ENSINO UNIVERSITÁRIO E RECURSOS HUMANOS NA ADMINISTRAÇÃO DE MACAU: O CASO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS



Documentos relacionados
REFLECTINDO SOBRE A EDUCAÇÃO EM MACAU

Projecto de Lei n.º 54/X

CURSO DE GESTÃO BANCÁRIA

COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS E IDENTIDADE ACADÉMICA E PROFISSIONAL

NCE/12/00971 Relatório final da CAE - Novo ciclo de estudos

R E G U L A M E N T O

REGULAMENTO DE TAXAS E PROPINAS APLICÁVEIS AOS ESTUDOS E CURSOS DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Administração de Pessoas

PROJECTO DE CARTA-CIRCULAR SOBRE POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

EngIQ. em Engenharia da Refinação, Petroquímica e Química. Uma colaboração:

CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA

A organização dos meios humanos na empresa

E Entrevistador E18 Entrevistado 18 Sexo Masculino Idade 29anos Área de Formação Técnico Superior de Serviço Social

CURSOS COMPLEMENTARES DE MÚSICA

EDITAL. Iniciativa OTIC Oficinas de Transferência de Tecnologia e de Conhecimento

FORMAÇÃO DE EXECUTIVOS NO BRASIL: UMA PROPOSTA

Pedagogia Estácio FAMAP

1. A cooperação instituída terá, designadamente, por objecto a realização dos

Cursos de Doutoramento

Critérios Gerais de Avaliação

FORMAÇÃO PROFISSIONAL AS OBRIGAÇÕES PREVISTAS NO CÓDIGO DO TRABALHO E NA SUA REGULAMENTAÇÃO.

PROPOSTA DE LEI N.º 58/X. Exposição de Motivos

Regulamento do Fundo de Responsabilidade Social do Hospital Vila Franca de Xira

Art. 1º Definir o ensino de graduação na UNIVILLE e estabelecer diretrizes e normas para o seu funcionamento. DA NATUREZA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DA GUARDA. Regulamento Geral de Avaliação

REGULAMENTO PARA ATRIBUIÇÃO DE BOLSAS DE ESTUDO AOS ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR. CAPITULO I (Objecto e âmbito)

Concurso Anual Universitário RENAULT Building the Wheels of the Future

Projecto de incentivo ao desenvolvimento e organização da micro-produção. Autoria: Junta de Freguesia de Brandara

Manual de Avaliação dos alunos do pré-escolar ao 9º ano de escolaridade

Art. 1º Fica modificada a redação da Seção V do Título IV da Lei Complementar nº 49, de 1º de outubro de 1998, que passa ter a seguinte redação:

Regulamento do curso de Mestrado em Engenharia Industrial

PARECER Nº 60/PP/2014-P SUMÁRIO:

REGULAMENTO programa de apoio às pessoas colectivas de direito privado sem fins lucrativos do município de santa maria da feira

FEUP RELATÓRIO DE CONTAS BALANÇO

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE UDM DIRECÇÃO ACADÉMICA CURRÍCULO DA ÁREA DE FORMAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE EMPRESAS AFAGE

Regulamento Geral de Estudos Pós-Graduados. do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

Decreto Regulamentar n.º 41/90 de 29 de Novembro

COMISSÃO CIENTÍFICA DO CURSO DE MESTRADO EM ENSINO DE DANÇA ANO LECTIVO DE 2011/2012-1º SEMESTRE RELATÓRIO

ACORDO DE PRINCÍPIOS PARA A REVISÃO DO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE E DO MODELO DE AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES DOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

PROPOSTA ALTERNATIVA

ÍNDICE. Que expectativas académicas, que organização do estudo e conciliação entre estudos e emprego? 6

A REFORMA DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

NCE/10/01836 Relatório final da CAE - Novo ciclo de estudos

POLÍTICA DE DIVERSIDADE DO GRUPO EDP

AS PROFISSÕES DE CONTADOR, ECONOMISTA E ADMINISTRADOR: O QUE FAZEM E ONDE TRABALHAM

Regime jurídico que regulamenta a compra e venda de fracções autónomas de edifícios em construção

ASSEMBLEIA GERAL ANUAL ZON MULTIMÉDIA SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES E MULTIMÉDIA, SGPS, S.A. 19 de Abril de 2010 PROPOSTA DA COMISSÃO DE VENCIMENTOS

Licenciatura em Administração Pública (LAP)

Resolução da Assembleia da República n.º 64/98 Convenção n.º 162 da Organização Internacional do Trabalho, sobre a segurança na utilização do amianto.

