TITULO DO PLANO DE TRABALHO: ÀS RELAÇÕES ENTRE FALA E LEITURA EM ESCOLAS PARTICULARES PÚBLICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL I NA CIDADE DE JOÃO PESSOA

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Transcrição:

35 TITULO DO PLANO DE TRABALHO: ÀS RELAÇÕES ENTRE FALA E LEITURA EM ESCOLAS PARTICULARES PÚBLICAS DE ENSINO FUNDAMENTAL I NA CIDADE DE JOÃO PESSOA Izete de Souza Lima (UFPB/PIBIC/CNPq) José Welisten Abreu de Souza (UFPB/PIBC/CNPq INTRODUÇÃO A análise de vários processos lingüísticos ocorrentes na fala espontânea da sociedade levou-nos a observar o comportamento desses fenômenos quando se trata da leitura. Com as pesquisas realizadas voltadas para vários processos lingüístico e conhecedor do comportamento variável da comunidade pessoense quando se trata da fala, o nosso projeto tem como objetivo averiguar se as marcas dialetais, que envolvem os diversos processos fonológicos pesquisados até aqui, se fazem presentes no ato de ler. Vinculado ao projeto Variação Linguistica da Paraíba (VALPB) nosso projeto se fundamenta na Teoria da Variação, proposta por Labov. A década de presenciou o aparecimento da primeira proposta concreta para tratar a questão da variação e mudança na língua, com o trabalho de Weinreich, Labov e Herzog (198), cujo objetivo era descrever a língua e seus determinantes sociais e lingüísticos, levando em conta seu uso variável. Este modelo teórico-metodológico busca evidências na relação intrínseca existente entre língua e sociedade, utilizando-se de modelos matemáticos e admitindo a heterogeneidade lingüística dos falantes como passível de sistematização. Assim, observa-se qual elemento, social e/ou lingüístico, influenciam no contexto onde se configura a formação de cada variante. Os estudos sociolingüísticos realizados no Brasil, desde a década de 7 do século passado, acerca de diferentes níveis lingüísticos, têm proporcionado avanços que contribuem para que se trace um perfil dos falares brasileiros. Desde seu início em 1993, a ênfase dada às pesquisas desenvolvidas pelo Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba (VALPB) tem sido direcionada para avaliar processos variáveis que dizem respeito a questões segmentais. Os resultados obtidos têm possibilitado traçar o perfil sociolingüístico da comunidade de João Pessoa, partir do panorama nacional, no que concerne a processos que envolvem inserção, substituição e apagamento de segmentos (cf. HORA, ). Esses resultados, por sua vez, contribuem para o entendimento de como o Português Brasileiro se comporta quando se trata de observar, por exemplo, as consoantes em posição de coda, a ditongação, a monotongação dos ditongos crescentes, a vogal média em posição pretônica, a átona não-final das proparoxítonas, o apagamento do /d/ no grupo ndo etc. Os primeiros estudos revelaram-se bem descritivos e tiveram como principal objetivo delinear o perfil do falante brasileiro com suas possibilidades de dizer a mesma coisa de forma diferenciada. Com o passar do tempo, novas perspectivas foram surgindo, muitas delas com aplicações teóricas da Lingüística contemporânea, mas ainda voltadas para aspectos, em sua maioria, estruturais. O conhecimento dos resultados obtidos a partir do modelo teórico-metodológico laboviano (LABOV, 19, 197), no plano fonológico, possibilitou contribuir de outra forma, analisando, dentre outras coisas, por exemplo, a relação entre fala e escrita, partindo-se do pressuposto de que, para muitos falantes, a escrita é mero reflexo da fala. Assim, os processos fonológicos que inserem, apagam e permutam segmentos, facilmente detectados na fala são reproduzidos na leitura. A partir dessas informações, podemos afirmar que o nosso projeto, pautado no estudo sociolingüístico, oferecerá a oportunidade de se fazer um estudo descritivo e sincrônico dos fenômenos da fala, comparando-os com a leitura. Possibilitará também, a chance de uma projeção histórica das possíveis realizações dos processos lingüísticos analisados, no sistema sociolingüístico da comunidade pessoense. Analisaremos os seguintes processos lingüísticos: 1) comportamento de consoantes em posição de coda; ) monotongação; 3) apagamento do /d/ no grupo NDO; ) redução da postônica não-final ; e 5)

