REQUERIMENTO N, DE 2007 (Da Sra. Ana Arraes e outros) Requer seja formulada Moção ao Supremo Tribunal Federal pela constitucionalidade das pesquisas e terapias com células-tronco. Senhor Presidente, Requeremos, nos termos do artigo 117, caput, do Regimento Interno, apreciação, pelo Plenário da Câmara dos Deputados, de solicitação para que seja formulada Moção à Excelentíssima Sra. Ministra do Supremo Tribunal Federal e a seus Membros, apelando para que seja colocada em pauta a Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIn n.º 3510 - que alega ser inconstitucional o artigo 5.º da Lei n.º 11.105, de 2005, e que, cumpridos determinados requisitos legais, permita o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas e terapias apelando, ademais, para que o STF garanta a manutenção deste artigo da Lei. JUSTIFICATIVA No dia 30 de maio de 2005 o Procurador-Geral da República ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIn n 3510 - alegando ser inconstitucional o artigo 5 da Lei n 11.105/05, que, cumpridos determinados requisitos legais, permite o uso de célulastronco de embriões humanos em pesquisas e terapias. A ADIn, relatada pelo Ministro Carlos Brito, está aguardando a realização dos procedimentos necessários para julgamento. Na ação proposta, o Procurador-Geral tenta demonstrar que o artigo 5 da Lei n 11.105/05 é incompatível com o que está disposto no caput do artigo 5 da Constituição Federal e no artigo 1 inciso III também da Constituição. A Lei n.º 11.105/05 - Lei de Biossegurança -, reconhecida internacionalmente, foi aprovada pelo Congresso Nacional por ampla maioria: 96% dos senadores e 85% dos
deputados federais deram-lhe a vitória. O Presidente da República a sancionou rapidamente. Ao aprovar a redação do artigo 5 da Lei n.º 11.105/05, o Congresso Nacional em nada violou o princípio de proteção do direito à vida. O que fez o Parlamento foi legitimar o interesse da sociedade, considerando que a permissão para realização de pesquisas com célula-tronco embrionária, visando buscar a cura ou tratamento para melhorar as condições de vida de crianças, adolescentes, jovens e idosos, que são acometidos por doenças incuráveis ou com poucas possibilidades de tratamento, em nada viola o princípio do direito à vida. Além disso, o Parlamento não atuou de forma irresponsável no momento que legislou. O artigo 5 da Lei tem uma redação que faz uma abertura contida, criteriosa e amparada por instrumentos coercitivos que podem ser utilizados em qualquer caso de excesso praticado por qualquer cidadão. Modo de proceder que de forma alguma torna banal o uso de embriões humanos. Segundo dispõe o artigo 5 da só é permitido o uso de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento; que sejam embriões inviáveis, ou congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação da Lei; ou que, já congelados na data da publicação da Lei, completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. Exige, ademais, o artigo em análise que, em qualquer caso, o uso de embriões congelados deve se precedido do consentimento dos genitores, e que os protocolos de pesquisas sejam aprovados pelos Comitês de Ética em Pesquisa. Para garantir que os critérios estabelecidos sejam cumpridos, a própria Lei, em seu artigo 24, criminalizou o uso de embrião humano em desacordo com as regras estabelecidas pelo em seu artigo 5. Já para garantir que a autorização não sirva para criar um mercado de embriões e células-tronco embrionárias, o artigo 5º, 3, proíbe a comercialização do material biológico afirmando que sua prática configura o crime tipificado no artigo 15 da Lei 9.434/97, lei que dispõe dobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Evidente, portanto, que o artigo 5 da Lei em nada viola o artigo 5 caput da Constituição Federal. Logo, o argumento de inconstitucionalidade não pode ser legitimo para retirá-lo do ordenamento jurídico brasileiro.
O Procurador-Geral, para desenvolver sua tese, levanta a existência de conflito de princípios constitucionais, argumentando que o uso de células-tronco embrionárias, por violar o princípio do direito à vida, necessariamente viola o princípio da dignidade humana. Fica claro, em seus argumentos, que o Procurador coloca o princípio do direito à vida em patamar absolutamente superior ao princípio da dignidade da pessoa humana, não aceitando que em nenhum momento essa ordem hierárquica seja invertida. Não admite, por exemplo, que em nome do respeito ao princípio da dignidade humana, a milhares de crianças portadoras de distrofias musculares seja-lhes dada a oportunidade da ciência atuar na tentativa de encontrar cura para uma doença que deteriorará seus músculos e as levará à morte precoce. Dessa decisão poderá estar garantida, ou não, a perspectiva de cura para cerca de 7 milhões de crianças brasileiras (3% a 5 % da população) que têm doenças genéticas e 12 milhões de pessoas com diabetes. Somam-se a esse número, 200 mil casos de doenças neuromusculares degenerativas (uma em cada mil pessoas) e mais 9 mil casos de lesão medular (paraplegia ou tetraplegia) que surgem a cada ano no Brasil. Isso posto, solicitamos que o Supremo Tribunal Federal garanta, com regras claras e razoáveis, a constitucionalização da Lei para que a comunidade científica brasileira possa pesquisar a cura para milhares de pessoas e oferecer, sem dúvida, uma ação mais digna do que simplesmente proibir o uso de embriões inviáveis para reprodução e embriões congelados a mais de três anos em pesquisas em nome do respeito ao princípio do direito à vida em detrimento da dignidade humana. Sala das Sessões, em / /2007 Deputada Ana Arraes PSB/PE