RESUMO. Palavras-chave: Educação matemática, Matemática financeira, Pedagogia Histórico-Crítica



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Transcrição:

POSSIBILIDADES DIDATICO-PEDAGÓGICAS NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA: UMA PROPOSTA ENTRE DOMÍNIOS DE CONHECIMENTOS NA ESCOLA ESTADUAL INDIGENA CENTRAL EDUCAÇÃO BÁSICA KĨSÊDJÊ Rosimeyre Gomes da Silva merib 1 Duelci Aparecido de Freitas Vaz 2 Valdir Merib Machado 3 RESUMO Esse relato de experiência tem por objetivo uma análise acerca do ensino da matemática financeira numa perspectiva crítica na Escola Indígena Estadual Kĩsêdjê, tendo como referência o povo Kĩsêdjê na região do Xingu em Mato Grosso e sobre as possibilidades de inserção, no ambiente escolar, de reflexões relacionadas aos papéis desempenhados pela educação financeira. O trabalho constitui-se numa discussão sobre os pressupostos teóricos envolvidos na ação pedagógica do professor de matemática voltada para a formação de conceitos na perspectiva crítica. Desta forma, partimos da proposta didático-pedagógica desenvolvida no contexto crítico e na reflexão sobre a percepção do professor acerca do ensino da matemática proposto pela escola. Nesse sentido, apresentamos contribuições da Matemática financeira tendo em vista o quadro sociopolítico (globalização e economia), associadas à educação matemática. A matemática no contexto do conhecimento político, neste momento, será abordada a partir de reflexões sobre como os conhecimentos matemáticos pode influenciar nossa decisão frente a situações de consumo. Buscamos desta forma uma reflexão sobre práticas de consumo relacionadas aos conhecimentos matemáticos tendo como suporte teórico o Materialismo Histórico e Dialético de Marx e da Pedagogia Histórico-Crítica defendida por Demerval Saviani. Em contrapartida com a observação da fundamentação teórico filosófica do professor de matemática refletiremos sobre a práxis do professor e suas implicações no desenvolvimento de sua ação pedagógica. Nesse sentido, buscamos sobre a fundamentação teórica que baliza o ensino da matemática desta escola e de estabelecer referências para novas investigações e metodologias que ajudem a atender as diversas relações que envolvem o ensino da matemática. Palavras-chave: Educação matemática, Matemática financeira, Pedagogia Histórico-Crítica

Introdução Uma realidade apresentada recentemente na sociedade Kĩsêdjê deve-se a partir da inserção de uma nova classe social, a classe assalariada. Nesse contexto, esta classe está representada, em maior proporção, por profissionais da educação. Um ponto considerado é que todos os profissionais desta escola são indígenas e isso não é por acaso, há necessidade de que a escola trabalhe com a cultura indígena, nessa perspectiva há necessidade que os professores realmente conheçam e vivenciem essa cultura. Assim sendo, percebemos o reconhecimento aos povos indígenas do direito a prática de suas próprias práticas culturais sendo estas referenciadas pela Constituição nacional de 1988 assegurando assim a sua alteridade cultural (BRASIL,1988). No entanto, muitos desses profissionais não possuem a formação acadêmica necessária para o desempenho da docência sob um prisma multicultural sendo de fundamental importância os estudos de formação tanto inicial quanto continuada. Diante dos diversos desafios pedagógicos, os professores relataram ter dificuldades tanto no que tange ao seu conhecimento científico. Em torno do conhecimento matemático, a matemática financeira foi apontada pelo coletivo de professores, como um dos conteúdos cuja discussão e estudo se tornam mais emergente. O conhecimento voltado para a matemática financeira tanto a relação teoria e prática; prática esta, no sentido do ensino destes conhecimentos, precisa ser igualmente melhor apropriada. Geralmente ela é ensinada de forma descontextualizada com a sua necessidade. Por consequência, notamos a necessidade de uma reflexão mais intensa relativo à questão financeira, pois, para muitos professores, as transações financeiras até pouco tempo, não faziam parte de seu cotidiano, como por exemplo, de compra e venda. Uma das preocupações apresentadas foi a de que frente a esta situação, eles se tornem indivíduos mais suscetíveis aos equívocos no que tange as relações ligadas ao consumo. A matemática financeira foi vista, pelos professores, como um conhecimento prioritário a ser estudado, pois as relações financeiras são constantes no dia a dia dos Kĩsêdjê. Desta forma a matemática pôde ser vista não como um instrumento de dominação, mas sim de libertação. A educação escolar deve ser um instrumento de fortalecimento das culturas e das identidades, assim como a utilização do conhecimento na conquista da cidadania, entendida como o direito de acesso a bens e valores materiais e não materiais do mundo contemporâneo. É interessante considerar que, a educação matemática em suas múltiplas relações entre ensino,

