CENTRO DE ESTUDOS ORNITOLÓGICOS Caixa Postal 64532 CEP 05402 São Paulo, SP www.ceo.org.br Sobre a questão da vegetação herbácea e arbustiva nas bordas do lago do Parque Aclimação. O Centro de Estudos Ornitológicos, em seus 29 anos de existência, sempre teve grande interesse pela avifauna dos parques e outras áreas verdes da Cidade de São Paulo. Mantem em seu site uma seção dedicada a essa avifauna ( Avifauna na Cidade de São Paulo ). Em um dos arquivos lá disponível ( Lista das aves das áreas verdes da Cidade de São Paulo ), sumariza a ocorrência das espécies de aves nas diversas áreas. Além das áreas abertas à visitação pública, o CEO tem inventariado a avifauna de algumas áreas militares, como pode ser visto também em seu site, na seção Levantamento de avifauna em áreas militares. Em algumas oportunidades o CEO fez intervenções objetivando promover a proteção dos ambientes dessas áreas verdes urbanas, como no caso em que defendeu a manutenção de um lago na área do Instituto Butantan (Vide Editorial: Ironias do ambientalismo no Boletim CEO Nº 10, disponível no site do CEO), ou quando fez diversas sugestões de manejo ambiental no Parque Dr. Fernando Costa ( Parque da Água Branca ), muitas dessas aceitas e implementadas pela administração desse Parque. Estudos ornitológicos em áreas verdes urbanas mostram que a diversidade de espécies de aves dessas áreas tem uma relação com a presença de ambientes que simulam os hábitats naturais, quais sejam: matas, subbosques, campos abertos, capinzais, ambientes aquáticos, brejos, etc. A presença dessas formações propicia o aparecimento das espécies de aves próprias delas e sua colonização. Desta forma, o manejo das áreas verdes urbanas visando criar condições de sobrevivência das espécies de aves deve prever a implantação da maior variedade possível de ambientes. A área ribeirinha de lagos com sua vegetação típica, propicia a presença de um grande número de espécies de aves típicas dos espaços urbanos. Entre outras as que são mostradas na Tabela 1. Note-se que dessas espécies, quinze já foram registradas no Parque Aclimação, e outras poderão lá se estabelecerem, com o manejo adequado da vegetação ribeirinha. Com relação à avifauna, algumas vantagens da manutenção da vegetação ribeirinha natural são: 1. Permitir uma maior diversidade de espécies de plantas, que poderão servir de alimento para algumas aves. 2. Criar locais protegidos para a construção de ninhos. 3. Servir de refúgio para as aves, principalmente nos dias de maior afluxo de pessoas ao parque. Em visitas ao Parque, constatamos algumas situações que comprovam o exposto acima, que mostramos a seguir com a ajuda de algumas fotografias.
Tabela 1: Espécies de aves ribeirinhas, dependentes do ambiente aquático e vegetação do entorno dos corpos d água (Com base na lista de aves das áreas verdes de São Paulo, compilada pelo CEO. As espécies estão apresentadas por ordem de frequência em que aparecem nas diversas áreas verdes). Nome em português Nome científico Com registro no P. Aclimação Garça-branca-grande Ardea alba x Pia-cobra Geothlypis aequinoctialis Irerê Dendrocygna viduata x Savacu Nycticorax nycticorax x Martim-pescador-grande Megaceryle torquata x Garça-branca-pequena Egretta thula x Biguá Phalacrocorax brasilianus x Socozinho Butorides striata x Lavadeira-mascarada Fluvicola nengeta x Martim-pescador-verde Chloroceryle amazona x Frango-d'água-comum Gallinula galeata x Saracura-sanã Pardirallus nigricans Mergulhão-caçador Podilymbus podiceps x Frango-d'água-azul Porphyrio martinica x Martim-pescador-pequeno Chloroceryle americana Pé-vermelho Amazonetta brasiliensis Garça-moura Ardea cocoi x Saracura-três-potes Aramides cajanea Jaçanã Jacana jacana João-porca Lochmias nematura Viuvinha Colonia colonus Mergulhão-pequeno Tachybaptus dominicus Biguatinga Anhinga anhinga x Maria-faceira Syrigma sibilatrix Carão Aramus guarauna Saracura-do-mato Aramides saracura Curutié Certhiaxis cinnamomeus Japacanim Donacobius atricapilla Garibaldi Chrysomus ruficapillus Asa-branca Dendrocygna autumnalis Gavião-caramujeiro Rostrhamus sociabilis Freirinha Arundinicola leucocephala Marreca-caneleira Dendrocygna bicolor Marreca-parda Anas georgica Mergulhão-grande Podicephorus major Socó-boi Tigrisoma lineatum Garça-azul Egretta caerulea Colhereiro Platalea ajaja Saracura-carijó Pardirallus maculatus Maçarico-solitário Tringa solitaria x Talha-mar Rynchops niger João-botina-do-brejo Phacellodomus ferrugineigula Carretão Agelasticus cyanopus
O Parque Aclimação é pobre em diversidade vegetal, grande parte de sua área é ocupada por eucalipto, que é uma espécie exótica, de pouca importância ecológica para nossas aves. A vegetação ribeirinha resulta em um enriquecimento da diversidade vegetal, como pode ser visto nas fotos a seguir.
Pudemos observar uma corruíra (Troglodites musculus) alimentando-se em planta herbácea ao lado do lago. Os visitantes do Parque gostam de ficar nos gramados ao lado do Lago, o que aumenta a necessidade de algumas áreas com vegetação ribeirinha mais densa, onde as aves possam se refugiar nos momentos de maior afluxo de pessoas, como nos finais de semana e feriados. A foto a seguir mostra ao fundo as pessoas próximas do lago e no primeiro plano uma vegetação mais densa e aves refugiadas no local. As fotos a seguir mostram algumas espécies de aves refugiadas próximo da vegetação mais densa do lago. Garça-branca-pequena (Egretta thula):
Frango-d água-comum (Gallinula galeata): Irerê (Dendrocygna viduata): Garça-moura (Ardea cocoi):
Pato doméstico: Filhotes do frango-d água-comum (Gallinula galeata), constatando que essa espécie se reproduz no local, graças à vegetação ribeirinha mais densa, que permite que ele esconda seu ninho. Constatamos no lago uma quantidade muito grande de algas, o que indica alto grau de eutrofização. Sugerimos medidas no sentido de controle dessa situação. Além das questões aqui tratadas, com relação à avifauna, o ambiente aquático e vegetação ribeirinha no Parque da Aclimação tem importância para outros grupos de animais, como os anfíbios, répteis e peixes, dentre os vertebrados e diversos outros, dentre os invertebrados. É desejável que esta questão seja também avaliada por especialistas nesses grupos de animais. Consideramos conveniente lembrar que a Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, estabelece em seu Artigo 4º, que são áreas de preservação permanente, em zonas rurais ou urbanas, as áreas do entorno dos lagos e lagoas naturais, estabelecendo em trinta metros essas áreas, no caso de zonas urbanas. E a Lei 9605/98 estabelece, em seu Artigo Nº 29, que comete crime contra a fauna, quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural. Relator deste documento: Luiz Fernando de Andrade Figueiredo (1º Secretário do CEO). Fotos: Luiz Fernando de A. Figueiredo e Sulamit Meca Pedrassoli. Data: 02/09/2013