CONCEPÇÃO DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE SONDAS DE ULTRA-SONS



Documentos relacionados
Você sabia que, por terem uma visão quase. nula, os morcegos se orientam pelo ultra-som?

Curso de Capacitação Básica em Ultrassonografia haroldomillet.com

3ª Série de Problemas Mecânica e Ondas MEBM, MEFT, LMAC, LEGM

Introdução ao Estudo da Corrente Eléctrica

ELECTRÓNICA DE POTÊNCIA

A lei da indução electromagnética é o que fundamenta o funcionamento do microfone e do altifalante de indução.

Automatismos Industriais

N.14 Abril 2003 PAREDES DIVISÓRIAS PAINEIS PRÉFABRICADOS DE ALVENARIA DE TIJOLO REVESTIDA A GESSO. Estudo Comparativo.

Blindar ou não blindar?

Protecção de Sobretensões. Luis Cabete Nelson Vieira Pedro Sousa

Medida de Grandezas Eléctricas

INSTRUMENTAÇÃO PARA IMAGIOLOGIA MÉDICA

Aquecimento / Arrefecimento forma de climatização pela qual é possível controlar a temperatura mínima num local.

Matriz do Teste de Avaliação de Física e Química A - 11.º ano 1 de fevereiro de minutos

Estes sensores são constituídos por um reservatório, onde num dos lados está localizada uma fonte de raios gama (emissor) e do lado oposto um

XXIX Olimpíada Internacional de Física

O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica

5 Comportamento Dinâmico de um EDFA com Ganho Controlado sob Tráfego de Pacotes

Descobertas do electromagnetismo e a comunicação

Além do Modelo de Bohr

Análise Técnico/Financeira para Correção de Fator de Potência em Planta Industrial com Fornos de Indução.

CORRENTE CONTÍNUA E CORRENTE ALTERNADA

Comunicação da informação a curta distância. FQA Unidade 2 - FÍSICA

Sistemas e Circuitos Eléctricos

Redes de Computadores (RCOMP 2014/2015)

Objectivos. Classificação dos Sons. Agradáveis Úteis Incómodos / Ruído

1 Problemas de transmissão

ABAIXO ENCONTRAM-SE 10 QUESTÕES. VOCÊ DEVE ESCOLHER E RESPONDER APENAS A 08 DELAS

Microfone e altifalante. Conversão de um sinal sonoro num sinal elétrico. sinal elétrico num sinal sonoro.

Reabilitação de revestimentos de pisos correntes com recurso a argamassas

ANÁLISE DE CIRCUITOS

PUBLICAÇÕES: TECNOMETAL n.º 149 (Novembro/Dezembro de 2003) KÉRAMICA n.º 264 (Janeiro/Fevereiro de 2004)

3.1. Classifique: o tipo de movimento da formiga o tipo de movimento da barata.

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA AUTOMATIZADO PARA INSPEÇÃO ULTRA-SÔNICA EM CASCO DE NAVIO

Barómetro Regional da Qualidade Avaliação da Satisfação dos Utentes dos Serviços de Saúde

1 Introdução. 2 Exemplo de aplicação

- 1 - RESUMO SISTEMA DE MEDIÇÃO DE CONSUMOS DE LINHA DA CANELA EM TEMPO REAL

Eletrônica Analógica

Solius 61 Manual de Instruções

Sensores Ultrasônicos

E S C O L A S E C U N D Á R I A E M Í D I O N A V A R R O D E

Os problemas derivados por falta de qualidade eléctrica e mais concretamente pelos harmónicos, são sobejamente conhecidos por técnicos e

Ondas Sonoras. Velocidade do som

AVALIAÇÃO DO EFEITO DO PAVIMENTO NO RUÍDO DE TRÁFEGO RODOVIÁRIO.

1 Fibra Óptica e Sistemas de transmissão ópticos

3 Metodologia de calibração proposta

Agrupamento de Escolas Anselmo de Andrade Avaliação Sumativa - Ciências Físico - Químicas 11.º Ano - Ano Lectivo 09/10

ANÁLISE QUÍMICA INSTRUMENTAL

Freqüência dos sons audíveis: entre 20Hz (infra-sônica) e Hz (ultra-sônica, audíveis para muitos animais).

Trabalho prático: O contador de Geiger-Muller. Descrição geral

f = Polícia Federal - Papiloscopista Física Prof. Rodrigo Luis Rocha ONDULATÓRIA duas cristas consecutivas, ou dois pontos equivalentes.

