PROCESSO DE CONSULTA PÚBLICA N.º 1 /2019 I Projeto de Decreto-Lei: estabelece o regime aplicável aos contratos de crédito aos consumidores do sistema financeiro. ENQUADRAMENTO Com a liberalização do mercado financeiro, mormente pelo expurgo, através do Aviso n.º 3/95 de 3 de abril, da fixação administrativa das taxas de juro sobre as operações ativas realizadas pelas instituições de crédito, e a crescente concorrência entre estas instituições, impõe-se assegurar a transparência no mercado. Para o efeito, importa reforçar o dever geral de informação aos consumidores e conferir uma posição de maior equilíbrio entre as partes da relação contratual de crédito. Outrossim, impõe-se a fixação de preceitos legais imperativos que condicionem o conteúdo dos contratos de créditos, traduzido num conjunto de requisitos contratuais a observar pelas instituições de crédito, de forma a mitigar a assimetria de informação, frequentemente presente nas relações comerciais estabelecidas entre os consumidores e instituições de crédito. O Aviso n.º 3/2013, de 04 de julho que estabelece o regime aplicável às informações sobre taxas de juro e outros custos das operações de crédito que devem ser prestadas pelas instituições de crédito e parabancárias, veio fixar, nesse âmbito: os pressupostos do cálculo da Taxa Anual de Encargos Efetiva Global (TAEG) e os deveres aplicáveis à sua publicidade, além dos deveres de informação pré-contratual e contratual, referentes às operações de crédito. A despeito da existência deste regime legal em matéria de contratos de crédito, o seu conteúdo normativo carece de densificação e desdobramentos que melhor assegurem os direitos do consumidor neste domínio.
Assim, com este diploma pretende-se um regime jurídico dos contratos de crédito aplicável aos contratos de crédito propostos e celebrados entre as instituições de crédito legalmente autorizadas para o exercício da atividade de concessão de crédito e os consumidores do sector financeiro. Para o efeito este normativo, versa, designadamente, sobre os seguintes assuntos: Regras sobre a publicidade no âmbito da comercialização do crédito; Requisitos de informação pré-contratual; Obrigatoriedade da disponibilização de fichas estandardizadas de informação ao crédito ao consumidor; Deveres de assistência ao consumidor; Avaliação de solvabilidade do mutuário/consumidor, nos contratos de crédito; Requisitos dos contratos de crédito; Deveres de informação na vigência dos contratos; Extensão dos requisitos de informação aos garantes do crédito; e Condições de validade dos contratos de crédito. Este quadro normativo tem como objetivo central reforçar a transparência de informação nas relações de crédito, conferindo aos consumidores um maior acesso à informação para o consumo, particularmente na fase pré-contratual, de forma a que o acesso ao crédito se paute em escolhas e ou decisões de consumo de forma consciente e com base em informações fidedignas sobre as propriedades/caraterísticas das diversas operações de crédito comercializadas pelas instituições de crédito.
II Projeto de Decreto-Lei: estabelece as normas e procedimentos relativos ao reembolso antecipado nos contratos de crédito. ENQUADRAMENTO As instituições de crédito praticam junto aos seus clientes diversas operações de crédito que, consoante a sua natureza e as suas caraterísticas, podem ser de curta, média ou longa duração. Dentre as diversas operações de crédito, o contrato de crédito à habitação constitui a operação mais duradoura, o que pode implicar o consumo pouco diversificado de produtos e serviços financeiros oferecidos na banca, em decorrência da fidelização do cliente à instituição de crédito mutuante. Os contratos de crédito celebrados entre os clientes e as instituições de crédito têm previsto a aplicação de comissões de reembolso antecipado, parcial ou total, e por transferência de crédito para outra instituição (no caso crédito à habitação), esta última figura que frequentemente designada de comissão de reembolso antecipado por compra de dívida por outra instituição de crédito. Não obstante essas comissões constituam uma fonte de receita para as instituições de crédito e de garantirem a fidelização do cliente, verifica-se que a atual tendência do mercado tem-se revelado penosa para os consumidores financeiros, mutuários em operações de crédito, especialmente nos créditos à habitação, dada a aplicação de comissões de reembolso antecipado que pelo seu custo oneram excessivamente os mutuários e inviabilizam a sua mudança para outras instituições de crédito que ofereçam produtos e serviços financeiros em condições consideradas mais favoráveis. Ademais, a burocracia e a morosidade
típica dos processos de transferência de crédito nas operações de crédito à habitação, têm sido um dos fatores dissuasores da mobilidade no setor bancário. Considerando esses aspetos e o fato de que os custos de mudança representarem um obstáculo ao ambiente de livre e sã concorrência que deve prevalecer no setor bancário, este normativo vem fixar um conjunto de normas e procedimentos relativos ao reembolso antecipado nas operações de crédito, designadamente para promover a concorrência no setor bancário. Assim, o diploma estabelece, inter alia, os seguintes aspetos: O direito dos clientes ao reembolso antecipado parcial, total e o reembolso antecipado sob a forma de transferência de crédito; Limites aos valores da comissão a pagar pelo cliente nos casos de reembolso antecipado; Procedimentos relativos às modalidades de reembolso antecipado; Encargos e outras condições que incidem nos processos de reembolso antecipado; e Deveres de informação aos clientes nos procedimentos de reembolso antecipado. III PROCESSO DE CONSULTA Em conformidade com a sua política regulatória, o Banco de Cabo Verde entende submeter o referido projeto a escrutínio público, para que todos os agentes do mercado e restantes membros da sociedade civil possam pronunciar-se sobre o mesmo, endereçando comentários, sugestões e contributos em relação às soluções apresentadas.
Ficam assim convidados, os agentes do mercado, os consumidores, os académicos e o público em geral a pronunciarem-se sobre o documento ora apresentado. O presente processo de consulta decorrerá entre o dia 25 de março de 2019 e o dia 30 de abril de 2019. Assim, as respostas ao presente documento de consulta devem ser submetidas ao BCV até ao próximo dia 30 de abril de 2019. Os contributos devem ser remetidos, preferencialmente, para o endereço de correio eletrónico hcarvalho@bcv.cv. As respostas à consulta pública podem igualmente ser remetidas, por correio normal, para a morada da sede do BCV, Avenida Amílcar Cabral C.P. 101 Praia. Por razões de transparência, o BCV propõe publicar os contributos recebidos ao abrigo desta consulta. Caso o respondente se oponha à referida publicação deve comunicá-lo expressamente no contributo enviado.