REQUERIMENTO (Da Sra. FÁTIMA PELAES) Requer o envio de Indicação ao Poder Executivo, relativa à adequação do Programa Nacional de Habitação Rural PNHR à realidade amazônica. Senhor Presidente: Nos termos do art. 113, inciso I e 1 o, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, requeiro a V. Exª. seja encaminhada ao Poder Executivo a Indicação anexa, sugerindo a adequação do Programa Nacional de Habitação Rural PNHR à realidade amazônica. Sala das Sessões, em de de 2013. Deputada FÁTIMA PELAES
INDICAÇÃO N o, DE 2013 (Da Sra. FÁTIMA PELAES) Requer o envio de Indicação à Casa Civil, relativa à adequação do Programa Nacional de Habitação Rural PNHR à realidade amazônica. Excelentíssima Senhora Ministra Chefe da Casa Civil: O Programa Nacional de Habitação Rural PNHR, integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida PMCMV, tem como finalidade subsidiar a produção ou reforma de imóveis aos agricultores familiares e trabalhadores rurais, por intermédio de operações de repasse de recursos do Orçamento Geral da União ou de financiamento habitacional com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FGTS. Entre os agricultores familiares que podem se beneficiar do Programa, encontram-se: pescadores artesanais, extrativistas, silvicultores, aquicultores, maricultores, piscicultores e comunidades quilombolas, entre outras comunidades tradicionais. O Ministério das Cidades, como gestor do PNHR, relaciona especificações mínimas para a concessão do financiamento que são inadequadas para a realidade do habitante da região amazônica. Entre elas, citam-se os materiais de construção convencionais e as características das instalações elétricas e da infraestrutura das vias de acesso. Tais condicionantes encarecem a obra e não são adequadas à realidade da Amazônia. As atividades dos pescadores artesanais, extrativistas e
2 silvicultores, entre outros trabalhadores da região, exigem que eles, de fato, habitem na floresta, à margem dos corpos d água, com a presença de animais hostis e sob forte calor. As construções na Amazônia devem, portanto, apresentar características específicas e adaptadas às suas singularidades. Em praticamente toda a bacia amazônica, no período de chuvas, os rios avançam por dezenas de quilômetros floresta adentro, alagando a terra firme. As moradias localizadas às margens dos corpos d água devem ser mais elevadas em relação ao solo, de forma a ficarem acima do nível das águas no período invernoso. Esse tipo de construção também impede o acesso de animais às casas. Há, igualmente, grande dificuldade em conseguir mão-deobra para as várias fases da obra, bem como para o transporte dos materiais de construção. As distâncias são longas e devem ser percorridas por via fluvial. O transporte por via terrestre é, muitas vezes, impossível, pois as trilhas nas matas não permitem a passagem de materiais volumosos e pesados, gerando perdas significativas. Por todos esses motivos, entre outros, as construções na região amazônica demandam uma logística muito complexa, resultando em obras extremamente caras e demoradas. As construções convencionais exigidas pelo Ministério das Cidades para o Programa Nacional de Habitação Rural são inadequadas para essas comunidades. Sugerimos que, em relação às moradias localizadas na Amazônia, sejam feitas algumas adaptações das exigências impostas pelo Programa, de forma a tornar viável à sua população o atendimento dos requisitos do Ministério. Entre as especificações do PMCMV/PNHR consta que os projetos arquitetônicos deverão ser compatíveis com as características regionais, locais, climáticas e culturais da localidade/comunidade, mediante compensação na melhoria da unidade habitacional e comunicação a Secretaria Nacional de Habitação SNH do Ministério das Cidades. Para contribuir com os Ministérios envolvidos nos programas, na busca da compatibilidade ideal dos projetos com a realidade amazônica, sugerimos que seja feita uma parceria com o INPA Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, que estuda há tempos uma solução habitacional para a região e encaminhamos, em anexo, as considerações do emanadas no Seminário Minha Casa Minha Rural,
3 realizado em junho passado no Amapá pelo mandato em parceria com o INCRA e a Caixa Econômica Federal. A condução do PMCMV cabe ao Ministério das Cidades, mas também ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por fazer parte das ações incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento PAC, e ao Ministério da Fazenda, responsável pela gestão operacional, por meio da Caixa Econômica Federal. Assim, encaminhamos esta Indicação à Casa Civil, para que a ação conjunta dos três Ministérios possa ser melhor coordenada. Contamos com o apoio de V. Exa. e da equipe técnica e gerencial dos Ministérios envolvidos para a análise e implementação de nossa sugestão. Sala das Sessões, em de de 2013. Deputada Fátima Pelaes
4 ADEQUAÇÃO DO PNH-R À REALIDADE DO AMAZÔNIDA 1. Considerando que o Programa Nacional de Habitação Rural PNHR prevê como beneficiários os agricultores familiares e que os grupos infracitados se enquadram nesta classificação: Pescadores artesanais Extrativistas Silvicultores Aquicultores, maricultores, piscicultores Comunidades Quilombolas e Outras comunidades tradicionais 2. Considerando que para o exercício das suas atividades como pescador artesanal impera a necessidade de que o mesmo resida às margens de corpos d água (rios, igapós, igarapés, etc.); 3. Considerando que para o exercício das suas atividades como extrativista, ou silvicultor,há que se residir em área de floresta; 4. Considerando no ambiente a existência de animais hostis e o calor severo; 5. Considerando que em praticamente toda a bacia Amazônica no período das chuvas os rios avançam por dezenas de quilômetros floresta adentro alagando a terra firme ; 6. Considerando que as estradas na Amazônia são seus rios e as distâncias são enormes e medidas em dias, não quilômetros, Pondero: 7. Construções convencionais exigidas pelo Ministério das Cidades para o Programa são inadequadas para estas comunidades pelos seguintes motivos: a. São construídas no nível do solo e não elevadas para ficar acima do nível das águas no período invernoso, tampouco adequadas às margens dos corpos d água, e são também, portanto, de fácil acesso à animais; b. Seus materiais de construção, também convencionais, provem de longas distâncias por via fluvial e por transporte humano ou animal nas trilhas das matas e são extremamente volumosos, pesados e com perdas significativas; c. Exigem mãos de obra específicas para cada fase e d. A construção torna-se extremamente cara, demorada e de logística complexa.
