Súmula 630-STJ. Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO PENAL

Documentos relacionados
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Direito Penal. Imagine a seguinte situação adaptada: O juiz poderia ter feito isso?

Direito Penal. Lei de drogas Lei /2006. Parte 2. Prof.ª Maria Cristina

Pós Penal e Processo Penal. Legale

SESSÃO DA TARDE PENAL E PROCESSO PENAL LEI DE DROGAS TRÁFICO E PORTE - DEFESAS. Prof. Rodrigo Capobianco

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Jurisprudência em Teses - Nº 45 LEI DE DROGAS

5ºº Curso de Cultivo Apepi. Questões jurídicas sobre legalização e regulamentação da Cannabis para fins terapêuticos

Superior Tribunal de Justiça

PÓS GRADUAÇÃO PENAL E PROCESSO PENAL Legislação e Prática. Professor: Rodrigo J. Capobianco

15/03/2018 LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL (MUDANÇAS LEGISLATIVAS E DOUTRINÁRIAS 2017) PROF. MARCOS GIRÃO

RECURSO ESPECIAL SP

Superior Tribunal de Justiça

Aula 21. III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Superior Tribunal de Justiça

Situações excepcionais podem impedir prisão domiciliar para mães mesmo após alterações do CPP

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

DIREITO PENAL PREPARATÓRIO

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

V APELACAO CRIMINAL

Superior Tribunal de Justiça

Aplicação da Pena. (continuação)

Superior Tribunal de Justiça

NOVA LEI DE DROGAS: RETROATIVIDADE OU IRRETROATIVIDADE? (PRIMEIRA PARTE)

Superior Tribunal de Justiça

Superior T ribunal de J ustiça

PEDIU PRA PARAR, PAROU!

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS Crimes afiançáveis imputados a funcionário público

Direito Processual Penal. Provas em Espécie

QUESTÃO 1 ASPECTOS MACROESTRUTURAIS QUESITOS AVALIADOS

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Supremo Tribunal Federal

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

: MIN. GILMAR MENDES :XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Superior Tribunal de Justiça

CURSO PROFESSOR ANDRESAN! CURSOS PARA CONCURSOS PROFESSORA SIMONE SCHROEDER

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

RELAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE O ECA E A LEI /2006

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

O crime de violação de direito autoral e o procedimento penal: equívocos e incertezas da nova Súmula 574 do STJ

Superior Tribunal de Justiça

Olá, amigos! Valeu! 1. Apresentação e estrutura textual (0,40). 2. Endereçamento à Vara Criminal da Comarca de São Paulo (0,20),

Superior Tribunal de Justiça

DEFINIÇÃO DE HEDIONDO E A CF/88

EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA RELATORA DA QUINTA TURMA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Nos termos do artigo 55 da lei /06, com base nos fatos e fundamentos que passa a expor:

CEM. Magistratura Estadual 10ª fase. Direito Penal

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Superior Tribunal de Justiça

SEGUNDA PROVA ESCRITA SENTENÇA CRIMINAL

DIREITO PROCESSUAL PENAL

R E L A T Ó R I O. Com contrarrazões pela confirmação da sentença vieram os autos, tocando-me por distribuição por sorteio automático.

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO SUSEPE (Agente Penitenciário Administrativo)

Superior Tribunal de Justiça

T R I B U N A L D E J U S T I Ç A

Superior Tribunal de Justiça

TEORIA GERAL DO DELITO PROFESSOR: LEONARDO DE MORAES

Superior Tribunal de Justiça

Aula nº. 21 EMEDATIO LIBELI. MUTATIO LIBELI

Superior Tribunal de Justiça

PROCESSO PENAL MARATONA OAB XXI PROF. FLÁVIO MILHOMEM

Superior Tribunal de Justiça

Resumos Gráficos de Direito Penal Parte Geral Vol. I

10 anos da Lei /06

Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Rio Grande do Sul 5ª Vara Federal de Caxias do Sul

