Validação da TSM estimada pelo MODIS na região Nordeste do Oceano Atlântico Sul

Documentos relacionados
Resumo. 1. Introdução

IMPLEMENTAÇÃO DE UM MÉTODO PARA ESTIMATIVA DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE MEDIANTE DADOS AVHRR/NOAA E GOES-8

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DO MAR UTILIZANDO GOES-8 NO CPTEC/INPE

Monica Cristina Damião Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC

MONITORAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) ATRAVÉS DE DADOS DE TEMPERATURA DE BRILHO (TB) E RADIAÇÃO DE ONDA LONGA (ROL)

Relação entre a precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico

INVESTIGANDO RELAÇÕES ENTRE O VÓRTICE DE SANTA MARTA E EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS NO SUL DO PAÍS.

PRECIPITAÇÃO CLIMATOLÓGICA NO GCM DO CPTEC/COLA RESOLUÇÃO T42 L18. Iracema F. A. Cavalcanti CPTEC/INPE ABSTRACT

Ronaldo Haroldo N. de Menezes Professor Substituto CCA/UEMA/NEMRH. São Luís/MA

ATUAÇÃO DO PAR ANTICICLONE DA BOLÍVIA - CAVADO DO NORDESTE NAS CHUVAS EXTREMAS DO NORDESTE DO BRASIL EM 1985 E 1986

DISTRIBUIÇÃO DO CAMPO DE TEMPERATURA DO AR SOBRE O OCEANO ATLÂNTICO ADJACENTE À COSTA SUDESTE DO BRASIL

INFLUÊNCIA DE LA NIÑA SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 27

Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ministério da Ciência e Tecnologia

Revista Brasileira de Geografia Física

ANÁLISE PRELIMINAR DA VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA DO SETOR LESTE DO NORDESTE DO BRASIL: PARTE II

Estudo comparativo preliminar dos campos de temperatura da superfície do mar OSTIA e RTG_SST_HR para a costa SE Brasileira

APLICAÇÃO DA REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA ATRAVÉS DOS DADOS CLIMÁTICOS DA PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS (PACÍFICOS E ATLÂNTICO)

Avaliação da acurácia das temperaturas da superfície do mar obtidas por satélite para a região Sul-Sudeste da costa brasileira

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE) Cachoeira Paulista, São Paulo - Brasil ABSTRACT

RENDIMENTO DAS CULTURAS DE SEQUEIRO NO NORDESTE DO BRASIL. PARTE II: ASSOCIAÇÃO COM EL NIÑO E DIPOLO RESUMO

Processamento de Nível 1B para Nível 2 e comparação das reflectâncias marinhas dos sensores MODIS e MERIS na costa Sudeste do Brasil

VARIABILIDADE DO VENTO NO AEROPORTO DE PETROLINA: UMA ANÁLISE PARA O MÊS DE JANEIRO

RELAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL SOBRE A OCORRÊNCIA DE SISTEMAS FRONTAIS AUSTRAIS ATUANTES NO BRASIL

Fluxos de calor sobre o Oceano Atlântico Sudoeste

RELAÇÃO ENTRE EVENTOS EXTREMOS SECOS SOBRE O SUDESTE DO BRASIL E A TSM DO ATLÂNTICO SUL

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE ARARIPINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

MARÇO DE 2000, MÊS ANÔMALO DE CHUVAS NOS ESTADOS DE LESTE DO NORDESTE: UM ESTUDO DE CASO

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL NO VERÃO E OUTONO DE 1998.

