Gerente de Projeto do Departamento de Economia e Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente.



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Transcrição:

USO DE MECANISMOS DE PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS NA CONSERVAÇÃO DO SOLO E ÁGUA. Shigeo Shiki 1 Introdução A louvável iniciativa da Agência Nacional de Águas (ANA) para integrar ações governamentais para a conservação do solo e da água veio num momento oportuno para chamar a atenção para o problema da mudança no uso da terra no Brasil. O mau uso do solo pelas práticas agrícolas insustentáveis, entre as quais o desmatamento e queimadas, a construção inadequada de estradas e outras obras de infra-estrutura, a não observância de critérios do zoneamento agrícola têm sido apontados como alguns dos males causadores de milhões de hectares de terras degradadas no Brasil. A ameaça imediata é a queda na produção de alimentos e fibras pela queda de produtividade dos solos e na produção de água alimentadora das grandes bacias hidrográficas pela falta de conservação das matas ciliares e erosão dos solos. Em outros termos, existe um processo de redução acentuada dos serviços ecossistêmicos ou ambientais, com grandes prejuízos para os proprietários da terra e para a sociedade toda. O conceito de pagamento por serviços ambientais pode ser um instrumento útil para contribuir na reversão deste quadro que se apresenta dramática em algumas regiões. A erosão gera perdas de fertilizante, calcário e adubo orgânico da ordem de R$ 7,9 bilhões por ano e se acrescentarmos o efeito da erosão na depreciação da terra e outros custos conservação das estradas, tratamento de água, teriam um total de R$ 13,3 bilhões de prejuízo por ano, segundo estimativa do GEO Brasil (2002). Para a elaboração do Plano Nacional de Combate à Desertificação, concentrada no Nordeste Brasileiro, o MMA calcula ainda que 1,5 milhões de km² ou 154,9 milhões de hectares estão com algum processo de degradação. Outros problemas como a arenização, salinização e contaminação da água por fertilizantes e agrotóxicos constituem preocupação conservacionista (Geo Brasil, 2002). Estes dados mostram a enorme perda da capacidade dos ecossistemas em prover serviços ambientais necessários ao bem estar humano e ressaltam o tamanho do desafio para o governo e para os proprietários de terra. Este texto procura trazer alguns elementos do conceito de pagamentos de serviços ambientais como um instrumento inovador de política para subsidiar programas de conservação de solo e água. 1. Evolução conceitual de conservação do solo e água Programas de conservação do solo e água no mundo têm um caso emblemático nos Estados Unidos da América e Canadá na década de 1930, período de severas tempestades de poeira conhecidas como Dust Bowl, que causaram enormes prejuízos agrícolas e ambientais nas terras de pradaria. Causadas pelo mau uso da terra, em décadas de produção extensiva e sem técnicas preventivas de erosão, milhões de hectares de terra tornaram-se improdutivas e centenas de milhares de pessoas foram forçados a migrar em direção ao Oeste, principalmente os sem terras (arrendatários). A tragédia foi descrita por Steinbeck em Vinhas da Ira, um romance clássico ganhador do Prêmio Pulitzer (Joy, 1995). Em 1933, uma das primeiras medidas do Presidente americano na época, Franklin Roosevelt foi criar o Serviço de Conservação do Solo, hoje ampliado para Serviço de Conservação de Recursos Naturais. 1 Professor titular doutor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia e Gerente de Projeto do Departamento de Economia e Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente.

