Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 4/CONT-I/2012



Documentos relacionados
COMUNICADO. eletrónicos de órgãos de comunicação social estão sujeitas ao disposto no n.º 1 do artigo 10º da Lei das Sondagens;

Deliberação 112/2015 (DR-TV)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 14/PUB-TV/2010

Deliberação 35/2015 (PUB-TV)

PEDIDO DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE

ACÓRDÃO Nº 22 / JUN/1ª S/SS

REGULAMENTO PROVEDORIA DO CLIENTE CAPITULO I - PRINCIPIOS GERAIS

APOSENTADORIA ESPECIAL

No âmbito deste procedimento, foram recebidas respostas da Tele2 e da PTC (em anexo ao presente relatório):

ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA

REGULAMENTO DAS PROVAS ORAIS DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO

ORDEM DE SERVIÇO Nº 17/2015 Regulamento Relativo ao Pessoal Docente Especialmente Contratado da Universidade de Évora

PROVA ESCRITA E PRÁTICA

PARECER N.º 104/CITE/2014

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

PARECER N.º 93/CITE/2009

Contrato de Assistência Técnica ao Programa pleon

PARECER N.º 22/CITE/2013. Assunto: Pedido de Flexibilidade de Horário apresentado pela Trabalhadora Entidade Empregadora, S.A Processo n.

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA A

REGIMENTO DA CÂMARA MUNICIPAL DE VILA FRANCA DO CAMPO (1) Preâmbulo

4912 Diário da República, 1.ª série N.º de agosto de 2012

Programa de Formação para Profissionais

Decreto do Governo n.º 1/85 Convenção n.º 155, relativa à segurança, à saúde dos trabalhadores e ao ambiente de trabalho

PARECER N.º 135/CITE/2009

ESTATUTO E REGULAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE. CAPÍTULO I Estatuto do Provedor

Apresentada a reclamação importa analisar face às competências que me são estatutariamente conferidas se assiste razão ao estudante.

Colóquio anual sobre Direito do Trabalho Outubro/2009 Despedimento para a Reestruturação (da empresa) Intervenção em mesa redonda

COMPANHIA DE SEGUROS TRANQUILIDADE, S.A. PROVEDOR DO CLIENTE

Ordem dos Advogados Largo São Domingos 14-1º, Lisboa Tel.: Fax:

POC 13 - NORMAS DE CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS

Processos apensos T-6/92 e T-52/92. Andreas Hans Reinarz contra Comissão das Comunidades Europeias

PROJETO A FORMAÇÃO NÃO É SÓ O SABER

ESTATUTO E REGULAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE ESTATUTO E REGULAMENTO DO PROVEDOR DO CLIENTE. Data: Pág. 1 de 13

PARECER N.º 1/CITE/2003

do presente Protocolo, a torná-las vigentes e a garantir a respectiva aplicação.

P.º 110.SJC.GCS/2010

Regulamento de Gestão de Reclamações

OBSERVATÓRIO DOS DIREITOS HUMANOS

PARECER N.º 26/CITE/2006

SEGURO UNIT LINKED CA INVESTIMENTO -1ª SÉRIE (Não Normalizado)

REGULAMENTO DO CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA DA FACULDADE DE DIREITO DE COIMBRA

Apoiando Entidades EXTRAÍDO

AUDIÇÃO NA COMISSÃO PARLAMENTAR DO AMBIENTE, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E PODER LOCAL. Projeto de Lei Nº 368/XII

PROVA DISCURSIVA P 4

REGULAMENTO SOBRE REMUNERAÇÃO VARIÁVEL DE CURTO E MÉDIO PRAZO ZON OPTIMUS, SGPS, S.A. ( Sociedade ) Artigo 1º. (Objeto e Objetivos)

RESOLUÇÃO Nº CLASSE 19 BRASÍLIA DISTRITO FEDERAL

LEGISLAÇÃO RELATIVA A ELEIÇÕES E REFERENDOS

REGULAMENTO DO GABINETE DE APOIO AO CONSELHO FISCAL GALP ENERGIA, SGPS, S.A.