ORDEM DE SERVIÇO Nº 17/2015 Regulamento Relativo ao Pessoal Docente Especialmente Contratado da Universidade de Évora

MESTRADOS. Artigo 1.º Criação A Escola Superior de Comunicação Social confere o grau de Mestre em Jornalismo.

Licenciatura em Gestão de Marketing (LMK)

Partido Popular CDS-PP. Grupo Parlamentar. Projecto de Lei nº 575/X

Estatuto do Trabalhador-Estudante

REGULAMENTO DE BOLSAS DE ESTUDO EM PORTUGAL PARA O ENSINO SUPERIOR DESTINADAS A ESTUDANTES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA CAPÍTULO I

Processos apensos T-6/92 e T-52/92. Andreas Hans Reinarz contra Comissão das Comunidades Europeias

REGULAMENTO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO AMBIENTAL

PROJECTO DE LEI N.º 609/XI/2.ª

INSTITUTO POLITÉCNICO DE COIMBRA EDITAL DE ABERTURA DE ACESSO A CURSOS DE MESTRADOS DO INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE COIMBRA.

Parecer sobre o futuro da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Preâmbulo

MATEMÁTICA A - 12o Ano Probabilidades - Triângulo de Pascal Propostas de resolução

REGULAMENTO SOBRE INSCRIÇÕES, AVALIAÇÃO E PASSAGEM DE ANO (RIAPA)

Sessão de Abertura Muito Bom dia, Senhores Secretários de Estado Senhor Presidente da FCT Senhoras e Senhores 1 - INTRODUÇÃO

1. Resolver um problema

Candidatura de. António Dourado Pereira Correia. a Director da FCTUC. Programa de acção do Director da FCTUC

Regulamento Interno. Dos Órgãos. de Gestão. Capítulo II. Colégio de Nossa Senhora do Rosário

Decreto n.º 196/76 de 17 de Março

ACEF/1415/17827 Relatório preliminar da CAE

INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE COIMBRA EDITAL DE ABERTURA DE CONCURSO DE ACESSO MESTRADO EM ENGENHARIA E GESTÃO INDUSTRIAL.

O PEDIDO DE TPTD E A FORMAÇÃO ACADÉMICA


R E S O L U Ç Ã O. Artigo 2º - O currículo, ora alterado, será implantado no início do ano letivo de 2001, para os matriculados na 5ª série.

MUNICÍPIO DE ALCOCHETE CÂMARA MUNICIPAL REGULAMENTO DE APOIO AO MOVIMENTO ASSOCIATIVO

Apresentada a reclamação importa analisar face às competências que me são estatutariamente conferidas se assiste razão ao estudante.

Manual do Revisor Oficial de Contas. Projecto de Directriz de Revisão/Auditoria 860

Fanor - Faculdade Nordeste

REGULAMENTO DO CURSO DE MESTRADO EM DESPORTO DA ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM

Universidade Católica Portuguesa. Escola Superior de Biotecnologia

DECRETO-LEI N.º 165/86 de 26 de Junho

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CURSO DE INICIAÇÃO PEDAGÓGICA - CIP REGIMENTO DA REGIÃO DE LEIRIA

PROJECTO DE REGULAMENTO MUNICIPAL DE ATRIBUIÇÃO DE APOIOS FINANCEIROS E NÃO FINANCEIROS. Nota justificativa

(MAPAS VIVOS DA UFCG) PPA-UFCG RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA UFCG CICLO ANEXO (PARTE 2) DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES

BOLSAS DE ESTUDO PARA APERFEIÇOAMENTO EM MÚSICA REGULAMENTO. DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 1º

Processo de Bolonha. Regime de transição na FCTUC

1. APRESENTAÇÃO. Cartilha do ENADE. Caro estudante,

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA

PARECER NP 677/93 CÂMARA ou COMISSÃO APROVADO EM: 10/11/93

A troca consiste no acto de obtermos qualquer coisa que desejamos, oferecendo algo desejado pela outra parte, em compensação. A necessidade de trocar

LIGHT STEEL FRAMING. Em Portugal o sistema é vulgarmente conhecido por Estrutura em Aço Leve.

