XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais 22 a 28 de setembro de 2018, Poços de Caldas - MG

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Transcrição:

XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais 22 a 28 de setembro de 2018, Poços de Caldas - MG Análise longitudinal do tipo de atividade de jovens e a permanência ou não na categoria nem-nem entre 2015 e 2016: diferenciais de gênero e responsabilidades domésticas Antônio Etevaldo Teixeira Junior 1, Paula Alves de Almeida 2, Eduardo Rosseti 3 Resumo Os jovens entre 15 e 29 anos estão incluídos na população em idade ativa, além de ser desejável, pelo menos para uma parcela deles, que estejam ainda estudando. No entanto, uma parte significativa destes encontra-se numa situação que se costuma chamar de nem-nem, definida por jovens que nem estudam e nem trabalham. Esse fenômeno vem acontecendo em muitos países, e tem consequências graves tanto para a vida dos jovens quanto para a sociedade. Diversos estudos apontam que ser nem-nem aumenta a probabilidade de desemprego ou subemprego, problemas de saúde, exclusão social e outras situações no restante da vida. Os esforços no intuito de reduzir esse fenômeno devem levar em consideração a heterogeneidade e as diferentes características e necessidades desse grupo. A partir de dados da PNAD contínua, este trabalho apresenta uma análise longitudinal dos tipos de atividade dos brasileiros de 15 a 29 anos, levando em consideração o sexo, grupo etário, condição de ocupação ou atividade, apontando a permanência ou não desses jovens na situação de nemnem entre 2015 e 2016. Os resultados encontrados apontam grande diferencial entre os sexos quanto aos níveis de nem-nem desocupados e inativos. Incluímos informações relativas aos afazeres domésticos e verificamos como as diferenças entre o tempo gasto por homens e mulheres nessas atividades se relacionam com as diferenças observadas entre suas condições de inatividade e desocupação. Palavras-chave: Desigualdade de Gênero, Jovens nem-nem, PNAD Contínua 1 Doutorando em População, Território e Estatísticas Públicas na ENCE/IBGE. 2 Doutoranda em População, Território e Estatísticas Públicas na ENCE/IBGE. 3 Pesquisador na Fundação Getúlio Vargas FGV.

Análise longitudinal do tipo de atividade de jovens e a permanência ou não na categoria nem-nem entre 2015 e 2016: diferenciais de gênero e responsabilidades domésticas Introdução Os chamados nem-nem são os jovens com idades entre 15 e 29 anos que não estão trabalhando, nem estudando, ou seja, não estão acumulando capital humano por meios formais nem através do trabalho, nem através da educação (Eurofound, 2016). O conceito nem-nem é uma ferramenta importante para melhorar a compreensão das vulnerabilidades dos jovens em termos de participação no mercado de trabalho e inclusão social, embora receba críticas por conta da heterogeneidade da população que compreende, já que os vários grupos nesta categoria têm características e necessidades muito diferentes. Por isso, esforços e políticas para reduzir este fenômeno devem procurar entender os subgrupos cobertos pelo conceito e suas necessidades específicas, como grupos etários, sexo, desocupados ou inativos, vulneráveis e não-vulneráveis, que estão na condição nem-nem voluntária ou involuntariamente, para citar alguns. O conceito nem-nem corresponde a NEET, em inglês, que significa fora do emprego, educação, e formação profissional ("not in employment, education, or training"), que surgiu nos anos 1990 no Reino Unido em discussões sobre a necessidade de reintegração de jovens com idades entre 16 e 18 anos que estavam fora da educação, mas também não tinham entrado no mercado de trabalho (Istance et al., 1994; SEU, 1999, apud Eurofound, 2016). O conceito passou a ser adotado na esfera política de vários outros Estados Membros da União Europeia. Quando foi decidido que uma definição comum era necessária, em 2010, o Comitê de Emprego da União Europeia concordou com a criação de um indicador padrão para medir o tamanho da população de jovens fora do emprego, da educação ou da capacitação (European Commission, 2011, apud Eurofound, 2016), e NEET foi o termo escolhido para esta definição, ampliado para incluir pessoas de 15 a 24 anos, e mais tarde, aqueles com idade entre 15 a 29 anos. O indicador NEET mede a divisão dos jovens que não estão na educação, emprego ou treinamento pelo total da população de jovens. É calculado como uma média anual de dados trimestrais do EU Labour Force Survey. O indicador NEET é derivado das respostas às variáveis: ILO employment status (variável ILOSTAT

