, Olímpio Rocha e Tárcio Teixeira, do CRESS. Tentou-se contato telefônico com Ana 24

Targino do CEDCA, mas não foi localizada, enquanto Roberta Chaves de Souza, também membro do CEDCA, chegou por volta das 14:30. Vale ressaltar que no dia 22 de maio a FUNDAC determinou a transferência do CEJ para o antigo espaço do CEA, come foi já citado no parágrafo 4 deste relatório. Ao chegar, os conselheiros foram abordados pelo agente socioeducativo W.I.L., que mostrou cicatriz oriunda de queimadura sofrida na rebelião do dia 22 de abril, sendo que disse que não recebeu nenhuma assistência por parte da FUNDAC. Na portaria da unidade, os conselheiros supraditos foram atendidos por um encarregado, pois o diretor não se encontrava no local, sendo que permaneceram esperando bom tempo, até que o diretor permitiu, por telefone, a entrada. 25

Uma das denúncias recebidas era de que o espaço do isolamento continuava sendo usado como castigo, coisa que imediatamente ficou confirmada, apesar das tentativas dos monitores de maquiar a situação. De fato, enquanto os conselheiros aguardavam autorização para entrar na unidade, três jovens, identificados como E.I.S.J, E.L.S. e A.A.S., que se encontravam no isolado, eram imediatamente retirados e reconduzidos à unidade. Inclusive, conforme fotos em anexo, no isolado havia pratos com resto de comida, o que prova que os jovens ali estavam mesmo. Na conversa com os jovens, confirmaram que o isolado continuou sendo usado como cela de castigo, como também confirmaram que não foi instaurado nenhum procedimento disciplinar como exige o SINASE. 26

Os Conselheiros verificaram que os jovens permaneciam trancafiados, exceto um grupo deles que estava trabalhando como pedreiros, iniciativa louvável, pois pelo menos não estavam ociosos, mas sem qualquer equipamento de proteção. Todos os jovens perguntados disseram que a única atividade era a escolarização, que dura no máximo 2 horas por dia. O resto do tempo é passado em absoluta ociosidade. Inclusive alguns jovens relataram que, nem sequer, estariam estudando, entre eles há L.M.G.C., C.A., M.S.A., F.G.N. e C.E.A. 27

Muitos jovens relataram, de novo, que teriam sofrido novas agressões supostamente praticadas por alguns monitores, tendo sido agredidos com telescópio de moto, canivete e porretes de madeira nos quais estavam gravados os seguintes dizeres: SINASE, ECA e direitos humanos. Ao serem questionados sobre o paradeiro dos porretes, os jovens disseram que os mesmos ficam escondidos no campo de futebol, onde, de fato, foram encontrados pelos conselheiros. 28

Em relação à alimentação, os conselheiros perceberam que a mesma continua sendo distribuída em pratos de plástico e consumida nos alojamentos, mesmo havendo refeitório na unidade. A comida às vezes chegaria estragada. 29

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Os jovens também reclamaram do atendimento médico, com alguns deles precisando de intervenção cirúrgica, tais como J.E.C.R., com hérnia inguinal, R.L.S. necessitando de cirurgia na mão, I. B., com cisto no rosto, e L. S.com cicatriz na cabeça provocada por paulada supostamente desferida por monitor. Percebeu-se, outrossim, que ainda há jovens com sequelas das agressões sofridas durante a rebelião, como W. que relata ter levado uma pancada na com barra de ferro. 31