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE PETROLINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

RELAÇÕES ENTRE TEMPERATURAS DA SUPERFÍCIE DO MAR SOBRE O ATLÂNTICO E PRECIPITAÇÃO NO SUL E SUDESTE DO BRASIL

ESCALAS DE TEMPO E FREQUÊNCIA DO VENTO NO PÓLO DE PETROLINA: UMA ANÁLISE PARA O MÊS DE JANEIRO

ACA-223: Climatologia 1. Climatologia Física: Elementos e Controles do Clima: Variabilidade Diurna e Sazonal

ANÁLISE DOS FLUXOS DE CALOR NA INTERFACE OCEANO- ATMOSFERA A PARTIR DE DADOS DE UM DERIVADOR e REANÁLISE

ESTIMATIVA DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE UTILIZANDO DADOS DE NOAA AVHRR* RESUMO

COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE CORREÇÃO ATMOSFÉRICA EM IMAGENS MULTIESPECTRAIS LANDSAT 8 OLI

Variabilidade Diurna dos Fluxos Turbulentos de Calor no Atlântico Equatorial Noele F. Leonardo 12, Marcelo S. Dourado 1

et al., 1996) e pelo projeto Objectively Analyzed air-sea Flux (OAFlux) ao longo de um

SENSORIAMENTO REMOTO NA ESTIMATIVA DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO BALANÇO DE ENERGIA E EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REGIÃO SEMIÁRIDA.

INFLUÊNCIA DE EL NIÑO SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

Derivadores Rastreados por Satélite: uma eficiente ferramenta aplicada à Oceanografia.

DESTREZA DO MODELO GLOBAL DE PREVISÃO DO TEMPO CPTEC/INPE NA DETERMINAÇÃO DA POSIÇÃO DA ZCIT

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos CPTEC Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE Rodovia Presidente Dutra, km 40 - CEP

Distribuição da precipitação no Estado do Pernambuco: uma análise comparativa entre pluviômetros e as estimativas por satélites

ESTIMATIVA DA DIFUSIVIDADE E DAS ESCALAS INTEGRAIS LAGRANGEANAS NA BACIA SUDOESTE DO ATLÂNTICO A PARTIR DE DERIVADORES.

POSIÇÕES DO CAVADO EQUATORIAL E DA FAIXA DE MÁXIMA TSM NO ATLÂNTICO TROPICAL.

Estimativa da água precipitável utilizando dados do sensor MODIS-TERRA e Radiômetro de Microondas

INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO NA RESPOSTA DA VEGETAÇÃO EM SÃO JOÃO DEL-REI

Detecção da Temperatura da Superfície Continental: Testes de um Método Mono canal. Diego Pereira Enoré 1,2 Juan Carlos Ceballos 2

AVALIAÇÃO DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES DE DADOS RESUMO

INFLUÊNCIA DO EL NIÑO NO COMPORTAMENTO PLUVIOMÉTRICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO DURANTE O ANO DE 1998

AVALIAÇÃO DA PRÉ-ESTAÇÃO CHUVOSA DE 1997/98 PARTE I: DISTRIBUIÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO ESTADO DO CEARÁ

EFEITOS DA FUMAÇA SOBRE A DETERMINAÇÃO DO NDVI MARCELO LIMA DE MOURA LÊNIO SOARES GALVÃO

USO DE ÍNDICES CLIMÁTICOS PARA IDENTIFICAR EVENTOS DE CHUVA EXTREMA NO INTERIOR SEMI-ÁRIDO SUL DO NORDESTE DO BRASIL (NEB)

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE TERRESTRE COM IMAGENS AVHRR/NOAA LAND SURFACE TEMPERATURE ESTIMATIVE WITH AVHRR/NOAA IMAGES

Desenvolvimento de um algoritmo otimizado para correção de distorção panorâmica em imagens do sensor MODIS.

Estimativa de água precipitável através dos sensores MODIS/TERRA e AIRS/AQUA: Avaliação preliminar através de radiossondagens no Brasil

Estimativa da Temperatura da TST

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE

CORRELAÇÃO ENTRE ANOMALIAS DE TSM E TEOR D ÁGUA NA ATMOSFERA SOBRE A AMÉRICA DO SUL

VARIABILIDADE NO REGIME PLUVIAL NA ZONA DA MATA E AGRESTE PARAIBANO NA ESTIAGEM DE

MODELO DE PREVISÃO CLIMATOLÓGICA DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA PARA A REGIÃO ECOCLIMÁTICA DO BAIXO VALE DO URUGUAI NO RIO GRANDE DO SUL

Estudo da aplicação de filtros de detecção de bordas na identificação da frente termal da Corrente do Brasil

DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO ATRAVÉS DE IMAGENS METEOSAT-8

The impact of interpolation of meteorological measurements in the quality of IWV-GNSS. values

INFLUÊNCIA DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLÂNTICO NA VARIABILIDADE DA TEMPERATURA EM BELÉM-PARÁ.

