Centelhas sem telhas: um documentário sobre quem vive nas ruas de Guarapuava/PR 1

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Transcrição:

Centelhas sem telhas: um documentário sobre quem vive nas ruas de Guarapuava/PR 1 Luna Soares MARQUES 2 Angelo Crystovam MACAGNAM 3 Any Mary Ossak CORDEIRO 4 Walquiria de LIMA 5 Gilson Aparecido BOSCHIERO 6 Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), Guarapuava, PR RESUMO O trabalho pretende mostrar como se deu a criação do roteiro para o documentário Centelhas sem telhas, que mostra a realidade dos moradores de rua da cidade de Guapuava/PR. Eles representam cerca de 1% da população brasileira, mas merecem ter voz perante a população, já que raramente são ouvidos. A teoria utilizada no trabalho foi baseada, principalmente, em Syg Field e Chris Rodrigues, para a escrita do roteiro e Bill Nichols com conceitos sobre documentário. O roteiro inicial foi produzido para nortear a produção do documentário e até sua versão final teve diversas modificações para que delimitasse todo o trabalho. Percebeu-se a importância de um roteiro de qualidade na produção de um documentário. PALAVRAS-CHAVE: Documentário, moradores de rua, roteiro, não-ficção. 1 INTRODUÇÃO A ideia do documentário Centelhas sem telhas é contar a história de quem mora onde todos apenas passam na correria do dia a dia. Os moradores de rua são, muitas vezes, seres invisíveis. Cada morador carrega consigo muitas histórias, seus motivos em fazer da rua seu lar. Segundo o censo do IBGE, no Brasil, há quase de 200 milhões de habitantes. Existem poucos estudos sobre quantas pessoas moram nas ruas, mas estima-se que sejam entre 0,6 % a 1% da população. Levam-se em conta novos moradores e quem deixa de 1 Trabalho submetido ao XXIII Prêmio Expocom 2016, na Categoria Cinema e Audiovisual, modalidade Roteiro de não ficção (avulso ou seriado). 2 Aluno líder do grupo e estudante do 3º. ano do Curso de Comunicação Social - Jornalismo, email: lunamarques_ic@hotmail.com 3 Estudante do 2º ano do Curso de Comunicação Social - Jornalismo email:. 4 Estudante do 3º ano do Curso de Comunicação Social - Jornalismo email:. 5 Estudante do 3º ano do Curso de Comunicação Social - Jornalismo email: wal_lima12@hotmail.com. 6 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Comunicação Social - Jornalismo email: gilsonboschiero@gmail.com. 1

morar na rua. Nesse cálculo, há até 1,8 milhões de pessoas vivendo como moradores de rua no Brasil. 7 E eles não estão apenas nos grandes centros, toda cidade, por menor que seja, tem morador de rua. Porém poucos sabem, ou procuram saber, os motivos que fizeram com que essas pessoas passassem a morar na rua. Os motivos que levam essas pessoas a viverem em situações precárias são as mais diversas, e é isso é uma das faces que o documentário Centelhas sem telhas traz a tona. Os problemas são entendidos melhor quando vistos pelos olhos de quem os enfrenta. Se colocar no lugar das pessoas que abandonam suas casas para fazer da rua algo parecido com o lar é enxergar o mundo pelo mesmo ângulo que elas. Ou seja, pelo chão, pelos cantos e becos, onde são postos como o lugar onde elas devem ficar. Guarapuava é uma cidade com cerca de 178 mil habitantes, segundo dados do IBGE 8, e não há nenhum estudo encontrado que divulgue dados sobre a quantas pessoas vivem nas ruas no município. Entretanto, podem ser encontrados em qualquer esquina do centro da cidade. O Albergue Noturno Frederico Ozanam oferece alimentação para os moradores de rua, além do pernoite, mas que não pode ultrapassar três dias. O roteiro inicial do documentário foi feito com base na pré-pesquisa realizada com os moradores, em que se definiram três personagens para construção de um documentário observativo e participativo, segundo o conceito de Nichols (2005). No decorrer da produção, outro personagem foi acrescentado, assim como outros detalhes que não constavam no roteiro inicial, mas que se percebeu essencial para a qualidade do produto final, um vídeo disponível no YouTube, produzido para a disciplina de Telejornal Laboratório. 2 OBJETIVO O principal objetivo da criação de um roteiro para Centelhas sem telhas foi dar rumo ao trabalho prático, podendo aperfeiçoar a produção do documentário por meio do cronograma e definição dos personagens, assim como dos locais de filmagem. A produção do documentário teve como objetivo mostrar a realidade dos moradores de rua, porque foram parar lá, seus anseios e medos. Principalmente, o documentário pretendeu dar voz aos moradores de rua. 7 Segundo dados do censo de IBGE de 2012 e do site moradoresderua.org.br, acesso em novembro/2015. 8 Estimativas da população residente nos municípios brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2015, disponível no site do IBGE ibge.gov.br, acesso em novembro/2015. 2