O Brasil recebeu fortes influências desta experiência americana, que difundiu práticas mecânicas de conservação do solo, como curvas de nível, terraços e rotação de culturas, sobretudo a por meio do Programa Usaid de Cooperação Técnica e os Ministérios da Agricultura e da Educação. Comissões temáticas foram criadas para dar origem, ainda na década de 1950 ao sistema ACAR (Associação de Crédito e Assistência rural) e a Comissão de Solos do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPA). O próprio sistema de classificação de solos utiliza o modelo americano, resultante desta cooperação. Programas mais recente na história da conservação do solo e água no Brasil tem uma abordagem territorial de microbacias hidrográficas como unidade de planejamento, que permite o manejo integrado do espaço. Representa um avanço conceitual porque permite integrar elementos ambientais de difícil solução quando a unidade de planejamento é a propriedade individual de produção rural. Elementos ambientais como confluência de água, matas ciliares, pequenos lagos, reservas de biodiversidade, traçado de estradas e conectividade são passíveis de planejamento integrado no espaço de microbacia, com ganhos conservacionistas óbvios para todos. Iniciou no Paraná, com o programa Paraná Rural, mas hoje estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro entre outros adotam esta mesma política conservacionista e se difundem mundo afora (Silva, 1994, Fleishfresser, 1999). O programa de microbacias do Rio de Janeiro tem o apoio financeiro do Global Environmental Facility (GEF), que financia somente programas que tragam um claro ganho ambiental. Isto significa que o GEF reconhece nestes programas ganhos ambientais adicionais ou provimento real de serviços ambientais dos ecossistemas no espaço conformado pelas microbacias. 2. Conceito de Pagamentos por Serviços Ambientais A noção de pagamentos por serviços ambientais vem recebendo atenção crescente com algumas experiências bem sucedidas como as da recuperação da cobertura florestal devastada ao longo de décadas pela agricultura predatória na Costa Rica e na proteção dos rios que abastecem de água que abastece a cidade de Nova York. Há um crescente reconhecimento de que a economia e meio ambiente não são mundos distintos, mas que o bem estar da sociedade humana depende diretamente da capacidade dos ecossistemas de proverem serviços ambientais. O estudo do economista inglês Nicholas Stern (2006) recentemente divulgado mostra que é mais barato mitigar os impactos das mudanças climáticas agora do que não fazer nada e pagar pelos prejuízos das catástrofes que já estão acontecendo em maior intensidade e freqüência. O atual modo de produzir e consumir, fortemente embasada na matriz energética de origem fóssil, vem gerando gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global, alterando o funcionamento dos ecossistemas. É o que comprova definitivamente o último relatório do IPCC (2007), que, junto com os estudos de Stern, vem provocando alterações estratégicas nas relações econômicas internacionais. Estudos com modelos regionais coordenados pelo pesquisador José Marengo, do INPE apontam cenários de alterações severas no regime de chuvas, podendo prejudicar regiões de alta produtividade agrícola do Centro-Sul, com impactos diretos na economia. Outra forma expressar esta realidade é o reconhecimento do valor dos ecossistemas e dado que grande parte dos valiosos serviços ambientais são gratuitamente acessíveis na natureza, e portanto, não sancionados pelo mercado. Há uma imensa riqueza contida numa floresta em pé (biodiversidade, estoque de carbono), mas não entra na contabilidade nacional como tal. Há alguns ensaios de contabilização do que se chama de capital natural proposta por acadêmicos (Costanza et al. 2004), construindo um índice computando a variação do

inventário natural denominado Índice de Progresso Genuíno (GPI). Em adição ao Produto Interno Bruto (PIB) em valores da paridade do poder de compra (PPC), o Produto de Serviço Ecossistêmico ou Ambiental (PSE) dá uma dimensão da variação do valor do estoque de recursos naturais. Sutton e Costanza (2002) calcularam este índice para todos os países do mundo e o resultado para o Brasil apontou o produto ambiental 2,5 vezes maior que o PIB, num total de US$ 3.561,66 bilhões. Com o desmatamento e queimadas, o manejo predador da terra que produzem perdas de serviços ambientais, esta conta diminui e a cada vez que esforços são feitos para recuperar áreas degradadas com reflorestamento, boas práticas agrícolas, esta conta aumenta. Os pagamentos por serviços ambientais