categoria not employed desempregado ou inativo) e das variáveis educacionais EDUCSTAT e COURATT (nem na educação formal, nem na educação ou treinamento não-formal). Todos os jovens que não trabalharam na semana de referência da pesquisa e não estavam envolvidos em educação formal ou não-formal nas quatro semanas de referência da pesquisa são classificadas como NEET. O conceito nem-nem difere de NEET, por exemplo, porque não dispomos no Brasil de informações para mensurar a capacitação ou treinamento profissional, e nem o acesso à educação não-formal. De acordo com os dados do Eurostat, em 2015, 12,0% dos jovens com idade entre 15 a 24 anos, na Europa, eram neet um decréscimo em comparação com 2014 (12,5%) e 2013 (13,0%). Os dados do Eurostat apontam mais mulheres do que homens NEETs, em 2015, das pessoas de 15 24 anos, 12,3% das mulheres eram neet contra 11,7% dos homens, um gap de 0,6 pontos percentuais (p.p.). Já entre os jovens de 15 a 29 anos, o gap de gênero é maior: em 2014, 16,7% das mulheres e 13,0% dos homens eram neet, um gap de 3,7 p.p. (Eurofound, 2016). Bynner e Parsons (2002, apud STORZ, 2010) identificaram vários fatores de risco para se tornar nem-nem, como status socioeconômico familiar, educação dos pais, interesse dos pais na educação das crianças, área de residência, baixa taxa de ocupação dos pais, gravidez na adolescência, problemas de saúde ou deficiências. Normalmente, as famílias também tiveram ou têm problemas de inserção no mercado de trabalho e/ou baixa escolaridade. Ainda segundo o Eurofound (2016), a probabilidade de se tornar NEET (ou nem-nem ) cai conforme o nível educacional aumenta. Educação seria a melhor proteção contra o desemprego e a exclusão. O Eurofound (2016) aponta que existem diferenças entre os inativos e aqueles que são desempregados de curto e longo prazo. Entre os jovens inativos, podemos distinguir duas categorias: aqueles que não querem trabalhar e aqueles que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego por alguma razão específica, (doença ou deficiência, educação ou formação, responsabilidades familiares). Mais de 60% dos jovens inativos que não procuraram nenhum emprego são mulheres, e quase todos os que lidam com responsabilidades familiares. No Brasil, a faixa 15-29 anos inclui os grupos etários quinquenais de mulheres que apresentam as maiores taxas específicas de fecundidade: primeiramente, as mulheres entre 20 e 24 anos, seguidas do grupo entre 25 e 29 anos, e em terceiro, as mulheres de 15 a 19 anos. O Brasil apresenta uma fecundidade adolescente (de

15 a 19 anos) considerada alta (17,4% do total de mulheres que tiveram filhos em 2014). Segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2015, dentre as jovens de 15 a 19 anos que tiveram algum filho nascido vivo, 65,9% tinham 18 ou 19 anos, e a média de anos de estudo foi de 7,7 anos, sendo que somente 20,1% ainda estavam estudando e 59,7% não estudavam e não trabalhavam (IBGE, 2015). As mulheres são as principais responsáveis pelo cuidado com os filhos, os idosos, a família e os afazeres domésticos. Segundo a Agência IBGE Notícias, a partir de dados da PNAD Contínua 2016, no Brasil, nove entre cada dez mulheres realizam no mínimo uma hora de algum trabalho doméstico não remunerado por semana, enquanto entre os homens são sete em cada dez. As mulheres dedicam em média 20,9 horas semanais aos cuidados com pessoas ou tarefas domésticas, já os homens dedicam em média 11,1 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados com pessoas. Em 2016, 89,8% das mulheres com mais de 14 anos e 71,9% dos homens também com mais de 14 anos realizaram afazeres domésticos no domicílio onde vivem ou na casa de parentes, e 86,9% das mulheres e 65,0% dos homens cuidaram de pessoas (IBGE, 2017). Os efeitos negativos da crise econômica, especialmente no emprego, estão particularmente afetando grupos em situações vulneráveis ou em risco de exclusão social como os jovens. O fenômeno nem-nem afeta e vem se expandindo para muitos países. Uma questão fundamental é entender e dimensionar a extensão deste fenômeno e seu impacto negativo nos jovens e na sociedade. Além de economicamente inativos, esses jovens são, muitas vezes, desmotivados, e se sentem (e, em alguns casos são, de fato) excluídos de qualquer atividade social. Ser nem-nem pode ter um impacto duradouro na vida do indivíduo, como uma grande probabilidade ao desemprego ou subemprego, baixo rendimento, danos à saúde e depressão, além de custos financeiros e sociais para o estado (STORZ, 2010). A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNADC, este trabalho apresenta uma análise longitudinal dos tipos de atividade dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos, levando em consideração diferenciais de gênero, grupo etário, condições de inatividade ou desocupação, e sua permanência na situação de nem-nem entre 2015 e 2016. Também pesquisamos sobre os motivos pelos quais esses jovens não trabalharam ou não procuraram trabalho e a possível relação entre sua condição de ocupação ou atividade com a dedicação a afazeres domésticos.