RELAÇÃO ENTRE AS VAZÕES MÉDIAS MENSAIS DO RIO PIANCÓ E AS ANOMALIAS DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS ATLÂNTICO E PACÍFICO TROPICAL

METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA DA COBERTURA DE NUVENS ATRAVÉS DE IMAGEM DE SATÉLITE

Evento Meteorológico Extremo no Rio de Janeiro e Nordeste de São Paulo: Análise e Característica Dinâmica (Baixa Pressão, Dezembro de 2009)

Observação por satélite de um vórtice de núcleo quente na Zona de Confluência Brasil- Malvinas durante a Operação Antártica XXI

(a) (b) ZCIT (a) (b) aquecimento resfriamento

GEOPROCESSAMENTO. Sensoriamento Remoto. Prof. Luiz Rotta

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE BRASILEIRO ( ) PARTE 1 ANÁLISE ESPACIAL RESUMO

Análise do aquecimento anômalo sobre a América do sul no verão 2009/2010

VARIABILIDADE CLIMÁTICA INTERDECADAL DA PRECIPITAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL EM SIMULAÇÕES DO PROJETO CMIP5

ALTA DO ATLÂNTICO SUL E SUA INFLUÊNCIA NA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL

A INFLUÊNCIA DE ALGUMAS VARIÁVEIS ATMOSFÉRICAS A EXTREMOS DE PRODUTIVIDADE DE TRIGO NO RIO GRANDE DO SUL.

Modulações da ZCAS pelas temperaturas da superfície do mar no Atlântico Sudoeste

PERFIL VERTICAL DO VENTO DE UM CCMT DESENVOLVIDO EM AMBIENTE DE DIPOLO DE TSM

Comparação da variabilidade da temperatura da superfície do mar estimada pelos sensores remotos AVHRR-NOAA e MODIS-AQUA nas estações da rede Antares

Contextualização. Físicos: solubilidade de O 2. Químicos: taxa das reações. Biológicos: distribuição de espécies

A ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL SOBRE O OCEANO ATLÂNTICO: CLIMATOLOGIA

Mapeamento do uso do solo para manejo de propriedades rurais

Observação da variação da frente Brasil-Malvinas por dados de temperatura da superfície do mar

Eliana Lopes Ferreira Bolsista CNPq de Iniciação Científica, Grupo de Meteorologia, Departamento de Física, UFPR ABSTRACT

Variabilidade da Temperatura da Superfície do Mar no Oceano Atlântico Sul

3. Resultados 4. Conclusão 5. Referências Bibliográfias Agradecimentos

ESTUDO CLIMATOLÓGICO DA POSIÇÃO DA ZCIT NO ATLÂNTICO EQUATORIAL E SUA INFLUÊNCIA SOBRE O NORDESTE DO BRASIL

Influência dos valores extremos da TSM do Atlântico Norte nos anos de 1974 e 2005 sobre o regime de precipitação das cidades do Estado do Amazonas

Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ

UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A PRECIPITAÇÃO EM ALAGOAS E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA DE BRISAS MARINHA / TERRESTRE

Roteiro Detecção de informações usando satélites Produtos oriundos de Imagens NOAA Índice de vegetação como indicador de respostas das plantas às cond

VARIABILIDADE INTERANUAL E SAZONAL DA ATIVIDADE CONVECTIVA SOBRE A AMÉRICA DO SUL UTILIZANDO DADOS DIGITAIS DE IMAGENS DE SATÉLITE

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Salinity, Ciclo Hidrológico e Clima