8. Para que esta população possa ser atendida pelo programa, muitos itens devem ser revistos profundamente: a. O emprego de madeira como material construtivo deve ser considerado, em substituição à alvenaria, devido à: i. Sua abundância na região. Observa-se que falar para um ribeirinho de madeira certificada na Amazônia para construção de casas soa tão paradoxal quanto falar para um esquimó de gelo de água filtrada no Pólo Norte para a construção de iglus, pois ao redor de ambos existe a matéria prima adequada e farta utilizada culturalmente há séculos; ii. O conhecimento local de como trabalhá-la; iii. Pode-se trabalhar com casas projetadas em madeira com peças pré-determinadas e dimensionadas cortadas e tratadas in loco, reduzindo o custo da construção; iv. Ser de fácil transporte tanto pelas águas (até flutuando) quanto por terra; v. Possuir grande durabilidade quando tratada e utilizada corretamente e vi. Não se deteriorar mesmo quando submersa por uma cheia atípica. b. A utilização de outros tipos de cobertura, devido à motivos já citados em 7.b, em substituição à telha cerâmica: i. Sugere-se fibrocimento ou, preferivelmente, de alumínio ou aço, devido ao fácil empilhamento resultando em redução no volume à transportar e ao pequeno peso e ii. As metálicas não se quebram com a queda de frutos e galhos. c. Revestimentos internos e externos de pintura sobre reboco: i. Os propostos pelo Programa somente são aplicáveis em paredes de alvenaria; ii. Deve-se prever revestimentos que protejam a madeira das severas intempéries regionais e iii. Deve-se privilegiar revestimentos de fácil manutenção pelos moradores. d. Revestimento das áreas molhadas em azulejos: i. De assentamento incompatível em construções de madeira; ii. Pode-se estudar um revestimento vinílico colado sobre as paredes de madeira e iii. Peso elevado para o transporte. e. Pisos cerâmicos em toda a unidade: 5
i. Assentamento também incompatível além de fácil quebra devido à flexibilidade, mesmo que pequena, do piso; ii. Pode-se também estudar um revestimento vinílico colado sobre o assoalho; iii. Peso elevado para o transporte e iv. Destaca-se que o revestimento de madeiras com materiais vinílicos é a solução mais utilizada nos EUA há décadas. Lá cerâmica é para os ricos. f. Instalações elétricas: i. Informa-se que a população rural na Amazônia encontra-se pulverizada e que em raros casos existe luz elétrica. Quando há, em assentamentos mais densos, esta provém de gerador ou, pior, através de postes e cabos provenientes das cidades próximas. Digo pior pois, para tal, necessita-se de abrir largas faixas na floresta, desmatando-a, e, além disso, no caso de interrupção por rompimento devido à queda de árvores, demora-se dias para localizar e sanar o problema. ii. Sugere-se o emprego de energia solar fotovoltaica, que é barata e extremamente eficiente em latitudes equatoriais como a nossa além de não ter conta pra pagar no final do mês. g. Infraestrutura: i. Não se pode exigir vias de acesso em condições de tráfego de veículos; ii. A solução para o esgotamento sanitário deverá diferir da fossa e sumidouro devido ao alagamento durante a metade do ano, devendo ser desenvolvida solução alternativa. iii. Solução para energia como sugerido em f.ii. 9. Em se referindo à observação citada nas Especificações Mínimas do PMCMV/PNHR: Os projetos arquitetônicos deverão apresentar compatibilidade com as características regionais, locais, climáticas e culturais da localidade/comunidade, mediante compensação na melhoria da unidade habitacional e comunicação a Secretaria Nacional de Habitação-SNH do MCidades, entendo como sendo pertinentes as sugestões. 10. Sugere-se, finalmente que o padrão construtivo à adotar seja similar ao da imagem abaixo: 6
a. Sobre palafitas (o termo aqui não é pejorativo); b. Em madeira; c. Com varanda, pois nela que se passa o dia, consertando e fazendo redes, armadilhas e outros artefatos para caça e pesca, guarda-se motor de popa e outras atividades. Não é luxo: toda casa ribeirinha possui varandas (no plural!). 11. Sugere-se também uma consulta ou parceria com o INPA Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia que estuda há tempos uma solução habitacional para a nossa região: http://www.inpa.gov.br/cpca/luizoli/textos/amazonia_26_casa.html 7