UMA REFLEXÃO SOBRE A PAISAGEM CULTURAL DE JOINVILLE/SC



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Transcrição:

UMA REFLEXÃO SOBRE A PAISAGEM CULTURAL DE JOINVILLE/SC Eliziane Meurer Boing 1 liziboing@gmail.com Mariluci Neis Carelli 2 mariluci.carelli@gmail.com A cultura é o agente, a área natural o meio e a paisagem cultural é o resultado (Carl O. Sauer 3 ) RESUMO O artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão acerca da discussão sobre a paisagem cultural na cidade de Joinville, localizada no Estado de Santa Catarina, principalmente com relação a dois espaços: a Estação da Memória e a Alameda Brüstlein, lugares importantes como instrumentos de políticas públicas de gestão, sobretudo na interação da sociedade com relação à preservação e sustentabilidade do patrimônio cultural da cidade e região. Esses espaços apresentam intervenções humanas significativas culturalmente refletidas no ambiente. Palavras chaves: paisagem cultural, patrimônio cultural, memória, sustentabilidade. ABSTRACT The article presents two sites of the cultural landscape of the city of Joinville, located in the state of Santa Catarina: Alameda Station Memory and Brüstlein as examples of 1 Mestranda do curso de Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville (Univille), graduada em Ciências Econômicas pela Univille/SC, especialização em Gestão Estratégica de Pessoas pela FAE/PR, participante do grupo de pesquisa em patrimônio ambiental e do grupo de pesquisa da Rede Catarinense de pesquisadores em educação. E-mail: liziboing@gmail.com 2 Doutora em Engenharia da Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestre em Sociologia Política, graduada em Serviço Social. Professora titular na Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) leciona na graduação e no Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade. Coordenadora do grupo de pesquisa em Cultura e Sustentabilidade, cujos estudos se direcionam para a questão do patrimônio ambiental cultural, incluindo estudo sobre paisagem cultural e patrimônio industrial. E-mail: mariluci.carelli@gmail.com 3 SAUER, Carl O. (apud Ribeiro, Rafael Winter 2007, p. 19).

policies of management of urban public spaces, cultural heritage, local identity and significant human interventions in the environment. Key-words: cultural landscape, cultural heritage, urban memory and urban sustainability. INTRODUÇÃO As reflexões contidas neste artigo têm origem na pesquisa sobre patrimônio ambiental da cidade de Joinville, localizada no Estado de Santa Catarina, projeto de pesquisa desenvolvido para aprofundar o estudo sobre esse assunto e também será parte de uma dissertação de mestrado. A cidade de Joinville/SC está inserida, de um lado, em uma paisagem que compreende a Serra do mar, a Baia Babitonga, o manguezal e os sambaquis. De outro lado, a cidade e sua crescente urbanização e o parque industrial. Para uma sociedade sustentável é necessário preservar o patrimônio ambiental e cultural, abrangendo a população diretamente envolvida, evidenciando sua memória e a essencialidade da identidade dos cidadãos que residem na região de Joinville/SC. Uma visão não ingênua de sustentabilidade é inseparável da consciência crítica de seus limites e possibilidades. Sendo assim, torna-se indispensável o estudo do patrimônio ambiental em Joinville/SC, tema dessa natureza evidenciará a intensa interseção entre homem e o meio ambiente. É nesse cenário que faremos um recorte, com relação à paisagem cultural de Joinville/SC. A paisagem cultural poderá trazer novos horizontes de atuação e orientar novas práticas de preservação patrimonial, uma vez que seu escopo parte do reconhecimento das relações entre homem e meio ambiente numa perspectiva integradora capaz de considerar as múltiplas relações tecidas ao longo do tempo entre essas duas esferas.

