ADSE paga mais de 20% dos

Documentos relacionados
Conta Satélite da Saúde

Socialismo 2010 Debates para a Alternativa 27 a 29 de Agosto de 2010 SNS NEM ROSA VELHO NEM LARANJA CHOQUE: A RESPOSTA DA ESQUERDA

Economia da Saúde - algumas ideias

Auditoria ADSE: aumento dos descontos foi excessivo Sexta, 17 Julho :33

Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.

O Futuro do SNS. Ministério da Saúde. 26 de Outubro de 2011

Privatização da saúde (?) Pedro Pita Barros Faculdade de Economia Universidade Nova de Lisboa

PLANO COMPLEMENTAR OPÇÃO GC1

Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.

MoU e Programa do Governo: as medidas para o Sector da Saúde

A despesa corrente em saúde aumentou 3,0% em 2017

EMPRESAS DE MEDIAÇÃO IMOBILIÁRIA ANÁLISE ECONÓMICO-FINANCEIRA - Exercício de

Atividades de Saúde Humana ANÁLISE SETORIAL

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 368/XIII/1.ª POUPAR NO FINANCIAMENTO A PRIVADOS PARA INVESTIR NO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.

O que são sociedades de elevado crescimento?

Dar a todos o que é de todos -uma proposta para os impostos em 2008 e 2009

Por um Financiamento Adequado da Saúde

Sustentabilidade na Saúde

Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.

SNS : SITUAÇÃO E PROBLEMAS ATUAIS E DESAFIOS FUTUROS 40 ANOS APÓS A CRIAÇÃO DO SNS. Eugénio Rosa Economista

PLANO COMPLEMENTAR OPÇÃO GC1

SEGURO DE SAÚDE ANUIDADE 2018

PROVA ESCRITA DE CONHECIMENTOS PARTE ESPECIFICA (REF G3)

Estudo e Avaliação do

Estudo Económico / Financeiro. Setor das Farmácias em Portugal Dados reais de 2013 e previsão para 2014

Quadro 1 Evolução da divida das empresas à Segurança Social 2006/2014

Eugénio Rosa Economista- este e outros estudos disponíveis Pág. 1

Apresentação do Orçamento do SNS

Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, I.P.

A crise e a saúde em Portugal

Inovação no Financiamento

Sessão pública de apresentação do Relatório de Actividade dos Hospitais SA

GRÁFICO 1 PRODUTIVIDADE DO TRABALHO NO PERÍODO E PRODUTIVIDADE MULTIFACTORIAL NO PERIODO

XXXII. Compensações ÍNDICE

Subida de taxas moderadoras leva portugueses aos hospitais privados

RESULTADOS Apresentação Resumo. 15 Março 2011 GRUPO FINANCEIRO

Procedimento dos défices excessivos (1ª Notificação de 2019)

Texto para Discussão n O Setor de Saúde na Perspectiva Macroeconômica. Período

Estatísticas das empresas Resultados finais para 2013: Mais empresas, menos negócios e menos emprego

Sustentabilidade do sector da sau de no po s-troika. Pedro Pita Barros Universidade Nova de Lisboa

C A N D E I A - A S S O C I A Ç Ã O P A R A A A N I M A Ç Ã O D E C R I A N Ç A S E J O V E N S RELATÓRIO E CONTAS 2017 DE 1 D E J A N E I R O A 3 1 D

Serviço Nacional de Saúde

A REDUÇÃO DO DÉFICE ORÇAMENTAL EM 2007 VAI SER CONSEGUIDA ATRAVÉS DE DESORÇAMENTAÇÕES DE FACTO E DE MEDIDAS EXTRAORDINÁRIAS

MOÇÃO. Em defesa do Serviço Nacional de Saúde

Presença feminina nas empresas em Portugal

Em 2018, a despesa corrente em saúde aumentou 5,1%

PLANO COMPLEMENTAR OPÇÃO GC1

Fevereiro Divulgado em 15 de março de 2016.