nada mais são do que mecanismos de compensação econômica aos provedores, isto é, aqueles que fazem aumentar a capacidade dos ecossistemas de restaurar ou melhorar suas funções. O conceito de serviços ambientais ou ecossistêmicos mais aceito e internacionalmente utilizado é o oferecido pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MA, 2003), que os classifica em Serviços de Suporte, Aprovisionamento, de Regulação e Culturais, conforme Quadro abaixo. Q uu aa dd rr oo 11 - A vv aa l i aa çç ãã oo E cc oo ss ss i ss t êêm i cc aa dd oo Mi l êê nn i oo - SS ee rr vv i çç oo ss Am bb i ee nn t aa i ss Serviços de Aprovisionamento Serviços de Regulação Serviços Culturais Produtos obtidos dos ecossistemas Benefícios obtidos da regulação de processos ecossistêmicos Benefícios intangíveis obtidos dos ecossistemas ALIMENTOS REGULAÇÃO DO CLIMA ESPIRITUAIS E RELIGIOSOS ÁGUA DOCE REGULAÇÃO DAS PAISAGÍSTICO DOENÇAS FIBRAS REGULAÇÃO DA ÁGUA ESTÉTICOS PRODUTOS QUÍMICOS PURIFICAÇÃO DA ÁGUA SENTIDO DE LUGAR RECURSOS GENÉTICOS POLINIZAÇÃO PATRIMÔNIO CULTURAL MADEIRA INSPIRADORES Serviços de Suporte Serviços necessários para a produção de todos os outros serviços ecossistêmicos FORMAÇÃO DO SOLO CICLAGEM DE NUTRIENTES VIDA NA TERRA BIODIVERSIDADE Fonte: Millenium Ecosystem Assessment, 2003. PRODUÇÃO PRIMÁRIA Ecossistema, segundo o MA, significa uma dinâmica complexa de comunidades de planta, animal e microorganismos e seu ambiente não vivo interagindo como uma unidade funcional. Ecossistemas variam daqueles relativamente não alterado, como as florestas naturais, as zonas costeiras, a paisagens com padrões mistos de uso humano e ecossistemas que são intensamente manejados e modificados pelos homens, tais como terras agrícolas e áreas urbanas. Os serviços ecossistêmicos ou ambientais são os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas. Estes incluem os serviços de aprovisionamento tais como alimento, água, madeira e fibra; serviços de regulação que afetam o clima (seqüestro de carbono), enchentes, doença, dejetos e qualidade da água; serviços culturais que provêem benefícios recreacionais, estéticos e espirituais; e serviços de suporte tais como a formação do solo, fotossíntese e ciclagem de nutrientes. São funções de um ecossistema que provêem valores diretos ao bem-estar dos humanos, por meio da manutenção de um meio ambiente saudável. Note-se que dentre os benefícios estão produtos tangíveis e valorizados,

mercadorias transacionadas e consumidas sob diversas formas conforme a disponibilidade e capacidade de tecnologia e investimentos produtivos. Daily e Ellison (2002) notam que os serviços ecossistêmicos fornecem, não somente alimento, mas limpam o ar e a água da Terra, protegem os elementos e oferecem serenidade para os espíritos humanos. As florestas purificam a água e reduzem os riscos potenciais de enchentes, seca e deslizamentos. Estas mesmas florestas abrigam pessoas das tempestades do inverno e o calor do verão e provê casas para muitos dos seus outros habitantes. Mais ainda, ajudam a estabilizar o clima absorvendo dióxido de carbono da atmosfera. As terras úmidas provem outros serviços valiosos: os rios pantanosos reduzem o fluxo de água, protege as casas e estradas de inundação. Nas zonas costeiras, habitats semelhantes alimentam peixes jovens, ostras, e outros alimentos marinhos. Os recifes de corais oferecem beleza rara e oportunidades recreacionais enquanto suprem os povos com 10% dos peixes consumidos globalmente. Nas regiões agrícolas, as cercas vivas e os remanescentes dos habitats nativos dão abrigo a abelhas e outros insetos que polinizam as culturas. Cerca de 1/3 das colheitas de cerca de 1 em cada 3 culturas é possível graças ao trabalho dos polinizadores. Todos os ecossistemas abrigam diversidade biológica, mantendo uma biblioteca de genes com valores ainda a ser descobertos para futuros produtos farmacêuticos e industriais. Eles mantêm a biodiversidade e a produção de bens ecossistêmicos, tais como alimentos do mar, forragem, madeira, combustíveis de biomassa, fibras naturais e muitos produtos farmacêuticos, industriais e seus precursores (Daily, 1997). Esta definição de serviços como função é contestada por Klyne (2007) e Boyd e Banzhaf (2006), ao considerar a função ou processo ecossistêmico distinto do serviço, que seria também o produto final do processo. Assim, [S]erviços ecossistêmicos seriam resultados específicos destes processos que seja diretamente diretamente sustenta e melhora a qualidade de vida (como faz a proteção natural dos raios ultravioleta do sol) ou mantém a qualidade dos bens ecossistêmicos (como a purificação da água pela floresta mantém a qualidade da água dos rios). Por exemplo, as forças do vento e da água, tornada possível pela energia solar e gravidade, produz o serviço que chamamos de translocação de nutrientes. De modo semelhante, microorganismos no solo e rio, procurando preservar suas condições próprias de preservação da vida, remove contaminantes da água, produzindo o serviço de purificação da água (Klyne, 2007). Bishop e Landell-Mills (2006), por exemplo, partem do reconhecimento de que as florestas provêem uma gama de benefícios ambientais e incluem a proteção de bacias hidrográficas, que permitiriam serviços como: regulação do fluxo da água isto é, a manutenção do fluxo no período das secas e o controle das enchentes; manutenção da qualidade da água isto é, a minimização das cargas de sedimentos, cargas de nutrientes, de químicos e salinidade; controle da erosão do solo e do assoreamento; redução da salinidade do solo e/ou regulação dos níveis de lençol freático a manutenção dos habitats aquáticos (a redução da temperatura aquática por meio do sombreamento dos rios e córregos); a redução da perda da diversidade biológica e cultural causada principalmente pela perda dos habitats;

o seqüestro de carbono pela floresta, removendo da atmosfera o gás de efeito estufa, através de atividades de florestamento e reflorestamento; a redução de emissões de GEE pela substituição de combustíveis fósseis por combustíveis oriundos da biomassa; as emissões evitadas pela conservação da floresta em pé. O conceito de PSA requer ainda a definição do que é pagamento, quem provê e quem recebe por estes serviços. Estes são os elementos básicos para a criação de um mercado que ainda incipiente mas de rápido crescimento, estimulado pela ratificação do Protocolo de Quioto, em 2006. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo vem permitindo os países do Não-Anexo I como o Brasil a participar do mercado global de carbono. Este mercado tem favorecido os serviços de redução de emissões de gases de efeito estufa pela queima de metano dos aterros sanitários, pela substituição de fontes de energia fóssil por renováveis. O MDL se junta ao mercado formal de serviços ambientais como um instrumento econômico adicional, sobretudo no setor energético e de saneamento básico. Projetos florestais ainda tem interesse limitado por causa de sua temporariedade e maior risco, mas tende a crescer por causa interesse dos governos em estimular a conservação de florestas e beneficiar a população local. É o caso do Proambiente no Brasil e de outros projetos na América Latina, que associam os diversos serviços da floresta, principalmente com a conservação e limpeza da água. Vários programas estaduais e municipais Programa Matas Ciliares em São Paulo, Ecocrédito em Rio Claro-MG, Produção de água em Extrema-MG têm esta característica, indicando o crescimento deste mercado ainda marcadamente institucional. No entanto, o mercado privado tem feito avanços, embora pouco visíveis por se tratar de acordos voluntários e grandemente devido a falta de regulamentação. É o caso de financiamento das empresas de projetos de neutralização do carbono e de projeto de conservação da biodiversidade, como o projeto Oásis-Mata Atlântica, da Boticário. A caracterização do mercado de pagamento por serviços ambientais (PSA) é feita pela existência de uma transação contratual entre um comprador e um vendedor por um ou um conjunto de serviços ambientais, ou uma prática de manejo/uso da terra passível de assegurar tais serviços. O agente econômico vendedor ou recebedor do pagamento pelo serviço ambiental é denominado de provedor ou prestador do serviço. Para uma melhor transparência na transação, pode-se distinguir: a) o serviço ambiental como produto final, cujo provedor é a natureza ou o ecossistema e, b) os processos ecossistêmicos cuja execução é feita pelo prestador de serviços. No caso do provedor de serviços ambientais, os produtos podem se apresentar sob a forma de bens (alimentos, fibras, essências, óleos), ou sob a forma de serviços propriamente ditos (água limpa, a redução do risco de enchente, do risco de fogo na floresta, etc). Surge aqui o agente econômico beneficiário do serviço ambiental que dentro do mecanismo de desenvolvimento do mercado, se transforma num pagador. Daí a necessidade de estabelecer o princípio do beneficiário-pagador (também usuário-pagador) hoje usufruem destes serviços como um bem comum. Este é o principal campo de negociação dos serviços ambientais, primeiro no campo político do reconhecimento, e depois no campo econômico, do pagamento em si.

