Discurso do IGT na conferência da EDP 1. A Segurança e Saúde no Trabalho é, hoje, uma matéria fundamental no desenvolvimento duma política de prevenção de riscos profissionais, favorecendo o aumento da competitividade das empresas e a melhoria da qualidade de vida no trabalho por via, designadamente, da redução da sinistralidade laboral e das doenças profissionais. Vale a pena recordar que estão prestes a completar-se 20 anos sobre esse momento essencial que foi a assinatura, em 30 de Julho de 1991, do Acordo Específico de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, por todos os parceiros sociais (o primeiro acordo celebrado em Portugal por todos os parceiros, sem excepção), o qual consignou um conjunto de princípios e medidas de enquadramento da actividade do Estado e das empresas, que se viriam a revelar determinantes para o desenvolvimento de melhores condições de trabalho. 2. Decorridos 20 anos, constata-se que as condições de trabalho registaram uma melhoria significativa, traduzida numa redução dos índices de incidência, frequência e gravidade dos acidentes de trabalho e numa atitude diferente dos empregadores e dos trabalhadores perante a SST, consubstanciada na compreensão de que a valorização das condições em que o trabalho é prestado permite reduzir o sofrimento com as lesões e as doenças ocupacionais e estabelecer um nexo de causalidade entre padrões de segurança e saúde e competitividade. 1
3. Para o momento actual contribuíram as políticas de incremento de SST, no âmbito do Sistema Nacional de Prevenção de Riscos Profissionais, de entre as quais gostaria de destacar: - A criação de um sistema de certificação de técnicos de segurança e higiene do trabalho, que conta, hoje com quase 30 000 técnicos reconhecidos e autorizados pela ACT; - A participação dos Técnicos e Inspectores dos Serviços Desconcentrados da ACT nos processo de licenciamento industrial, permitindo a eliminação de alguns riscos na fase de projecto; - A implementação de um regime de organização e funcionamento de serviços de SST simplificados (para micro empresas), internos, comuns e externos, em função da dimensão e tipologia dos riscos da actividade. Neste particular há a salientar o processo de autorização de empresas prestadoras de serviços externos de SST, processo que no último se concluiu, permitindo assegurar um primeiro passo na regulação de um mercado com problemas graves, que corriam o risco de se tornar crónicos; - A estabilização do quadro normativo de referência, não apenas através da concentração de comandos normativos numa verdadeira Lei-Quadro, a Lei nº 102/2009 de 10 de Setembro, como, também, mediante a estabilização de um corpo legislativo coerente e sólido, que assegura, de forma perene, o enquadramento a nível dos equipamentos, espaços de trabalho, factores de risco físicos, químicos e biológicos, protecção colectiva e individual, grupos especiais de trabalhadores (como as grávidas e os menores) e sectores particulares de actividade (p. ex. a construção e as indústrias extractivas); - A institucionalização dos processos de consulta e participação dos trabalhadores e da eleição dos seus representantes específicos para a SST; 2
- O apoio à formação de técnicos, representantes dos empregadores e trabalhadores e demais agentes potencialmente envolvidos nos sistemas de gestão da SST à escala da empresa; - O desenvolvimento de inúmeras campanhas e muitos outras iniciativas enquadradas em estratégias de informação dos agentes económicos, permitindo um conhecimento mais específico dos factores de risco que carecem de intervenção prioritária, a nível global e a nível sectorial (como p. ex a campanha europeia dos riscos químicos, cujo seminário de encerramento decorreu, este ano, em Lisboa); - A edição de um número considerável de publicações, abrangendo diversos sectores de actividade e áreas do conhecimento, que concorrem para o conhecimento e aprofundamento das técnicas de controlo de riscos; - A actividade da Inspecção de Trabalho, que tem permitido o controlo da aplicação das disposições legais relativas à protecção dos trabalhadores, o fornecimento de informações e conselhos técnicos a empregadores e trabalhadores, a notificação para a adopção de medidas de execução imediata ou com prazo definido, a execução de inquéritos para análise dos acidentes de trabalho graves ou mortais, a realização de vistorias conjuntas e a preparação de processos de contra-ordenação. A IGT conta, hoje, com cerca de 400 inspectores e receberá dentro de poucos dias 25 técnicos superiores de prevenção, que em conjunto conduzirão acções de informação e aconselhamento dirigidas para as condições de trabalho bem como acções sancionatórias, quando exigível. Ou seja, em 20 anos foi possível avançar muito. Tudo foi feito? Seguramente que não! 3