Métodos Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNADC, uma pesquisa domiciliar conduzida pelo IBGE desde 2012, que tem como objetivo produzir indicadores para acompanhar as flutuações trimestrais e a evolução, a médio e longo prazos, da força de trabalho (IBGE, 2014). O IBGE divulga trimestralmente os microdados coletados nessa pesquisa em cada trimestre do ano, entretanto essa não é a única forma utilizada pelo Instituto para divulgar os microdados dessa pesquisa. Devido ao fato da PNADC fazer uso do esquema de rotação 1-2(5) 4 em sua amostra e pelo fato dos questionários aplicados em cada entrevista não serem necessariamente iguais, principalmente o questionário aplicado na quinta entrevista, o IBGE divulgou em 2018, bases anuais com os microdados de 2012 a 2016 da primeira entrevista e uma base com os dados anuais da quinta entrevista referentes a 2016. Essa forma de divulgação dos microdados permite a construção de uma base de dados longitudinal para o período 2015-2016, composta pelos dados da 1ª entrevista em 2015 e da 5ª entrevista em 2016. Dessa forma é possível não apenas estimar flutuações brutas nos indicadores, como associá-los a informações do suplemento Outras Formas de Trabalho que são coletadas apenas na 5ª entrevista. Esse suplemento é composto por informações relativas à: Produção para o próprio consumo e construção para o próprio uso; Trabalho voluntário; Cuidado de pessoas; Afazeres domésticos. Entretanto a construção dessa base de dados longitudinal exige certo conhecimento metodológico, seja por não existir um identificador de pessoas que permita um pareamento direto, seja por ser necessário realizar um trabalho de correção da não resposta 5, que no caso longitudinal é mais intensa do que no caso transversal. 4 Neste esquema o domicílio é entrevistado 1 mês e sai da amostra por 2 meses seguidos, sendo esta sequência repetida 5 vezes (IBGE, 2013). 5 A não resposta é um fenômeno que tem potencial de introduzir viés nas estimativas, pois raramente o padrão de resposta entre respondentes e não respondentes é o mesmo.

Construção da base de dados longitudinal Uma importante decisão no processo de construção de uma base de dados longitudinal é a escolha da ocasião de referência. Nesse estudo, devido ao foco em análises relativas ao trabalho doméstico, a ocasião selecionada para servir como referência foi a quinta entrevista realizada no ano de 2016. O primeiro procedimento metodológico foi parear as duas bases de dados, para tal se fez necessária, a utilização de critérios sociodemográficos, de forma semelhante à empregada por Ribas e Soares (2008) e Teixeira Junior (2015) com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Os critérios utilizados foram: Domicílio, número de ordem, posição no domicílio, sexo e data de nascimento idênticos; Domicílio, número de ordem, sexo e data de nascimento idênticos; Domicílio, posição no domicílio, sexo e data de nascimento idênticos; Domicílio, sexo e data de nascimento idênticos. Na Tabela 1 verifica-se que 68,9% das pessoas que responderam na primeira entrevista em 2015, responderam a quinta entrevista em 2016, tendo como referência o total de entrevistados em 2016. Essa taxa de pareamento é maior que a verificada por Teixeira Junior (2015) no pareamento anual da PME, que ficou em torno de 50%. Esse resultado indicando que a PNADC possui uma perda menor de registros no procedimento de pareamento e evidencia sua melhor condição para estudos longitudinais. Tabela 1: Resultado do pareamento das bases de dados da 1ª entrevista (2015) e da 5ª entrevista (2016), Brasil, 2015-2016 1ª entrevista (2015) 5ª entrevista (2016) Pareados N % Número de registros 459.273 447.334 308.068 68,9 O segundo procedimento foi o tratamento da não resposta na ocasião de referência (5ª entrevista em 2016). O intuito desse procedimento foi reduzir o viés de não resposta causado pela diferença de disponibilidade, fenômeno denominado por Vasconcelos e Silva (2005) como viés de disponibilidade e caracterizado pela