3 JUSTIFICATIVA O produto Centelhas sem telhas procura mostrar a realidade dos moradores de rua de uma forma pouco mostrada pela mídia. Segundo ALMEIDA (2011), usualmente o morador de rua é representado de forma negativa na imprensa. Ora como vítima, ora como praticante de atos que são condenados pela população, ele é colocado nas notícias como o próprio responsável pela situação em que se encontra. Cria-se então uma imagem negativa a seu respeito. A imprensa forma a opinião e oficializa para a sociedade, a não aceitação destas pessoas, além de evidenciar um suposto perigo que elas representariam a todos. (ALMEIDA, 2011, p.99) Assim, o documentário procurou mostrar a versão dos moradores de rua da sua situação. Eles são pessoas que têm sonhos, sentimentos, como qualquer outra, mas que por algum motivo foi jogada às margens da sociedade. A escolha da criação de um documentário para o tema de moradores de rua se deu, principalmente, pela afirmação de Nichols (2005) sobre os documentários que exploram a realidade social, ou os de não-ficção, que Tornam visível e audível, de maneira distinta, a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a seleção e a organização realizadas pelo cineasta. Expressam nossa compreensão sobre o que a realidade foi, é e o que poderá vir a ser. Esses filmes também transmitem verdades, se assim quisermos, Precisamos avaliar suas reivindicações e afirmações, seus pontos de vista e argumentos relativos ao mundo como o conhecemos, e decidir se merecem que acreditemos neles. Os documentários de representação social proporcionam novas visões de um mundo comum, para que as exploremos e compreendamos. (NICHOLS, 2005, p. 26-27) Nichols (2005) apresenta seis tipos de documentário de não ficção. São eles: poético, expositivo, participativo, observativo, reflexivo e performático (NICHOLS, 2005, p.135). No desenvolvimento de Centelhas sem telhas optou-se pela junção dos modos participativo e observativo. O modo participativo é caracterizado pela presença dos produtores. No caso do Centelhas sem telhas esse modo apareceu nas perguntas feitas pela produção, para nortear o depoimento das personagens. Algumas vezes, essas perguntas aparecem no vídeo, pois sem elas o depoimento não faria sentido. Já o estilo observativo é o oposto, em que se interfere o mínimo possível na realidade daquilo que está sendo retratado. No documentário, procurou-se realizar as entrevistas onde os moradores estivessem, sem que se interferisse no seu dia a dia. Apesar de parecerem distintos, no documentário Centelhas sem telhas, esses modos se complementaram. O roteiro foi parte fundamental da produção e sua realização se justifica com a afirmação de Rodrigues (2007) 3

Um bom roteiro não é a única condição para o planejamento eficiente do tempo e do custo da filmagem, mas contribui para que o filme seja preparado de modo mais adequado. (RODRIGUES, 2007, p.50) Assim, mais que planejar o cronograma, o roteiro proporcionou que o documentário se construísse de forma que o público entendesse a mensagem a ser passada. O planejamento, também, evitou que houvesse problemas com a produção e edição, já que dessa forma o documentário foi sendo construído de forma natural. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS O roteiro de Centelhas sem telhas foi escrito utilizando os preceitos teóricos de Field (2001) e Rodrigues (2007). De acordo com o Syd Field o roteiro é uma história contada em imagens, diálogos e descrições (FIELD, 2001, p.11-12). De Rodrigues (2007), utilizaram-se os conceitos de Story Line, Sinopse, Argumento, Roteiro Literário e Roteiro Técnico. Inicialmente, não se escreveu roteiro literário e técnico, por não haver cenas produzidas. Após a produção, anexou-se ao roteiro inicial as transcrições de fala e descrição de cenas. A escolha do tema foi o fato de que os moradores de rua estão em todos os lugares, a todo o momento, mas normalmente são tratados com desprezo ou nem mesmo são notados. A intenção é que, a partir da mostra dessa realidade, as pessoas possam ter contato com rotina dessas pessoas que é diferente de praticamente todo o resto da população que tem um endereço fixo, uma casa, uma família, um lar, e então passem a ver essas pessoas como parte da sociedade e parte do dia a dia. Após a definição do tema, fez-se uma pesquisa a respeito do assunto. Foram levantados dados do IBGE sobre quantos moradores de rua estima-se que existem no Brasil. Em Guarapuava, não foram encontrados dados a respeito de quantas pessoas vivem nas ruas. Para encontrar as personagens, os integrantes da equipe saíram às ruas da cidade em busca de quem estivesse disposto a conversar. Entretanto, muitos dos abordados não quiseram conversar com a equipe. Alguns se encontravam sob o efeito de álcool e drogas. Além da procura nas ruas, a equipe buscou personagens no Albergue Noturno Frederico Ozanam. Grande parte dos moradores de rua vai ao Albergue almoçar ou passar a noite. Porém, no albergue, o pernoite é permitido por no máximo três dias. No roteiro inicial, foram definidos três personagens. Ao filmar dois personagens no albergue, outro morador pediu para conversar com a equipe e assim, acrescentou-se a história de mais uma pessoa ao documentário. Assim, acredita-se enriquecer a produção. O outro personagem foi filmado 4