Ministério da Administração do Território

SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE ESTÁGIO (Art.º 22.º do Regulamento de Estágio, publicado no Diário da República de 9 de Fevereiro de 2010)

ESTATUTO DOS BENEFÍCIOS FISCAIS CAPÍTULO X. Benefícios fiscais relativos ao mecenato. Artigo 61.º. Noção de donativo. Artigo 62.º

L 343/10 Jornal Oficial da União Europeia

Lei dos Formulários dos Diplomas

Por Uma Questão de Igualdade

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI N o 652, DE (Apensos: PL s nºs 2.862/2011 e 2.880/2011)

POPULAR SEGUROS- COMPANHIA DE SEGUROS, S.A.

Circular nº 24/2015. Lei nº. 41/2015, de 3 de Junho. 17 de Junho Caros Associados,

PROPOSTA DE LEI N.º 233/XII

Publicado no Diário da República, I série, nº 221, de 17 de Dezembro AVISO N.º 11/2014 ASSUNTO: REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Regulamento de Associados/as. Art. 1º. (Admissão e Recusa de Associados)

Jornal Oficial da União Europeia

Decreto n.º 1/93 Protocolo de Alteração à Convenção Europeia Relativa à Protecção dos Animais nos Locais de Criação

PARECER N.º 18/CITE/2012. Assunto: Licença na situação de risco clínico e licença por maternidade Direito a férias Processo n.

P.º R. P. 301/04 DSJ-CT

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA. Artigo: 6º; 14º; Decreto-Lei n.º 347/85, de 23/08; Assunto:

Deste parecer resultam entendimentos passíveis de: FAQ s? Anotação de diploma? Publicação na Web? X Elaboração de Circular?

Política do regulamento de funcionamento do Serviço de Gestão de Reclamações de Clientes e Terceiros

PARECER N.º 40/CITE/2012

As decisões intermédias na jurisprudência constitucional portuguesa

Regulamento da Biblioteca do Instituto de Seguros de Portugal. Capítulo I ASPECTOS GERAIS

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA Artigo: 18º

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 21/CONT-I/2011

Resolução da Assembleia da República n.º 37/94 Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras

Legislação MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

TRATADO DE BUDAPESTE SOBRE O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL DO DEPÓSITO DE MICRORGANISMOS PARA EFEITOS DO PROCEDIMENTO EM MATÉRIA DE PATENTES.

Avisos do Banco de Portugal. Aviso nº 2/2007

DESPACHO n.º 13 /2016

Entidade Visada: Secretaria de Estado da Educação Assunto: Faltas para comparência a reuniões sindicais realizadas fora do local de trabalho.

JORNAL OFICIAL. Sumário REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA. Quarta-feira, 2 de julho de Série. Número 99

Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União PARECER. Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação. Sem restrição.

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 29/2016 (AUT-TV)

1.º Curso de Estágio de 2006 TESTE DE DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

CAPÍTULO I Disposições gerais

Transcrição:

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social Deliberação 4/CONT-I/2012 Participação de Bruno Perdigão contra a publicação da Sociedade Protetora dos Animais O Zoófilo Lisboa 16 de fevereiro de 2012

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social Deliberação 4/CONT-I/2012 Assunto: Participação de Bruno Perdigão contra a publicação da Sociedade Protetora dos Animais O Zoófilo I. Exposição 1. Em 29 de dezembro de 2011, deu entrada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) uma participação subscrita por Bruno Perdigão contra a publicação O Zoófilo, propriedade da Sociedade Protetora dos Animais, a propósito de um texto Quadras Soltas publicado na edição de outubro/dezembro de 2011, por alegada homofobia. 2. Desagradado sobretudo com uma das passagens do texto, o participante sustenta que para além de [esse conteúdo] ir contra tudo em que acredito e de me parecer ofensivo, penso também que ofende a Constituição da República Portuguesa, no que concerne ao princípio da igualdade entre os cidadãos. II. Descrição 3. O Zoófilo, órgão da Sociedade Protetora dos Animais, é uma publicação temática de distribuição gratuita, com formato de revista e periodicidade trimestral. As temáticas a que a publicação se dedica estão relacionadas, quase sem excepção, com os animais e a atividade da entidade proprietária. 4. A edição n.º 53 - outubro/dezembro 2011 apresenta um total de 16 páginas, sendo nesta última que é editado o texto Quadras Soltas, com assinatura de José Luís, ao qual a participação se reporta. 5. Quadras Soltas é um texto em rima com dez quadras, cujos excertos que interessam para a presente análise são os seguintes: Casais homossexuais serão casais abusivos. Deus casou Adões com Evas e não Adões com Ivos. Mais à frente o texto: 1