O trabalho foi desenvolvido segundo uma metodologia de pesquisa documental dentro do espaço contextual de Joinville/SC. Focalizando-se a literatura disponível específica sobre o tema e as pesquisas já efetuadas por outros pesquisadores, que possuem diagnósticos e projetos considerados relevantes na área e a utilização de imagens (gravuras e fotografias), principalmente aquelas que possam ilustrar paisagens culturais na cidade. O texto está estruturado em três partes, primeiramente discute a conceituação de paisagem cultural, o surgimento e a legislação. Em seguida aborda-se o processo histórico de Joinville/SC. Por fim, é feita uma discussão entre os espaços de Joinville/SC: a Estação da Memória e a Alameda Brüstlein. A PAISAGEM CULTURAL O termo paisagem é polissêmico, visto que é utilizado por várias disciplinas, no entanto para a geografia esse conceito é chave, começou a ser utilizado por Carl O. Sauer, considerado o fundador da geografia cultural, final do século XIX. Cabe ressaltar, que este é um dos vários conceitos históricos que envolvem o surgimento do termo, que não serão aprofundados neste artigo. No entanto, a paisagem compreende elementos funcionais e dinâmicos que estão implicados na relação entre natureza e cultura, e que não pode ser observado somente o aspecto visível, mas necessariamente, deve-se buscar olhar além do aspecto não visível da paisagem, sendo que são estes os que têm significados dos valores humanos, o conteúdo simbólico, a relação afetiva que os grupos sociais estabelecem com os lugares onde a vida humana se reproduz (Ribeiro, 2007), estes que representam o testemunho do passado e do presente da relação existente entre os indivíduos e seu meio ambiente. Dessa maneira, ainda podemos considerar dois tipos de paisagens, natural e cultural. Os conceitos de paisagem natural e paisagem cultural, conforme Ribeiro

(2007) são baseados na geografia alemã. A paisagem natural é aquela que não sofreu modificações do homem, enquanto a paisagem cultural é aquela modificada pelo trabalho do homem. Então os termos como Landscape seria o equivalente ao alemão Landschaft, e pode ser definido como uma área construída por uma associação distinta de formas tanto naturais como culturais argumenta Sauer (apud RIBEIRO, 2007, p. 19). Santos (2012) comenta que a paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e culturais. Para a paisagem já estava previsto a proteção desde a edição do decreto lei federal nº 25/1937, no entanto com a renovação das práticas no âmbito do IPHAN 4, houve a possibilidade de destacar a Paisagem Cultural como uma nova categoria específica do patrimônio cultural (IPHAN, 2012, web) sendo criado instrumento próprio para sua preservação, a Portaria nº 127/2009, que estabeleceu a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Porém, o que é Paisagem Cultural? De acordo com a Portaria 127/2009, no seu artigo 1º a Paisagem Cultural Brasileira constitui uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores (IPHAN, 2012, web). Sendo que o termo peculiar é o que representa algo particular, especial, próprio, que será o alvo da Chancela. Tendo a compreensão desta diferenciação e sabendo a existência da mesma, é que o espaço pode ser Chancelado, senão ficaria na generalidade tudo é paisagem cultural (IPHAN, 2012). Para Santos (2012, p.64) por isso cada lugar é singular, e uma situação não é semelhante a qualquer outra. A criação dessa Chancela representa uma grande inovação na forma de dedicar-se ao patrimônio cultural brasileiro, pois auxilia o IPHAN, que é um dos articuladores nas ações de valorização, planejamento, assim como viabiliza a qualidade de vida da população e a motivação responsável pela preservação conjunta na gestão desse patrimônio. 4 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criando em 1937.

