ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA E PARASITOLÓGICA DE GLÂNDULA ADRENAL DE CÃES NATURALMENTE INFECTADOS POR LEISHMANIA SPP.



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Transcrição:

ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA E PARASITOLÓGICA DE GLÂNDULA ADRENAL DE CÃES NATURALMENTE INFECTADOS POR LEISHMANIA SPP. Guerra JM 1, Fernandes NCCA 2, Kimura LM 1, Shirata NK 1, Magno JA 3, Barbosa JER 4, Taniguchi HH 5, Hiramoto RM 5, Nonogaki S 1, Tolezano, JE 5. 1 Núcleo de Patologia Quantitativa CPA -IAL 2 Núcleo de Anatomia Patológica CPA -IAL 3 Programa de Aprimoramento Profissional da SES/FUNDAP-IAL 4 Centro de Procedimentos Interdisciplinares -IAL 5 Núcleo de Parasitoses Sistêmicas CPM -IAL e-mail: jumariotti.vet@gmail.com Financiamento: Fapesp 12/51267-4 Chamamento público 20/2013 SVS/MS

INTRODUÇÃO A leishmaniose visceral americana(lva), causada pelo protozoário Leishmania (Leishmania) infantum chagasi, assumiu grande destaque como um dos principais problemas de Saúde Pública no Brasil. Os cães são considerados o principal reservatório doméstico da LVA, sendo fundamentais na emergência da enfermidade e, muitas vezes, precedendo os casos humanos. A glândula adrenal possui um papel fundamental na resposta imune do organismo ao estresse, sendo que em modelos experimentais de infecção pode ocorrer um desbalanço no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, influenciando na suscetibilidade às doenças. OBJETIVO Realizar a análise histopatológica e parasitológica por imuno-histoquímica (IHQ) de glândula adrenal de cães naturalmente infectados por Leishmania spp.

METODOLOGIA Trinta e sete animais sorologicamente positivos para leishmaniose visceral através do teste rápido DPP - BioManguinhos e ELISA, oriundos de duas regiões distintas do Estado de São Paulo (Marília e Votuporanga) foram eutanasiados de acordo com as recomendações do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral Americana no período de Janeiro de 2012 a Abril de 2013. Fragmentos de glândula adrenal foram coletados em formalina a 10% tamponada com sais de fosfato, submetidos a processamento histológico e coloração por Hematoxilina-Eosina (HE). Além disso, foram submetidos à reação de IHQ com recuperação antigênica por calor úmido sob pressão em tampão citrato ph 6,0 por 3 minutos. A atividade da peroxidase endógena foi bloqueada com solução de H 2 O 2. As lâminas foram incubadas com anticorpo policlonal anti-leishmania produzido em camundongo no Laboratório de Investigações Médicas (LIM-50 / FMUSP) overnight a 4 C, lavadas com PBS ph 7,4 e posteriormente incubadas com polímero de terceira geração marcada com anticorpos secundários e enzima peroxidase (Life Technology ) por 60 min, a 37 C. A revelação foi realizada com cromógeno diaminobenzidina(dab) e contra-coloração com hematoxilina.

Onze (29,73%) animais exibiram infiltrado inflamatório composto predominantemente por linfócitos, plasmócitos e histiócitos, por vezes, formando esboços granulomatosos. Quatro (10,81%) animais apresentaram estruturas arredondadas no citoplasma de macrófagos sugestivas de Leishmania spp. pela coloração de HE. Já através da reação de IHQ, 20 (54,05%) animais foram positivos para Leishmania spp. em adrenal, predominantemente nas zonas fasciculata, reticularis da região cortical e na transição cortiço-medular. RESULTADOS Figura 1. Fotomicrografia de adrenal em cão. Estruturas arredondadas de aproximadamente 2um, sugestivas de amastigotas de Leishmania spp., podem ser observadas no interior de macrófagos(seta). Aumento de 400x. Coloração HE.

RESULTADOS Figura 2. Fotomicrografia de adrenal em cão. Amastigotas de Leishmania spp. em macrófagos da entre zona glomerulosa e fasciculata da região cortical(seta). Aumento de 400x. Reação de imuno-histoquímica; CONCLUSÃO Nas condições estudadas, apesar da glândula adrenal não ser um sítio preferencial de multiplicação do parasita, a infecção por Leishmania spp. pode causar injúrias no tecido glandular de cães naturalmente infectados, o que poderia influenciar o sistema imune do hospedeiro.