presença mais frequente de mulheres e idosos em casa, do que homens e pessoas em idade ativa. A técnica estatística utilizada foi a calibração (DEVILLE, et al., 1993) que tem por objetivo fazer alguns totais amostrais selecionados coincidam com totais populacionais conhecidos. Nesse trabalho buscou-se coincidir os totais populacionais por sexo e por faixas etárias nas marginais, por isso método de calibração empregado foi o raking (DEVILLE, et al., 1993). As informações utilizadas como benchmark são oriundas das Projeções Populacionais de 2013 realizadas pelo IBGE. O terceiro procedimento foi realizar um tratamento para a não resposta longitudinal 6. Para tal foi empregue, como técnica estatística, a regressão logística com o objetivo de estimar as propensões de resposta (ROSENBAUM; RUBIN, 1983). O inverso das propensões de resposta foi utilizado como fator de ajuste dos pesos amostrais calibrados no procedimento anterior. O quarto e último procedimento adotado foi novamente a calibração, dessa vez por meio da pósestratificação (DEVILLE, et al., 1993) e com o objetivo de fazer com que o total populacional de cada grupo etário analisado nesse estudo (15 a 17 anos, 18 a 24 anos, 25 a 29 anos) coincidisse com o total desses grupos na PNADC na ocasião de referência. Todos os procedimentos que envolveram estimação foram realizados por meio do pacote survey (Lumley, 2014) do software R. Resultados Apresentamos a seguir a situação dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos, segundo o tipo de atividade, de forma transversal, em dois momentos pontuais, e posteriormente, longitudinalmente, quanto a sua permanência ou não na mesma condição entre 2015 e 2016, levando em consideração diferenciais por: sexo; idade; tipo de atividade; e região geográfica. Na tabela 2 apresentamos a porcentagem de jovens entre 15 e 29 anos que não estudavam nem trabalhavam, em 2015 e 2016, no Brasil, por região, sexo e grupo etário. 6 Composta pelas pessoas que responderam a quinta ocasião em 2016, mas que não responderam a primeira em 2015.

Tabela 2. Distribuição dos nem-nem, por ano, segundo região, sexo e grupo etário, Brasil, 2015-2016. Atributo % de nem-nem % de nem-nem inativos % de nem-nem desocupados Proporção de desocupados entre os nem-nem 2015 2016 2015 2016 2015 2016 2015 2016 Brasil 23,4 20,4 14,2 13,7 9,2 6,6 39,4 32,6 Norte 26,8 22,7 18,3 17,0 8,5 5,7 31,8 25,0 Nordeste 28,9 24,5 19,2 17,6 9,7 6,9 33,7 28,1 Sudeste 21,3 19,2 11,2 11,5 10,1 7,6 47,4 39,9 Sul 16,5 14,5 10,0 9,8 6,5 4,7 39,4 32,2 Centro-Oeste 21,7 18,7 13,2 13,6 8,4 5,1 38,9 27,5 Homens 17,4 14,0 8,3 7,7 9,1 6,2 52,3 44,6 Mulheres 29,6 27,0 20,2 19,9 9,4 7,1 31,6 26,2 15 a 17 anos 7,7 3,5 6,0 3,1 1,7 0,4 21,6 11,7 18 a 24 anos 29,3 25,3 16,4 16,4 12,9 8,9 44,0 35,2 25 a 29 anos 25,8 25,1 16,6 17,4 9,2 7,7 35,6 30,8 Primeiramente, percebemos que houve queda de 2015 para 2016 no percentual de jovens nem-nem em todas as regiões, e o Nordeste continua sendo a região de maior percentual, bem como o Sul a de menor percentual. Quando observamos o percentual de nem-nem por grupo etário, percebemos uma grande queda no grupo de 15 a 17 anos, porém um dado preocupante é a praticamente permanência do percentual do grupo 25 a 29 anos entre 2015 e 2016, o que significa que esses jovens que já deveriam estar trabalhando estão fora do mercado de trabalho. Outro ponto importante é a proporção dos inativos ou desocupados no total de nem-nem. Percebemos que no geral existem um pouco mais de inativos do que desocupados, em todas as regiões e grupos etários. No entanto, no grupo 15-17 anos a proporção de inativos é muito maior, o que já era de se esperar, uma vez que jovens nessa faixa etária estão mais propensos a sair da categoria nem-nem pelo estudo do que pelo trabalho. Mas, se comparamos homens e mulheres, verificamos que existe uma clara diferença. As proporções entre desocupados e inativos entre os homens são muito próximas, já entre as mulheres a proporção de inatividade é bem maior, indicando que as mulheres estão fora do mercado de trabalho,