Os beneficiários dos serviços ambientais Para a melhor compreensão e formulação de estratégia de negociação, é útil separar os serviços ambientais pela abrangência do benefício. Assim, os serviços podem ser globais, quando os benefícios atingem a todos no planeta, como é o caso da regulação do clima pelo seqüestro de carbono atmosférico e a conservação da biodiversidade, cujo legado é para as gerações atuais e futuras do planeta. O fato de o Brasil ter a maior floresta contínua do planeta em extensão e riqueza biológica faz com que este potencial de reconhecimento e valorização o torne um poderoso negociador no cenário global, como é o caso da proposta brasileira de floresta em pé, na Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas. No âmbito desta convenção, o Protocolo de Quioto já estabelece um mecanismo apropriado de mercado para valorizar o serviço ambiental de redução de emissões de gases de efeito estufa. Neste mercado, com a ratificação pelo Brasil do Protocolo e pela adoção das regras, as negociações estão ocorrendo normalmente, e o Brasil é o terceiro maior ofertante de carbono. Os serviços ambientais globais devem ser reconhecidos e fundamentados como base para negociação da compensação internacional aos países provedores. Outros benefícios dos serviços ambientais têm alcance local ou regional. Exemplos de benefícios dos serviços providos incluem: o água limpa provida por florestas protegidas em propriedades rurais a montante de um rio que abastece um município a jusante o a redução do assoreamento de reservatórios de usinas hidrelétricas prestados por agricultores a montante pela manutenção de suas matas ciliares o a melhoria ou manutenção da produtividade agrícola pelo trabalho dos insetos polinizadores de plantas de interesse dos agricultores comerciais ou produtores de subsistência o a melhoria da produtividade agrícola pela recuperação de solos degradados, que aumentam a biodiversidade, melhoram a capacidade de ciclagem de nutrientes o o aumento de oferta de bens ambientais alimentares ou industriais pelo reflorestamento de espécies nativas o apreciação da beleza natural, a cultura e tradição locais pelos provedores de serviços de turismo ecológico o a manutenção da produtividade natural das espécies marinhas alimentares pela proteção de manguezais. Evidentemente, estes benefícios locais se misturam também com as de benefícios globais, como a de conservação da biodiversidade e regulação do clima global. Cabe aos promotores deste mercado a proposta do melhor desenho do projeto, diante do interesse de possíveis demandadores e o custo de transação que podem estar envolvidos. A Organização das Nações para a Agricultura e Alimentação (FAO) ilustrou um conjunto de opções de gestão ambiental das explorações agrícolas e das paisagens rurais, classificadas em 3 grandes categorias de serviços ambientais. Os serviços de absorção de carbono e redução de emissões de gases de efeito estufa são os que contam com mecanismos de mercado mais bem regulados (MDL) embora o seu desenho e implementação contem com dificuldades devido a complexidade de medição e verificação, o que eleva o custo de transação a níveis impraticáveis em pequena escala. Os serviços de proteção de água contam com mecanismos de gestão já em operação no Brasil, como o programa de produção de água da ANA/SRHU/MMA, e constituem um mercado bastante promissor devido a demanda cada vez maior de água limpa.