REGIMENTO Interno Avaliação De Desempenho Docente

CURSO DE COMPLEMENTO DE FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM PLANO DE ESTUDOS

PROJECTO DE LEI N.º 252/XI/1.ª

Regulamento Interno do Conselho Local de Acção Social de Montemor-o-Novo

PARECER HOMOLOGADO(*) (*) Despacho do Ministro, publicado no Diário Oficial da União de 18/12/1997 CÂMARA OU COMISSÃO: CEB

REGULAMENTO PARA A GESTÃO DE CARREIRAS DO PESSOAL NÃO DOCENTE CONTRATADO NO ÂMBITO DO CÓDIGO DO TRABALHO DA UNIVERSIDADE DO. Capítulo I.

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Reitoria Gabinete do Reitor. Apreciação do anteprojecto de decreto-lei Graus académicos e diplomas do Ensino Superior

Transcrição:

Administração, n.º 5, vol. II. 1989-3., 377-381 ENSINO UNIVERSITÁRIO E RECURSOS HUMANOS NA ADMINISTRAÇÃO DE MACAU: O CASO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS Rui Rocha * O território de Macau carece, como se sabe, de fontes diversificadas de recrutamento de pessoal técnico, nomeadamente a nível de ensino superior, constatando-se igualmente a raridade de algumas formações académicas no mercado de emprego local e as consequentes dificuldades com que a Administração invariavelmente se tem deparado quando pretende captar potenciais candidatos ao emprego público possuidores de tais formações. Destacaria no conjunto dessas formações académicas o Direito, a Arquitectura, as Ciências Documentais, a Sociologia, a Psicologia e o Serviço Social. A percentagem de cobertura real destas áreas, ou seja, a relação entre recursos humanos existentes na Administração com tais formações e recursos humanos disponíveis no mercado de emprego local (via Bolsa de Emprego, PEPs ou acções pontuais de recrutamento e selecção) oscilam entre os O e 20%. Ora, tal situação tem levado tradicionalmente a Administração de Macau a recorrer aos quadros dos serviços públicos da República, como forma de suprir as necessidades enunciadas. O que significa que a quase totalidade dos recursos humanos em exercício de funções na Administração de Macau com as formações académicas referidas provêm de recrutamento no exterior e, portanto, possuem necessariamente uma perspectiva temporal curta de permanência no Território. Perante as percentagens de cobertura indicadas, a Administração parece colocar-se numa situação de extrema fragilidade, podendo vir a ser confrontada com um vazio técnico, de alguma gravidade, nas áreas correspondentes às formações académicas atrás mencionadas se os recursos humanos técnicos afectos a tais áreas resolverem, por hipótese, cessar funções no Território a curto/médio prazo. * Departamento de Recrutamento e Selecção do Serviço de Administração e Função Pública. 377