provavelmente por conta de responsabilidades familiares (cuidados com filhos e afazeres domésticos). Também verificamos que quando a proporção total de nemnem sobe, a proporção de desocupados também sobe, em outras palavras, aumenta o número de jovens que procuraram trabalho, mas não conseguiram, provavelmente um reflexo de variações no mercado de trabalho. Na figura 1 são apresentados resultados que nos permitem analisar mais detalhadamente as diferenças entre os sexos, percebemos que, embora tenha havido queda tanto no total de homens quanto no total de mulheres, a diferença entre ambos aumentou de 12,2 p.p. em 2015 para 13,0 p.p. em 2016, o que significa quase o dobro de mulheres em relação aos homens. No grupo de 15 a 17 anos a diferença entre homens e mulheres é baixa. Mas, no grupo 18 a 24 anos a diferença entre homens e mulheres passa de 12,6 pontos percentuais a mais de mulheres em 2015 para 13,6 pontos percentuais em 2016. Ainda mais preocupante é o percentual de mulheres nem-nem no grupo de 25 a 29 anos. Além da diferença entre homens e mulheres nesse grupo ser grande, de 10,1 em 2015 e 10,6 em 2016 pontos percentuais a mais de mulheres, entre os homens há uma queda tanto do grupo 18-24 anos para o grupo 25-29 anos nos dois momentos, tanto uma queda entre os anos. Entre as mulheres não há uma queda significativa entre o grupo 18-24 anos para o grupo 25-29 anos em 2015, nem uma queda significativa no grupo 25-29 anos em 2015 para o mesmo grupo em 2016, e ainda houve um aumento entre o grupo 18-24 anos para o grupo 25-29 anos em 2016. Ou seja, enquanto o percentual de homens nem-nem cai no grupo mais velho, as mulheres não deixam a condição nem-nem nessa idade. Figura 1: Distribuição dos nem-nem por ano, segundo sexo e faixa etária, Brasil, 2015-2016. 40,0 35,0 2015 40,0 35,0 2016 30,0 30,0 25,0 25,0 20,0 20,0 15,0 15,0 10,0 10,0 5,0 5,0 0,0 H (15 a 17) M (15 a 17) H (18 a 24) M (18 a 24) H (25 a 29) M (25 a 29) 0,0 H (15 a 17) M (15 a 17) H (18 a 24) M (18 a 24) H (25 a 29) M (25 a 29) % de inativos % de desocupados % de inativos % de desocupados

