RELATORA : Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES EMENTA TRIBUTÁRIO. REGIME DE TRIBUTAÇÃO SIMPLIFICADA (RTS). LEGITIMIDADE DA AUTORIDADE IMPETRADA DO LOCAL DE DESTINO DA MERCADORIA, EM RAZÃO DA INEXISTÊNCIA DE DESPACHO ADUANEIRO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. DECRETO LEI 1.804/80. ISENÇÃO DE ATÉ 100 DÓLARES. PORTARIA MFNº 156/99. IN SRF 096/99 ISENÇÃO DE ATÉ 50 DÓLARES. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 176 DO CTN. 1. Inexistindo despacho aduaneiro, no regime de tributação simplificada - RTS, nos termos do art. 5º da IN 611/06, art. 5º, não há como considerar que seja legítima para figurar no pólo passivo de mandado de segurança a autoridade da Receita Federal do Brasil do local onde ingressou a mercadoria importada, em detrimento da autoridade do local de destino da mercadoria. 2. Isso porque eventual lançamento do tributo incidente sobre essa importação simplificada fica a cargo da autoridade da Delegacia da Receita Federal do destino da mercadoria, e não do local em que ingressou a mercadoria em território nacional. 3. Conforme disposto no Decreto Lei nº 1.804/80, art. 2º, II, as remessas de até cem dólares, quando destinadas a pessoas físicas, são isentas do Imposto de Importação. 4. A Portaria MF 156/99 e a IN 096/99, ao exigir que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas, restringiram o disposto no Decreto Lei nº 1.804/80. 5. Não pode a autoridade administrativa, por intermédio de ato administrativo, ainda que normativo (portaria), extrapolar os limites claramente estabelecidos em lei, pois está vinculada ao princípio da legalidade. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 2a. Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Porto Alegre, 15 de dezembro de 2015. Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES Relatora Documento eletrônico assinado por Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES, Relatora, https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7999540&termospesquisados=j2nlbsbkb2xhcmvzjw== 1/5
verificador 7999540v6 e, se solicitado, do código CRC F7EC5231. Carla Evelise Justino Hendges Data e Hora: 16/12/2015 14:33 RELATORA : Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES RELATÓRIO Trata se de apelação de sentença que concedeu mandado de segurança, para "declarar inexigível o imposto de importação incidente sobre a mercadoria constante do Aviso de Chegada Internacional, inserto em OUT7, evento 1" (R$ 28,77). Sem condenação em honorários. Inconformada, a União reitera em sua apelação a argüição de ilegitimidade passiva da autoridade impetrada, pois a importação foi realizada através de site na internet, tendo a encomenda sido recebida no Brasil na Unidade Administrativa da Fiscalização Aduaneira de Curitiba PR, onde permaneceu até o dia 13/03/15, tendo chegado em Porto Alegre no dia 18/03/15, endereço de destino. Assim, "não se pode manifestar, por evidente, o Delegado da Receita Federal do Brasil em Porto Alegre, visto que somente o Inspetor Chefe da IRF/Curitiba poderá fazê lo, o que leva à absoluta ilegitimidade de tal autoridade para a demanda". No mérito sustenta que, nos termos da Portaria MF nº 156, de 24.06.1999, 2º do art. 1º, a isenção de tributação até US$ 50,00 está condicionada ao remetente e o destinatário serem pessoas físicas, o que não é o caso dos autos. Com contrarrazões, subiram os autos. O Ministério Público Federal opina pela sua não intervenção no feito. É o relatório. VOTO Preliminar de ilegitimidade passiva da autoridade impetrada importação pelo Regime de Tributação Simplificada (RTS) Comungo do mesmo entendimento do juízo a quo, no sentido de que a autoridade da Receita Federal de Porto Alegre RS, local de destino da mercadoria importada via internet (através de site de compras), é a competente para figurar no pólo passivo. https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7999540&termospesquisados=j2nlbsbkb2xhcmvzjw== 2/5