É nosso entendimento que se torna urgente e indispensável viabilizar soluções no âmbito de uma política de localização de quadros que permitam, quer satisfazer, a médio prazo, carências manifestas da Administração sem o recurso sistemático ao exterior, quer eventuais carências de outros mercados de emprego desta região da Ásia em que Macau se integra. No que concerne à área do Direito, foi criado e encontra-se já em funcionamento na U.A.O. um Curso de Direito que confere o grau de licenciatura, e que irá permitir, a médio prazo, iniciar o processo de suprimento de carências neste domínio. A formação superior em Ciências Documentais, embora sem existência académica em Macau, é tão importante quão importantes são as formações em Direito e de Intérpretes-tradutores, porquanto a transmissão do legado jurídico, administrativo e cultural de matriz portuguesa passa necessariamente pela interpretação e cotejo das bases documentais redigidas em língua portuguesa, sejam elas de natureza jurídica, administrativa ou cultural. Quando à formação em Arquitectura, prudente será avaliar primeiro os efeitos que o funcionamento do modelo regulador do reconhecimento de habilitações académicas obtidas em sistemas de ensino não português irá gerar, no sentido de se conhecer melhor a amplitude do universo real de candidatos existentes e disponíveis nesta área. Finalmente as formações académicas que se inscrevem no âmbito das ciências sociais. De acordo com os dados de que se dispõe relativamente à Bolsa de Emprego e aos PEPs, fica-nos a convicção de que não existe tradição em Macau na procura de formações académicas no âmbito das ciências sociais, designadamente a Psicologia, a Sociologia e o Serviço Social. Tomemos o exemplo do PEP. Sensivelmente 50% do pessoal candidato ao PEP com formação superior concentra-se essencialmente em 5 áreas funcionais como se poderá constatar no quadro seguinte: Isto significa que os restantes 50% de candidatos estão distribuídos por uma multiplicidade de áreas funcionais (18 no 1.º PEP; 28 no 2.º PEP; 27 no 3. PEP; 28 no 4.º PEP) contendo cada uma dessas áreas números inexpressivos de candidatos que na sua maioria não são absorvidos pela Administração porque tais áreas não são solicitadas pelos serviços públicos. 378

Os serviços públicos, por sua vez, solicitam, sistematicamente, candidatos ou nas áreas de maior procura de emprego como a Economia, a Gestão de Empresas, a Engenharia Civil e a Informática, o que, de certo modo, tem vindo a esgotar a quantidade e a qualidade deste universo aparentemente abundante; ou em áreas para as quais não existem candidatos ou existem poucos candidatos, e estes muitas vezes já trabalhando na Administração Pública, como é o caso do Serviço Social e da Sociologia. O recrutamento, local ou no exterior, de pessoal com formação superior em psicologia tem conhecido bastantes dificuldades. Casos paradigmáticos de tais dificuldades de recrutamento têm sido as ofertas de emprego dadas a conhecer pelos serviços públicos como o GAT, o CAIP, o IASM, O DSPRS, o CRS e o SAFP para aquela formação académica, cuja procura é praticamente nula. Afigura-se-nos, por isso, necessário, no âmbito de uma estratégia de localização, a criação de uma nova fonte de recrutamento, ou seja, a criação de um curso de ciências sociais no âmbito da U.A.O. ou a remodelação do já existente naquela instituição, com uma vocação não apenas locai mas fazendo convergir candidatos de vários mercados de emprego nesta região da Ásia, como Hong Kong, Taiwan, Singapura e República Popular da China e apoiado cientificamente pelas universidades portuguesas. Partindo da ideia que haverá que aproveitar a configuração curricular já adoptada pela U.A.O. no curso de Ciências Sociais, acrescentando-se--ihes, apenas, mais um ano curricular à semelhança do que já foi pensado para os cursos de Engenharia, sugeriríamos duas hipóteses de reestrutura-ção do respectivo curso: Hipótese A: 379