Por conta, do conceito de paisagem cultural, o IPHAN vem desenvolvendo um estudo, em território nacional, intitulado Roteiros Nacionais de Imigração Santa Catarina, que trata de uma ampla pesquisa que mapeou e identificou o patrimônio cultural dos grupos de imigrantes alemães, poloneses, italianos, ucranianos no estado catarinense, os quais contribuíram para a formação do que se chama de identidade nacional (IPHAN, 2012). A cidade de Joinville/SC está inserida com bens na lista dos Roteiros Nacionais de Imigração/SC, esses bens estão conectados à paisagem os lugares por onde passaram, viveram emigrantes e também os lugares onde os escravos se instalavam. A Chancela é como um selo de qualidade, um instrumento de reconhecimento do valor cultural de uma porção definida do território, que mostra os processos de interação do homem com o meio ambiente de formas especiais. Para que essa paisagem chancelada possa usufruir desse título, ela deve manter as características que a fizeram merecer a sua classificação, e para isso precisa desenvolver um Plano de Gestão. A Chancela é, portanto, regida por um pacto que envolve o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, resultando em uma gestão compartilhada de determinada porção do território nacional (IPHAN, 2012, web). Esse Plano de Gestão deve ser realizado, em decorrência desse pacto, que deve conter as ações para a preservação dos valores do lugar que foi reconhecido como Paisagem Cultural Brasileira, caso, as paisagens forem perdidas ou degradadas, pode ser cancelada a Chancela, o que, é diferente dos outros processos de preservação do patrimônio cultural, que uma vez declarado, por exemplo, o tombamento, não há possibilidade de anulação. Na portaria 127/2009, no seu artigo 4º, coloca-se que as ações de planejamento e ordenamento devem ser estabelecidas com base no pacto de gestão mencionado acima, que implica no estabelecimento de pacto que pode envolver o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando à gestão compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida (IPHAN, 2012, web).

Segundo Carlos Fernando de Moura Delphim em entrevista concedida a Gorgulho (2008, web) a paisagem cultural, não é uma declaração compulsória efetuada por órgãos do poder público. É uma decisão democrática da população. Expressa, de forma perfeitamente democrática, a vontade que tem cada grupo de proteger os cenários mais valiosos de sua sociedade [...] a declaração de Paisagem Cultural convive com as transformações inerentes ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis. Alias, valoriza a motivação responsável pela preservação do patrimônio. Portanto, este instrumento, serve como um balizador para a população, para promover uma discussão de que não apenas edificações estéticas, monumentos, mas espaços do território, com marcas de ação humana, que ao longo do tempo, foram tendo interação do homem ao meio natural, são patrimônios culturais. A CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE: JOINVILLE/SC Joinville começa sua história no século XIX, com a negociação de 25 léguas quadradas, de um dote nupcial pelo casamento do príncipe de Joinville, François Ferdinand Philipe (terceiro filho do rei da França, Luiz Felipe) com a irmã de Dom Pedro II, princesa Dona Francisca Carolina (Françoise Caroline). O local das 25 léguas quadradas ainda não fora escolhido, sendo o dote da princesa até essa data uma área imaginária e imensa na mata virgem [...] (dentre as melhores da província de Santa Catarina) (FICKER, 2008, p. 26), efetivando a fundação da denominada Colônia Dona Francisca, em homenagem à Princesa Francisca Carolina, e posteriormente chamada de Joinville, em homenagem ao Príncipe de Joinville. Essas terras acabaram sendo negociadas como parte de problemas financeiros e econômicos, por parte do príncipe de Joinville que se encontrava exilado. Nesse acordo o príncipe vende ao Senador Mathias Schroeder, um total de 08 (oito) léguas das terras dotais, para que o Senador, que já possuía uma frota de navios e fazia

