ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: UMA ANÁLISE DAS DEMANDAS NO IFPI Amanda Marques de Oliveira 1 Guiomar de Oliveira Passos 2 RESUMO : Esse texto analisa o perfil dos estudantes que demandaram o Benefício Permanente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), objetivando caracterizar os pleiteantes ao Benefício Permanente do IFPI no primeiro período letivo de 2014 em termos das demandas apresentadas e modalidade de ensino. Trata-se de estudo de natureza quantitativa que se vale de dados do formulário socioeconômico preenchido pelos candidatos à obtenção do Benefício Permanente no momento da inscrição sobre: campus de origem, a modalidade de ensino, local de moradia, renda familiar, meio de transporte utilizado e agravos sociais apresentados. Para analisá-los, recorreu-se à medidas de frequência. Constatou-se que cada benefício oferecido pelo Instituto é disputado por mais de 2 candidatos que pertencem aos 11 dos 14 campi em funcionamento em 2014, em particular o Campus Teresina Central, ao Campus de Floriano, Parnaíba e Picos que são os que têm maior número de alunos. São, na maioria, alunos dos cursos técnicos de nível médio, sobressaindo na modalidade integrada, pertencem a famílias com renda de 1 a 3sm e precisam do benefício para se deslocar da residência à instituição de ensino. Por conseguinte, trata-se de adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social que recorrem ao Estado para satisfazerem uma necessidade básica da qual depende a efetivação do direito à educação. Todavia, nem todos serão atendidos o que mostra não apenas a seletividade da política, mas também suas limitações. PALAVRAS-CHAVE: Assistência Estudantil. Educação Profissional. Benefício Permanente. 1 INTRODUÇÃO Esse texto analisa o perfil dos estudantes que demandaram o Benefício Permanente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI). Trata-se de um esboço da investigação da temática da dissertação de mestrado, que enfoca o impacto do Programa Nacional de Assistência Estudantil na permanência e sucesso escolar dos estudantes nesta instituição de ensino. O exame da assistência estudantil na educação profissional possibilita compreender as condições de democratização do acesso, em particular no que se refere à permanência e 1 2 Assistente Social do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí. e-mail: amanda@ifpi.edu.br Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília e professora da Universidade Federal do Piauí no Departamento de Serviço Social e no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (Mestrado e Doutorado). e-mail: guiomar@ufpi.edu.br 1
sucesso escolar que objetiva o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), instituído pelo Decreto nº 7.234 de 2010. Na educação profissional, em conformidade com o art. 4º do Decreto, estas ações são executadas de acordo com as especificidades dos Institutos. No IFPI, desenvolve-se através de ações universais, e específicas. As primeiras destinadas aos estudantes em geral com o objetivo de atendê-los em suas necessidades básicas e incentivá-los na formação acadêmica. As específicas para aqueles em situação de vulnerabilidade social, tendo em vista viabilizar, como previsto no Parágrafo Único do art. 4, Decreto, a igualdade de oportunidades, contribuir para melhoria do desempenho acadêmico e agir, preventivamente, nas situações de retenção e evasão decorrentes da insuficiência de condições financeiras (IFPI, 2014). O Benefício Permanente, de que trata este artigo, insere-se nestas últimas. Trata-se de uma ação que consiste em oferecer bolsa mensal de R$ 100,00 a R$ 400,00 durante todo o curso aos estudantes dos Cursos Técnico Integrado ao Médio, Técnico Concomitante/ Subsequente e Graduação que apresentem renda per capita familiar de até um salário mínimo e meio e encontrem-se em situação de vulnerabilidade social. O que se examina é o seguinte: Quem são os estudantes que pleitearam o Benefício Permanente? Que modalidade de curso tem maior número de inscritos? Que agravantes sociais alegam para pleitear o benefício? OBJETIVO Caracterizar os pleiteantes ao Benefício Permanente do IFPI no primeiro período letivo de 2014 em termos das demandas apresentadas e modalidade de ensino. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo é de natureza quantitativa e vale-se de dados do formulário socioeconômico preenchido pelos candidatos à obtenção do Benefício Permanente no momento da inscrição sobre: campus de origem, a modalidade de ensino, local de moradia, renda familiar, meio de transporte utilizado e agravos sociais apresentados. Para analisá-los, recorreu-se à medidas de frequência. 2