em uma das praças da cidade, que é onde ele costuma dormir. Para Field (2001), a pesquisa é absolutamente essencial (FIELD, 2001, p.22), por isso, buscou-se a maior quantidade de informações possíveis antes do início das gravações. Durante a pré-produção, a equipe assistiu alguns documentários para ter noções de como produzir, já que de acordo com Bernard (2008), uma das melhores formas de compreender filmes documentários é analisando-os (BERNARD, 2008, p. 89). Os documentários pesquisados foram: Cortina de fumaça (2010), Babilônia 2000 (2001), Edifício Master (2002), Ilha das Flores (1989), Janela da alma (2001), Crônicas (ANO) e Juízo (2007). Depois das gravações feitas, percebeu-se a necessidade da criação de um pequeno texto introdutório ao documentário, explicando brevemente o nome Centelhas sem telhas e apresentando brevemente o conteúdo que viria a seguir. Durante a edição, novos elementos foram adicionados ao roteiro. Além disso, acrescentou-se a transcrição das falas e cenas ao roteiro final. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO O roteiro final contou com 15 páginas e deu origem ao documentário Centelhas sem telhas, que tem duração de quinze minutos e sete segundos. Utilizou-se para a filmagem duas câmeras, uma delas como principal e outra para imagens de apoio. O áudio foi capturado com um microfone de lapela. A trilha sonora escolhida foi Trenzinho Caipira de Heitor Villa-Lobos. Inicia-se o documentário com a trilha sonora e um fundo preto. Logo, aparece o texto inicial, com a definição de centelha do dicionário. O texto de introdução foi escrito pensando em apresentar o contexto dos moradores de rua o que viria na sequência. A seguir, algumas imagens da cidade de Guarapuava. Depois, detalhes das mãos e rostos dos personagens. Em seguida, os atores sociais se apresentam. Eles são: João Vicente Gonçalves, Jonathan Pereira, Gilberto e João. 9 João Vicente tem 59 anos, Jonathan tem 30, Gilberto 40 e João 48. Após a apresentação, cada um conta sua história. Os depoimentos foram intercalados para criar dinamismo. Primeiro, eles contam de onde são e se possuem familiares. Depois disso, os motivos de viverem nas ruas. Em certos casos, nem mesmo eles conseguem explicar como se tornaram moradores de rua. Em seguida, contam como ganham dinheiro, que geralmente é com doações ou como catadores de lixo e papelão. Eles 9 Gilberto e João preferiram omitir seus sobrenomes. 5

também contam se usam drogas ou álcool. Nenhum admitiu usar drogas, apenas o consumo de álcool. Além disso, falam como é a experiência de fazer da rua o seu lar. As personagens demonstram interesse em deixar as ruas, mas comentam como é difícil sair dessa situação. O texto inicial foi escrito por Walquiria de Lima. A produção foi feita por Angelo Crystovam Macagnam, Any Mary Ossak Cordeiro, Luna Soares Marques e Walquiria de Lima, as imagens por Luna Soares Marques e Angelo Crystovam Macagnam, edição de Luna Soares Marques e supervisão do professor Gilson Aparecido Boschiero. A produção final do documentário Centelhas sem telhas está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tyiesjwsjcq. 6 CONSIDERAÇÕES Ficou claro para os integrantes do grupo de produção de Centelhas sem telhas que o roteiro é parte essencial da produção de um documentário de não ficção. Se o roteiro for bem desenvolvido e explorado, as tarefas seguintes, de filmagem e edição, são facilitadas. Até mesmo contar a história por meio dos depoimentos torna-se mais fácil ao ter um roteiro delineando o trabalho. Segundo o Doc Comparato (1988), o documentário que se preza não pretenderá convencer o espectador, mas fazê-lo refletir sobre aquele tema (COMPARATO, 1988, p. 341-342). Assim, não se esgotaram as discussões sobre quem vive nas ruas, tampouco se explicaram todos os motivos dessas pessoas tornarem a rua um lar, mas deu-se voz aos poucos que realmente quiseram ser ouvidos e fizeram-se ser notados, mesmo que por pouco tempo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Delano. Morador de rua: da questão social à questão midiática. In: Puçá: Revista de Comunicação e Cultura na Amazônia, v. 1, nº 1. Belém 2011. BERNARD, Sheila Curran. Documentário: técnicas para uma produção de alto impacto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro. 3 Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. FIELD, Syd. Manual do Roteiro. 14 ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005. RODRIGUES, Chris. O Cinema e a Produção: para quem gosta, faz ou quer fazer cinema. Rio de Janeiro: DP&A, 2007. 6