expedições e transportes, além de possuir vastas relações comerciais no Brasil, então para que a sua empresa a Companhia Colonizadora de Hamburgo, empreendesse uma colonização em grande escala. Essa colonização também resultou das constantes transformações econômicas que estavam ocorrendo na Europa com o processo de consolidação do capitalismo e em decorrência de revolução e conflitos. Assim, em 09 de março de 1851 oficialmente, chegam às terras dotais com a barca Colon os primeiros imigrantes, mesmo com todos os percalços de uma viagem para uma terra nova, desconhecida, mas ao mesmo tempo por ser um espaço encantador, acredita-se segundo Ficker (2008, p. 99) que, Foi um verdadeiro espetáculo, porquanto apresenta a Baía Babitonga dimensões e surpresas paisagísticas raramente igualadas por outras baías do Sul do Brasil. Passando pela Ilha Redonda e Ilha Comprida, os passageiros apreciaram as pedras enormes de granito nas margens dos ilhotes e a quantidade imensa de aves aquáticas. [...] atravessada a lagoa Saguaçú o rio tornou-se extremamente estreito, tanto assim que as árvores, com suas ricas parasitas, dobravam-se sobre as cabeças dos passageiros, entusiasmados com a beleza tropical das folhagens, das flores e orquídeas da nova pátria, na terra ainda tão pouco conhecida, cheia de segredos e mistérios. Iniciava-se, portanto, a ocupação efetiva das terras onde se desenvolveria a cidade de Joinville/SC, já em meio à acentuada diversidade cultural entre os imigrantes, alemães, suíços e noruegueses e entre esses e os nativos que moravam no distrito de São Francisco do Sul (S.THIAGO, 2001). Ao chegar tiveram que construir todo o espaço inicial da cidade, justamente por encontrarem um lugar com o meio ambiente totalmente natural, onde a paisagem, ainda não havia tido uma interação com o homem. A figura 01 mostra a primeira vista de Joinville, ano de 1850.

Figura 01 Primeira vista de Joinville, antes da fundação. Desenho de 1850. Fonte: Ficker, Carlos. História de Joinville: crônica da Colônia Dona Francisca. 3ed. Joinville: Letradágua, 2008, p. 69. De acordo com o arquiteto e urbanista Norberto Sgarzerla (2001, p. 65) se Joinville não fosse uma cidade, certamente essas terras poderiam ser um parque, mesmo assim e pela massa de vegetação existente, temos então uma cidade no meio de muito verde. Então, nos primeiros meses os novos habitantes se dedicaram à derrubada da mata, afinal, os dias foram difíceis na medida em que quase nada tinha sido feito, sofreram um grande impacto, o solo e o clima eram adversos. Mas, precisaram adaptar-se à nova realidade que lhes foi apresentada, segundo a historiadora S.Thiago (2001, p. 16) tal desafio exigiu a capacidade de dominar o meio ambiente vontade e muito trabalho, atributos comuns entre a maioria dos imigrantes. [...] Trouxeram consigo sua cultura e com ela tradições, idioma, costumes, crenças. Essa questão reforça a rápida expansão dos colonos, o estabelecimento da colônia agrícola. Com a abertura das picadas e estradas, a ocupação continuava a

margem dos rios Vermelhos, Morro Alto, Cachoeira e Jaguariú, fazendo com que assim surgissem novos povoados. Já nesse momento, começam as transformações da paisagem, a ação dos imigrantes, sobre o espaço. A paisagem é algo que está determinado pelas ações humanas, é uma ferramenta de análise (ALVES, 2010) que processa a plenitude das modificações do espaço através das ações humanas em um determinado lugar. De um lado o patrimônio natural representa a memória da natureza [...], os testemunhos dos processos naturais e das relações estabelecidas entre seus elementos. De outro, torna-se, também, parte da memória humana, pois adquire significado e sentido para os diversos grupos sociais, torna-se uma referência histórica e é inserido na memória social (SCIFONI, 2008, p.10). O intenso processo de imigração que ocorreu em Joinville/SC na década de 70, fez com que a hegemonia dos tempos coloniais cedesse lugar a um ambiente de diversidade cultural e étnica, visto que milhares de pessoas, vindas de várias partes do Brasil, foram tornando-se cidadãos joinvilenses. O que ocasionou um desenvolvimento econômico e novas manifestações culturais. Aqui, pode-se citar o período da industrialização, com o surgimento de algumas das maiores indústrias do país da atualidade, como por exemplo, Tupy, Consul e Tigre. Por conta desse processo de migração a população teve um crescimento fortemente ampliado entre os anos de 1970 e 1980, como vemos na tabela 01.

