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CHAPADA DO ARARIPE: UM TESOURO GEOLÓGICO ENCRAVADO NO CARIRI Lendas, riquezas naturais, turismo e história! A chapada do Araripe em 4 atos Abrir a janela do meu quarto pela manhã, receber aquela brisa e olhar para a Chapada do Araripe, não tem coisa melhor! É a certeza que estou no meu Cariri. É o que afirma Viviane Vieira, estudante universitária que retorna a região para visitar sua família. Vista praticamente em todo o Cariri, a Chapada do Araripe - localizada ao sul do Estado do Ceará, a 500 km da capital Fortaleza - além do seu aspecto geográfico, também é palco do forte misticismo. Josenir Lacerda, cordelista natural do Crato, considera os índios Kariris, os primeiros habitantes da região, como os responsáveis por essa forte mística que envolve a Chapada. A lenda da pedra da Batateira é praticamente um marco. Conta a lenda, se um dia a pedra chegar a cair, todo o vale do Cariri será inundado e irá voltar a ficar debaixo d água, como um dia já foi. E quando esse dia chegar, os índios Kariris retornarão às suas terras, que um dia o homem branco destruiu, narrou a cordelista. Além da vingança dos índios Kariris, há lendas de sereias vistas nas cachoeiras de Missão Velha, de lobisomens nas serras barbalhenses, de pedras misteriosas que fazem as pessoas desaparecerem no alto da serra do Araripe, em Porteiras. Todos esses mitos são frutos da tradição narrativa caririense que, independentemente da localidade, terá como plano de fundo a imensa Chapada do Araripe. Além do seu aspecto místico, a chapada caririense inspira também os diversos grupos culturais da região. Presente em canções, nas literaturas de cordel e nos espetáculos teatrais, a Chapada do Araripe participa efetivamente na construção da cultura local. 6 PERCURSOS URBANOS PERCURSOS URBANOS 7

A Chapada do Araripe é o maior patrimônio do Cariri Anderson Camargo Por que a Chapada do Araripe possui essa riqueza geologica? A Teoria da Deriva Continental, afirma que os continentes se movimentam por meio das placas tectônicas. Fenômeno que modificou a estrutura da terra, e contribuiu para formação da Chapada do Araripe. O lago se instabiliza com faunas distintas. Nas rochas da Chapada do Araripe é possivel indentificar os rios e as correntes maritimas que percorreram a região na época. FORMAÇÃO GEOLÓGICA E LEGADO A Chapada do Araripe se encontra na divisa dos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. Compreende uma área de aproximadamente 7,6 milhões de hectares e abrange 25 municípios cearenses, 18 pernambucanos e 60 piauienses. Segundo estudos geológicos e arqueológicos, foi constituída a 150 milhões de anos no desmembramento do supercontinente Gondwana, formado, em sua maior parte, pelos continentes que atualmente integram o hemisfério sul. A separação entre o que é hoje América do Sul e África, gerou uma instabilidade na região onde atualmente se localiza o Cariri cearense, provocando um rebaixamento das suas terras. O fato permitiu que a região recebesse correntes marítimas, constituindo, assim, uma nova biodiversidade. Há milhões de anos, tudo isto era nivelado e ao longo do tempo os agentes erosivos e corrosivos, como o sol, a água dos rios e da chuva, foram formando depressões, resultando no que é hoje o vale do Cariri. Tudo isso possibilitou termos um livro aberto, para fazermos a reconstituição da evolução desse terreno [Chapada do Araripe] e da origem da vida das espécies que aqui viveram, explicou Anderson Camargo, professor e membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Geografia Agrária (GEA) da Universidade Regional do Cariri Urca. A principal característica de uma chapada é sua formação geológica elevada que possui uma porção plana na parte superior. Com 920 metros de altitude, a Chapada do Araripe tem a caatinga como seu bioma predominante, com áreas de cerradão e mata atlântica. Com enorme importância climática para o Cariri, a chapada é responsável pela manutenção do equilíbrio hidrológico, climático, ecológico e edáfico, aquilo que pertence ao solo, da região. Privilegiada por mais de 300 fontes de água natural, o verde é predominante na chapada mesmo em tempos de forte seca, considerado um verdadeiro oásis encravado no sertão nordestino. Para Anderson Camargo, este é o maior patrimônio ambiental do Cariri. É a Chapada do Araripe que provoca