aprendizagem e conhecimento matemático, considere o homem como um ser pertencente a um determinado contexto histórico e social, possuindo sua parcela de contribuição na construção de um homem mais crítico. Esse posicionamento refuga uma visão tradicional sobre a educação financeira contrapondo-se a uma abordagem meramente instrumental cuja visão principal é a questão da não dispersão do dinheiro e a busca a maximização do benefício da renda. Conhecer e dominar o consumo impensado e analisar a satisfação dos novos desejos que surgem, é objetivo subordinado a obtenção da segurança e do conforto material com vistas à coletividade e ao meio ambiente. Podemos estabelecer algumas relações entre o consumo consciente e a educação financeira no qual podem se interpuser como desafios a nossa sustentabilidade socioambiental. Primeiramente temos a compreensão de que estamos tratando do uso de recursos limitados, sejam de uso individual (dinheiro) ou de uso coletivo (planeta e sociedade). Outra questão se apresenta na busca pelo equilíbrio entre os desejos de consumo e as possibilidades de sua satisfação frente à necessidade de manutenção de um estilo de vida desejado. A educação financeira vista sob uma perspectiva crítica busca explicitar suas contribuições para o atendimento a demandas de uma inserção autônoma e crítica na sociedade de consumo. Pedagogia Histórico-Crítica Segundo Saviani o termo Pedagogia Histórico-Crítica é a expressão de uma pedagogia voltada para a compreensão da questão educacional a partir do desenvolvimento histórico fundamentada no Materialismo Histórico Dialético. Em resumo, seu principal objetivo é de superar uma visão mecanicista, buscando uma concepção crítica e dialética. Assim sendo, a Pedagogia Histórico-Crítica proporciona uma reflexão sobre a educação no contexto da sociedade e da sua organização na busca da sua transformação. ORGANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO Prática social inicial do conteúdo Foi realizado um planejamento de ação tendo como suporte os diversos elementos adquiridos a partir da pesquisa realizada. Começamos então esta ação com um diálogo entre os professores em relação ao seu conhecimento sobre a matemática financeira. Essa questão foi

colocada porque num total de dez professores participantes deste trabalho, somente um possuía formação superior. Nesse momento, buscamos estabelecer um diálogo descontraído com a finalidade de deixá-los á vontade para que fossem manifestadas suas dúvidas e curiosidades em torno da questão da matemática financeira. Foram levantadas algumas questões para direcionar nosso diálogo. Perguntei sobre o que mais gostariam de saber sobre este conteúdo. As respostas foram muito variadas e apesar da forma simples de expressarem suas dúvidas, pude detectar que estavam em torno das questões que envolvem inflação, atualização monetária e aumento continuado de preços sobre uma mesma mercadoria. Uma das participantes do estudo não era professora. Tratava-se de, como ela mesma se apresentou, uma representante das mulheres. Ela argumentou sobre a importância de que políticas educacionais devem ajudá-los em relação ao aprimoramento do conhecimento: Temos o direito de não sermos iguais, queremos que nossas crianças também aprendam a cultura exterior mais principalmente a nossa. Nós precisamos aprender mais a nossa cultura, a nossa língua, mas a criança precisa aprender também outras culturas. As mulheres precisam estar no contexto político para que possam também ajudar a comunidade. Com estas palavras, pudemos refletir sobre a relevância do desenvolvimento deste trabalho. PROBLEMATIZAÇÃO Partindo dos dados da discussão, identificamos problemas postos pelo movimento proposto pela prática social inicial. Nesse momento, de acordo com elementos coletados no período do planejamento, perguntei-lhes sobre como viam a questão do lucro e como calculavam os lucros com as vendas dos produtos produzidos pela comunidade. Esta aldeia, como forma de auxiliá-los na sua subsistência, vende produtos tais como: artesanatos, mel de abelha, poupa de pequi, pimenta, dentre outros. Outro ponto que foi muito questionado e discutido foi à questão do por que algumas mercadorias têm um mesmo preço à vista e a prazo, o que há por trás dessa situação? Como muitos professores estavam endividados por conta dos vários empréstimos bancários que fizeram, mostraram preocupação também sobre Quanto existe vantagem ao fazer um financiamento no banco. Eles indagaram sobre se fazemos um bom negócio ao comprar mercadorias a prazo. Podemos então compreender que o maior problema é como esta sociedade comunitária se relaciona com uma sociedade capitalista.