5.6 Inspeção do Conselho de Direitos Humanos no dia 16 de junho No dia 16 de junho, após receber ligação de suposta agressão aos danos de um jovem do CEJ que teria acontecido na tarde do dia 15 de junho, logo depois da inspeção do CEDH, os conselheiros pe. Xavier, Renan e Laura decidiram voltar ao CEJ. Chegaram por volta das 16 horas e 30 minutos e, ainda uma vez, constataram que o jovem M. se encontrava no isolado por ter batido chapão. Aos ser interrogado se havia sofrido agressões negou. Os outros jovens relataram que na parte da manhã haviam recebido visita da Diretora presidente da FUNDAC que teria dito que não tinha conhecimento da presença e uso dos porretes com escrita Direitos Humanos. Essa fala dos jovens consta em depoimento gravado pelos conselheiros. A mesma fala foi feita pela diretora presidente via whatsapp ao conselheiro Renan que, no dia 15, lhe havia enviado as fotos dos porretes, por se tratar de algo muito grave. Surpreendentemente na enésima visita de inspeção, os conselheiros encontraram outros porretes e barras de ferro espalhados pela unidade, sobretudo no trajeto até o campo, especialmente numa salinha identificada como lavandaria, ao alcance de todo mundo. Causa surpresa verificar que, apesar da direção ter sido alertada de imediato pelo conselheiro Renan quanto à existência de porretes na unidade, nada havia sido feito no dia seguinte com o intuito de recolhê-los e retirá-los da unidade. Contaria qualquer norma de segurança a presença de tais objetos dentro de espaços de contenção, levando em conta que os mesmos poderiam ser utilizados tanto pelos jovens quanto pelos funcionários para eventuais agressões, colocando em risco a vida da comunidade socioeducativa. 32

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6 - D E M A I S I R R E 36

6. DAS OUTRAS IRREGULARIDADES E ILEGALIDADES A) Dos agentes socioeducativos contratados (monitores) Os agentes que atuam na Unidade não são funcionários diretos da FUNDAC, mas funcionários de uma empresa de segurança contratada. É evidente que, apesar da boa vontade, não têm preparo suficiente para a realização desse serviço. Além do mais não recebem capacitação para a execução de suas tarefas e suas condições de trabalho são rpecárias. Eles são unicamente agentes de segurança. Inclusive, utilizam um uniforme que os identifica como tais. Tal procedimento viola totalmente as orientações do CONANDA em relação à contratação do pessoal que atua no sistema socioeducativo. Os programas de atendimento que executam a internação provisória e as medidas socioeducativas deverão buscar profissionais qualificados para o desempenho das funções, utilizando critérios definidos para seleção e contratação de pessoal, entre eles a análise de currículo, prova escrita de conhecimentos e entrevista. Deverão, ainda, oportunizar e oferecer formação e capacitação continuada específica para o trabalho socioeducativo e em serviço, sendo esta parte da política de recursos humanos compreendendo minimamente as seguintes ações: a) capacitação introdutória: é específico e anterior à inserção do funcionário ao sistema, tendo como referência os princípios legais e éticos da comunidade educativa e o projeto pedagógico; b) formação continuada: atualização e aperfeiçoamento durante o trabalho para melhorar a qualidade dos serviços prestados e promover o profissional continuamente; c) supervisão externa e/ou acompanhamento das Unidades e/ou programas: coordenada por especialistas extra-institucionais, criase um espaço onde os agentes socioeducativos podem expor suas dificuldades e conflitos nos diversos âmbitos (afetivo, pessoais, relacionais, técnicos, grupais, institucionais) da prática cotidiana, com o objetivo de redirecionamento dos rumos, visando à promoção dos princípios ético-políticos da comunidade socioeducativa. Incluem-se também o acompanhamento e a participação dos conselhos profissionais (das diferentes áreas do conhecimento que atuam no atendimento), dos governos federal, estadual, distrital e municipal, dos diversos Conselhos de controle social e das universidades para a garantia, apoio e a participação 37