Os serviços de conservação da biodiversidade contam com algumas experiências como os projetos do FUNBIO, o do Proambiente, em geral, combinado com outros serviços ambientais providos pelo ecossistema. Quadro 2 - Opções de Gestão Ambiental, por categorias de serviços ambientais. Abso rção de Carb ono e Redu ção de Gase s de Efeit o Estuf a Prot eçã o de mic roba cias Prot. Bio dive rsid ade terr estr e Serviço Ambiental Absorção de carbono nos solos Absorção de carbonos em plantas perenes Redução de emissões de carbono Redução de emissões de metano Regulação do fluxo de água Manutenção da qualidade da água Controle da erosão e sedimentação Opções de Gestão no Âmbito das Explorações Agrícolas Gestão e enriquecimento da matéria orgânica do solo, freqüência reduzida de cultivos, adoção da agroecologia, conservação do solo, melhoria na ordenação dos pastos. Aumento do uso/área de cultivos perenes, arranjo da exploração florestal, sistema agroflorestal, regeneração natural, prolongamento do período de pousio, sistemas silvopastoris. Gestão da emissão da maquinaria agrícola, evitar desmatamento. Melhoria na alimentação do gado, gestão do solo húmico Maior eficiência no uso da irrigação, proteção de áreas úmidas, drenagem da exploração agrícola, ordenamento dos pastos Redução do uso de produtos agroquímicos, filtro de enxurrada agrícola, melhoria na eficiência no uso de nutrientes Conservação dos solos, gestão de enxurrada e da capa permanente do solo, adoção da agricultura de conservação, ordenamento de pastos Salinização e regulação Cultivo de árvores do lençol freático Recarga de aquiferos Coleta de águas tanto no âmbito das parcelas como no das explorações agrícolas Controle de inundações Derivação e tanques de armazenamento Proteção do habitat para espécies silvestres Conectividade para espécies móveis Proteção de comunidades ameaçadas do ponto de vista ambiental Proteção de espécies silvestres Proteção de hábitat de espécies aquáticas Fonte: FAO, 2008 Proteção de zonas de criação, manutenção de fontes de água pura, fontes de alimentos naturais, dentro ao redor de parcelas, programação de cultivos, aumento de espécies de cultivos/diversidade varietal Setos vivos, quebraventos, eliminação de barreiras impenetráveis Restauração ou proteção de parcelas cultivadas de hábitat natural Eliminação de ameaças procedentes de produtos químicos tóxicos, proteção de zonas de criação, práticas não letais de controle de pragas Prevenção da contaminação do curso de água causada por resíduos de cultivos e do gado, assim como por produtos agroquímicos, proteção ou restauração de várzeas nas explorações agrícolas Opções de Gestão no Âmbito da Paisagem Reflorestamento, regeneração natural de árvores e florestas Redução dos incêndios de floresta e dos incêndios causados por práticas de pousio Proteção de solos húmicos de perturbações Construção de estradas e caminhos bem desenhados, revegetação de terras nuas Manutenção de filtros vegetais perenes que protegem as canalizações de água Construção de estradas e caminhos e assentamentos; revegetação das matas ciliares. Plantação estratégicas de árvores na paisasgem Coleta de águas da comunidade/sub-bacias hidrográficas Canais de drenagem e tanques de armazenamento, manutenção e inundações naturais Redes de áreas naturais dentro e ao redor das explorações agrícolas, áreas protegidas públicas e privadas Redes de áreas naturais dentro e fora das explorações agrícolas Manutenção de corredores que conectam hábitat naturais através de explorações agrícolas e outras terras Barreiras para excluir a fauna silvestre de terras agrícolas, compensação aos agricultores dos danos causados pela fauna silvestre às reservas e aos cultivos. Revegetação natural ao longo das margens, proteção ou restauração de várzeas