INSTRUMENTALIZAÇÃO Nesse momento escolhemos algumas dimensões a serem trabalhadas na instrumentalização. Exploramos questões como: O que é juro e porcentagem (dimensão Conceitual/científica). Como surgiu a moeda e as transações comerciais (dimensão histórica). O que é preciso, considerando sua realidade, para que tenha uma vida confortável (dimensão Social). Operacional: Como se calcula o quanto se paga a mais em uma compra a prazo? Discutimos sobre as questões levantadas e começamos então aos cálculos. Levei para o grupo vários panfletos de lojas e mercados nos quais continham preço e descrição dos produtos. Cada subgrupo era responsável em elaborar uma lista de compras que se assemelhassem as sua realidade. Assim que terminaram, cada grupo mostrou sua lista onde os demais ficariam com a incumbência de analisar tais listas. O parâmetro para a analisa seria sobre a relevância que cada produto possuía no dia-a-dia deles. Argumentaram sobre a questão do consumo excessivo de itens, sobre sua função em relação à saúde e a sobrevivência. Fizemos uma reflexão sobre a questão da relação entre o consumo e seus impactos sobre o meio ambiente. Após o filtro dos comentários fizemos coletivamente uma nova lista onde cada item presente na lista foi analisado. Assim cada um verificou a porcentagem do valor destas listas em relação ao seu salário. Os professores comentaram que essa reflexão foi interessante, pois puderam observar que muitos produtos supérfluos dos quais eram consumidos, além de tornar a lista mais cara traziam malefícios a saúde, além de prejudicar o meio ambiente. Calculamos os valores dos juros cobrados em situações hipotéticas em que eles realizaram empréstimos bancários e compras a prazo. Este momento foi propício para que os professores falassem sobre a suas conclusões após o desenvolvimento das atividades. CATARSE - Síntese mental do aluno/ Prática social final Neste momento realizamos atividades que tinham como objetivo a utilização dos conhecimentos abordados em transações fictícias de compra, venda e investimentos de longo e curto prazo. Fizemos algumas simulações e cada grupo ficou responsável em analisá-las e levar suas discussões para o grande grupo. As atividades elaboradas tinham como objetivo descobrir as vantagens que se pode conseguir ao se fazer pesquisa de preços antes de comprar, a necessidade de pesquisa de preços, comparando preços e juros. Conhecer os vários sistemas de investimentos e de financiamentos. A socialização dos resultados permitiu a realização de uma

avaliação informal, considerando as dimensões sob as quais o conteúdo foi tratado. Realizamos algumas simulações de vivências voltadas às questões de consumo, observando a atuação do educando. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao longo deste trabalho vimos que o ensino de matemática passa por um momento de transformação. A necessidade de mudar o ensino de matemática baseado apenas em aspectos abstratos, no formalismo, na transmissão do conhecimento e nos equívocos conceituais, vendo o educando apenas com um espectador, é emergente no contexto educativo atual. Necessitamos ver a matemática como uma ciência que permeia nosso cotidiano, como um conhecimento que se dá levando em consideração as interações entre o indivíduo e o meio. Para isso necessitamos que os educadores percebam a necessidade de constante aperfeiçoamento em relação não somente ao conhecimento matemático, mas também em relação as suas concepções tanto filosóficas de educação quanto pedagógicas. É fundamental a compreensão do professor de que a formação inicial é insuficiente para o exercício de sua profissão em relação às exigências da sociedade atual. Nessa perspectiva percebemos que na formação continuada podemos buscar caminhos que nos auxilie uma compreensão da realidade e na busca por soluções às problemáticas que envolvem o ensino e a aprendizagem. Referências BICUDO, M. A. V. Pesquisa em educação matemática. Pro-posições, Campinas, v. 4, n. 10, p. 18-23, 1993. BRASIL. Presidência da República, Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.Outubro, 1988. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5 ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1981. MARX, K. O Capital, livro 1, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras aproximações. 9. ed. Campinas: Autores Associados, 2005.

SKOVSMOSE, O. Educação Matemática crítica: a questão da democracia. Campinas: Papirus, 2001. (Coleção Perspectivas em educação Matemática).