1.1. Viagens com GPS. Princípios básicos de funcionamento de um GPS de modo a obter a posição de um ponto na Terra.

Resposta da Sonaecom Serviços de Comunicações, SA (Sonaecom) à consulta pública sobre o Quadro Nacional de Atribuição de Frequências 2010 (QNAF 2010)

ATENUAÇÃO ACÚSTICA EM CONDUTAS DE AR CONDICIONADO PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM CONDUTAS ABSORVENTES CLIMAVER NETO

RELATÓRIO TÉCNICO ANÁLISE DA REFLECTÂNCIA DE ARGAMASSAS. Joaquim Carneiro. Cliente. C - T A C Centro de Território, Ambiente e Construção

Distância de acionamento. Distância sensora nominal (Sn) Distância sensora efetiva (Su) Distância sensora real (Sr) 15/03/2015

CALIBRAÇÃO DE UM ESPECTROSCÓPIO DE PRISMA

Antena Escrito por André

Sumário. Comunicações. O som uma onda mecânica longitudinal

Os mecanismos da circulação oceânica: acção do vento força de Coriolis e camada de Ekman. Correntes de inércia.

Aquecimento Doméstico

Processo de Pedido de Patente e de Desenho para Ferramenta de. Soldadura e Processamento por Fricção Linear

Transitores de tempo em domínio de tempo

Medidas elétricas em altas frequências

3. FORMAÇÃO DA IMAGEM

A Importância do Desenho de Construção Mecânica e da Concepção e Fabrico Assistidos por Computador ao nível da Indústria Metalomecânica *

Transformadores a seco. Indutores e reatores (chokes) a seco Para aplicações de componentes eletrônicos de potência, transmissão e distribuição

11. NOÇÕES SOBRE CONFIABILIDADE:

CURSO PROFISSIONAL TÉCNICO DE ANÁLISE LABORATORIAL

x d z θ i Figura 2.1: Geometria das placas paralelas (Vista Superior).

Underwater Comunicação Rádio

Seminário sobre energia eléctrica INOTEC

Introd. Física Médica

ANÁLISE DE PROGRAMAS DE CÁLCULO PARA ESTRUTURAS DE ALVENARIA RESISTENTE. Ivone Maciel 1 Paulo Lourenço 2 ivone@civil.uminho.pt pbl@civil.uminho.

Principais Meios de Transmissão Par Trançado Cabo Coaxial Fibra Ótica Micro Ondas

Quanto à origem uma onda pode ser classificada em onda mecânica e onda eletromagnética.

Fenómenos Ondulatórios. Reflexão, refracção, difracção

4 Transformadores de impedância em linha de transmissão planar

SANEAMENTO AMBIENTAL I CAPTAÇÕES DE ÁGUA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA EDUARDO RIBEIRO DE SOUSA

PROPRIEDADES ELÉTRICAS DOS MATERIAIS

FÍSICA - 3 o ANO MÓDULO 32 ACÚSTICA

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS DE CURITIBA CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA

Refração da Luz Prismas

Fundamentos de Medidas Elétricas em Alta Freqüência

REDES DE COMPUTADORES E TELECOMUNICAÇÕES MÓDULO 7

1.3. Na figura 2 estão representados três excertos, de três situações distintas, de linhas de campo magnético. Seleccione a opção correcta.

Transferências de energia como calor: condutividade térmica

Propriedades Mecânicas. Prof. Hamilton M. Viana

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão dos Assuntos Jurídicos PE v01-00

4. Conversores de corrente continua-corrente contínua com isolamento

O RUÍDO LABORAL E A SUA PREVENÇÃO

Mário Antônio Bernal Rodríguez 1

PROCEDIMENTO DE ULTRA-SOM PARA INSPEÇÃO DE WELDOLETS

Trabalho sobre No-breaks

Introdução. Criar um sistema capaz de interagir com o ambiente. Um transdutor é um componente que transforma um tipo de energia em outro.

Aula V Medição de Variáveis Mecânicas

Universidade Federal do Paraná

B. Qualidade de Crédito dos Investimentos das Empresas de Seguros e dos Fundos de Pensões. 1. Introdução. 2. Âmbito

Figura 5.1.Modelo não linear de um neurônio j da camada k+1. Fonte: HAYKIN, 2001

Transcrição:

CONCEPÇÃO DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE SONDAS DE ULTRA-SONS O controlo não destrutivo por ultra-sons é hoje um dos métodos mais utilizados em END, e em Portugal é dado um passo significativo na produção de sondas ultra-sonoras André Luz ; Telmo Santos ; Pedro Barros ; Pedro Vilaça 3 ; Luísa Quintino 4 Engenheiro Mecânico pelo Instituto Superior Técnico Engenheiro Mecânico e Responsável Técnico do LABEND do Instituto de Soldadura e Qualidade 3 Professor Auxiliar do DEM do Instituto Superior Técnico 4 Professora Associada do DEM do Instituto Superior Técnico Resumo O desenvolvimento de sondas de ultrasons é um trabalho de parceria entre o Instituto Superior Técnico (IST) e o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), que surgiu como resposta à necessidade estratégica de produzir estas sondas em Portugal. O objectivo é adquirir o know-how necessário ao desenvolvimento, projecto, produção e teste de sondas de ultra-sons. Numa primeira fase para aplicação em técnicas convencionais de Ensaio Não Destrutivo (END), e numa fase posterior, para aplicação em técnicas avançadas de END e resolução de necessidades específicas. Assumir este problema significa ter presente uma meta: Conhecer os fundamentos teóricos, com base nos quais se projecte uma sonda, cujo protótipo produza resultados satisfatórios. Começará por se apresentar os fundamentos do processo de END por ultra-sons, fazendo referência a alguns conceitos teóricos associados aos vários tipos de sondas. Posteriormente descreve-se a concepção e projecto do protótipo da sonda, denominada por ISTAG T5-60, tendo em conta as diferentes vertentes de projecto estrutural, acústico e eléctrico. Serão relatadas algumas etapas da construção dos protótipos e apresentados os resultados obtidos, bem como as conclusões. Introdução Contextualização do trabalho Os END constituem uma prática absolutamente vital em engenharia, dado que as diversas tecnologias de produção implicam a formação de descontinuidades, que têm que ser detectadas e controladas. Neste contexto destaca-se o END por ultra-sons, que devido à sua eficácia é hoje uma das técnicas mais universalmente usadas. Os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos nesta área resultaram em variantes de inspecção por ultra-sons como o TOFD e o Phased Array. De qualquer modo, as sondas de ultrasons convencionais constituem a essência do método. Por isso, a sua compreensão e domínio são condições indispensáveis. Fundamentos da Inspecção por Ultra-sons A inspecção por ultra-sons é um método não destrutivo no qual um impulso de ondas sonoras de altafrequência é introduzido no material para permitir a detecção de descontinuidades internas. Eco da descontinuidade sonda material descontinuidade Eco de fundo Fig. Esquema da inspecção por ultra-sons [] As ondas sonoras atravessam o material com alguma perda de energia atenuação e são reflectidas nas interfaces. O impulso reflectido é registado e analisado, o que permite aferir a presença e localização de falhas ou descontinuidades. O grau de reflexão depende fortemente do estado físico dos materiais que formam a interface. Por exemplo, os impulsos acústicos são totalmente reflectidas numa interface sólido/gás. Reflexão parcial ocorre em interfaces sólido/líquido ou sólido/sólido. Descontinuidades, como fendas, cavidades e poros, que produzem