Tabela 01 Crescimento populacional em Joinville/SC, entre 1960 e 2010. ANOS TAXAS MÉDIAS INÍCIO DA FINAL DA % DÉCADA DÉCADA 1950 a 1960 6,07 43.334 69.677 1960 a 1970 6,04 69.677 126.095 1970 a 1980 6,45 126.095 235.812 1980 a 1991 3,54 235.812 347.151 1991 a 2000 2,21 347.151 429.604 2000 a 2010 1,69 409.604 515.250 Fonte: IBGE Censos Demográficos 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010 (publicado em 29 de novembro de 2010) extraído de IPPUJ (2011, p. 57). Com a intensificação e aceleramento da urbanização devido a esse crescimento da população, houve alteração nos parques fabris uma referência é a Fundição Tupy, cuja transferência da indústria do bairro central para o bairro Boa Vista, em 1954, contribuiu para o povoamento e urbanização de espaços verdes de grande parte dos bairros da Zona Leste. O bairro Comasa surgiu devido a essa empresa, os trabalhadores começaram a construir as moradas para ficarem mais próximos de seu local de trabalho e de uma grande fonte geradora de empregos (Plano de Estruturação Urbana/1987). O local onde a indústria se instalou o acesso era difícil, não havia ruas, a área verde exuberante pertencente à Baia Babitonga teve seu entorno todo modificado com o crescimento do parque fabril da empresa, houve mais modificações, sendo que na atualidade grande parte dessa área foi totalmente devastada, ocorrendo uma mudança no desenho da paisagem local. Esse é somente um exemplo. Portanto, é através da ação humana nas modificações dos espaços, gerando a interação do homem com o meio ambiente que surge o argumento de Santos (2004, p. 54) são testemunhos de um momento do modo de produção e de um momento do

mundo, pois a paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. Verifica-se a temporalidade da história humana e também o tempo da natureza. Assim, a paisagem cultural de Joinville/SC foi sendo construída, destruída e reconstruída seguindo um caminho em que o tempo histórico dos ciclos econômicos cunhou. Ribeiro comenta que (2007), a paisagem cultural não pode ser compreendida somente como uma somatória de objetos, lugares ou pontos do espaço, mas como um sistema que possui relações que permanecem conectados aos lugares de memória sob aspectos estéticos, históricos, simbólicos, funcionais e ambientais. Partindo dessa reflexão, serão analisados dois espaços 5 a Estação da Memória e a Alameda Brüstlein, lugares importantes como instrumentos de políticas públicas de gestão, principalmente na interação da sociedade com relação à preservação e sustentabilidade do patrimônio cultural e apresentam intervenções humanas significativas culturalmente refletidas no ambiente. ESTAÇÃO DA MEMÓRIA Inicialmente construída para ser a Estação Ferroviária de Joinville, em 1906, inaugurada pelo então presidente da República Afonso Pena, como um importante edifício ferroviário do Brasil e um marco no processo de formação e desenvolvimento do município. Sua arquitetura e sua estreita ligação afetiva com a sociedade joinvilense a torna um bem cultural representativo da cultura local e um atrativo turístico. Em 2007 foi restaurada, sendo fiel à época que foi construída e em 2008 foi tombada como patrimônio arquitetônico do Brasil. No mesmo ano, o Complexo foi inaugurado sob a denominação Estação da Memória. Em 30/08/2010 foi assinado o Decreto nº 17.008 que regulamentou a criação desta unidade. Seu objetivo é atuar como centro de referência de memória das identidades que estabelecem a diversidade cultural de Joinville e região. 5 Espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos naturais e artificiais (SANTOS, 2012)