Isso porque, com bem fundamentado na sentença, o caso dos autos não trata de uma importação tradicional, mas de uma importação direta por meio da internet, hipótese em que a mercadoria (uma camiseta importada da China U$ 27,00) ingressou no país por Curitiba PR e foi remetida ao destino em Porto Alegre RS, local em que os Correios emitiram o aviso de chegada, juntamente com o valor do tributo a recolher (Evento 1 OUT6 e OUT7). Esse tipo de importação foi realizado através do regime do Regime de Tributação Simplificada (RTS), instituído e regulado pelo DL 1.804/80 e art. 99 do Decreto nº 6.759/09, assim como pelas as IN's 101/91 e 611/06. E há previsão expressa em norma de que esse tipo de importação não comporta "qualquer outra formalidade aduaneira": IN 611/06: Art. 5º No caso de bens integrantes de remessa postal internacional cujo valor não ultrapasse US$ 500.00 (quinhentos dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, submetidos ao Regime de Tributação Simplificada (RTS), o despacho aduaneiro será processado mediante o pagamento dos imposto de importação incidente, lançado pela autoridade aduaneira por meio da Nota de Tributação Simplificada (NTS), instituída pela Instrução Normativa SRF no 101, de 11 de novembro de 1991, sem qualquer outra formalidade aduaneira. Via de conseqüência, é inafastável e irrepreensível a conclusão do juízo a quo de que, não tendo existindo despacho aduaneiro, "não há que se considerar que o Inspetor Chefe da Inspetoria da Receita Federal do Brasil em Curitiba/PR, que é o local em que ingressou a mercadoria, seja considerado como a autoridade coatora". Ainda, é pertinente a observação feita na sentença, no sentido de que, "como o COMPROVANTE do tributo recolhido pelos Correios deve ser apresentado à Delegacia da Receita Federal da Capital e, na hipótese de não pagamento, deve ser recolhido mediante DARF em nome da pessoa física importadora, ou será objeto de lançamento de ofício, a cargo da DRFB de Porto Alegre". Aliás, considerar legítima a autoridade da Receita Federal do local de ingresso da mercadoria em território nacional, nesse tipo de importação simplificada, em que não há despacho aduaneiro, dificultaria, quiçá impediria, o próprio direito de defesa do importador, cujo domicílio dificilmente coincidirá com o local onde a mercadoria ingressou no país. A seguir reproduzo a fundamentação da sentença neste ponto, como razões complementares de decidir: 2.1 Preliminar de ilegitimidade passiva A hipótese dos autos trata de regime de tributação simplificada na importação realizada por pessoa física, através de compra pela internet, regulado pelo DL 1.804/80 e pelo art. 99 do Decreto 6.759/09. A IN 101/91 regulamentou a sistemática de recolhimento do tributo, estabelecendo que o mesmo deve ser pago pelo destinatário da remessa diretamente na agência da ECT, através de um COMPROVANTE no ato de retirada da mercadoria. Depois, este COMPROVANTE é recolhido ao Tesouro Nacional, mediante DARF (itens 1 e 5), devendo os Correios apresentar a relação dos COMPROVANTES arrecadados no mês na Delegacia da Receita Federal da Capital (item7). Se não houver o pagamento do COMPROVANTE, a Receita Federal deve emitir um DARF que será entregue ao destinatário pelos Correios, colocando se o número do CPF. https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7999540&termospesquisados=j2nlbsbkb2xhcmvzjw== 3/5