interfaces reflectoras são facilmente detectadas. Inclusões e outras heterogeneidades podem também ser detectadas, pois originam reflexões parciais. A inspecção por ultra-sons é realizada com frequências entre os 0. e os 5MHz, bem acima do audível. O impulso ultra-sonoro é gerado e enviado através de uma sonda (ou transdutor) que é colocada na peça. Qualquer som que seja reflectido regressa ao transdutor como um eco e é mostrado no ecrã, o que permite medir a amplitude do eco e o tempo de percurso Figura. As ondas ultra-sonoras consistem em vibrações mecânicas com amplitudes de vibração muito abaixo do limite elástico dos metais, evitando assim efeitos permanentes nas peças [, ]. Tipos de sondas As sondas são o elemento activo dos ensaios não destrutivos por ultra-sons. É nelas que se encontra o transdutor piezoeléctrico, que transforma a energia eléctrica em energia sonora, e é através delas que os ultra-sons são transmitidos do transdutor para a peça a inspeccionar. Existe uma enorme variedade de sondas, as quais apresentam soluções construtivas ajustadas a objectivos bem determinados. Podem ser classificadas segundo diferentes grupos [3]: - Quanto ao ângulo com que o som é introduzido na peça: Sondas direitas; Sondas angulares. - Quanto à forma como a emissão e recepção são efectuadas: Sondas de cristal único; Sondas de cristal múltiplo. - Quanto à forma de acoplamento: Sondas de contacto; Sondas de imersão; Sondas de contacto seco; Sondas sem contacto - Quanto à forma de amortecimento: Sondas normalmente amortecidas; Sondas altamente amortecidas; Sondas de choque. Geração das ondas ultra-sonoras: Piezoelectricidade A conversão de impulsos eléctricos em vibrações mecânicas e a conversão das vibrações mecânicas de retorno em energia eléctrica constitui o coração da inspecção por ultra-sons. O elemento activo que possibilita este fenómeno é o transdutor piezoeléctrico, que é constituído por um piezoeléctrico polarizado e dois eléctrodos fixos a duas faces opostas perpendiculares à direcção de polarização do piezoeléctrico Figura. piezoeléctrico eléctrodo gerador eléctrico Fig. Efeito piezoeléctrico [4] O efeito piezoeléctrico consiste na capacidade de certos materiais, quando sujeitos à pressão mecânica produzirem tensões eléctricas piezoelectricidade directa. O efeito é reversível, ou seja, estes materiais quando sujeitos a uma tensão eléctrica deformam-se piezoelectricidade inversa. Diversos materiais apresentam esta característica, sendo o quartzo um deles. A aplicação de tensão alternada ao transdutor piezoeléctrico vai originar deformações igualmente alternadas com uma frequência igual à tensão eléctrica, a qual irá originar os estados de tracção e compressão necessários à produção do som [3-5]. Frequência de ressonância Considere-se uma placa de um transdutor piezoeléctrico excitada por uma tensão sinusoidal. As partículas da placa oscilarão segundo curvas sinusoidais com diversas amplitudes, levando à propagação de uma onda no interior do piezoeléctrico. Quando a frequência da tensão sinusoidal iguala a frequência natural de vibração do piezoeléctrico, a amplitude de vibração é máxima, fenómeno este que é conhecido por ressonância. Os piezoeléctricos possuem várias frequências de ressonância, cada uma delas relacionada com um modo de vibração particular, que depende da forma do piezoeléctrico, orientação da polarização e direcção do campo eléctrico. No caso particular das sondas de ultrasons, utilizam-se transdutores piezoeléctricos em forma de placa, excitando-os com a frequência de ressonância correspondente à sua vibração em espessura Figura 3. Fig. 3 Modo de vibração em espessura [6] Esta frequência de ressonância ocorre quando a espessura, e, do piezoeléctrico é igual a meio comprimento de onda, λ. C, é a velocidade do som no material piezoeléctrico [3]. e = λ = C f resso () Modelação eléctrica do piezoeléctrico A ressonância do piezoeléctrico é um fenómeno acústico, no entanto tem também repercussões a nível eléctrico. Concretamente, na frequência de ressonância a impedância eléctrica do piezoeléctrico atinge um mínimo. Aumentando ligeiramente a frequência, a impedância vai atingir um máximo, e diz-se então que o piezoeléctrico está em anti-ressonância. Na Figura 4 encontra-se um exemplo do espectro

da impedância eléctrica de um disco Esta frequência indica a anti- piezoeléctrico em função da frequência. ressonância. Aqui, as contribuições capacitiva e indutiva para a impedância Sonda complexa são máximas [7]. P i P r Meio Fig. 4 Espectro da impedância eléctrica de um disco piezoeléctrico [7] O comportamento eléctrico do piezoeléctrico em ressonância e antiressonância pode ser aproximado pelo circuito eléctrico equivalente da Figura 5. Circuito Eléctrico Equivalente L Para este circuito, a impedância atinge um mínimo quando se verifica a condição (). A impedância eléctrica deve respeitar a condição (3). Ou seja, em ressonância, as contribuições capacitiva e indutiva para a impedância eléctrica complexa anulam-se mutuamente. A ressonância é por isso caracterizada por uma impedância puramente resistiva. Ainda para o circuito da Figura 5, a impedância atinge um máximo para a frequência dada por (4). Cb Fig. 5 Circuito eléctrico equivalente do piezoeléctrico Ca ω ω = sendo: f = LC a π Z = R () R + Lω = R C (3) aω a b ω (4) = C + C LC C a b Propriedades das ondas ultrasonoras Nos sólidos, as ondas sonoras propagam-se em quatro modos principais com base na forma de oscilação das partículas: ) Ondas longitudinais ; ) Ondas transversais ; 3) Ondas superficiais ; 4) Ondas placa ou Lamb. As duas primeiras são a forma mais comum de propagação do som [8]. Fig. 6 Gráfico pressão vs. tempo de uma onda longitudinal [8] Destaca-se algumas características das ondas sonoras [3, 9]: - Atenuação: Efeito combinado de absorção e dispersão. Consiste na taxa de decaimento da vibração mecânica à medida que esta se propaga ao longo do material. - Reflexão e Transmissão: Quando uma onda incide na superfície de separação de dois meios, parte do som reflecte-se e outra parte transmite-se para o outro meio (Figura 7), sendo as relações que estabelecem as percentagens de som transmitido e reflectido dependentes da impedância acústica, Z. Z = ρ.c (5) Onde: ρ é a densidade e C a velocidade do som no material. As razões entre as pressões acústicas reflectidas e incidentes, R, e entre as pressões acústicas transmitidas e incidentes, T, estão estabelecidas em (6). P Z Z r R = = P i Z + Z Pt Z T = = P Z + Z i P t T R = (6) - Refracção: Quando o impulso sonoro incide obliquamente sobre uma interface, a onda é parcialmente reflectida e parcialmente refractada. Além disso, a onda sofre também um desdobramento o que significa que, por exemplo no caso de uma onda incidente longitudinal, obtém-se uma onda longitudinal refractada e uma onda longitudinal reflectida e ainda uma onda transversal refractada e uma onda transversal reflectida Figura 8. Fig. 8 Incidência oblíqua numa interface [] Os índices L e T referem-se a ondas longitudinais e transversais, respectivamente. Os ângulos de reflexão e refracção são dados pela Lei de Snell (7). ( α ) ( ) sin C sin α = C Meio Fig. 7 Reflexão e transmissão (7) - Difracção: Quando o som se propaga num meio homogéneo, todas as partículas existentes numa determinada superfície vibram de forma idêntica. Contudo, quando a onda