OBJETIVOS Promover a Inovação e o Empreendedorismo Social 150 milhões de euros instrumentos de financiamento Portugal 2020

Índice. Agradecimentos... 13

Manutenção e abertura de farmácias nas

Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Senhor Presidente do Governo Senhora e Senhores Membros do Governo,

1. (PT) - Primeiro de Janeiro, 13/06/2013, Mais cinco médicos em breve (PT) - Correio da Manhã, 14/06/2013, 3 anos em tribunal 2

Exportações de cortiça aumentam em 2007

C. A Carga Parafiscal e o Papel Social do Sector Segurador. 1. Taxa para o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)

Estatuto e Financiamento da ADSE

A necessidade de financiamento da economia fixou-se em 5,1% do PIB em 2011

Orçamento de Estado 2014

B. A Carga Parafiscal e o Papel Social do Sector Segurador. 1. Taxa para o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)

Em 2015, a despesa corrente em saúde aumentou 2,0%

Políticas económicas e sociais do Estado português

ii. Fundo de Acidentes de Trabalho

O beco sem saída em que Sócrates, o PSD e o CDS nos estão a meter Eugénio Rosa, Economista

CARTA DE MISSÃO. c) Colaborar na elaboração do Plano Nacional de Saúde e acompanhar a respetiva execução a nível regional;

A Balança de Pagamentos

Observatório do Medicamento e dos Produtos de Saúde INFORMAÇÃO SOBRE O IMPACTO DAS MEDIDAS DE POLÍTICA DO MEDICAMENTO

AFR. Recuperação e riscos crescentes. Outubro de Perspetivas económicas regionais

confiança rigor abrangência facilidade simplicidade rapidez gratuitidade Lisboa, 23 de Fevereiro de 2017

Gastos com pessoal engordam com novas entidades no défice

Controlo Externo e Controlo Interno

Rendas da classe média podem subir até 600 euros

Cuidados Continuados Integrados

Audição na Comissão de Saúde

ESTADO NOVO ( ) RECEITA FISCAL, DESPESA PÚBLICA E OUTRAS VARIÁVEIS NACIONAIS

XXXIII Compensações ÍNDICE

Define as orientações fundamentais para a utilização nacional dos fundos comunitários para o período de

Orçamento do Estado 2016

Estatísticas do Emprego 4º Trimestre de A taxa de desemprego do 4º trimestre de 2007 foi de 7,8% 15 de Fevereiro 2008

FUNDO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

1 Órgãos Sociais Atividade Prevista e Execução Janeiro a Julho de Recursos Humanos... 7

Condições de Estabilidade do Rácio da Dívida Pública

EMPRESAS DE MEDIAÇÃO IMOBILIÁRIA ANÁLISE ECONÓMICO-FINANCEIRA. - Exercício de

Teoria da Contabilidade I

AS DESIGUALDADES ENTRE HOMENS E MULHERES NÃO ESTÃO A DIMINUIR EM PORTUGAL

pelos CH e, por outro lado, da produção realizada tal como descrita nos Relatórios e Contas, os Contratos-Programa não estarão a refletir as

B A R Ó M E T R O D E P A G A M E N T O S J U N H O

Aumenta o desemprego e diminui a protecção social dos trabalhadores

Novo Pacote do Medicamento

Política Fiscal CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA. Consultoria Desenvolvendo soluções, alavancando resultados!

JUNTOS NA CONTRAMÃO DA CRISE: GESTÃO E RESULTADOS

DESTAQUES. IPCTN09: RESULTADOS PROVISÓRIOS [Novembro de 2010]

Relatório Final. Os cidadãos no centro do sistema Os profissionais no centro da mudança

1.1 Fórmula: Ativo Circulante Passivo Circulante. 1.2 Unidade: número (R$)

1º Semestre. Relatório e Contas 2013

A EVOLUÇÃO DO EMPREGO NO PERÍODO DA LEGISLATURA

Procedimento dos Défices Excessivos (2ª Notificação de 2018)

PACOTES DE SERVIÇOS DE COMUNICAÇÕES ELETRÓNICAS. (em local fixo)

"Orçamento do Estado 2017 Saúde Para Onde Vamos?