A valência de Economia, agora ministrada no âmbito do curso de Ciências Sociais, autonomizar-se-ia como curso de 4 anos, e as valências de Sociologia e de Administração Pública e Governo integrar-se-iam, respectivamente, nas valências de Sociologia e de Administração Pública. Hipótese B: A configuração curricular seria idêntica à anterior, integrando-se a valência Economia no mesmo esquema que foi adoptado para as valências da hipótese A. Teríamos, desta forma, 5 saídas curriculares e não 4. As cadeiras de opção nas valências de Sociologia e Psicologia, designadamente, teriam como objectivo principal orientar o aluno para áreas específicas no âmbito de tais valências. Em relação à Sociologia teríamos duas áreas específicas a Sociologia do Trabalho e das Organizações e a Sociologia da Educação; na Psicologia teríamos a Psicologia Clínica, a Psicologia do Trabalho e das Organizações e a Psicologia da Educação. A língua veicular de ensino do curso de ciências sociais seria, fundamentalmente, a língua inglesa, na óptica da captação de outros mercados escolares como anteriormente se referiu, sem prejuízo de, até 1999, entrarem em funcionamento dois cursos em todas as valências propostas, em língua veicular portuguesa, ou seja, em 1990 e 1994, respectivamente, por forma a vir de encontro ao suprimento de necessidades da Administração de Macau. Colhida a experiência de 4 anos com o funcionamento dos cursos em todas as valências previstas e preparados os meios humanos e pedagógicos para a sua implementação, dever-se-iam iniciar, em 1994, cursos de ciências sociais em língua veicular chinesa (pǔ tónghuà), em moldes idênticos aos já experimentados nas línguas veiculares portuguesa e inglesa. Porquê o pútónghuà? Simplesmente porque os mercados potenciais de candidatos de língua oficial chinesa, como a República Popular da China e Taiwan, expressam-se em pǔ tónghuà. Pensamos, contudo, que a manutenção e o desenvolvimento científico de todos estes cursos deveriam ser fortemente apoiados por uma instituição de investigação social, sediada ou não na U.A.O., com duas secções, uma portuguesa e outra chinesa, e portanto com sensibilidades distintas de aproximação aos fenómenos sociais e culturais, vocacionadas para o estudo da realidade de Macau e dos fenómenos interculturais de que Macau e Singapura parecem constituir exemplo. Apenas uma última referência, esta à valência Administração Pública do curso de ciências sociais proposto. Como é do conhecimento comum a Universidade da Ásia Oriental tem em funcionamento dois cursos distintos de Administração Pública, conferindo-se em ambos graus académicos universitários neste domínio do saber. Um, o curso de Direito e Administração Pública que confere o grau de bacherel em Administração Pública após 3 anos lectivos; o outro, o curso de Administração Pública que confere o grau de licenciatura em Administração Pública em 4 semestres lectivos, mas exigindo como requisitos mínimos de admissão ao curso a posse do 2.º ano completo de qualquer curso superior reconhecido, a idade mínima de 25 anos e adequada experiência profissional na Função Pública. 380

Afigura-se-nos que tal dispersão de esforços e de encargos académicos em valências de vocação científica afim não é desejável particularmente num território caracterizado por um mercado de recursos humanos tão restrito. Daí a razão da proposta formulada no sentido desta valência ser integrada no âmbito do curso de ciências sociais. Fundamentação para tal, o facto da ciência aplicada de administração pública, embora cruzando dois modelos e duas racionalidades de organização pública a jurídica e a do management público se ter vindo progressivamente a converter ao management público, facto de que tem resultado uma modificação muito profunda do próprio sentido da instituição administrativa. Ora a passagem de um modelo de administração para outro indicia claramente a emergência de uma nova disciplina do conhecimento, cujas temáticas fazem convergir, com grande ênfase, os diversos campos das ciências sociais. «O Management Público é pois uma expressão que sugere uma nova disciplina do conhecimento necessária e integradora da lexicologia dispersa pelas ciências do homem, que pretende enfrentar a complexidade, a incerteza, a aleatoriedade que colocam o gestor face-a-face à decisão, ao comando, ao progresso dos sistemas que lhe são confiados. O Management Público é, por outro lado, uma nova maneira de situar a gestão das organizações públicas sem ser, porém, a aplicação do management privado ao sector estatal, ou, enganosamente, a formulação de algoritmos de aplicação estandardizada. Outrossim, compreender profundamente a dinâmica inter-individual; inconsciente, logo probabilís-tica; explícita, logo formalista; desejo, logo motivacional; complementar, logo sinergética. Entender os espaços afectivos da textualidade socio-dinâmica onde se vive a autoridade, a influência e o poder. Por último o Management Público situa duas pertinências: o cidadão como cliente do sistema administrativo e o funcionário como profissional desse mesmo sistema» 1. 1987. 1 Luís Rodrigues, A Gestão dos Serviços Públicos, encontro para dirigentes, Macau, 381

382