passa por uma descontinuidade pequena, quando comparada com o seu comprimento de onda, ela tende a dobrar-se em torno das extremidades da descontinuidade. Fig. 9 Difracção de ondas sonoras [9] Projecto da Sonda No contexto do presente projecto, optou-se por desenvolver uma sonda angular de 5MHz, designada ISTAG T5-60 Ev, com as características presentes na Tabela. Característica Especificação Ângulo Angular (60º) Emissão/Recepção Piezoeléctrico único Frequência 5 MHz Tipo de onda Transversal Tipo de amortecimento Normalmente amortecida Acoplamento Contacto Focalização Não focalizada Tipo de ensaio Automático Tab. Especificações da sonda ISTAG T5-60 Ev A sonda de ultra-sons apresenta uma elevada complexidade em termos de concepção e projecto. Com efeito, ela integra um conjunto muito variado de dispositivos, criteriosamente relacionados entre si e onde cada um desempenha uma função bem específica e determinada (Tabela ). No dimensionamento dos vários elementos da sonda, é necessário atender a um conjunto muito vasto de matérias teóricas, considerando entre outros, os fenómenos acústicos, propagação de ondas sonoras, impedâncias de materiais, análise de circuitos eléctricos, vibrações e ressonância, análise estrutural e modal. Atendendo à grande variedade de fenómenos físicos envolvidos no funcionamento das sondas de ultrasons, é útil definir três grandes componentes de projecto: ) Componente Estrutural; ) Componente Acústica; 3) Componente Eléctrica. Cada uma destas componentes engloba elementos que podem ser dimensionados de forma mais ou menos independente dos restantes, embora existam elementos a pertencer simultaneamente a componentes diferentes (Figura 3). Fig. 0 Elementos constituintes da sonda ISTAG T5 60 Ev Fig. Sonda direita ISTAG L5 00 Ev desenvolvida para comparação de resultados Elementos da sonda Funções ) Chassis ) Isolador 3) Calço 4) Amortecedor - Suporta as cargas e protege todos os elementos interiores; - Permite a ligação ao mecanismo de funcionamento automático. - Isola acusticamente os elementos do exterior; - Assegura a fixação do calço ao chassis por aperto. - Suporta o piezoeléctrico; - Propaga o som desde o piezoeléctrico até ao material. - Absorve o som emitido pela face oposta ao calço; - Contribui para a paralisação do piezoeléctrico em eco pulsado; - Absorve ecos parasitas que poderiam mascarar ecos relevantes. Fig. Assemblagem dos vários elementos Input / Output (Ultra-sons) 5) Aglomerante - Envolve a bobina, os condutores e cola a tampa; - Preenche o espaço vazio no interior da sonda. 6) Tampa - Suporta a ligação e fecha o interior da sonda. 7) Sola de sacrifício - Protege a superfície de contacto do calço; - Permite manter continuamente a presença de líquido acoplante. 8) Piezoeléctrico - Emite e recebe impulsos sonoros. 9) Bobina - Anula a capacitância estática do piezoeléctrico; - Atenua o zunido do piezoeléctrico; - Reduz o ruído do sinal. 0) Ligação - Conecta a sonda ao dispositivo de geração e análise de sinal. Tab. Funções dos elementos da sonda Input / Output (Tensão AC) Fig. 3 Elementos da sonda ISTAG T5 60 Ev e suas ligações