353 ditongação, presentes na fala espontânea e que ocorrem na leitura. Sob o prisma da Teoria da Variação, nosso trabalho trata desses fenômenos em textos escolares do ensino Fundamental da primeira fase. É nosso objetivo analisar se do mesmo modo que esse fenômeno ocorre frequentemente na fala, independente do local social em que um falante se encontra, há um reflexo direto na leitura. Tem-se consciência de que a leitura de que se trata aqui não é a que a maioria dos pesquisadores tem tratado hoje, principalmente a pesquisada por aqueles que discutem questões de letramento. Consideramos, aqui, a leitura, ainda no seu aspecto relacionado à decodificação, trabalho esquecido, principalmente pelas propostas mais atuais, mas que a falta de seu exercício tem contribuído, em muito, para o fracasso dos alunos. Não é incomum ouvir-se dizer que os alunos chegam ao Ensino Médio sem saber ler, e este saber ler não envolve apenas questões de compreensão do texto lido, mas, principalmente, a decodificação do que está sendo lido. Esta proposta se pauta, principalmente, nas pesquisas que Labov têm realizado com sucesso nos Estados Unidos, utilizando como participantes grupos considerados minoritários que apresentam dificuldades no processo de leitura em relação a determinados processos fonológicos. Há, segundo Labov, Baker (1) boas razões para acreditar que traços específicos da estrutura lingüística se correlacionam, em grande parte, a problemas de leitura. A análise lingüística de erros de leitura mostra que a dificuldade na decodificação está diretamente relacionada com o grau de correspondência entre a estrutura de superfície da língua falada e da língua escrita. Nossas atividades se pautaram inicialmente, na leitura da teoria proposta para o desenvolvimento do projeto. Reunimos-nos em um grupo de estudo criado e orientado pelo Profº. Dr. Dermeval da Hora Oliveira. Nesses encontros lemos os textos que contribuíram para o embasamento teórico do tema proposto pelo nosso plano de trabalho. Fizemos a seleção do texto que aborda os processos analisados nesta pesquisa. Depois de examinarmos e debatermos o assunto por meio de argumentos chegamos a fase de criação das frases utilizadas para a coleta dos dados. Não foi fácil, tendo em vista a quantidade de processos lingüísticos abordados aqui. Passada essa etapa, iniciamos a atividade de coleta dos dados. Após a coleta iniciamos a análise dos dados, visto a existência de vários processos fonológicos a serem analisados em nosso projeto, optamos por considerarmos, neste primeiro momento a influência da fala na leitura levando em conta apenas os dos fatores extralingüísticos. Fato este que permite a continuidade do projeto. 1. METODOLOGIA Para o levantamento do corpus iniciamos a coleta de dados com escolares do Ensino Fundamental I, fizemos entrevistas com alunos da rede particular da cidade de João Pessoa. O primeiro passo para a escolha dos materiais utilizados foi à árdua seleção de um texto onde abrigasse os processos destacados, que são: ao comportamento de consoantes em posição de coda, ao processo de monotongação, ao apagamento do /d/ no grupo NDO, a redução da postônica não-final e ao fenômeno de ditongação. Não foi uma tarefa fácil, devido à intensa procura em diversos livros, buscando um texto que servisse para todas as etapas do ensino fundamental I. Depois do texto selecionado foi a vez da escolha das frases utilizadas para a realização da pesquisa. Iniciamos a procura, porém, dada a dificuldade de encontrarmos sentenças que abrigassem os processos acima descritos, decidimos criá-las. O texto e as frases foram apresentados aos alunos em folhas de papel A, devidamente plastificado para a posterior utilização do material. Sabendo da importância da imagem para a criança, inserimos figuras que dialogassem com as leituras. Utilizamos aparelhos digitais para o armazenamento dos arquivos analisados. A primeira variável extralingüística a ser analisada foi sexo. Inseridos no campo da análise sociolingüística e embasados nos trabalhos de HORA, avaliamos a distinção entre alunos e alunas. O segundo fator externo foi ano de escolarização. Os estudos da Sociolingüística mostram uma relação diretamente proporcional entre a variável grau de escolaridade e o uso ou das formas de prestígio ou