Constituição Federal/1988

Transcrição:

PRIMEIRA LINHA GUERRA NA SAÚDE ADSE paga mais de 20% dos gastos dos hospitais privados O subsistema de saúde dos funcionários públicos é o terceiro maior financiador dos hospitais privados e o seu peso aumentou muito em 2016. Famílias e Serviço Nacional de Saúde são quem paga a maior parte dos gastos destas entidades. MANUEL ESTEVES mesteves@negocios.pt A ADSE financia, por si só, mais de 20% da despesa corrente dos hospitais privados. De acordo com a mais recente Conta Satélite da Saúde do INE, a ADSE suportou, em 2016, 20,8% dos gastos correntes dos hospitais do setor privado. Em rigor, a percentagem será mais elevada pois, segundo apurou o Negócios, deve expurgar-se da despesa os hospitais em regime de parceria público-privada, onde os gastos com os beneficiários da ADSE são considerados despesa do SNS (como um hospital público). Procedendo a este ajustamento, a percentagem salta para 25,9%. Independentemente da ótica que se use, o certo é que o financiamento aos privados disparou em 2016, o primeiro ano completo de governação de António Costa, com o apoio do Bloco de Esquerda e do PCP. Depois de um período de quatro anos ao longo do qual o peso da ADSE na faturação dos privados se manteve estável, 2016 trouxe um aumento em cerca de cinco pontos percentuais. Esta subida deverá estar relacionada com o crescimento da rede dos grupos privados, mas também com a política da ADSE de aumentar convencionados a sua rede de prestadores e ainda com o contexto de recuperação económica. Numa altura em que vários grupos privados de saúde ameaçam rasgar as convenções com a ADSE, estes números ganham maior relevância, evidenciando a grande interdependência que existe entre a ADSE e os grupos privados da saúde. É a estes que a maioria dosbeneficiários da ADSE se dirige quando precisa de cuidados de saúde e, por essa razão, o subsistema constitui uma fonte de receita muito importante para o setor. Os números variam em função das fontes usadas. Estes são do INE, mas ainda ontem, em declarações ao Dinheiro Vivo, o presidente Associação Portuguesa de Hospitalização Privada avançava com dados um pouco diferentes, sem referir fonte ou ano. "A atividade com a ADSE representa cerca de 18% do total dos hospitais privados. Tratamos cerca de 4 milhões de cidadãos por ano, dos quais cerca de 800 mil são beneficiários da ADSE", disse Oscar Gaspar. Segundo dados já noticiados pelo Negócios e referentes a 2017, o grupo Luz Saúde é o que mais depende da ADSE, com o subsistema a gerar 22,5% da sua faturação. Segue-se o grupo José de Mello, com 12,9 % da sua faturação a ter origem na ADSE. Estes dois grupos já anunciaram, através de comunicados internos vindos a públicos e sem mais esclarecimentos, a intenção de acabar com os acordos com a ADSE. Seguem-se os grupos Lusíadas Saúde, Troja Saúde e Fundação Champalimaud (ver gráfico). Famílias são a principal fonte financiadora Mas o que dizem os números do organismo oficial de estatística é que não são nem os seguros públicos nem os privados que constituem a principal fonte de financiamento dos hospitais privados. São as famílias que, através de pagamentos diretos e excluindo o que ainda transferem para as empresas de seguros, suportam 35% da despesa das instituições hospitalares.

O grupo Luz Saúde, liderado por Isabel Vaz, é o que mais factura com a ADSE e um dos que ameaça romper.