Projecto da Componente Estrutural Procedeu-se a uma análise estática e modal a alguns elementos da sonda, com vista a calcular: - Tensões e deformações máximas; - Frequências e modos de ressonância; - Cálculo de optimização. Fig. 4 Exemplo de malha de elementos finitos usada para o calço (6895 elementos) Devido à complexidade do problema e consequente impossibilidade de resolução analítica os cálculos foram efectuados numericamente recorrendo a programas de elementos finitos, nomeadamente o ANSYS. ~90 KHz) são muito inferiores à frequência de excitação (5MHz). Verificou-se também que o material do chassis não entrará em cedência durante o funcionamento da sonda em modo automático. Projecto da Componente Acústica Pretende-se neste ponto avaliar todas as implicações decorrentes das propriedades acústicas e geométricas dos componentes, com vista ao seu correcto dimensionamento e optimização. Em termos analíticos, as ferramentas de projecto usadas envolvem: Leis constitutivas da propagação de som em sólidos; Atenuação e difracção; Lei de Snell (refracção) e Lei da reflexão; Interferências; Física dos piezoeléctricos. A parte lateral anula os ecos parasitas através de sucessivas reflexões nessa zona, e a superfície da frente do calço possui uma geometria triangular (Figura 9) que contribui para a redução da amplitude sonora das ondas reflectidas na base de interface. a) Fig. 8 Geometria do calço da sonda e esquema dos ecos parasitas Fig. 5 º e º modos de vibração, respectivamente (deformação ampliada 3773 vezes) Modo de CFI f CFII f Vibração (Hz) (Hz) 684.3 733.5 704.9 939.7 00 6847 73973 300 80838 86536 Tab. 3 Frequências de 4 modos de vibração para dois tipos de condições fronteira (CF) Fig. 6 Pormenor do estado de tensão na zona de tensão máxima (3 MPa) (deformação ampliada 306.78 vezes) Desta análise é possível concluir que não existe o perigo de o calço entrar em ressonância devido à excitação do piezoeléctrico, porque as suas frequências naturais de vibração (até É necessário seleccionar os materiais envolvidos de forma a garantir uma correcta propagação do som pelos vários elementos da sonda. A Figura 7 ilustra a disposição de todos os materiais. Borracha vulcanizada Resina epoxida com W PMMA Aço Fig. 7 Disposição dos vários materiais O calço da sonda (Figura 8) é um elemento crítico em termos de projecto, pois deverá apresentar uma geometria que garanta um correcto ângulo de incidência no material a inspeccionar. Deverá também reduzir ao máximo a presença de ecos parasitas que perturbariam o sinal recebido. Para esse efeito, duas zonas do calço são fundamentais: a parte lateral e a superfície da frente. b) Fig. 9 Geometria da frente do calço. a) Tipos de superfície da frente do calço analisadas; b) Resultado da redução da amplitude Relativamente ao amortecimento, este é outro componente sensível dado que condiciona a qualidade do sinal recebido. Foi utilizado um amortecimento produzido a partir de um composto de resina epóxida e 0% de tungsténio em termos de peso. A resina epoxida apresenta propriedades mecânicas indicadas à criação do efeito de paralisação do piezoeléctrico para que este, em repouso, possa receber o eco das ondas emitidas. Por outro lado a adição de pó de tungsténio aumenta a impedância acústica da mistura, o que permite absorver o som, seja ele emitido pelo piezoeléctrico na face oposta ao calço ou sejam ecos parasitas.