VARIABILIDADE DA CHUVA NA REGIÃO CENTRAL DO AMAZONAS: O USO DO SATÉLITE TRMM

ESTIMATIVA DO ALBEDO E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE UTILIZANDO IMAGENS ORBITAIS PARA O MUNICÍPIO DE BARRA BONITA SP

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

Transcrição:

Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7037 Validação da TSM estimada pelo MODIS na região Nordeste do Oceano Atlântico Sul Arcilan Trevenzoli Assireu 1 Ramon Morais de Freitas 2 João Antônio Lorenzzetti 2 1 Instituto de Recursos Naturais Universidade Federal de Itajubá Av. BPS, 13 B. Pinheirinho, Itajubá MG. arcilan@ltid.inpe.br 2 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE Caixa Postal 515-127-010 - São José dos Campos - SP, Brasil {ramon, loren}@ltid.inpe.br Abstract. Sea surface temperature (SST) from infrared satellite measurements are compared to SST measured by satellite tracked drifters, in the Northwest region of the South Atlantic, taken as reference values. Previous studies indicate that SST variability observed in this region has important influence on the seasonal and longer term precipitation changes on the Northeast Brazil. Mean SST RMSE between MODIS and drifter data are 0.40 C and 0.52 C during day and night, respectively. At night time the SST must be corrected by considering the bias (skin-subsurface) of 0.5 C. Palavras-chave: MODIS, Sea Surface Temperature, Northwest Atlantic Ocean, Produtos MODIS, Temperatura da Superfície do Mar (TSM), Validação da TSM e Oceano Atlântico Nordeste. 1. Introdução A temperatura da superfície do mar (TSM), uma das mais importantes variáveis relacionadas ao sistema oceano-atmosfera, é rotineiramente medida ou estimada a partir de navios, bóias e imagens de satélite. Os mapas de TSM obtidos por satélite fornecem informação importante neste contexto, pois representam uma visão sinótica de uma grande área. Os principais sensores utilizados são os de infravermelho termal e de microondas. Os dados de TSM mais amplamente utilizados são provenientes do Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR) e do Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS). O AVHRR tem uma longa história (em torno de anos) e é amplamente utilizado em vários estudos (Lorenzzetti et al., 10; Lentini et al., 06; Souza et al., 06). O MODIS é um satélite aplicado em estudos de processos terrestres e oceânicos, que possui boa resolução espacial e temporal. Ambos os produtos fornecem medidas de TSM com cobertura global e amplamente utilizada pela comunidade científica. Entretanto, os dados de TSM dos satélites ainda necessitam ser validados para confirmar a aplicabilidade destes dados gerados por sensoriamento remoto. A calibração é necessária porque o instrumento infravermelho do satélite (e seus sistemas de calibração a bordo) deriva ao longo do tempo e existe uma atmosfera bastante variável que afeta a radiação desde a superfície da Terra até o satélite (Emery et al., 01). A forma mais freqüente de validação é a comparação entre a TSM obtida por satélites com medidas in situ realizadas por navios, bóias ancoradas ou derivadores lagrangianos. Vários estudos têm indicado a influência de diversos fenômenos atmosféricos sobre a precipitação na região nordeste do Brasil (Hastenrath & Heller, 1977; Moura & Shukla, 1981; Hastenrath, 1984; Mechoso et al., 1990; Souza et al., 1997; Uvo et al., 1998; Moscati & Gan, 07). Também, estudos climatológicos têm indicado uma forte relação entre a distribuição de TSM ao longo da bacia do Atlântico Tropical e a precipitação sobre o Semi-árido do NEB (Moura e Shukla, 1981; Rao et al., 1999). Assim, a disponibilidade de dados de TSM de boa qualidade é fundamental para o estudo do clima na região nordeste do Brasil. Para isso, é 7037