o equilíbrio térmico na região, propiciando um clima mais ameno, chuvas em maior quantidade e uma floresta mais úmida e verde, comentou. Por causa da sua riqueza geológica e hídrica, a Chapada do Araripe ganhou o título de Floresta Nacional do Araripe-Apodi em 1946, tornando-se a primeira Floresta Nacional (Flona) do Brasil, uma das unidades de conservação mais ricas em diversidade ambiental no país, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Mais de 50 anos depois, em 1997, parte de seu território passou a ser reconhecido como Área de Proteção Ambiental (APA). E, em 2006, passou a integrar a Rede Mundial de Geoparques, reconhecido pela UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura como um relevante patrimônio geológico e paleontológico mundial. O Geopark Araripe foi o primeiro Geoparque das Américas, que atualmente conta com mais dois: O Geoparque uruguaio Grutas Del Palacio e o canadense Stonehammer Geopark. 1 2 200 120 40 Hoje Milhões de anos atrás Atualmente, o museu de paleontologia de Santana do Cariri possui um acervo de mais de 3 mil fósseis. Em destaque, fóssel de peixe encontrado na região de aproximadamente 150 milhões de anos. 3 O rompimento das terras proporcionou a formação de um grande lago no vale do Cariri, com águas provindas do Mar Sul e Caribe. OS FÓSSEIS, ENCONTRADOS NA CHAPADA DO ARARIPE, AJUDAM A RECRIAR SUA HISTÓRIA. NAS SUAS ROCHAS É POSSÍVEL IDENTIFICAR QUAIS RIOS E CORRENTES MARÍTIMAS PERCORRERAM O CARIRI. Foto: Divulgação 4 1 2 3 4 Pangeia, único continente no planeta, até então, deu origem a dois megacontinentes chamados de Laurásia e Gondwana. O Gondwana desmembra-se, formando, o que é hoje, a América do Sul e África. A separação entre os continentes abriu enormes crateras, permitindo que a água dos oceanos escorresse até o vale do Cariri. Vista Global da terra atualmente. 8 PERCURSOS URBANOS PERCURSOS URBANOS 9

A CHAPADA DO ARARIPE ABRANGE 3 ESTADOS BRASIEIROS: CEARÁ, PERNAMBUCO E PIAUÍ. Foto: Divulgação FLONA E APA A Floresta Nacional (Flona) do Araripe-Apodi abrange cinco cidades caririenses: Crato, Barbalha, Jardim, Missão Velha e Santana do Cariri. Com aproximadamente 39,3 mil hectares de vasta vegetação, possui pouco mais de duzentas espécies de pássaros e mais de 300 fontes de água mineral, servindo de sustento para os mais de 254 mil habitantes que, segundo o censo 2010 do IBGE, vivem no seu entorno. Atualmente, toda essa área é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Criada em 1946, a Flona Araripe tem como objetivo proteger os recursos hídricos da biorregião do Araripe, no semiárido brasileiro, além de preservar um dos últimos redutos da Mata Atlântica. A Lei Federal nº 9.985 do ano 2000, caracteriza a região como uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e que tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica. Atualmente, possui um valor incalculável para a região, não só no que diz respeito ao meio ambiente, mas também em termos econômicos, sociais, políticos e culturais. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBA- MA), as Florestas Nacionais podem ser utilizadas para estudos científicos, manejo florestal, turismo e lazer. Na Flona Araripe não poderia ser diferente, além de proteger os recursos hídricos e as matas da região, desempenha também importante papel socioeconômico, com o fornecimento de alimentos, energia e plantas medicinais, além, é claro, do geoturismo. Hilda Daniel, estudante e também membro do GEA, alerta para a necessidade de formular políticas públicas que assegurem a retirada de recursos naturais da floresta, de maneira sustentável. Uma vez explorados de maneira não adequada, ou renovável, poderá acarretar em perdas em um futuro próximo, explicou. A estudante destaca também a importância de trabalhar a educação ambiental nas comunidades próximas a floresta. Há muitas famílias que vivem no entorno da chapada, que precisam e sobrevivem dela, então, não se pode negar a elas de usufruírem dessas áreas. No entanto, é necessário demonstrar o que é uma Floresta Nacional, o que é uma APA, qual área é destinada a exploração e onde não é. É preciso reeducar essas comunidades, para que elas se tornem defensoras da floresta, ressaltou. A APA, Área de Proteção Ambiental, é considerada espaço de planejamento e gestão ambiental de extensas áreas que possuem ecossistemas de importância