Análises longitudinais Uma importante contribuição desse trabalho, fruto da possibilidade da utilização da PNADC para estudos longitudinais, é o resultado apresentado na tabela 3, a flutuação bruta dos jovens brasileiros de 15 e 29 anos, segundo tipo de atividade entre os anos de 2015 e 2016. Tabela 3. Distribuição dos jovens de 15 a 29 anos, por tipo de atividade em 2016, segundo tipo de atividade em 2015, Brasil, 2015-2016. Situação em 2016 Situação em 2015 Total Só Estuda Não Estuda e é Inativo Estuda e Trabalha Só Trabalha Não Estuda e é Desocupado Só Estuda 100,0 81,8 4,2 10,5 2,0 1,6 Não Estuda e é Inativo 100,0 18,1 50,7 3,5 18,9 8,8 Estuda e Trabalha 100,0 27,7 2,4 51,8 16,3 1,8 Só Trabalha 100,0 4,2 8,0 8,8 72,1 6,9 Não Estuda e é Desocupado 100,0 15,5 22,6 7,3 31,3 23,2 Notamos que a maior parte dos jovens que só estudavam ou só trabalhavam em 2015 continuaram nessas condições em 2016. Entre os jovens que estudavam e trabalhavam pouco mais de metade também continuaram na mesma condição entre os dois anos, porém uma parcela significativa passou a apenas estudar em 2016, 27,7%, menos do que aqueles que passaram a apenas trabalhar, 16,3%. Dos jovens nem-nem fizemos uma separação entre aqueles que não estudavam e nem procuraram trabalho e aqueles que não estudavam, mas procuraram trabalho, ou seja, não estudavam e eram inativos e não estudavam e eram desocupados, respectivamente. Verificamos que praticamente metade daqueles que não estudavam e eram inativos em 2015 permaneceram na mesma condição em 2016, 50,7% continuaram inativos e 59,5% nem-nem (inativos ou desocupados), alguns passaram a estudar (18,1%) e outros a trabalhar (18,9%). Entre aqueles que estavam desocupados e não estudavam em 2015, 31,3% passaram a trabalhar e 15,5% a estudar em 2016. No entanto, a maior parte continuou nem-nem 45,8%, 22,6% inativos e 23,2% desocupados.

Na tabela 4, apresentamos a permanência ou não dos jovens de 15 a 29 anos, no Brasil, em cada situação em relação a sua condição de estudo e trabalho nos anos de 2015 e 2016, por sexo. Tabela 4. Distribuição percentual dos jovens de 15 a 29 anos por tipo de atividade em 2016 em relação ao tipo de atividade em 2015, por sexo, Brasil, 2015-2016. Situação em 2015 Só Estuda Não Estuda e é Inativo Situação em 2016 Estuda e Trabalha Só Trabalha Não Estuda e é Desocupado Homens Só Estuda 80,4 3,4 12,7 2,1 1,5 Não Estuda e é Inativo 24,8 35,2 5,7 24,9 9,4 Estuda e Trabalha 28,6 1,5 51,6 16,2 2,2 Só Trabalha 4,1 5,2 9,1 75,4 6,2 Não Estuda e é Desocupado 15,7 16,1 8,8 36,8 22,6 Mulheres Só Estuda 83,0 4,9 8,4 1,9 1,7 Não Estuda e é Inativo 15,2 57,3 2,6 16,4 8,6 Estuda e Trabalha 26,7 3,5 52,0 16,6 1,3 Só Trabalha 4,3 12,3 8,4 67,1 7,9 Não Estuda e é Desocupado 15,3 29,1 5,8 25,9 23,9 Percebemos que os percentuais de permanência na situação só estuda foram semelhantes para homens e mulheres, bem como os percentuais aqueles que passaram desta condição para as situações só trabalha e não estuda e é desocupado. Um pouco mais de mulheres passaram a condição não estuda e é inativa e um pouco mais de homens para a condição estuda e trabalha. Dentre os que não estudavam e estavam inativos, percebemos uma diferença significativa entre homens e mulheres que permaneceram na mesma situação: a maior parte das mulheres que correspondem a mais da metade, comparado a 35,2% dos homens. Uma parte significativa dos homens deixou de ser nem-nem e passaram a só estudar (24,8%) ou a só trabalhar (24,9%). A permanência na categoria estuda e trabalha foi semelhante para ambos os sexos, cerca de metade dos jovens. Assim como foi semelhante entre homens e mulheres a porcentagem daqueles que passaram a só estudar ou só trabalhar. Daqueles que estavam só trabalhando em 2015, poucos passaram a só estudar, tanto homens quanto mulheres, a estudar e trabalhar ou tornaram-se desocupados em 2016. No entanto, o percentual de homens que continuaram