Valoração dos serviços ambientais A valoração econômica de serviços ambientais é necessária para orientar as decisões políticas quanto às prioridades para conservação e uso sustentável. Os valores são associados a atributos distintos de cada ecossistema: ambientais, sociais, culturais e econômicos. As dimensões de escassez ou abundância de determinado bem e a demanda por este bem, afetam o valor a ser auferido em determinado momento. Como bens e serviços transacionados no mercado, o seu valor é sancionado pelo preço nos seus diferentes mercados. São valores estimados com base em demandas correntes, são valores de uso ou de utilidade imediata para a sociedade. No entanto, muitos serviços ambientais não dispõem de mercado e, portanto requerem métodos próprios de estimação do seu valor, monetário ou não monetário dos benefícios imediatos ou futuros gerados por estes serviços. O mercado não reconhece as demandas ou as necessidades vitais de gerações futuras. A literatura denomina de valor de opção aquele que se baseia na possibilidade de uso direto ou indireto no futuro. Em muitos casos, o valor dos serviços não são percebidos pelos potenciais provedores e portanto, fazem uso alternativo dos ecossistemas porque trazem benefícios econômicos imediatos. Os agricultores, por exemplo, derrubam a mata nativa e desenvolvem atividades agrícolas porque elas vão trazer maior bem-estar do que a mata conservada que lhes poderia estar fornecendo produtos extrativos (madeira, alimentos, resinas, óleos medicinais), água limpa, absorção de carbono, entre outros serviços. A diferença entre o benefício monetário e consumptivo que a atividade agrícola proporciona e o benefício da conservação da mata pode ser considerado o custo de oportunidade do provimento de serviços ambientais. Esta noção de custo de oportunidade é fundamental para definir o valor do pagamento que vai estimular o provimento dos serviços ambientais. Estudos da FAO (2007) mostram que quanto menor o custo de oportunidade ou mesmo quando este custo é nulo, é maior a chance de sucesso de um programa de pagamentos por serviços ambientais. 3. Mecanismos de Pagamentos por Serviço ambiental Entende-se por mecanismo de pagamento por serviço ambiental um conjunto de instrumentos e regras de procedimento para a criação de um mercado de serviços ambientais. O mecanismo mais conhecido e mais rigorosamente regulado é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), criado e desenvolvido no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC). Este mecanismo deu um impulso muito grande ao mercado de carbono e o Brasil se tornou um dos países exportadores mais promissores neste comércio. Este mecanismo pode funcionar na sua plenitude no Brasil porque é signatária do Protocolo de Quioto e Membro não-anexo 1, da Convenção e adotou as regras do PQ baixando as Resoluções, da Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas, a Autoridade Nacional Designada para o MDL no Brasil. No entanto, a redução dos gases de efeito estufa é um dos serviços ambientais que apresenta potencial de mercado. Na Convenção de Mudanças Climáticas já se pensa em outro mecanismo fora do Protocolo de Quioto, de pagamento por redução do desmatamento, que é a forma de uso da terra que mais contribui para a emissão de gases de efeito estufa no Brasil. Pelo inventário brasileiro, ¾ das emissões tem esta origem. Para os demais serviços ambientais, como a conservação da biodiversidade, apesar do reconhecimento internacional do alto valor inerente para a atual e para as futuras gerações, não existe um mecanismo semelhante, de mercado ou não. As medidas de incentivo

positivo multilateral que estão sendo discutidos na Convenção de Diversidade Biológica (CBD) estão longe de um desfecho operacional. No plano nacional, existe um esforço governamental para o estabelecimento de um marco legal conceitual para permitir que o poder público possa fazer investimentos em conservação e recuperação dos serviços ambientais. Tal iniciativa se justifica pela enorme demanda por serviços ambientais e a insuficiência dos instrumentos de fiscalização e orientação técnica para conter o desmatamento, a erosão do solo, a perda de fertilidade, a poluição hídrica e outras formas de uso inadequado do solo. A