regional. A APA Araripe possui uma enorme riqueza hídrica no semiárido e um dos mais importantes patrimônios arqueológico e paleontológico brasileiro. Abrange uma área de pouco mais de 970 mil hectares, que compreendem 33 municípios nos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Criada em 1997, a principal meta da APA é criar um plano de conservação que permita o ordenamento e o uso territorial, já que a área é destinada ao domínio privado. Todas as atividades são acompanhadas pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), pelo IBAMA e pelo ICMBio. Para Anderson Camargo, o tamanho [quase um milhão de hectares] da APA, se torna uma das problemáticas para sua fiscalização e gestão. Muitos projetos, que visam a utilização de recursos da chapada, são aprovados. Mas, nem todos são fiscalizados. Alguns deles, retiram exploram os recursos de maneira não sustentável, relatou. Anderson acrescenta que só um planejamento adequado poderá conservar os recursos da floresta. É necessário um projeto mais apropriado para manutenção da cobertura vegetal. É ela que manterá o solo e os recursos hídricos conservados. Cabe a nós, humanos, e as grandes empresas, usá-las de maneira sustentável, finalizou. 10 PERCURSOS URBANOS PERCURSOS URBANOS 11

FONTES E O SOLDADINHO DO ARARIPE O Cariri é privilegiado pelas inúmeras fontes de água, apesar de se localizar na região mais seca do Brasil, graças a Chapada do Araripe, que funciona como um reservatório d água proveniente das chuvas irregularmente distribuídas ao longo do ano. Esse reservatório natural contribui para a formação de fontes de água, em especial, na formação Arajara, no Cariri. Primeiramente, por causa do período de chuvas mais abundantes no estado do Ceará e também porque a formação Arajara possui um inclinamento que contribui para a formação dessas fontes, explicou Anderson. A formação Arajara tem funcionado por milhares de anos como um gigantesco funil, captando água das chuvas e concentrando-as em um vale profícuo. A água proveniente dessas fontes possui uma vazão de quase quatro metros cúbicos por hora, principalmente as localizadas em Barbalha e parte do Crato e de Missão Velha, o que é suficiente para abastecer essas cidades, relatou o professor. A água acumulada na encosta da chapada deixa o solo mais fértil e contribuiu para a formação de mais de 300 fontes d água no seu entorno. Hilda Daniel alertou sobre a retirada, de maneira não sustentável, dos recursos materiais da chapada, o que poderá futuramente afetar, na perspectiva da estudante, a formação e abastecimento dessas fontes. Estima-se que pouco mais de 70% da cobertura vegetal da chapada será destruída, e o que abastece essas fontes são as chuvas que caem no seu topo. Retirando a cobertura vegetal, essa água ficará concentrada ou descerá até as cidades provocando alagamentos nos centros urbanos, explicou. Para Anderson Camargo, a destruição da vegetação nativa poderá provocar a redução na quantidade água das fontes, gerando problemas de distribuição de água na região, nos próximos 30 anos, complementou. O soldadinho-do-araripe desaparecendo, o próximo será, nós, os seres humanos Fabiano de Cristo Outro ponto destacado pela estudante é a ausência de fiscalização dos órgãos públicos na distribuição da água proveniente das fontes. De acordo com Hilda, muitos balneários se apropriam das fontes, sem ao menos pedir autorização. Alterando a sua dinâmica hídrica, que passam a pertencer a lotes de mansões, sítios e condomínios construídos no entorno da chapada. A fonte pertence à união. No entanto, não percebemos isso aqui, finalizou. De acordo com a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (Cogerh), na região do Cariri são explorados três mil litros de água por segundo. Porém, no mesmo período de tempo, a natureza só repõe dois mil. Além da questão social, as fontes da Chapada do Araripe são essenciais para a manutenção da vida do soldadinho-do-araripe, tangará mais ameaçado de extinção do planeta, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), devido aos hábitos reprodutivos da espécie serem restritos às nascentes. Atualmente estima-se que existam 800 espécies aos arredores das encostas da chapada, sendo essa espécie exclusiva da região do Cariri. Flaviana Santos, integrante do Projeto soldadinho-do-araripe, afirma que além de proteger o pássaro, exclusivo