4. Os acidentes de trabalho e as doenças profissionais têm um impacto considerável, não apenas na economia nacional (que consome, todos os anos uma percentagem do seu PIB com os encargos deles decorrentes) mas, também, no funcionamento das empresas. Na realidade, constituem um barómetro da importância que a empresa confere à gestão da SST, à organização das actividades preventivas e, inerentemente, ao bem-estar dos seus trabalhadores. Enquanto consequência clara de uma disfunção, os acidentes e doenças profissionais permitem determinar que há um conjunto de requisitos de funcionamento que não estão a ser cumpridos e de acontecimentos indesejáveis que têm efeitos económicos e sociais negativos na empresa. Seja a nível da empresa, seja a nível do país, são eventos com custos cujos contornos não são fáceis de apurar, em virtude de dificuldade em determinar, com rigor, quais os elementos que o integram e o peso específico real de cada um. A nível económico é constatável a perda de capacidade produtiva, quer quanto aos dias de trabalho perdidos quer quanto a indemnizações e pensões a pagar, em larga medida, pelas empresas. Mas há outros efeitos não desejados, como é o caso do número de trabalhadores que têm de reduzir o tempo de trabalho ou mudar de local de trabalho, ou da degradação pública da imagem da empresa ou, ainda, os custos com equipamentos ou matérias-primas deteriorados. O investimento em SST desempenha, assim, um papel relevante na produtividade, na rentabilidade e na competitividade da empresa, por permitir a redução dos custos com doenças e acidentes profissionais, por melhorar o equilíbrio das relações laborais e por contribuir para a qualidade dos serviços prestados. A nível público, a ACT fará tudo o que estiver ao seu alcance, para garantir o apoio às actividades que consagrem a melhoria da compreensão de que o investimento em SST é fortemente reprodutivo e assegura um 4
retorno expressivo, consubstanciado na redução de custos com os acidentes e as doenças profissionais. 5. Num grupo empresarial como a EDP, a SST assume um relevo particular, atenta a dimensão das suas actividades, o volume de recursos humanos, a dispersão das diferentes actividades pelo território nacional, a pluralidade de agentes envovidos, o número de obras lançadas diariamente e a relação com os prestadores de serviços a montante e a jusante. A este propósito, vale a pena enfatizar a importância do controlo da actividade dos prestadores de serviços na estratégia de prevenção duma empresa, quer porque se trata de uma tarefa que frequentemente é esquecida pelos contratantes, quer porque, mesmo quando as empresas garantem boas práticas internas, tal não impede a contratação de prestadores cujas práticas se afastam radicalmente da legislação e regulamentação aplicáveis. O Grupo EDP tem mostrado grande preocupação e, até, algum pioneirismo, que nos apraz registar, neste domínio, através da preparação de requisitos estritos de SST que devem integrar os cadernos de encargos, como meio de seleccionar prestadores que, para além dos requisitos técnicos respectivos, detenham condições para cumprir as normas jurídicas e a regulmentação interna da empresa atinente à prevenção de riscos profissionais. E esse é, de facto, o caminho. Um caminho que aposta na redução dos riscos a que os trabalhadores, internos ou externos, estão sujeitos, por via da implementação dos mecanismos referidos e outros, no domínio da organização, da formação, da informação, da verificação de condições para um exercício competente e seguro da actividade. 6. A Estratégia Nacional de SST para o período de 2008-2012, adoptada em Portugal na senda da Estratégia Europeia, é consequência imediata da 5
valorização crescente que é atribuída às políticas de SST, assente em dois eixos estratégicos fundamentais: - Desenvolvimento de políticas públicas coerentes e dirigidas, com mobilização de diferentes órgãos da Administração Pública, que funcionem como catalisadoras da sociedade em matéria de SST; - A promoção da SST nos locais de trabalho como pressuposto da melhoria efectiva das condições de trabalho. Estamos, pois, a desenvolver esforços para consolidar uma cultura de prevenção sólida e assimilável, implementar campanhas de sensibilização dos agentes económicos, consolidar o papel das semanas europeias, aumentar a consciencialização dos meios de comunicação para a prevenção, melhorar a informação acerca dos acidentes de trabalho e doenças profissionais, aumentar a capacidade de diagnóstico das doenças profissionais, antecipar o conhecimento dos riscos mediante o reforço das abordagens de inclusão nos sistema educativo, dinamizar o Sistema Nacional de Prevenção de Riscos, promover uma aplicação mais efectiva da legislação nas micro e pequenas empresas, melhorar a qualidade de prestação dos serviços internos e externos e aprofundar o papel dos parceiros sociais na implementação efectiva de melhores condições. 7. Mas tão importante como o trabalho directo das entidades públicas é assegurar que a SST constitua parte integrante da missão, dos valores e das responsabilidades operacionais de todas as empresas. As condições de trabalho devem continuar a ser o trilho por onde caminhamos para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos no trabalho e da sociedade como um todo. E todos somos precisos para essa tarefa porque, nas palavras de Eduardo Lourenço, uma sociedade não deve nada a ninguém, deve tudo a todos. 6