35 estigmatizadas, isto é, constata-se o uso mais freqüente das formas lingüísticas padrão (Português Standard) por falantes com maior grau de escolarização. O primeiro fator interno analisado foi o comportamento de consoantes em posição de coda. Sobre a representação fonológica da sílaba destacaremos a proposta por Selkirk (198, - apud HORA e PEDROSA em Português Brasileiro II, 8, p.81), segundo o qual a sílaba pode ter os seguintes constituintes: há uma divisão principal da sílaba em ataque (A) e rima (R), e por sua vez, a rima se divide em núcleo (N) e coda (c), conforme podemos comprovar no diagrama a seguir: σ Ataque Rima Núcleo Coda Fonte: Selkirk (198), apud Hora e Pedrosa (em Português Brasileiro II, 8, p.81). Vários estudos apontam o apagamento de consoantes em posição de coda principalmente no final de palavra, pois, sendo esta a posição mais débil tanto na sílaba quanto na palavra reforça este comportamento. Analisamos o apagamento da variante /R/ e a fricativa alveolar surda pós-vcálica /S/. Muitos estudos têm se voltado para a questão do apagamento das variantes do /R/, especialmente em final de palavra. σ (= sílaba) Ataque Rima Núcleo Coda /m/ /o/ /r/ à a.mor, com o /r/ na posição de coda final passível de apagamento. Em alguns desses estudos, comprovou-se o papel condicionador que exercem alguns fatores extralingüísticos, como a faixa etária, o sexo e a escolaridade do falante, e lingüísticos, como o contexto fonológico, a classe morfológica e a dimensão do vocábulo, dentre outros. No tocante a fricativa alveolar surda pós-vocálica, observamos que a mesma tem sido alvo de diversos estudos no tocante as variações sofridas por esse segmento e seu apagamento quando localizada em especial na posição de coda. σ (= sílaba) Ataque Rima Núcleo Coda /g/ /o/ /s/ à gos.to, com o /s/ na posição de coda medial passível de apagamento.

355 A monotongação, o segundo fator linguístico analisado, é resultado de uma tendência fonética histórica de apagamento da semivogal nos ditongos crescentes ou decrescentes, ou seja, é a redução fonética da semivogal. Os falantes costumam no caso da monotongação apagarem a semivogal como, por exemplo: dinheiro é pronunciado dinhêro, roupa ropa. Essa redução é muito comum na fala, pois todo falante tende a economizar, e assim procurar reduzir ao máximo, sem que perca a compreensão. Essa redução acontece, mas não há uma perca de significado. Quando o falante Realiza [pexe] qualquer que seja o ouvinte do português, saberá que se trata da palavra peixe. No modelo de representação fonológica da sílaba de Selkirk (198) este apagamento, pode ser assim representado: σ (= sílaba) Ataque Rima Núcleo Coda /p/ /e/ // à pei.xe, com o glide /j/ apagado (). O processo de apagamento da oclusiva dental /d/ no grupo ndo é já há muito tempo estudado pela literatura. Baseamos-nos em Hora e na Tese de Iara Martins, 1, em que pudemos concluir que esse processo fonológico dá-se devido à tentativa de o falante tornar a produção da fala mais fácil de realizar, pela possibilidade de os sons adjacentes poderem ser reduzidos imprimindo-se a lei da redução de esforço, contudo, isso ocorre sem prejuízos para o entendimento dos ouvintes. Temos, por exemplo: subin/d/o um falante pode apagar o /d/ realizando subin//o sem que haja, assim, prejuízo para o entendimento. Podemos dizer que em João Pessoa o caráter não estigmatizante desse processo é mantido. A redução ou síncope da postônica não-final é uma regra muito antiga: passou pelas frases evolutivas do latim, instalou-se no Português Brasileiro, e até hoje vem acontecendo como uma característica da língua em transformar palavras proparoxítonas em paroxítonas. É relevante observarmos que as palavras proparoxítonas são menos produtivas em nossa língua, por isso, encontramos na literatura que o PB pode ser considerado uma língua paroxítona. Seguindo na lei de redução de esforço o falante prefere reduzir a sílaba postônica não-final realizando um output melhor inserido na estrutura do PB. Por exemplo, xícara ~ xícra, estômago ~ estongo. O processo de ditongação que avaliaremos é o resultante da inserção do glide [y] em sílabas travadas por sibilantes, como em f[az] ~ f[ays]; [as] ~ [ays]. Trataremos esse fenômeno segundo a proposta, pertinente, de opcionalidade, assim sendo, a ditongação possui sua natureza sistemática em variação livre, ou seja, formas diferentes de se dizer a mesma coisa sendo a realização ou não-realização do input satisfatório (isto é, input padrão), sem que haja prejuízos na compreensão respeitando a competência de cada falante, uma vez que, não poderíamos determinar (por regra obrigatória) o desempenho lingüístico dos falantes.. RESULTADOS E DISCUSSÕES.1. Comportamento de consoantes em posição de coda.1.1. Apagamento da vibrante pós-vocálica