deterioração dos serviços ambientais é também fonte de agravamento da pobreza, pela queda de produtividade dos ecossistemas. No entanto, com um mercado de reduções certificadas de emissões relativamente aquecido e com financiamentos disponíveis, com projetos de proteção da água possíveis a partir mecanismos de cobrança permitidos pela lei 9344/1997, esquemas privados de neutralização de carbono das empresas, estão disponíveis as condições para se desenhar programas e projetos de pagamentos por serviços ambientais de sucesso. O esquema abaixo, desenhado pela FAO apresenta exemplos de como pode funcionar um programa para os agricultores. Quadro 3 - Desenho de Programas de Pagamentos por Serviços Ambientais 1 Mudança no Uso da Terra - Agroecologia -Reflorestamento - Sistema agroflorestal 3 Benefícios Obtidos - Mitigação de mudança climática - Água limpa - Resistência melhorada 2 Serviço Ambiental Prestado - Absorção de carbono no solo - Proteção de microbacias - Conservação da Biodiversidade 4 Mecanismo de Pagamento - Venda de créditos de carbono - Pagamentos de usuários de água - Preços competitivos de produtos Pagamentos por serviços ambientais a agricultores Fonte: FAO, 2007 O Ministério do Meio Ambiente assumiu, em 2004, um programa desenhado pela sociedade civil da Amazônia, o PROAMBIENTE. A unidade regional é denominada de Pólo Pioneiro, inicialmente prevista em onze localidades nos estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Amapá, Roraima, Pará, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão.

O esquema de funcionamento pode ser resumido conforme Quadro 4. QUADR 4 -: DESENHO DE GESTÃO DO PROGRAMA PROAMBIENTE Instrumentos Escala de Implementação Gestão Plano de Desenvolvimento diagnóstico rural participativo Plano de Utilização planejamento individual ou coletivo da mudança no uso da terra Organização de grupos comunitários de prestadores de serviços ambientais Acordo Comunitário instrumento coletivo de compromisso com a prestação dos serviços ambientais Pagamentos por Serviços Ambientais Unidade de paisagem regional (um ou mais municípios) Unidade de exploração agrícola ou unidade de conservação Local (10 a 15 produtores familiares ) Local Regional Conselho Gestor Local Conselho Gestor Local Conselho Gestor Local Conselho Gestor Local Conselho Nacional/FNMA A implementação do Programa requer articulação de vários instrumentos de política como a assistência técnica, crédito rural diferenciado, compras públicas (PAA), apoio institucional a projetos ambientais que devem ser integrados na unidade regional. Esta é a ação real exercida pelo Ministério do Meio Ambiente. A principal lacuna e o grande desafio do MMA para o funcionamento do esquema do Proambiente é a definição de um marco legal conceitual e a viabilização de uma fonte de financiamento dos pagamentos por serviços ambientais. Em síntese, um mecanismo de pagamentos por serviços ambientais (PSA) pode se constituir num instrumento bastante eficaz de conservação do solo e água, com possibilidade de implementação dentro de programas de microbacias hidrográficas e outros programas socioambientais. Bibliografia Bishop, J. Landell Mills (2005) Serviços Ambientais Florestais: Informações Gerais. In: Pagila, S. Bishop, J. e Landell Lills, N. (orgs) Mercados para serviços ecossistêmicos: Instrumentos econômicos para conservação e desenvolvimento Rio de Janeiro: REBRAF, 164 p. Boyd, J. Banzhaf, S. (2006) What Are Ecosystem Services? The Need for Standardized Environmental Accounting Units. Discussion paper. Resource For the Future Washington, DC, DP 06-02 Costanza, R. J. Erickson, K. Fligger, A. Adams, C. Adams, B. Altschuler, S. Balter, B. Fisher, J. Hike, J. Kelly, T. Kerr, M. McCauley, K. Montone, M. Rauch, K. Schmiedeskamp, D. Saxton, L. Sparacino, W. Tusinski, and L. Williams. (2004) Estimates of the Genuine Progress Indicator (GPI) for Vermont, Chittenden County, and Burlington, from 1950 to 2000. Ecological Economics 51: 139-155

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