na formação, na capacitação, na elaboração de pesquisas, no monitoramento e na avaliação institucional. (Resolução Conanda 119, Sinase, 2006) B) Do uso ilegal de equipamentos de segurança Segundo relatos de todos os jovens, alguns agentes socioeducativos, sobretudo no período noturno, fariam uso de equipamentos de segurança ilegais, como gás de pimenta, porretes e telescópio de moto. C) Da aplicação de medidas disciplinares Os adolescentes em medida relataram que, durante o castigo ficam sem visita, sem banho de sol e sem participar de atividades, inclusive da escola. O castigo, como já relatado, acontece em espaço totalmente inadequado. Além de mais, como já salientado, não há Comissão de Avaliação Disciplinar e instauração formal de processo disciplinar com garantia de ampla defesa e contraditório. Essas irregularidades afrontam as determinações da Lei Federal 12.594/2012. Inclusive o Art. 74 da Lei que regulamenta o Sinase determina que Não será aplicada sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar e o devido processo administrativo. Art. 71. Todas as entidades de atendimento socioeducativo deverão, em seus respectivos regimentos, realizar a previsão de regime disciplinar que obedeça aos seguintes princípios: I - tipificação explícita das infrações como leves, médias e graves e determinação das correspondentes sanções; II - exigência da instauração formal de processo disciplinar para a aplicação de qualquer sanção, garantidos a ampla defesa e o contraditório; III - obrigatoriedade de audiência do socioeducando nos casos em que seja necessária a instauração de processo disciplinar; IV - sanção de duração determinada; V - enumeração das causas ou circunstâncias que eximam, atenuem ou agravem a sanção a ser imposta ao socioeducando, bem como os requisitos para a extinção dessa; VI - enumeração explícita das garantias de defesa; VII - garantia de solicitação e rito de apreciação dos recursos cabíveis; e VIII - apuração da falta disciplinar por comissão composta por, no mínimo, 3 (três) integrantes, sendo 1 (um), obrigatoriamente, oriundo da equipe técnica. Art. 72. O regime disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal que advenha do ato cometido. 38

D) Do fornecimento de água Art. 73. Nenhum socioeducando poderá desempenhar função ou tarefa de apuração disciplinar ou aplicação de sanção nas entidades de atendimento socioeducativo. Art. 74. Não será aplicada sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar e o devido processo administrativo. Art. 75. Não será aplicada sanção disciplinar ao socioeducando que tenha praticado a falta: I - por coação irresistível ou por motivo de força maior; II - em legítima defesa, própria ou de outrem. Todos os jovens relataram que a água somente é fornecida três vezes por dia, por cerca de 20 minutos. Nesse tempo, os jovens devem tomar banho, limpar o alojamento e lavar a roupa. A água destinada ao consumo é fornecida pelos agentes em garrafas peti. E) Da revista vexatória Segundo relato dos jovens, os familiares seriam submetidos à revista vexatória, isto é, são obrigados a tirar a roupa e a fazer flexões sobre um espelho em descumprimento da Lei 6.081, de 18 de abril de 2000. De acordo com o Artigo 1º da lei, a revista dos visitantes, necessária à segurança interna dos presídios do estado da Paraíba, será realizada com respeito à dignidade humana e segundo os dispostos na lei. E o Artigo 5º determina: Para garantia da segurança serão instalados detectores de metais e outros equipamentos necessários a impedir o ingresso de qualquer tipo de arma e drogas nas casas prisionais. Já o Artigo 6º ressalta: Fica excluída da rotina da revista padronizada a realização da revista íntima, que será efetuada, excepcionalmente, dentro dos limites fixados na lei. F) Da ausência de atividades pedagógicas, cursos e formação profissionalizante Segundo relato dos jovens, só funcionaria a escola com cerca de duas horas por dia. Mesmo assim, alguns relatam não frequentar as aulas. No restante do tempo ficam trancafiados nos alojamentos, sendo que às vezes só levados no campo para jogar bola. Efetivamente, em todas as visitas realizadas pelos conselhos, NUNCA foram encontrados os jovens realizando atividades extracurriculares, a não ser os que estão colaborando 39

com a reforma da unidade executando serviços de pedreiro e uns que estavam no pátio externo lavando carros. Segundo relato dos jovens, eles preferem executar estas últimas tarefas por estarem cansados de permanecerem ociosos trancafiados nas celas. G) Do cerceamento da atuação dos conselheiros na função de fiscalização e monitoramento. Reconhece-se que a direção da unidade e a direção da Fundac não criaram nenhum obstáculo ao trabalho de fiscalização e monitoramento dos conselheiros de direito, mas, durante a oitiva dos jovens, alguns agentes ficam próximos gerando constrangimento por parte dos depoentes. Ao serem convidados a se afastarem, acabam reclamando. Alguns não se afastam de forma alguma. Inclusive, percebe-se certa hostilidade durante toda a inspeção. Alguns jovens relataram também que, após saída dos conselheiros sofreriam pressões por parte de alguns agentes. Entre as ameaças há a possibilidade de atuação dos jovens e transferência para o presídio do Roger. 40