35 3,5 5 35 3,5 1,5 1 3 5 15 5 a. Série Alguns estudiosos acreditam que falantes do gênero feminino possuem uma preocupação maior no tocante a fala, aproximando-se à norma culta. A literatura sociolingüística aponta as mulheres como falantes que mais utilizam a forma padrão, pois de acordo com Scherre (apud Saraiva, 1, p. 71) A conclusão mais segura que parece se poder estabelecer até o presente momento é que há uma tendência geral de as mulheres se aproximarem do padrão e de os homens se distanciarem dele. Logo, o gráfico com fator sexo mostra que as meninas apagaram bem menos do que os meninos, o que prova que nossa hipótese de que as mulheres estão mais para a norma padrão que os informantes do sexo masculino, foi, portanto, confirmada. Com relação ao grau de escolaridade o gráfico aponta um dado curioso: os alunos da primeira série apagaram bem mais do que os estudantes da segunda série. Todavia, a hipótese de que o processo de apagamento ocorre mais à medida que o grau de escolaridade aumenta é confirmada na passagem da segunda para a terceira série. Portanto, acredita-se que os alunos de séries mais avançadas teriam uma maior fluência na leitura, isto porque, devido seu léxico ser mais amplo, em palavras conhecidas o aluno procura reproduzir fielmente a maneira como ele pronuncia. Como o apagamento do /R/ em posição de coda é uma marca dialetal em João Pessoa, os discentes tendem a repetir da forma como está presente no falar da sua comunidade..1.. Apagamento da fricativa alveolar surda pós-vocálica 1 1 8 8 ª série

357 A fricativa alveolar surda pós-vocálica tem sido alvo de diversos estudos no tocante as variações sofridas por esse segmento e seu apagamento quando localizada em posição de coda, tanto medial como em final de palavras. Como dissemos anteriormente, os estudos sociolingüísticos apontam falantes do gênero feminino como as usuárias da forma padrão. Assim como imaginado essa variável apresentou um comportamento estatístico convergente. Como se pôde observar no gráfico 3, foram os meninos que mais apagaram o /S/. Os estudos da Sociolingüística mostram uma relação diretamente proporcional entre a variável grau de escolaridade e o uso ou não das formas de prestígio ou estigmatizadas, isto é, constata-se o uso mais freqüente das formas lingüísticas padrão por falantes com maior grau de escolarização. Assim, observamos a influência que o grau de escolaridade exerceu sobre as realizações do /S/ em posição de coda. O apagamento desse segmento predominou nos grupos de falantes das séries inicias e a permanência ocorreu com maior freqüência entre os alunos das séries mais avançadas... Monotongação 8 8 5 8 8 78 7 7 7 3 ªsérie 7 O gráfico indica como a fala é influenciadora no ato de ler. Ao analisarmos o fenômeno de monotongação constatamos uma maior ocorrência em falantes do gênero feminino. Isso ocorra talvez, devido elas possuírem um léxico mais amplo, o que permite uma maior fluência na leitura. Assim procedendo, a monotongação ocorre devido à leitura fluir contínua, não ocorrendo paradas constantes. De maneira geral, pode-se chegar, a partir da observação do gráfico, a seguinte conclusão: há uma elevação significativa do fenômeno de monotongação da terceira para a quarta série, apesar de ter ocorrido o inverso no passar da primeira para a segunda respectivamente. Cremos que isso se deva talvez a nessa fase, ou seja, nas séries iniciais, os alunos terem certa dificuldade na realização das sílabas complexas..3. Apagamento do /d/ no grupo NDO

358 1 8 5 3 1 ª Série O maior índice de apagamento da oclusiva dental /d/ deu-se, como nos mostra o Gráfico 7, em maior ocorrência nos informantes do gênero feminino. O fato desse apagamento em maior número nos informantes femininos, talvez, deve-se a um maior desprendimento no ato da leitura, fato que as deixam mais livres, logo, mais susceptíveis a influência do falar na leitura Com isso, podemos constatar que as mulheres confirmam a nossa hipótese de que o falar exerce influência na leitura. Para a variável grau de escolaridade, porém, percebemos que conforme seja maior a exposição à escola a tendência é o apagamento da oclusiva dental /d/, podemos perceber neste grupo que quanto maior o grau de escolaridade maior o uso na lei de redução de esforço. No entanto, Percebemos um declínio do apagamento na passagem da terceira para a quarta, fato que, por um número reduzido de falantes e não desconsiderando o desempenho lingüístico de cada falante, este não afeta a nossa hipótese... Redução da postônica não-final 3 3,5,5 1,5 1 1,5 1 ª série,5,5 Com relação a variável sexo podemos perceber que não há diferenciação, talvez pelo fato de em nosso corpus existir apenas cinco palavras que privilegiassem a redução da postônica não final. No entanto, entre elas tivemos um comportamento interessante a respeito da palavra sétima / sεtima/, deu-se setima /sε tima/, fato que pode ser explicado utilizando com base nos trabalhos de Bisol (Apud. Bisol, 1999), em que as palavras do português utilizam o troqueu silábico, sendo acentuada a penúltima sílaba. Apesar do pequeno número de ocorrência, podemos observar no que apresenta o grau de escolaridade, mais uma vez, a influência da fala no ato de ler. Como nos mostra o gráfico a ocorrência da redução da postônica não final ocorre conforme o grau de escolaridade aumenta, talvez, devido o domínio da leitura, os alunos ficam mais a vontade, fato que os levam a reproduzir a fala espontânea no ato de ler. No entanto, percebemos um declínio considerável da redução na passagem da terceira para a quarta série, que podemos atribuir ao número reduzido de palavras que influenciam este fenômeno, além do número