PROFESSOR: LEONARDO DE MORAES

Direito Penal CERT Regular 3ª Fase

Direito Processual. Penal. Provas

LEGISLAÇÃO Extravagante Jecrim

Direito Penal Marcelo Uzeda

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Informativo comentado: Informativo 866-STF (RESUMIDO)

Superior Tribunal de Justiça

DIREITO ADMINISTRATIVO DIREITO DO CONSUMIDOR DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Subfaturamento é uma infração administrativa, pela qual o importador declara um valor abaixo do que realmente pagou pela importação.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR EM DELTA

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Penas Restritivas de Direitos. (continuação)

PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO * *

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Superior Tribunal de Justiça

Vistos, relatados e discutidos os autos. 1

Superior Tribunal de Justiça

Transcrição:

Súmula 630-STJ Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO PENAL CONFISSÃO Para ter direito à atenuante no caso do crime de tráfico de drogas, é necessário que o réu admita que traficava, não podendo dizer que era mero usuário Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019. NOÇÕES GERAIS SOBRE A CONFISSÃO Confissão espontânea: atenuante A confissão espontânea é atenuante genérica prevista no art. 65, III, d, do CP: Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III ter o agente: d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; Como se trata de atenuante, a confissão serve para diminuir a pena do condenado, o que é feito na 2ª fase da dosimetria da pena. Confissão parcial A confissão parcial ocorre quando o réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na denúncia. Ex.: o réu foi denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (art. 155, 4º, I, do CP). Ele confessa a subtração do bem, mas nega que tenha arrombado a casa. Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? SIM. Se a confissão, ainda que parcial, serviu de suporte para a condenação, ela deverá ser utilizada como atenuante (art. 65, III, d, do CP) no momento de dosimetria da pena. Incide a atenuante prevista no art. 65, III, d, do CP, independe se a confissão foi integral ou parcial, quando o magistrado a utilizar para fundamentar a condenação. Mesmo nas hipóteses de confissão qualificada ou parcial, deve incidir a atenuante prevista no art. 65. III, d, do Código Penal, se os fatos narrados pelo autor influenciaram a convicção do julgador. Essa é a inteligência da Súmula 545 do STJ. STJ. 5ª Turma. HC 450.201/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/03/2019. Confissão qualificada A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega em sua defesa um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena. Ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa. Obs: por serem muito próximos os conceitos, alguns autores apresentam a confissão parcial e a qualificada como sinônimas. Súmula 630-STJ Márcio André Lopes Cavalcante 1

Se a confissão foi qualificada e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? Para o STJ: SIM. Não é possível desmerecer a confissão daquele que efetivamente contribui para a elucidação dos fatos supostamente delituosos, ainda que agregando teses defensivas. Nos casos em que a confissão do acusado servir como um dos fundamentos para a condenação, deve ser aplicada a atenuante em questão, pouco importando se a confissão foi espontânea ou não, se foi total ou parcial, ou mesmo se foi realizada só na fase policial, com posterior retratação em juízo. Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal (Súmula 545/STJ), sendo indiferente que a admissão da autoria criminosa seja parcial, qualificada ou acompanhada de alguma causa excludente de ilicitude ou culpabilidade. STJ. 5ª Turma. HC 450.201/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/03/2019. STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1775963/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 07/05/2019. Obs: o STF possui julgados em sentido contrário. Veja: (...) A confissão qualificada não é suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal (...) STF. 1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/11/2013. Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2013), em provas, é mais provável que seja cobrado o entendimento do STJ. Fique atenta(o), contudo, à redação do enunciado. Confissão retratada A chamada confissão retratada ocorre quando o agente confessa a prática do delito e, posteriormente, se retrata, negando a autoria. Ex: durante o inquérito policial, João confessa o crime, mas em juízo volta atrás e se retrata, negando a imputação e dizendo que foi torturado pelos policiais. O agente confessa na fase do inquérito policial e, em juízo, se retrata, negando a autoria. O juiz condena o réu fundamentando sua sentença, dentre outros argumentos e provas, na confissão extrajudicial. Se a confissão foi retratada e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? Para o STJ: SIM. Se a confissão do réu foi utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação, deve incidir a atenuante prevista no art. 65, III, "d", do Código Penal, sendo irrelevante o fato de que tenha havido posterior retratação, ou seja, que o agente tenha voltado atrás e negado o crime. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1712556/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/06/2019. Obs: existem alguns julgados do STF em sentido contrário: a retratação em juízo da anterior confissão policial obsta a invocação e a aplicação obrigatória da circunstância atenuante referida no art. 65, inc. III, alínea d, do Código Penal (STF. 2ª Turma. HC 118375, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 08/04/2014. Em suma, na sentença, o juiz poderá utilizar a confissão parcial, a confissão qualificada ou a confissão com retratação posterior para, em conjunto com outras provas, condenar o réu? SIM. Neste caso, o juiz deverá aplicar a atenuante do art. 65, III, d, do CP? SIM. Para o STJ, é irrelevante que a confissão tenha sido parcial ou total, condicionada ou irrestrita, com ou sem retratação posterior. Se a confissão foi utilizada pelo juiz como fundamento para a condenação, deverá incidir a atenuante do art. 65, III, d, do Código Penal. Entendimento sumulado O STJ resumiu seus entendimentos sobre a confissão com a súmula 545: Súmula 630-STJ Márcio André Lopes Cavalcante 2

Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. Desse modo, a Súmula 545 do STJ vale tanto para casos de confissão parcial, de confissão qualificada e confissão com retratação posterior. Em suma, se o juiz utilizou a confissão como fundamento (elemento de argumentação) para embasar a condenação, ele, obrigatoriamente, deverá aplicar a atenuante prevista no art. 65, III, d, do CP. A confissão é um fato processual que gera um ônus e um bônus para o réu. O ônus está no fato de que isso será utilizado contra ele como elemento de prova no momento da sentença. O bônus foi concedido pela lei e consiste na atenuação de sua pena. Para o STJ, não seria justo que o magistrado utilizasse a confissão apenas para condenar o réu, sem lhe conferir o bônus, qual seja, o reconhecimento da confissão. CONFISSÃO, TRÁFICO DE DROGAS E POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PRÓPRIO Imagine a seguinte situação hipotética: João foi preso, em uma viagem de ônibus, com uma grande quantidade de cocaína em sua mochila. O Ministério Público denunciou João pela prática do crime do art. 33 da Lei nº 11.343/2006. No interrogatório, João admitiu que a droga era sua, mas alegou que ela seria utilizada exclusivamente para seu próprio consumo. Disse, em suma, que é usuário de drogas, afirmando ter adquirido o entorpecente em grande quantidade para evitar ter que ir várias vezes à boca-de-fumo. A defesa alegou que João deveria ser condenado pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. O juiz, contudo, não acolheu o pedido e condenou o réu por tráfico de drogas, nos termos do art. 33: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Suponhamos que, na sentença, havia um trecho dizendo o seguinte: não há dúvidas de que a droga pertencia ao acusado, considerando que ele próprio confessa que a bolsa sua. Neste caso, como o réu admitiu a propriedade da droga, ele terá direito à atenuante da confissão espontânea ao ser condenado por tráfico? NÃO. Isso porque ele confessou a posse da droga para fins de consumo (e não para tráfico). A atenuante da confissão espontânea pressupõe que o réu reconheça a autoria do fato típico que lhe é imputado. Ocorre que, no caso, o réu não admitiu a prática do tráfico, pois afirmou que a droga era exclusivamente para seu consumo próprio, numa clara tentativa de desclassificar a sua conduta para o crime do art. 28 da Lei nº 11.343/2006. Nesse caso, em que se nega a prática do tipo penal apontado na peça acusatória, não é possível o reconhecimento da circunstância atenuante. Para o STJ, não incide a atenuante da confissão espontânea quando o réu não admite a autoria do exato fato criminoso que lhe é imputado: Súmula 630-STJ Márcio André Lopes Cavalcante 3