trabalhando foi um pouco maior do que o de mulheres, e por outro lado, o percentual de mulheres que se tornaram inativas foi mais do que o dobro dos homens. Dentre os que estavam na situação não estuda e é desocupado, a porcentagem de homens e mulheres foi semelhante dentre aqueles que continuaram na mesma situação ou passaram a só estudar. A maior parte dos homens passou a só trabalhar, enquanto que a maior das mulheres se tornou inativa. Ao analisarmos a permanência ou não dos jovens que estavam na situação nem-nem em 2015, em relação ao tipo de atividade em que se encontravam em 2016, por grupo etário, verificamos que a maior parte do grupo 15-17 anos tanto dos que estavam inativos (60,6%) quanto dos que estavam desocupados (58,2%) passaram a só estudar. Uma porcentagem semelhante dos jovens de 18 a 24 anos que estavam inativos (19,8%) ou desocupados (18,0%) passaram a só estudar. Um dado preocupante é a permanência de quase metade dos inativos na mesma situação (48,4%). Dentre os desocupados, a maior parte permaneceu nem-nem (45,4%), 23,1% inativos e 22,3% desocupados, embora uma parcela significativa tenha passado a só trabalhar (28,2%). O grupo de 25 a 29 anos apresenta o dado mais preocupante de todos, pois 60,6% dos jovens permanecem na inatividade, enquanto que 24,0% passam a somente trabalhar. A maior parte dos que não estudavam e estavam desocupados (49,8%) permaneceu nem-nem somados os que continuaram desocupados (25,7%) com os que se tornaram inativos (24,1%), mas uma parcela significativa passou a só trabalhar (41,6%). Analisamos os dados apresentados anteriormente por sexo e grupo etário simultaneamente e apresentamos os resultados nos gráficos 1 e 2 a seguir. No grupo 15-17 anos, tanto a maioria dos homens quanto das mulheres que eram nemnem em 2015 passaram para a condição só estuda em 2016. Dentre os homens, 23,9% dos inativos continuaram inativos e 3,6% dos desocupados continuaram desocupados, enquanto que entre as mulheres 27,4% das inativas continuaram inativas e 10,8% das desocupadas continuaram desocupadas. No grupo 18-24 anos, 36,5% dos homens que em 2015 estavam inativos continuaram inativos em 2016 e 23,7% passaram a só trabalhar, 22,5% dos desocupados continuaram desocupados e 33,0% passaram a só trabalhar. Entre as mulheres 54,4% das inativas continuaram inativas e 14,8% passaram a só trabalhar, 27,6% das desocupadas passaram a ser inativas, 23,8% continuaram desocupadas e 23,4% passaram a trabalhar.

Gráfico 1. Distribuição percentual dos homens de 15 a 29 anos que estavam na condição nem-nem em 2015 por situação de atividade em 2016, por grupo etário, Brasil, 2015-2016. Desocupado Inativo 25 a 29 anos Desocupado Inativo 18 a 24 anos Desocupado Inativo 15 a 17 anos 0% 20% 40% 60% 80% 100% Só Estuda Não Estuda e Inativo Estuda e Trabalha Só Trabalha Não Estuda e Desocupado Gráfico 2. Distribuição percentual das mulheres de 15 a 29 anos que estavam na condição nem-nem em 2015 por situação de atividade em 2016, por grupo etário, Brasil, 2015-2016. Desocupada Inativa 25 a 29 anos Desocupada Inativa 18 a 24 anos Desocupada Inativa 15 a 17 anos 0% 20% 40% 60% 80% 100% Só Estuda Não Estuda e Inativa Estuda e Trabalha Só Trabalha Não Estuda e Desocupada Entre os jovens de 25-29 anos, 38,9% dos homens que em 2015 estavam inativos continuaram inativos em 2016 e 38,5% passaram a só trabalhar, 25,9% dos

desocupados continuaram desocupados e 50,7% passaram a só trabalhar. Entre as mulheres 65,9% das inativas continuaram inativas e 20,4% passaram a só trabalhar, 33,0% das desocupadas passaram a ser inativas, 25,4% continuaram desocupadas e 33,3% passaram a trabalhar. O gráfico 3, a seguir, apresenta as horas dedicadas semanalmente aos afazeres domésticos de homens e mulheres em 2015, a partir de sua situação de atividade em 2016. Observamos que todos os grupos de mulheres dedicaram mais horas a essas atividades do que todos os grupos de homens, especialmente as que permaneceram ou se tornaram inativas. Chama a atenção que a menor diferença entre os homens e as mulheres ocorre no grupo dos que ficaram desocupados em 2016, ou seja, os homens desocupados se dedicaram mais ao trabalho doméstico do que os dos demais grupos e, também as mulheres que estudaram ou trabalharam dedicaram menos horas a essas atividades do que as desocupadas ou inativas. Gráfico 3. Horas trabalhadas em afazeres domésticos dos nem-nem em 2015, por sexo, segundo situação de atividade em 2016, Brasil, 2015-2016. 35 Horas trabalhadas 30 25 20 15 10 5 0 Estuda e trabalha Nem-nem desocupado Nem-nem inativo Só estuda Só trabalha Nem-nem desocupado Homens Nem-nem inativo Homens Nem-nem desocupado Mulheres Nem-nem inativo Mulheres