Por outro lado, a IN 611/06 tratou sobre a declaração simplificada na importação e exportação, dispondo: Art. 5º No caso de bens integrantes de remessa postal internacional cujo valor não ultrapasse US$ 500.00 (quinhentos dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, submetidos ao Regime de Tributação Simplificada (RTS), o despacho aduaneiro será processado mediante o pagamento dos imposto de importação incidente, lançado pela autoridade aduaneira por meio da Nota de Tributação Simplificada (NTS), instituída pela Instrução Normativa SRF no 101, de 11 de novembro de 1991, sem qualquer outra formalidade aduaneira. No caso, a mercadoria (uma camiseta) ingressou no País por Curitiba e foi remetida pelos Correios para Porto Alegre (Evento 1 OUT6). Nesta cidade é que os Correios emitiram o aviso de chegada, juntamente com o valor do tributo a recolher (Evento 1 OUT7). Como o sistema de tributação é simplificado, e destituído de formalidade aduaneira, não há despacho aduaneiro. Logo, não há que se considerar que o Inspetor Chefe da Inspetoria da Receita Federal do Brasil em Curitiba/PR, que é o local em que ingressou a mercadoria, seja considerado como a autoridade coatora. Na verdade, como o COMPROVANTE do tributo recolhido pelos Correios deve ser apresentado à Delegacia da Receita Federal da Capital e, na hipótese de não pagamento, deve ser recolhido mediante DARF em nome da pessoa física importadora, ou será objeto de lançamento de ofício, a cargo da DRFB de Porto Alegre, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelo Delegado da Receita Federal. Mérito Quanto ao mérito também não há razão para reforma da sentença, pois já há entendimento neste Regional de que a Portaria MF 156/99 e a IN 096/99, ao exigir que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas, acabaram por restringir, indevidamente, o disposto no Decreto Lei nº 1.804/80. Nesse sentido reproduzo precedente ilustrativo: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. DECRETO LEI 1.804/80. ISENÇÃO DE ATÉ 100 DÓLARES. PORTARIA MFNº 156/99. IN SRF 096/99 ISENÇÃO DE ATÉ 50 DÓLARES. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. ART. 176 DO CTN. 1. Conforme disposto no Decreto Lei nº 1.804/80, art. 2º, II, as remessas de até cem dólares, quando destinadas a pessoas físicas, são isentas do Imposto de Importação. 2. A Portaria MF 156/99 e a IN 096/99, ao exigir que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas, restringiram o disposto no Decreto Lei nº 1.804/80. 3. Não pode a autoridade administrativa, por intermédio de ato administrativo, ainda que normativo (portaria), extrapolar os limites claramente estabelecidos em lei, pois está vinculada ao princípio da legalidade. (TRF4, APELREEX 5013382 84.2014.404.7000, Primeira Turma, Relator Joel Ilan Paciornik, D.E. 20/11/2014). Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação e à remessa oficial. Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES Relatora Documento eletrônico assinado por Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES, Relatora, verificador 7999539v14 e, se solicitado, do código CRC 1F8F1DB. https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7999540&termospesquisados=j2nlbsbkb2xhcmvzjw== 4/5
Carla Evelise Justino Hendges Data e Hora: 16/12/2015 14:33 EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 15/12/2015 ORIGEM: RS 50224545220154047100 RELATOR : Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES PRESIDENTE : RÔMULO PIZZOLATTI PROCURADOR : Dr. LUIZ CARLOS WEBER Certifico que este processo foi incluído no Aditamento da Pauta do dia 15/12/2015, na seqüência 358, disponibilizada no DE de 03/12/2015, da qual foi intimado(a) UNIÃO FAZENDA NACIONAL, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais PROCURADORIAS FEDERAIS. Certifico que o(a) 2ª TURMA, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO E À REMESSA OFICIAL. RELATOR ACÓRDÃO : Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES VOTANTE(S) : Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES : Des. Federal RÔMULO PIZZOLATTI : Juiz Federal JOÃO BATISTA LAZZARI MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA Secretária de Turma Documento eletrônico assinado por MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA, Secretária de Turma, verificador 8049607v1 e, se solicitado, do código CRC 2C212B54. Maria Cecília Dresch da Silveira Data e Hora: 16/12/2015 00:39 https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7999540&termospesquisados=j2nlbsbkb2xhcmvzjw== 5/5