O reconhecimento da atenuante genérica prevista no art. 65, III, d, do Código Penal exige que o réu confesse os fatos pelos quais está sendo devidamente processado. STJ. 6ª Turma. HC 326.526/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 04/04/2017. Em se tratando do crime de tráfico de entorpecentes, a confissão espontânea do acusado que admite a propriedade da droga, no entanto afirma ser destinada a consumo próprio, sendo mero usuário, impossibilita o reconhecimento da atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal. STJ. 5ª Turma. HC 488.991/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/03/2019. Sabe-se que nos casos em que a confissão do agente é utilizada como fundamento para embasar a conclusão condenatória, a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do CP, deve ser aplicada em seu favor, pouco importando se a admissão da prática do ilícito foi espontânea ou não, integral ou parcial ou se houve retratação posterior em juízo. Entretanto, in casu, não obstante o agravante tenha admitido a propriedade da droga, não reconheceu a traficância, afirmando que o estupefaciente encontrado seria para uso pessoal, sendo, portanto, insuficiente para reconhecer a incidência da referida atenuante. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1308356 MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 07/08/2018. Vale ressaltar que não se pode dizer que houve confissão parcial neste caso porque o réu admitiu a prática de um fato diferente: (...) a incidência da atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, alínea d, do Código Penal, no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não sendo apta para atenuar a pena a mera admissão da propriedade para uso próprio. Nessa hipótese, inexiste, nem sequer parcialmente, o reconhecimento do crime de tráfico de drogas, mas apenas a prática de delito diverso. (...) STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1408971/TO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/05/2019. Não confundir: Confissão parcial Réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na denúncia. Ex.: réu foi acusado de furto qualificado; confessa a prática do furto, mas nega a qualificadora do rompimento de obstáculo. Deverá incidir a atenuante da confissão espontânea (STJ HC 328.021-SC). Réu confessa a prática de outro tipo penal diverso daquele narrado na denúncia. Ex.: réu é acusado de tráfico de drogas (art. 33 da LD); ele confessa que a droga era sua, negando, porém, a traficância. Isso significa que ele confessou a prática de um outro crime, qual seja, o porte para consumo pessoal (art. 28 da LD). Não deverá incidir a atenuante da confissão espontânea, considerando que o réu não reconheceu a autoria do fato típico imputado. O entendimento da súmula 630 do STJ também é adotado pelo STF Não é de se aplicar a atenuante da confissão espontânea para efeito de redução da pena se o réu, denunciado por tráfico de droga, confessa que a portava para uso próprio. STF. 1ª Turma. HC 141487, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Rosa Weber, julgado em 04/12/2018. Admitir-se a incidência da atenuante genérica da confissão (CP, art. 65, III, d), com a consequência de redução da pena, quando as próprias declarações do condenado não coincidiram com o propósito maior do instituto, o de facilitar a atuação da justiça criminal, representaria, por certo, verdadeiro contrassenso. No caso, o paciente assumiu a propriedade da substância entorpecente para fins de consumo próprio, dissimulando o propósito da traficância, reconhecido ulteriormente em sentença condenatória. STF. 2ª Turma. HC 135345, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/10/2016. Súmula 630-STJ Márcio André Lopes Cavalcante 4

O entendimento da súmula 630 do STJ não é aplicável para situações envolvendo roubo e furto Ministério Público oferece denúncia contra o acusado imputando-lhe a prática de roubo. O réu se defende admitindo a subtração, mas negando o emprego de violência ou grave ameaça. Em outras palavras, o acusado admitiu a prática de um furto (e não de roubo). Nesses casos, o STJ tem admitido a incidência da atenuante afirmando que se está diante de confissão parcial: Embora a simples subtração configure crime diverso - furto -, também constitui uma das elementares do delito de roubo - crime complexo, consubstanciado na prática de furto, associado à prática de constrangimento, ameaça ou violência, daí a configuração de hipótese de confissão parcial. STJ. 5ª Turma. HC 299.516/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/06/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 452.897/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2018. Súmula 630-STJ Márcio André Lopes Cavalcante 5