.Projecto da Componente Eléctrica Pretende-se neste ponto minimizar o ruído do sinal a partir do correcto dimensionamento da indutância da bobine, que anulará a capacitância estática do piezoeléctrico. Paralelamente pretende-se estudar e conhecer a evolução das grandezas eléctricas da sonda em função da frequência, de forma a optimizar os parâmetros de funcionamento. As ferramentas de projecto usadas envolveram: Análise de circuitos e ressonância eléctrica; Espectro de impedâncias eléctricas; Modelação e simulação matemática de circuitos eléctricos. O disco piezoeléctrico, sendo o elemento que transforma a energia eléctrica de excitação em energia mecânica de vibração, tem associada uma componente eléctrica resistiva, que será responsável pelo consumo de potência eléctrica, segundo a lei de Joule (9). W = V I W = R I (9) Por outro lado, dada a sua natureza geométrica, o piezoeléctrico tem também associada uma componente capacitiva. Esta capacitância é o resultado de existir um dieléctrico (material PZT) com uma determinada permitividade (ε) e espessura (e), entre dois eléctrodos (revestimento de prata nas superfícies) com uma área superficial (S). Essa capacitância é dada pela expressão (0). S C = ε (0) e A existência de uma capacitância num circuito eléctrico perturba o seu funcionamento, introduzindo um avanço de 90º da corrente (I) em relação à tensão (V). Por conseguinte, no projecto da sonda é de todo o interesse anular esta capacitância, pois ela prejudica o seu funcionamento e introduz ruído no sinal. A anulação do efeito capacitivo consegue-se através da introdução de uma bobina em paralelo Figura 0. Fig. 0 Processo de anulação da capacitância do piezoeléctrico Em termos gráficos, a introdução da bobina em paralelo vai anular a componente reactiva (imaginária) do circuito eléctrico, tornando-o puramente resistivo na frequência de funcionamento. Fig. Representação esquemática do vector da impedância complexa A questão que se coloca é saber qual o valor da capacitância do piezoeléctrico que se tem que efectivamente anular. Tal deve-se ao facto de ser com base no valor de (C) que se dimensiona a indutância da bobina (L). Na realidade (C) não é constante ao longo da frequência, daí que se torne indispensável saber o valor da frequência (f) para o qual se pretende dimensionar (L). Para responder a estas questões, foram analisadas duas abordagens distintas. - Primeira abordagem: Anulação da capacitância do circuito eléctrico equivalente do piezoeléctrico na frequência de ressonância. Nesta abordagem partiu-se de uma análise de circuitos para calcular o valor da indutância da bobine. O circuito eléctrico equivalente usado (Figura ) foi cedido pelo fabricante do piezoeléctrico, sendo válido apenas na frequência de ressonância. Fig. Circuito eléctrico equivalente do piezoeléctrico com bobine em paralelo A impedância eléctrica complexa total deste circuito é dada por: R + j f L f Ca Z T = + j R + j f L f Cb f Ca f Lext Todos os termos complexos se anulam naturalmente na frequência de ressonância, à excepção do segundo termo do denominador que será anulado com a da bobine, de acordo com a seguinte equação: - Segunda abordagem: Anulação da capacitância estática do piezoeléctrico a KHz. Esta abordagem consiste em anular exclusivamente a capacitância estática do piezoeléctrico. Sendo que este valor é medido directamente com um analisador RLC ou com um analisador de redes (Figura 3), e é compensado com base no circuito da Figura 0. C 0 Fig. 3 Evolução da capacitância estática do piezoeléctrico (C 0 ) em função da frequência As duas abordagem foram realizadas para 3 situações: piezoeléctrico completamente livre (A), piezoeléctrico colado no calço (B), piezoeléctrico colado e amortecido (C). () f Cb = 0 Lext = () f L C f ext b