A Estação da Memória além de constituir essa porção do território onde houve a interação do homem com o meio natural, atribuindo valor significativo, apresenta no seu ambiente a memória, assim como transporta o homem ao passado geralmente de modo coletivo (HALBWACHS, 2006), também traz para uma conexão com o presente e com o futuro, esses processos sociais da memória são importantíssimos para a composição da identidade e do lugar. Nas figuras 02 e 03, pode-se perceber a característica singular da Estação da Memória em 1906 e 2010, mesmo com todas as modificações, restaurações realizadas no decorrer dos anos. Figura 02 - Estação Ferroviária (1906) Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=738664. Acesso em 10/08/2012. Após restauração e requalificação a Estação da Memória, o espaço, na atualidade, abriga a Coordenação de Patrimônio Cultural, área de lazer, cultura e

educação, contando a história da cidade, bem como a memória do trabalho em Joinville e região (figura 03). Mensalmente ocorre neste espaço o evento Sábado na Estação, com Mercado de Pulgas, Feira de Arte, Artesanato e Apresentações Culturais (Fundação Cultural de Joinville, 2012). Figura 03 - Estação da Memória (2010) Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=898416. Acesso em 10/08/2012. ALAMEDA BRÜSTLEIN A Alameda Brüstlein, mais conhecida na cidade como Rua das Palmeiras, foi concebida para servir de ligação entre a Maison de Joinville (atual Museu Nacional de Imigração e Colonização) e Rua Olaria (atual Rua do Príncipe). Em 1867, Frederico Brüstlein, administrador da Colônia Dona Francisca, por isso, o nome de Alameda

Brüstlein, ordenou a Louis Niemeyer que trouxesse do Rio de Janeiro sementes das palmeiras imperiais existentes no Jardim Botânico. Em 1873, as mudas de 56 (cinquenta e seis) palmeiras foram transplantadas para o local. Em 1961, foram replantadas mais dez palmeiras, em substituição às antigas, sendo que quatro haviam sido retiradas devido às ruas terem sido alagadas no século XIX (Fundação Cultural de Joinville, 2012). Em 1973, a Alameda foi ajardinada e transformada em Boulevard, com projeto do artista Juarez Machado. A Alameda Brüstlein foi tombada como Patrimônio Cultural do município de Joinville, pelo decreto 12.276, no dia 9 de março de 2005. Em 2012, foi realizado um projeto de requalificação urbana da Alameda Brüstlein que, entre outras melhorias, abriu um caminho central levemente sinuoso para a passagem de pedestres. Este projeto, elaborado pela administração pública em parceria com instituições vinculadas a cultura, teve como principais objetivos estimular a convivência urbana, fortalecer o turismo, preservar a história e o simbolismo do local, além de garantir acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida (Fundação Cultural de Joinville, 2012, web). A Alameda Brüstlein, desde seu surgimento passou por várias alterações de traçado, trânsito, sentido propostas por paisagistas, gestores, artistas. Pelo seu significado e simbolismo para a história da cidade, para seus habitantes o que se pode constatar é que a paisagem é um elemento fluido, rápido e mutável. Assim, como o ser humano ela se move, cria e sofre as mesmas mudanças sociais gritantes (ALVES, 2010), então as paisagens possuem significados simbólicos porque é o produto da apropriação e transformação do meio ambiente pelo homem (COSGROVE, 2004 apud ALVES, 2010, p. 3). Como demonstrado na figura 04 aparece a Alameda nos anos de 1890 e 1910, pode se perceber algumas mudanças provocadas pela ação do homem, no decorrer dos anos.

Figura 04 - Alameda Brüstlein 1890 1910 Fonte: http://nossajoinville.com.br/cotidianojoinville/tag/alameda-brustlein/. Acesso em 10/08/2012. A mesma paisagem cultural pode ser observada na figura 05, no ano de 1960, quando no ano seguinte foi efetuado o replantio de algumas palmeiras e no ano de 1973, quando virou um Boulevard, modificações sofridas ao longo dos anos, no entanto, a representatividade do lugar para a cidade permaneceu, assim como a peculiaridade do lugar, não sofreu alteração. Figura 05 - Alameda Brüstlein 1960 1973 Fonte: http://nossajoinville.com.br/cotidianojoinville/tag/alameda-brustlein/. Acesso em 10/08/2012.