Os gatos são sempre gatos. Leões são sempre leões. Se os patos são sempre patos, porque é que há homens pavões? ( ) Não quero ser foca nos pólos, nem cão preso no canil. Nem ser porco em Portugal, nem veado no Brasil. (cf. Quadras I, IV e VIII do texto citado, disponível para consulta em http://www.sp-animais.pt/53.pdf). III. A posição de O Zoófilo 6. Informado do conteúdo da participação remetida à ERC por Bruno Perdigão, O Zoófilo apresentou a sua posição sobre a matéria contestada por Bruno Perdigão, em resposta datada de 17 de janeiro de 2012. 7. O Zoófilo começa por defender que a participação deve ser indeferida por não assistir legitimidade ao participante para a apresentar, na medida em que não tem interesse directo, pessoal e legítimo para efectuar a queixa, visto que nenhuma referência lhe é feita ou dirigida no texto em causa. 8. Acrescenta, por outro lado, que Quadras Soltas não constituem um juízo de valor, mas simplesmente se limitam a um mero discurso de diversão ( ) um exercício humorístico veiculado no âmbito das liberdades de religião, de opinião e artística. 9. Segundo a publicação, outro entendimento sobre esta matéria implicaria proibir ou censurar, por exemplo, qualquer outro programa de televisão, de teatro, qualquer escrito, qualquer cartoon, qualquer banda desenhada, enfim, qualquer referência à homossexualidade em qualquer meio de comunicação, mormente de teor humorístico. IV. Normas aplicáveis 10. Aplica-se, ao caso vertente, o disposto no artigo 37.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa (doravante CRP). Aplica-se igualmente o disposto na Lei n.º 2/99, de 13 de janeiro (Lei de Imprensa, doravante LI), em particular o artigo 3.º da referida Lei. 11. É ainda aplicável o disposto nos artigos 8.º, alíneas a) e d) e artigo 24.º, nº3, alínea a), da Lei 53/2005, de 8 de novembro (Estatutos da ERC, doravante EstERC). 2

V. Análise e fundamentação 12. Começa o Denunciado por alegar a falta de legitimidade do Queixoso para instaurar o presente procedimento de queixa. 13. Importa pois analisar, a título de questão prévia, se o queixoso tem legitimidade para suscitar junto deste Conselho a apreciação do texto referido na queixa. 14. Nos termos do consignado no artigo 55.º dos EstERC [q]ualquer interessado pode apresentar queixa relativa a comportamento suscetível de configurar violação de direitos, liberdades e garantias ou de quaisquer normas legais ou regulamentares aplicáveis às atividades de comunicação social desde que o faça no prazo máximo de 30 dias a contar do conhecimento dos factos e desde que tal conhecimento não ocorra passados mais de 120 dias da ocorrência da alegada violação. 15. Deve, pois, fazer-se uma interpretação ampla das pessoas com legitimidade para apresentar o procedimento previsto no artigo 55.º dos EstERC, interpretação essa que se impõe pela própria referência legal a qualquer interessado. 16. Assim, ainda que o Queixoso não tenha um interesse direto nos conteúdos veiculados, terá sempre direito a apresentar queixa quando, de um ponto de vista subjetivo, entenda que esses mesmos conteúdos violam direitos constitucionalmente protegidos. 17. Por outro lado, sempre se dirá que os EstERC preveem expressamente a instauração oficiosa de procedimentos pela ERC, no artigo 64,º, n.º 1, tendo pois o Regulador legitimidade para apreciar e decidir sobre todos os conteúdos veiculados por um órgão de comunicação social, sempre que esteja em causa a eventual violação de direitos, liberdades e garantias. 18. A participação de Bruno Perdigão tem como objeto um texto Quadras Soltas publicado na revista O Zoófilo, cuja autoria é atribuída a José Luís. 19. O texto é composto por três quadras, de um conjunto de dez, nas quais surgem referências à homossexualidade masculina, que indignaram o participante, por considerar que transmitem uma visão discriminatória daquela opção sexual e da possibilidade legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo. 3