Número de Observações Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7038 necessário validar os dados de TSM obtidos por satélite, ao longo do Oceano Atlântico Nordeste. Assim, o objetivo deste trabalho é comparar os dados de TSM obtidos pelo sensor MODIS com os dados de TSM medidos por derivadores rastreados por satélite, considerados como medidas in situ. A hipótese de que os dados de derivadores podem ser utilizados como verdade de campo para este tipo de estudo é suportada pelos estudos de Reverdin et al. (10) que analisaram a acurácia dos dados de TSM medidos por derivadores. Os resultados destes autores indicaram uma deriva no sensor de -0,10 C/ano. Considerando que a vida média dos derivadores não ultrapassa um ano, a deriva do sensor de TSM dos derivadores pode ser assumida negligenciável. 2. Materiais e Métodos 2.1 Dados de TSM obtidos por derivadores rastreados por satélite Embora o objetivo principal dos derivadores sejam medidas lagrangianas das correntes de superfície ou sub-superfície, o derivador é equipado também com um termistor que é capaz de fornecer dados de temperatura entre -5 C a 45 C. Os dados relativos à temperatura são transmitidos em 10 bits, o que resulta em uma resolução em C/bit igual a: ΔT/210=[45 C-(-5 C)/210]=50 C/10 0,048 C/bit. (1) Os dados utilizados neste trabalho são provenientes de 210 derivadores lançados na região Nordeste do Atlântico Sul, entre os anos de 1995 e 09 (Fig. 1a). A distribuição espacial dos dados em caixas de 0,5 x0,5 indica a boa cobertura espacial (Fig. 1b). 100 10000 8000 6000 4000-10 -12-14 -16 - Número de observações 0 250 0 150 00 0 1990 1995 00 05 10 Ano - -44-42 -40-38 -36-34 -32 - Figura 1 Histograma anual de observações de TSM realizadas por derivadores (a) e distribuição espacial destas observações em caixas de 0,5 x 0,5 (b). A triagem dos dados de derivadores a serem utilizados nas análises foi baseada na inspeção visual das imagens diárias do MODIS no ano de 06 (ano de maior cobertura de derivadores Fig. 1a) de forma a identificar imagens com significativas porções desprovidas da presença de nuvens. Após isto, os valores de temperatura correspondentes ao pixel da imagem foram mapeados de forma a encontrar os correspondentes nos dados de TSM dos derivadores. Os dados foram comparados com o pixel central (posição do derivador) e também com valores máximos de uma janela da imagem constituída de 3 x 3 pixel cujo pixel central é a posição do derivador. O intervalo de horas entre as medidas do satélite e do derivador foi de no máximo uma hora e trinta minutos. - - 100 50 7038

Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7039 2.2. Dados MODIS O sensor MODIS a bordo dos dois satélites EOS AQUA e EOS TERRA estimam a temperatura da superfície do mar a partir da radiância medida em duas bandas relativas ao infravermelho centradas em torno de 11 μm e 12 μm usadas para as estimativas diurnas, e uma faixa usada para estimativas noturnas em torno de 3.9 μm e 4 μm. O algoritmo para esta região do espectro não é usado para estimativas diurnas, pois os comprimentos mais curtos do infravermelho são contaminados pela reflexão solar. As imagens MODIS podem ser adquiridas gratuitamente no endereço eletrônico http://disc.gsfc.nasa.gov/data/datapool/. Foram utilizados dados com nível 3 de processamento, que corresponde a dados corrigidos dos efeitos atmosféricos e com resolução média de 4km. 2.3. Análise dos dados A preocupação inicial quanto a escolha dos dados baseou-se em uma análise visual nos produtos MODIS AQUA de forma a selecionar imagens com considerável fração desprovida de nuvens. Com o intuito de investigar possíveis diferenças entre os valores noturnos e diurnos, foram utilizados os valores de dois horários de TSM dos derivadores, correspondentes aos horários de passagem do sensor (01:h e 10:h). A partir daí foram construídos dois conjuntos de dados: o primeiro relativo aos valores de TSM estimados pelo sensor MODIS e o segundo com valores de TSM medidos pelos derivadores. Como critérios estatísticos na validação, a fim de se avaliar o grau de ajuste entre os valores observados e estimados, os erros foram quantificados por meio das medidas do Viés (bias) e do RMSE (Root Mean Squared Error). O Viés indica o desvio médio dos valores estimados pelo sensor em relação aos valores medidos pelos derivadores e o RMSE mede a variação dos valores estimados (satélite) em relação aos valores observados (derivadores). O cálculo do RMSE e do Viés podem ser feitos a partir das Equações 2 e 3, respectivamente. 1 n (2) 2 n i 1 RMSE = ts( i) td ( i) ts( i) td ( i) Vies = n Onde ts é o valor de TSM estimado pelo sensor, td é o valor de TSM estimado pelos derivadores e o índice i, de 1 a n, onde n é o número de pares de dados. 3. Resultados e Discussão Análises de regressão foram efetuadas sobre os dados de TSM estimadas a partir do sensor MODIS e os dados de TSM estimados pelos derivadores. Foram selecionadas datas no ano de 06, devido a maior cobertura por derivadores, cujas imagens apresentavam reduzido percentual de cobertura de nuvens. Assim foram utilizadas imagens dos dias (número de regiões): 21/03(01), 15/04(03), 12/05(04), /09(12), /09(12), /11(08), 25/11(08) e 04/12(04). No intuito de investigar a melhor abordagem comparativa entre pixel da imagem e valor pontual medido pelo derivador, as análises foram feitas considerando janelas 3 x 3 cujo pixel central corresponde à posição do derivador, onde foram efetuadas as seguintes comparações: derivador versus pixel central (Fig. 2-a,c) e derivador versus o valor máximo da janela de pixel 3 x 3 (Fig. 2-b,d). Também, tendo em vista investigar variações intradiurnas da relação entre estas grandezas, as análises foram realizadas considerando o período diurno (Fig. 2-a,b) e noturno (Fig. 2-c,d). A despeito da boa correlação entre os dados, percebe-se que os valores de TSM medidos pelo derivador encontram-se sempre abaixo da (3) 7039

Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7040 linha diagonal que descreve a condição ideal: TSM estimada pelo satélite igual a medida pelo derivador (Fig. 2-a,b,c,d). Este viés negativo na relação entre satélite e derivador é confirmado a partir da Tabela 1. A comparação entre os valores de RMSE considerando os dois casos analisados, pixel central e máximo valor da janela 3x3 (Tabela 1), mostra que a análise considerando o valor máximo levou a menores valores de RMSE, o que confirma que o método de escolha do pixel mais quente, para janelas de 3 x 3 pixels, centrado na posição da bóia, é o mais adequado para este tipo de análise. Conforme descrito por vários autores (Barbieri et al., 1983; Araújo 1997), a finalidade deste método é a de minimizar os erros provocados pela presença de nuvens de sub-pixel e minimizar a influência das áreas de frentes oceânicas, onde os gradientes horizontais superficiais são intensos, podendo superar 0,5 C por quilômetro. Assim, as discussões a partir de agora serão desenvolvidas em torno dos valores obtidos a partir da comparação entre os valores de TSM estimados pelo satélite com os valores obtidos a partir do pixel mais quente na respectiva janela 3x3 cujo pixel central é a posição do derivador. Pixel central R 2 = 0,95 máximo 3 x 3 pixel R 2 = 0,98 Pixel central R 2 = 0,89 a) máximo 3 x 3 pixel R 2 = 0,93 b) c) Figura 2 Gráficos de dispersão da correlação entre os dados estimados pelo sensor e observados pelos derivadores considerando o pixel central da imagem 3x3 (a,c) e o pixel mais quente da janela 3x3 (b,d). Os painéis superiores (a,b) correspondem ao período diurno e os painéis inferiores (c,d) correspondem ao período noturno. d) Tabela 1. Estatística básica para a relação entre a TSM medida pelo satélite e a TSM medida pelo derivador. (T sat - T der ) ( C) T sat - T der ( C) RMSE Pixel central Máximo 3 x 3 7040

Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7041 Dia μ = -0,16 σ = 0,44 Noite μ = -0,63 σ = 0,87 μ = 0,35 σ = 0, μ = 0,66 σ = 0,85 0,45 0,40 1,92 1,06 Os valores de RMSE entre dia (0,40) e noite (1,06) apontam para uma diferença importante no nível de ajustes dos dados, indicando uma diferença bastante preocupante nos dados noturnos. Esta diferença também foi observada para os valores de viés (segunda coluna da Tabela 1). Na tentativa de entender estas diferenças, é importante se ter em mente que a temperatura estimada pelo satélite é a temperatura de pele enquanto a medida pelo derivador é tipicamente entre 10 e 15 cm abaixo da linha d água, sendo pois, a rigor, uma temperatura integrada ao longo de uma pequena coluna que varia em função dos movimentos ondulatórios da superfície do oceano a que os derivadores experimentam. Como pode ser visto a partir da Figura 3a, a temperatura de pele (círculo) pode variar de até 0,5 C para a temperatura medida a 5 cm (cruz), às 06:55h. Dentre os perfis mostrados na Figura 3, este é o que melhor representa o comportamento noturno. Vários autores têm estudado a influência do vento para esta análise. Durante períodos de ventos modestos (< 6 m/s), existem diferenças significativas entre a temperatura de pele e a de sub-superfície. Se o vento é mais intenso (> 6 m/s), estas diferenças tornam-se negligenciáveis (Donlon, 02; Barton, 01). Portanto, a informação sobre a condição de vento pode ser muito importante, inclusive para esclarecer os pontos de outliers. Figura 3 Perfis verticais de temperatura durante do dia e noite para o Golfo da Califórnia obtida a partir do perfilador SkinDeEP. Em cada gráfico, o círculo (na superfície) indica a 7041

Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7042 temperatura de pele da água, a cruz indica a temperatura medida in situ a uma profundidade de 5 cm e o asterisco é a temperatura medida por um termosalinógrafo a uma profundidade de 3m. (a) perfil realizado as 06:55h, (b) perfil realizado as 13:09h e (c) perfil realizado as 19:h, todos em hora local.fonte: Adaptado de Donlon et al. (02). Assumindo a hipótese de que a diferença de temperatura indicada na Figura 3a pudesse explicar a grande diferença observada no período noturno, a temperatura medida pelo derivador foi corrigida para o valor esperado de pele pela adição de 0,5 C nos valores noturnos. A estatística da regressão resultante desta correção é apresentada na Figura 4 e Tabela 2. Conforme pode ser observado, tanto o viés quanto o RMSE passaram a ter valores que refletem um melhor ajuste e, portanto, indica a eficiência desta correção para as comparações, no período noturno e, provavelmente, para condições de ventos modestos, para a comparação entre TSM medida pelos derivadores e por satélite. Pixel central R 2 = 0,85 máxima 3 x 3 pixel R 2 = 0,93 Figura 4 Gráficos de dispersão da correlação entre os dados estimados pelo sensor e observados pelos derivadores considerando o pixel central da imagem 3x3 (a) e o pixel mais quente da janela 3x3 (b), após a compensação do viés entre a temperatura de pele e a de subsuperfície para o período noturno. Tabela 2. Estatística básica para a relação entre a TSM medida pelo satélite e a TSM medida pelo derivador, após a compensação do viés entre a temperatura de pele e a de sub-superfície para o período noturno. (T sat - T der ) ( C) T sat - T der ( C) RMSE Pixel central Máximo 3 x 3 Noite / corrigido μ = -0,14 σ = 0,57 a) μ = 0,58 σ = 0,65 1,57 0,52 b) 4. Conclusões Neste estudo foram realizadas comparações entre dados de TSM estimados pelo sensor MODIS e medidos por derivadores rastreados por satélite. As comparações foram realizadas sob duas abordagens tendo-se considerado janelas 3 x 3 cujo pixel central era a posição do derivador em que, numa comparação, foi considerado diretamente o pixel central e a outra foi realizada com o pixel mais quente dentro da janela. Os resultados confirmaram que a utilização do pixel mais quente leva a melhores ajustes refletidos pelos valores de viés e RSME. As análises foram realizadas para períodos noturnos e diurnos. Os resultados indicaram que, para as análises noturnas, uma correção de viés devido a diferenças entre temperatura de pele e a efetivamente medida pelos derivadores, aumenta substancialmente a 7042

Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, de abril a 05 de maio de 11, INPE p.7043 significância da análise. Baseado nos resultados e discussão apresentados, conclui-se neste trabalho que os valores de RMSE tanto durante o dia (0,40) quanto a noite (0,52) (após a correção de viés devido a questões amostrais discutidas no trabalho) indicam que os dados de TSM gerados pelo MODIS apresenta acurácia muito próxima das exigidas pelos modelos climatológicos, sendo, portanto, adequado para estudos de monitoramento e previsão de processos oceânicos e de interação oceano-atmosfera. Para estudos futuros sugere-se que o campo de vento, no momento das medidas, seja levado em conta, pois pode fornecer importantes subsídios para a compreensão de prováveis outliers. Agradecimentos O primeiro autor agradece a Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPEMIG pelo apoio. Referências Bibliográficas Araújo, C. E. S. Avaliação da acurácia das temperaturas da superfície do mar obtidas por satélite para a região Sul-Sudeste da costa brasileira. 1997. 1p. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, SP. 1997. Barbieri, R.W. ; McClain, C.R. ; Endres, D.L. Methodology for interpretation of SST retrievals using the AVHRR split window algorithm. Greenbelt, Maryland:NASA, Sept. 1983. (NASA Technical Memorandum 85100). Donlon, C. J., P. J. Minnett, C. Gentemann, T. J. Nightingale, I. J. Barton, B. Ward, M. J. Murray. Toward Improved Validation of Satellite Sea Surface Skin Temperature Measurements for Climate Research. Journal of Climate, Vol.15, p. 353 369, 02. Emery, W. J., D. J. Baldwin, P. Schlüssel, and R. W. Reynolds. Accuracy of in situ sea surface temperatures used to calibrate infrared satellite measurements. Journal of Geophysical Research. Vol.106, p. 2387 05, 01. Hastenrath, S. and Heller, L. Dynamics of climatic hazards in Northeast Brazil. Quarterly Journal of the Royal Meteorological Society. Vol. 102, p. 77 92, 1977. Lentini, C. A. D., Goni, G. J., Olson, D. B. Investigation of Brazil Current rings in the confluence region. Journal of Geophysical Research, Vol. 111, C06013, 06. Lorenzzetti, J. A. ; Stech, J. L. ; Mello Filho, W. L.; Assireu, A. T. Satellite observation of Brazil Current inshore thermal front in the SW South Atlantic: Space/time variability and sea surface temperatures. Continental Shelf Research, Vol. 7, p. 48-59, 09. Mechoso, C.R.; Lyons, S.W. and Spahr, J.A. The impact of sea surface temperature anomalies on the rainfall over Northeast Brazil. Journal of Climate. Vol. 3, p. 812 8, 1990. Moscati, M. C. L., Gan, M. A. Rainfall variability in the rainy season of semiarid zone of Northeast Brazil (NEB) and its relation to wind regime. International Journal of Climatology,. Vol. 27, p. 493 512, 07. Moura, A.D. and Shukla, J. On the dynamics of droughts in northeast Brazil: observations, theory e numerical experiments with a general circulation model. Journal Atmospheric Science. Vol. 38, p. 53 75, 1981. Reverdin, G., and Coauthors. Temperature Measurements from Surface Drifters. Journal of Atmospheric and Oceanic Technology, Vol. 27, 1403 1409, 10. Souza, R. B., et al. Multi-sensor satellite and in situ measurements of a warm core ocean eddy south of the Brazil-Malvinas Confluence region. Remote Sensing of Environment, Vol. 100, p. 52-66, 06. Uvo, C.B.; Repelli, C.A.; Zebiak, S.E. and Kushnir, Y. The relationship between tropical Pacific and Atlantic SST and Northeast Brazil monthly precipitation. Journal of Climate. Vol. 11, p. 551 562, 1998. 7043