Em Joinville/SC, a Alameda Brüstlein, um dos principais atrativos culturais, está diretamente ligado ao que se constitui como patrimônio histórico e cultural e esses inseridos na consolidação da história de Joinville/SC, também é um dos principais atrativos para o turismo da cidade como demonstrado na figura 06. Figura 06 - Alameda Brüstlein (2010) Fonte: http://www.sctur.com.br/joinville/rua_das_palmeiras.asp Acesso em 10/08/2012. Em 2012, o atrativo da cidade recebeu um novo paisagismo, obras de drenagem pluvial, espaços de permanência, nova pavimentação e moderna iluminação, entre outras melhorias (IPPUJ, 2012), como visualizado na figura 07. A requalificação do espaço teve como objetivo a utilização do local para o desenvolvimento cultural e a convivência da população. Novamente o espaço, sofreu alteração, mas sua excepcionalidade conservar-se.

Figura 07 - Alameda Brüstlein (2012) Fonte: Foto Divulgação (IPPUJ, 2012). Acesso em 10/08/2012. Consideramos que a memória deve ser entendida como um fenômeno coletivo e social, como já argumentava Halbwachs (2006), ou seja, como um fenômeno que é construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes. Assim esses dois espaços de Joinville/SC que foram analisados passam pela memória coletiva da população, transformando-se em lugares de memória, lugares esses particularmente ligados a uma lembrança, independente do momento que ocorreu (POLLAK, 1992). Como Santos afirma (2012, p.73) uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. Passado, presente, futuro todas essas transformações constantes dos elementos naturais, foram geradas em decorrência da integração da paisagem cultural e sua abordagem de forma articulada dos diversos grupos sociais, fazendo com que esses

criassem ou produzissem, nos espaços analisados lugares de memória. E essa memória coletiva, representa a sociedade e compõe a paisagem cultural da cidade de Joinville/SC, dada sua interação do homem com o meio ambiente, mas, principalmente, o resultado material de todas as mudanças sociais e naturais que ocorrem nas regiões onde estão inseridos os espaços. CONSIDERAÇÕES FINAIS PRELIMINARES A paisagem cultural em Joinville/SC é um assunto recente, assim como no Brasil. No geral, paisagem cultural é um conceito pouco conhecido, as reflexões e discussões são intensas e profundas, principalmente nas modificações das paisagens, sejam naturais ou culturais, como esses espaços urbanos são transformados com certa velocidade, visto que a paisagem cultural, não é algo estático, mas sim um elemento fluido e rapido (MOREIRA, 2007). A cidade precisa dessas paisagens culturais, pela necessidade de identidade e de reconhecimento desses espaços como parte do cotidiano de suas vidas, gerando um legado cultural para as futuras gerações. Essa percepção é o que faz com que esse estudo seja um desafio, uma vez que a cidade apresenta paisagens culturais significativas para sua população, algumas expostas pela mídia, que podem ser visualizadas nos cartões postais, folders e outros, mas que estão na memória dos cidadinos. E a questão da sustentabilidade atrelada à paisagem cultural é um questionamento que permanece latente. Enfim, acreditamos que mesmo tendo passado por esses processos de modificações e restaurações, ambos os espaços analisados, mantêm suas características peculiares, são lugares de memória, de milhares de joinvilenses, que de alguma forma ou de outra, olham para essas paisagens e veem significados de valores humanos, uma relação afetiva criada no processo social de interação do homem com o meio ambiente. Mas, ainda há uma reflexão que permanece, podemos chama-las de paisagens culturais considerando os conceitos apresentados pelas normativas da UNESCO e do IPHAN?

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