359 reduzido de informantes, o que nos leva a considerar o desempenho lingüístico de cada falante, logo, esse declínio não afeta a nossa hipótese..5. Ditongação 5 1 15 8 ªSérie 5 (Apud. AQUINO, 1998) o sexo do falante não apresenta correlação significativa com a variável lingüística de ditongação. Também para LEIRIA (apud. LEIRIA, 1995) a variável extralingüística sexo não possui relação estatística, isto é, analisando o gráfico podemos afirmar que a manifestação deu-se de forma praticamente neutra, com isso, podemos concluir que esta variável não é estatisticamente relevante para o processo de inserção do glide [y], ou seja, para a ditongação. Nossa hipótese era de que inversamente proporcional ao nível de escolaridade, isto é, quanto maior fosse o grau de escolarização menor seriam as ocorrências de ditongação. Embora percebamos uma quase neutralização dos dados, entre a primeira série e a terceira, em que há uma maior maturidade, há uma diferença, ou seja, um declínio relativo num comparativo com a quarta série. E, ainda, não deve-se desconsiderar o fato de redução brusca com relação a primeira e a segunda séries. Consideramos, portanto, que nossa hipótese foi confirmada. CONCLUSÕES Apesar dos resultados alcançados, temos consciência que este trabalho não termina aqui. Vimos a importância do conhecimento da influência dos processos fonológicos ocorrentes na fala quando se trata da leitura, no entanto, para uma melhor apreciação da relação fala/leitura, é necessário uma análise mais ampla dos processos selecionados, já que nos detivemos apenas a análise dos fatores extralingüísticos. Todavia, foi uma experiência muito edificadora e que nos auxiliará em futuras pesquisas. Este trabalho serviu para aguçar, ainda mais, a nossa curiosidade em relação ao tema. As pesquisas realizadas nos darão, com a sua continuidade, a possibilidade de com uma análise mais minuciosa dos dados obtidos, elaborar material didático que possibilite tratar os diferentes processos fonológicos variáveis de forma a facilitar a aquisição da leitura por alunos do Ensino Fundamental. Sabemos que estamos no inicio de um grande projeto que nos possibilitará um campo muito vasto de pesquisa e que jogamos a semente, esperançosos que frutifiquem. REFERÊNCIAS AQUINO, Maria de Fátima de Souza. A ditongação na comunidade de João Pessoa: uma análise variacionista. João Pessoa: UFPB. 1998 BISOL,Leda (org.) (1999). Introdução a Fonologia do Português Brasileiro; Porto Alegre

357 HORA, Dermeval. Estudos sociolingüísticos: perfil de uma comunidade. Santa Maria: Pallotti,. LABOV, William. 19.The social stratification of English in New York City. Washington D.C. Center of Applied Linguistics, 19.. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: Pennsylvania University Press, 197. ; BAKER, Bettina. What is a reading error? September, 3. mimeo.. The individualized reading program: reading for the Real World,, mimeo. et al. A graphemic-phonemic analysis of the reading errors of inner city children. mimeo,. LEIRIA, Lúcia Lovato. A ditongação variável em sílabas tônicas finais travadas por /S/. Porto Alegre. 1995. SARAIVA, Carlos Alberto Moreira. As múltiplas realizações do fonema /s/ em posição de coda na fala do cretense. Dissertação de Mestrado. João Pessoa: UFPB. 1. SELKIRK, Elisabeth O. The syllable. In HULST, Harry van der; SMITH, Norval. The structure of phonological representations. Dordrecht: Foris Publications,198. part II, P 337-383