Verificou-se no final que as duas abordagens convergiram para o mesmo valor de indutância da bobine (0.45 µh), conforme se pode observar pela tabela 4 e Figura 4. Livre Amortecido C b [nf] 4.9 8.8 ª L ext [µh] 0. 0.5 f r [MHz] 4.84 4.3 C 0 [nf]. 9.9 ª L ext [µh] 0.09 0.4 f r [MHz] 4.84 4.3 Tab. 4 Evolução dos valores da bobina para as duas abordagens Fig. 7 Soldadura das ligações eléctricas Fig. 8 Aplicação do amortecimento e acabamentos finais Sonda: #0; Bobine:L=0µH; Ganho=44dB Sinal de fraca qualidade com elevado ruído e pouca definição Ruído Eco principal Ruído Sonda: #0; Bobine:L=0.3µH; Ganho=44dB Sinal de boa qualidade sem ruído e optima definição Zona morta Eco parasita Eco bem definido Ausência de ruído Fig. 3 Comparação do resultado obtido com e sem bobine Fig. 4 Evolução da indutância da bobina para as duas abordagens Protótipo A validação experimental do projecto, com base no teste de protótipos, teve como objectivo estudar o maior número de parâmetros possíveis, a partir de diferentes soluções construtivas. Por isso foi necessário criar um conjunto de 0 protótipos a fim de poder avaliar convenientemente as repercussões das sucessivas alterações nos resultados finais. Fig. 9 Protótipo final da sonda ISTAG T5-60 Ev Resultados Obtidos Todos os ensaios foram realizados no LABEND Laboratório de Ensaios Não Destrutivos do ISQ. O equipamento utilizado foi composto por: ) Um bloco padrão DIN 540; ) Um gerador de sinais; 3) Um computador para análise de resultados através do software Technology Design Advanced Ultrasound Inspection System TM. A introdução de uma bobine (com a indutância correcta) em paralelo com o condensador, aumenta drasticamente a qualidade do sinal, conforme se pode verificar pela Figura 3. Na Figura 3 apresenta-se a comparação entre o resultado obtido com o protótipo final (Sonda #9F) e uma sonda comercial para as mesmas condições. Sonda: #9F; Bobine:L=0.37µH; Ganho=7dB Eco obtido com elevado SNR e grande resolução Ausência total de rúido Zona morta reduzida Zona morta reduzida Eco principal com excelente definição e grande amplitude Sonda comercial; Ganho=7dB Eco obtido com menor SNR e grande resolução Existência de algum rúido Eco principal com excelente definição e grande amplitude Fig. 3 Comparação entre a sonda ISTAG T5-60 Ev e uma sonda comercial Fig. 5 Protótipos de sondas de ultra-sons A construção dos protótipos envolveu operações de corte, torneamento, fresagem, lixagem, furação, colagem e soldadura por brassagem. Fig. 6 Fresagem do calço e colagem do piezoeléctrico ao calço Fig. 30 Equipamento usado nos ensaios A qualidade da sonda está directamente relacionada com a qualidade do sinal recebido. Seria desejável obter um sinal com as seguintes propriedades: - Ausência de ruído; - Ecos bem definidos e estreitos; - Amplitudes elevadas para o menor ganho possível. As sondas foram testadas com eco pulsado de 00 ns e uma frequência de 5MHz. Os resultados são efectivamente bastante parecidos, sendo que a única diferença está relacionada com a amplitude do eco recebido. Com efeito, a sonda ISTAG apresenta, para o mesmo valor de ganho, menor amplitude que a sonda comercial. Este facto é consequência da maior atenuação provocada pelo material do calço e também devido à não focalização do feixe acústico.

A Figura 33 apresenta o espectro da amplitude do eco em função da frequência para ambas as sondas. desempenho da sonda: ) Material do calço ; ) Amortecimento ; 3) Indutância da bobina. O primeiro repercute-se essencialmente no ganho exigido no sinal de entrada, o segundo influencia o espectro da amplitude do eco e o terceiro a qualidade do sinal recebido. O know-how e a experiência adquiridas com o trabalho realizado, poderão constituir as bases necessárias ao desenvolvimento, projecto e produção de sondas de ultra-sons convencionais em Portugal. Fig. 33 Espectro da amplitude do eco em função da frequência para a sonda ISTAG e comercial, respectivamente Ambas as sondas apresentam uma frequência de ressonância próxima dos 5MHz, pois é aí que a amplitude dos ecos é maior. Contudo, a sonda ISTAG não apresenta um espectro do tipo parábola invertida idêntico à sonda comercial. Este fenómeno pode dever-se provavelmente ao facto de o amortecimento ser insuficiente, não paralisado atempadamente o piezoeléctrico após a sua excitação pulsada. Isto manifesta especialmente nas frequências abaixo dos 5MHz, conforme se pode observar na Figura 33. Conclusões Em termos técnicos, os resultados finais obtidos com a sonda ISTAG são bastante próximos dos produzidos pelas sondas comerciais, mas com maior largura de banda. Em protótipos futuros, poder-se-á obter resultados melhores através de um fine tuning de alguns parâmetros de projecto, dado que são conhecidas a origem das diferenças e as acções correctivas a adoptar. Referências [] CND Resource Center; Basic Principles of Ultrasonic Testing, Webpage. [] Davis, Joseph R.; Metals Handbook: Volume 7, Nondestructive Evaluation and Quality Control, American Society for Metals, 989. [3] Barros, Pedro; Ensaios Não Destrutivos, Instituto de Soldadura e Qualidade. [4] Kolesar, Ed; Introduction do Microeletromechanical Systems (MEMS), Webpage. [5] Krautkrämer, J.; Krautkrämer, H.; Ultrasonic Testing of Materials, 3ª Edição, Springer-Verlag, 983. [6] Murata Manufacturing Corp.; Piezoelectric Ceramics Sensors (Piezotite ), Webpage, 00. [7] Ferroperm Piezoceramics A/S, Frequently Asked Questions, Webpage. [8] Henderson, Tom; Sound Waves and Music, Webpage, 004. [9] HyperPhysics; Sound Propagation, Webpage, 005. Ficou claro que certas considerações de projecto são preponderantes no