Por outro lado, a maior diferença foi justamente no grupo dos que eram inativos e passaram a trabalhar e estudar, indicando que a necessidade de cuidar de responsabilidades domésticas pode ter influenciado a condição de atividade das mulheres. O gráfico 4 apresenta as razões de horas dedicadas aos afazeres domésticos de homens e mulheres levando em consideração a situação de atividade em 2015 e 2016. Percebemos que as mulheres dedicaram em todos os casos mais horas ao trabalho doméstico semanalmente do que os homens, e as maiores diferenças se encontram entre os que eram inativos em 2015 e passaram a estudar e trabalhar, permaneceram inativos ou passaram a só estudar em 2016. Gráfico 4. Razão de horas trabalhadas em afazeres domésticos (mulheres/homens), por situação de atividade em 2015 e 2016, Brasil, 2015-2016. 5.0 4.75 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 2.22 2.55 2.46 2.26 2.0 1.5 1.63 1.54 1.68 1.43 1.49 1.0 0.5 0.0 Nem-nem desocupado (2015) Nem-nem inativo (2015) Nem-nem desocupado Nem-nem inativo Só estuda Só trabalha Estuda e trabalha Os resultados evidenciam que a divisão sexual das responsabilidades familiares atua na diferença entre a situação de atividade de homens e mulheres. De uma forma geral, a diferença entre as horas dedicadas aos afazeres domésticos por homens e mulheres é maior entre os nem-nem inativos comparados com os nemnem desocupados.

Considerações Transversalmente, os dados analisados mostraram redução no percentual de jovens nem-nem em todas as regiões brasileiras e ambos os sexos de 2015 para 2016. Mesmo assim, alguns resultados são preocupantes, principalmente o aumento da diferença entre homens e mulheres, devida principalmente a alta proporção de inatividade entre as mulheres. No sentido longitudinal, que nos permite acompanhar as mudanças brutas, verificamos que os jovens que eram nem-nem inativos em 2015, 50,7% permaneceram nessa condição. Entre aqueles que eram nem-nem desocupados em 2015, apenas 23,2% permaneceram nessa condição. Quando agregamos informações sobre atividades relacionadas aos afazeres domésticos confirmamos os argumentos comumente citados na literatura, que apontam a divisão sexual desigual das responsabilidades familiares como grande diferencial entre homens e mulheres no mercado de trabalho. As maiores diferenças entre as horas dedicadas semanalmente às tarefas domésticas se encontram entre aqueles que eram nem-nem inativos em 2015 e passaram a estudar e trabalhar em 2016 (quase 5 vezes mais para as mulheres). Temos uma ampla diversidade de resultados encontrados, a maioria ainda pouco explorada, no entanto, devido aos resultados citados nessas considerações, o trabalho exemplifica a potencialidade de uso de uma base de dados longitudinal de abrangência nacional. Outro aspecto a ser considerado é que estar na condição nem-nem, tanto para homens quanto para mulheres, significa estar sem acúmulo de capital humano seja através da educação, seja através do trabalho, o que impactará pelo restante da vida dessas pessoas e que impactará no desenvolvimento socioeconômico do país. Referências Deville, J.C.; Särndal, C.E.; Sautory, O. Generalized raking procedures in survey sampling. Journal of the American Statistical Association, 1993. Eurofound. Exploring the diversity of NEETs. Publications Office of the European Union. Luxemburgo, 2016. Disponível em: <https://www.eurofound.europa.eu/pt/pu blications/report/2016/labour-market-social-policies/exploring-the-diversity-of-neets>. Acesso em: 8 mar. 2018.

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