da região, um dos objetivos do projeto é conscientizar a população. É necessário proteger as matas e as nascentes para que o soldadinho-do-araripe possa sobreviver, enfatizou. Já para Fabiano de Cristo, também integrante do projeto, o risco de desaparecimento do soldadinho serve como um alerta para os seres humanos, o soldadinho se reproduz e vive nas encostas das nascentes, se retiramos isso deles, estaremos colocando não só em risco a vida do soldadinho, mas, também a nossa própria existência. Já que a água é o elemento vital da nossa vida, justificou. O Instituto Chico Mendes, em parceria com o governo e a sociedade local, lançou em 2010 um Plano de Ação Nacional (PAN), com a finalidade de evitar a extinção da ave. Flaviana comenta que o objetivo principal do plano, com vigência até agosto de 2015, é garantir o hábitat para o aumento populacional da espécie. O Plano visa conservar e recuperar a qualidade ambiental do hábitat natural do soldadinho-do-araripe (matas úmidas de encosta da Chapada do Araripe de Barbalha ao Crato), com a finalidade de ampliar sua distribuição e aumento populacional, concluiu. Foto: Ciro Albano 12 PERCURSOS URBANOS PERCURSOS URBANOS 13

GEOPARQUE Criado em 2006, o Geoparque Araripe abrange seis municípios do Cariri cearense, Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri, apresentando uma área aproximada de 3.796 Km². É um território que possui um notável patrimônio geológico aliado a uma estratégia de desenvolvimento sustentável regional, baseado em atividades de geoconservação e geoturismo, aponta Francisco Idalécio, coordenado do Geoparque Araripe. A região é caracterizada pelo importante registro geológico do período Cretáceo. Destacando-se seu conteúdo paleontológico, com registros de 150 e 90 milhões de anos, apresentando um estado de conservação ímpar, revelando uma diversidade paleobiológica invejável. Dessa forma, com o intuito de preservar este patrimônio geológico e de importância cientifica, educativa e turística, foi encaminhada em 2005, sob a iniciativa da Universidade Regional do Cariri (URCA), através da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (SECITECE), com o apoio do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e o Governo do Estado do Ceará, a proposta de candidatura do Geoparque Araripe à UNESCO, visando a sua integração a Rede Global de Geoparques (GNN). Em setembro de 2006, o Geoparque Araripe passa a ser reconhecido pela Rede Global de Geoparques, como o primeiro Geoparque das Américas. O que significou uma área de proteção a riquezas geológicas e paleontológicas com reconhecimento internacional. O Geoparque Araripe foi dividido em nove unidades de conservação, os chamados geossítios. Segundo Idalécio, a escolha e demarcação de um geossítio é realizada através do levantamento de seus potenciais geológicos, científicos, sociais e turísticos. Ao todo, o Geoparque Araripe dispõe de 26 geossítios, no entanto, apenas nove estão aptos a receber visitação. Futuramente pretendemos trabalhar nessas [26] unidades, para que possamos aumentar o número de geossítios do Geoparque. Hoje, trabalhamos em conjunto com as comunidades que vivem no seu entorno. É necessário que eles conheçam, saibam da importância e que é preciso conservá-los. Futuramente queremos que cada uma dessas comunidades sejam as responsáveis pelo seu geossítio, finalizou. O Geopark Araripe é um dos mais completos do mundo. Segundo Idalécio, o Geopark preserva áreas que vão do estudo geológico, com rochas de mais de 600 milhões de anos; paleontológico, com seus fósseis de dinossauros e pterossauros; histórico, por ser o ponto de partida da interiorização da região Nordeste; ambiental, ao proteger um dos últimos redutos de Mata Atlântica; religiosa, pelas romarias realizadas em Juazeiro do Norte; e, por fim, cultural: pelas inúmeras manifestações de cultura popular que a região possui. O Geopark Araripe tem que ter a cara do Cariri, a nossa cultura, a nossa religião e as nossas riquezas naturais, complementa o coordenador. SERVIÇO Geopark Araripe R. Carolino Sucupira, S/N - Pimenta, Crato - CE Telefone: (88) 3102-1237 SEDE DO GEOPARK ARARIPE, LOCALIZADO NA CIDADE DO CRATO. Foto: Cariri Notícias GEOSSÍTIO MISSÃO VELHA. CARACTERIZADO POR SUAS QUEDAS D AGUA.. Foto: Márcio Feitosa 14 PERCURSOS URBANOS PERCURSOS URBANOS 15

16 PERCURSOS URBANOS PERCURSOS URBANOS 17