RESULTADOS E DISCUSSÕES No ano de 2014, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí ofertou 1.403 vagas para o Benefício Permanente da Política de Assistência Estudantil que foram disputadas por 3.088 estudantes, o que significa 2,2 candidatos por vaga ou, em outros termos, que para cada aluno atendido há outro não atendido. São alunos de 11 dos 14 campi em funcionamento em 2014, sendo 745 (24%) do campus Teresina Central, 419 (14%) do campus Floriano, 333 (11%) dos campi Parnaíba e Picos, 217 do campus Teresina Sul, 222 do campus São Raimundo Nonato, 218 do campus Piripiri e 205 no campus Angical, representando 7% cada. Os demais são de: Corrente, 194 (6%), 135 (4%) em Uruçui e 64 (2%) em Paulistana. Tabela 1: Alunos inscritos por campus CAMPUS ALUNOS INSCRITOS Nº Abs. % Angical 205 7 Corrente 194 6 Floriano 419 14 Parnaíba 333 11 Paulistana 64 2 Picos 333 11 Piripiri 218 7 São Raimundo Nonato 222 7 THE Central 745 24 THE Sul 217 7 Uruçui 135 4 3
Gráfico 1: Inscritos por campus O maior número de inscrição por campus, como era de se esperar, dado que é a maior unidade, ocorreu no Campus Teresina Central. Na sequência, têm-se os campi de Floriano, Picos e Parnaíba que possuem as três maiores matrículas do Instituto. Nestes campi, estão matriculados em todas as modalidades de curso técnico Integrado ao Médio, Curso Técnico Concomitante e Subsequente e graduação, sendo em maior número (80%) os que frequentam o ensino técnico de nível médio Integrado com 61% e Concomitante/Subsequente com 19%. Os matriculados em curso superior são 20%, dos quais 13% de licenciatura, 6% de tecnologia e 1% bacharelado. Tabela 2: Curso dos inscritos conforme modalidade de ensino CURSOS ALUNOS INSCRITOS Técnico Integrado ao Médio Técnico Concomitante/ Subsequente Superior de Tecnologia Licenciatura Bacharelado Nº Abs 1.895 586 176 399 32 % 61% 19% 6% 13% 1% 4
Gráfico 2: Curso dos inscritos conforme modalidade de ensino O benefício, então, é mais procurado por aqueles do ensino técnico. Talvez porque esse seja o segmento com maior número de alunos no IFPI ou porque entre estes estejam aqueles mais vulneráveis que, a despeito de todos os fatores desfavoráveis, apostam na educação como forma de superação do ciclo da pobreza. Os inscritos, como consta no gráfico abaixo, residem, 10% na zona rural e 90% na zona urbana, dos quais, a maior parte (74,28%) em bairros periféricos e os demais (25,72%) em bairros centrais. Tabela 3: Local de moradia dos inscritos ALUNOS INSCRITOS ZONA URBANA ZONA RURAL Nº Abs % Fonte: IFPI (2014) 2.772 316 90% 10% 5
Gráfico 3: Local de Moradia dos Inscritos Tabela 4: Local de moradia em bairros centrais e periféricos ALUNOS INSCRITOS BAIRROS CENTRAIS BAIRROS PERIFÉRICOS Nº Abs % 700 2.072 25,72% 74,28% Gráfico 4: Local de moradia em bairros centrais e periféricos 6
Identifica-se que os estudantes da zona urbana residentes nos bairros periféricos constituem-se em maioria entre os candidatos ao benefício. Tal dado pode refletir que a população residente nos bairros centrais não se utilize da educação pública e que a população da zona rural ainda encontra limitações de acesso aos serviços educacionais. Com efeito, a renda familiar dos inscritos, conforme exposto no gráfico abaixo, varia de 0 a 6sm, sendo 33% de 0 a 1sm, 65% de 1 a 3sm e apenas 2% de 3 a 6sm. Na população piauiense, tem-se a maior parte da população (52,51%) no primeiro grupo, seguida, com 21,25%, aqueles com a segunda faixa de renda. Tabela 4: Renda da família dos inscritos e da população economicamente ativa do Piauí FAIXA DE RENDA 0 A 1 S.M 1 A 3 S.M 3 A 6 S.M 6 A 10 S.M MAIS DE 10 S.M ALUNOS INSCRITOS 33% 65% 2% 0% 0% POPULAÇÃO PIAUIENSE 52,51% 21,25% 3,72% 1,73% 0,44% Fonte: IFPI (2014); CEPRO (2012) Gráfico 4: Renda familiar de inscritos e da população economicamente ativa do Piauí Fonte: IFPI (2014); CEPRO (2012). 7