4 GRÁFICOS As interdependências entre a ADSE e os privados FINANCIAMENTO DA ADSE A PRIVADOS SOBE Evolução da despesa dos hospitais privados financiada pelos subsistemas de saúde do Estado (em %) A parcela de negócio dos hospitais privados paga pelos subsistemas de saúde dos funcionários públicos, designadamente a ADSE, subiu muito em 2016. Segundo o INE, atingiu os 20,8%. Sobe para 25,9% se retirarmos os hospitais em PPP, onde os gastos com os beneficiários da ADSE são contabilizados como despesa do SNS. 35% QUOTA DAS FAMÍLIAS Mais de um terço da actividade dos hospitais privados é paga de forma directa pelas famílias do sector privado. É a principal fonte de financiamento. Em segundo vem o SNS. 70% A TERCEIRA PRINCIPAL FONTE DOS PRIVADOS Estrutura de financiamento dos hospitais privados (em milhares de milhões de euros) Os subsistemas de saúde dos funcionários públicos são a terceira principal fonte de financiamento dos hospitais privados. Acima só está o SNS (que paga aos privados para complementar os cuidados de saúde) e sobretudo as famílias, que suportam a maior factura (isto sem contar com o que pagam aos seguros). EXAMES E ANÁLISES O Serviço Nacional de Saúde financia 70% da despesa corrente dos laboratórios privados de análises e exames. Aqui, como noutras áreas da saúde, a ADSE tem um peso residual, de 3%.

LUZ SAÚDE E JOSÉ DE MELLO LIDERAM FATURAS Peso dos principais grupos de saúde em percentagem da faturação apresentada à ADSE. A Luz Saúde e José de Mello são de longe os grupos com maior peso na faturação apresentada à ADSE. Os dados relativos a 2017, divulgados há cerca de um ano pela ADSE ao Negócios, mostram que estes dois grupos apresentaram mais de um terço dos 280 milhões de euros faturados à ADSE nesse ano. 20,8% ADSE NOS PRIVADOS Esta é a proporção de despesa dos privados que é financiada pela ADSE. Sem PPP, valor chega aos 25,9%. 53,6% ESTADO NOS PRIVADOS As administrações públicas, incluindo ADSE, pagam mais de metade da despesa corrente dos hospitais privados. PRIVADOS PRECISAM MAIS DO SNS QUE DA ADSE Despesa dos privados que é financiada pelo SNS e pela ADSE Muito mais importante para a actividade dos privados do que a ADSE é o Serviço Nacional e Regional de Saúde. Se nos hospitais privados, a ADSE tem um peso expressivo, o mesmo já não acontece nos laboratórios médicos e de diagnóstico, nos consultórios ou unidades de cuidados continuados. Em segundo lugar, como mostra um dos gráficos, surge o Serviço Nacional (e Regional) de Saúde, com uma quota de 29% no financiamento dos gastos dos privados e só depois a ADSE, com 20% (sem expurgar os hospitais em PPP). Considerando que a ADSE éjá integralmente financiada pelos descontos dos funcionários públicos, as famílias portuguesas pagam, direta e indiretamente (e sempre sem considerar os prémios dos seguros), mais de 55% da despesa dos hospitais privados. São cercade mil milhões de euros, aos quais se somam ainda os gastos com medicamentos e,j á agora, os impostos que, em grande medida, financiam o SNS. Embora a ADSE sejapaga pelos descontos dos funcionários públicos, é encarada como uma fonte de financiamento pública e integrada pelo INE no conjunto das administrações

públicas. Somando todo o financiamento público, conclui-se que, em 2016, 53,6% da despesa dos hospitais privados tem financiamento público. Esta percentagem é especialmente elevada nos laboratórios de análises e exames (69,6%), nos lares (63,3%), nas farmácias (46,3%) e nos consultórios médicos (45,2%). Estes números são usados muitas vezes pelo Bloco de Esquerda e PCP para procurar demonstrar a dependência dos grupos privados face ao Estado, argumentando que este dinheiro deveria ser usado no Serviço Nacional de Saúde. Os defensores da iniciativa privada e da complementaridade entre o SNS, os privados e o setor social argumentam, por seu lado, que os prestadores privados conseguem um nível de eficiência superior, fazendo mais e melhor do que o Estado com o mesmo dinheiro.