20. O autor começa por questionar o casamento entre dois homens a partir de um entendimento sagrado e religioso da instituição, considerando-o um matrimónio abusivo, já que Deus casou Adões com Evas e não Adões com Ivos. 21. Mais à frente no texto questiona a postura de alguns homens, comparando-os com pavões. Noutro verso, que também relaciona a opção sexual com a vida animal, refere não querer ser veado no Brasil, cujo significado corrente é, naquele país, o de homem homossexual. 22. O autor de Quadras Soltas manifesta, assim, a sua posição pessoal sobre o casamento entre dois homens e a homossexualidade masculina em geral, não estando por isso em causa um texto de cariz informativo. 23. Pese embora essa posição tenha sido considerada ofensiva e contrária ao princípio da não discriminação com base na orientação sexual, o escrito publicado na revista da Sociedade Protectora dos Animais alicerça-se no exercício da liberdade de expressão. 24. A intervenção da ERC faz-se, pois, nesta matéria, pelo prisma da defesa da liberdade de expressão, por um lado, e, por outro, da verificação do cumprimento dos limites decorrentes da lei a essa mesma liberdade. 25. Nos termos do artigo 37.º, n.º 1, da CRP [t]odos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio (...). 26. Nas palavras de Gomes Canotilho e Vital Moreira, [o] âmbito normativo desta liberdade deve ser o mais extenso possível de modo a englobar opiniões, ideias, pontos de vista, convicções, críticas, tomadas de posição, juízos de valor sobre qualquer matéria ou assunto (...) (cf. Gomes Canotilho, Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Volume I, 4.ª Edição, Coimbra Editora, pág. 572). 27. Não obstante, sempre se dirá que este direito não pode ser entendido como um direito fundamental absoluto e ilimitado, no sentido de poder ser entendido como uma posição jurídica que prevaleça sempre e em qualquer circunstância, quando entra em confronto com outro direito ou valor constitucionalmente acolhido. 4

28. No texto em análise, embora trate de um tema social e culturalmente fraturante, assiste ao autor de Quadras Soltas o direito de expressar, sob a forma de verso ou outra, as suas convicções e valorações acerca do mesmo. 29. A propósito de um outro texto opinativo relacionado com o mesmo tema, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a ERC havia já estabelecido que a possibilidade de expressão de opiniões diferentes e, até, contrastantes com a sensibilidade social predominante ou desta fortemente representativa, integra a essência da democracia e constitui um dos seus tónicos vivificadores. A livre formulação de opiniões é, além disso, e em princípio, insindicável, cedendo apenas em casos contados, designadamente quando o seu exercício redunda em abuso e/ou se mostra ilegítimo, por contender com o núcleo fundamental, essencial, irredutível, de outros direitos fundamentais. (cf. Deliberação 30/CONT-I/2011, de 27 de outubro). 30. Assim, considera-se que a opinião expressa no texto objeto de queixa não ultrapassa a fronteira do admissível ao abrigo da liberdade de expressão e de opinião. 31. Os eventuais conflitos ou excessos que subsistam no âmbito dos princípios elencados deverão ser apurados pela via judicial e não pela via regulatória, uma vez que tais questões escapam ao poder de regulação da ERC. VI. Deliberação Apreciada a participação de Bruno Perdigão contra a publicação periódica da Sociedade Protectora dos Animais, denominada O Zoófilo, pela edição de um texto Quadras Soltas -, no número de outubro/dezembro, o qual é reputado de ofensivo e discriminatório em função da orientação sexual; Verificando que Quadras Soltas não é um texto informativo mas antes um texto que exprime a opinião e as convicções do seu autor, no exercício da liberdade de expressão que lhe assiste, não estando, por isso, sujeito ao leque de deveres que se aplicam à atividade jornalística, 5

O Conselho Regulador, ao abrigo do disposto nos artigos 8.º, alíneas a) e d), e 24.º, n.º 3, alínea a), dos Estatutos da ERC, anexos à Lei n.º 53/2005, de 8 de novembro determina o arquivamento do processo. Lisboa, 16 de fevereiro de 2012 O Conselho Regulador da ERC, Alberto Arons de Carvalho Luísa Roseira Raquel Alexandra Brízida Castro Rui Gomes 6