Verifica-se que a maioria dos candidatos ao benefício pertence aos segmentos da população piauiense de menor renda, todavia, enquanto esta está em maior número na primeira faixa aqueles se concentram na segunda. Por conseguinte, há menos dos mais vulneráveis entre os estudantes do que no conjunto, sugerindo que aqueles têm menos acesso a esta instituição de ensino e, dado que o critério estabelecido no art. 5º do Decreto consiste em renda per capita familiar de até um salário mínimo e meio (BRASIL, 2010), todos elegíveis, pois, com essas rendas só seriam excluídos se fossem único membro da família. O meio de transporte mais utilizado pelos estudantes inscritos refere-se a ônibus, correspondendo a 59% das inscrições. Conforme dados, sobre os meios de transporte utilizados pelos estudantes evidencia-se que 12% se deslocam a pé, 5% usam bicicleta e 14% carro ou moto. Tabela 5: Meio de transporte utilizado ALUNOS INSCRITOS MEIO DE TRANSPORTE Ônibus A pé Bicicleta Carro ou moto Nº Abs 1809 362 140 420 % 59% 12% 5% 14% Fonte: IFPI (2014) Gráfico 5: Meio de transporte utilizado 8
Os dados sobre transporte utilizado pelos estudantes inscritos ratificam a constatação sobre a condição socioeconômica dos mesmos e apresentam que o custeio com transporte constitui um fator integrante das condições de acesso dos estudantes à instituição. Os campi em que estão matriculados localizam-se nas quatro maiores cidades do estado o que enseja agravantes sociais como aqueles para os quais se volta o Programa: alimentação despesas com alimentação, falta de alimentação; transporte despesas de deslocamento (urbano ou rural), tipo de transporte; moradia situação de habitabilidade; Saúde necessidade de gastos ou cuidados com saúde física ou mental (gastos próprios ou de familiar (qual familiar); dependência química (família ou aluno); transtornos emocionais, psicológicos na família ou no aluno; situação familiar composição, desagregação, violência, pessoas com deficiência; condições de trabalho (família ou no aluno); cotistas - rede pública, pessoas com deficiência, etnia, raça e cor; Outros (IFPI, 2014). Os que pleitearam o Benefício Permanente apontaram os seguintes agravantes sociais: falta de recursos para transporte (40%); despesas com aluguel (25%), desemprego (15%), gastos com material escolar (12%), doenças crônicas de membros da família (8%). A centralidade do transporte decorre, primeiro, do fato de que esta é uma despesa diária que representa, para aqueles que têm renda até 1sm, um comprometimento, com um único filho, por exemplo, de 10% da renda, segundo, porque, a insuficiência financeira para o deslocamento, seja na capital, que têm as unidades no centro da cidade, seja nas cidades do interior, cujos campi ficam, quase sempre, em bairros afastados, constitui um fator provocador de retenção e evasão. Os estudantes inscritos para o Benefício Permanente pertencem aos segmentos da população com menor renda, oriundos dos campi com maior número de matrículas (Teresina Central, Floriano, Picos e Parnaíba), matriculados nos Cursos Técnicos Integrados ao Médio, residentes nos bairros periféricos da zona urbana, cuja família tem renda mensal de 1 a 3 salários mínimos, utilizam-se de ônibus como principal meio de locomoção e apresentam as despesas com transporte para acesso aos campi como principal agravante. CONCLUSÕES Os inscritos no Benefício Permanente do IFPI no ano de 2014 estão matriculados nos maiores campi em cursos técnicos de nível médio, principalmente, na modalidade integrada, 9
são residentes dos bairros periféricos da zona urbana, as famílias da maioria têm renda na faixa de 1 a 3 salários mínimos e fazem uso de ônibus para se deslocar. Alegam, grande parte deles, que precisam do benefício para atender suas necessidade de deslocamento da residência ao local de estudo. Todos eles atendem aos critérios de elegibilidade do Programa, mas apenas 45% serão atendidos em face de serem limitadas as vagas o que significa que haverá mais excluídos do que incluídos na assistência estudantil prestada pelo Instituto. Por conseguinte, nem todos os adolescentes e jovens que recorreram ao Estado para satisfazerem uma necessidade básica da qual depende a efetivação do direito à educação, serão atendidos o que mostra não apenas a seletividade da política mas também suas limitações. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº. 7.234, de 19 de julho de 2010. Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil PNAES. Diário Oficial da União, Brasília, 20.7.2010.. Decreto n 5.154 de 23 de julho de 2004. Dispõe sobre o Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional. Diário Oficial da União, Brasília, 23.07.2014. IFPI. Resolução nº 14 de 08 de abril de 2014. Dispõe sobre a Política de Assistência Estudantil do IFPI.Conselho Superior,Teresina, 08.04.2014. PIAUÍ. Fundação CEPRO. Piauí em Números. 9. ed. Teresina, 2012. Disponível em <http://www.cepro.pi.gov.br/download/201104/cepro06_aff9b5f5a6.pdf>. Acesso em 19 de junho de 2014. 10