7 - RECOMENDAÇÕES a) Que o Ministério Público Estadual designe comissão para inspeção do CEJ, com o fito de apurar violações em geral ao Estatuto da Criança e do Adolescente e outros diplomas legais; b) Que o Ministério Público Federal também o faça, com o fito principal de averiguar a ocorrência da prática de tortura contra os internos e identificação e punição dos torturadores; c) Que o Ministério Público do Trabalho atue no sentido de fiscalizar o contrato do Estado da Paraíba com a empresa empregadora dos monitores (agentes socioeducativos), procurando fazer com que seja determinada a imediata realização de concurso público para a função; d) Que a FUNDAC aja no sentido de fazer cumprir a Lei do SINASE, cancelando quaisquer sanções que não tenham desafiado o contraditório e a ampla defesa; e) Que a FUNDAC procure legalizar o mais rápido possível o funcionamento da unidade providenciando a inscrição da mesma, como também de todas as outras que executam medida socioeducativa de internação e semiliberdade no território do Estado da Paraíba, no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, conforme previsto na Lei Federal 12.594/2012, sob pena da interdição das mesmas (Lei 12.594/2012, art. 81) e da responsabilização de seus dirigentes conforme previsto no art. 97 da Lei n. 8.069/90; f) Que a FUNDAC passe a implementar imediatamente a rotina pedagógica prevista no PPP da unidade, garantindo todas as atividades destinadas à formação integral dos jovens sob sua tutela; 41

g) Que a FUNDAC passe a adequar o número dos profissionais conforme previsto no Sinase; h) Que a FUNDAC passe a realizar reformas do espaço físico para adequar o funcionamento da unidade às orientações do SINASE; i) Que a FUNDAC regulamente os procedimentos a serem adotados em caso de denúncia de supostas agressões, independentemente da natureza, dos autores e dos destinatários das mesmas, tornando obrigatória a notícia à autoridade policial, a realização das perícias previstas nesses casos e a comunicação dos fatos aos órgãos competentes, sobretudo, Poder Judiciário, MP e Conselho Estadual de Direitos da Criança e Adolescente a quem compete a função de monitorar o sistema socioeducativo de internação. j) Que a FUNDAC crie a corregedoria para avaliar a conduta de seus funcionários e investigar outras ocorrências conforme as competências previstas no seu ordenamento; k) Que a FUNDAC interdite de uma vez por todas a área externa conhecida como isolado, por total falta de condição de higiene/salubridade; l) Que a FUNDAC encaminhe os adolescentes enfermos, acima mencionados, a imediato atendimento e tratamento médico; m) Que o Conselho Estadual de Direitos Humanos e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescentes façam levantamento do andamento da Ação Civil Pública que tramita na 1ª Vara da Fazenda da Capital versus o Estado da Paraíba e a Fundac sob o n. 200.2012.063.537-6 objetivando melhorias no sistema socioeducativo paraibano. Sugerimos, enfim, ao Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba e ao Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente o envio de cópias deste relatório aos seguintes órgãos: 42

Juizado da Infância e da adolescência da Comarca de João Pessoa Coordenadoria das Varas da Infância e da Juventude da Paraíba Ministério Público da Infância e Adolescência da Capital Ministério público Federal Ministério Público do Trabalho GT Sinase Centro de Apoio às Promotorias da Infância e Juventude do MP Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano Fundac Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional Conselho Nacional de Direitos Humanos Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente RENAN PALMEIRA Conselheiro CEDHPB SAVERIO PAOLILLO (Pe. Xavier) Conselheiro CEDHPB e CEDCA ROBERTA CHAVES Conselheira CEDCA TÁRCIO TEIXEIRA Presidente CRESSPB OLÍMPIO ROCHA Advogado CEDHPB Laura Berquó Conselheira CEDHPB - OAB 43