POEMAS DE JOVITA NÓBREGA Aos meus queridos amigos de Maconge Eu vim de longe arrancada ao chão Das minhas horas de menina feliz Fizeram-me estraçalhar a raiz Da prima gota de sangue Em minha mão. Nos dedos trouxe uma alma por nascer De dor e raiva saudade sem ter fim Às costas trouxe o amor que em ti e em mim Redime e salva de desistir de viver. Não foi a terra que a mim traiu Nem os seres simples de natural pertença Foi dinheiro e poder sem humana sentença Que em gelo de sentir tanto farsou e mentiu. Mas vê quanta alegria na luta e na amizade Flutuámos sobre fogo e lama ainda vivos Ausentes pró incerto deixamos os sorrisos Renascemos em festa É a nossa verdade. Jovita Nóbrega
Para D. OLAVO Neste reino de sonho e fantasia Com ideais eternos de amizade Que ninguém altere nunca a harmonia Da lealdade e afecto de verdade Nossa saudade é bela, é de alegria Os que se ausentam vivem em pensamento Por nossa terra de além mar em nostalgia Não choramos pois está em nós cada momento.
Manhã do Namibe Meu deserto longínquo, ó meu amor primeiro! Espinheiras ladeando a welwítchia preguiçosa Macópios na manhã colhendo o sol inteiro espiam discretamente a gazela formosa O rugir do leão já fez vibrar a anhara: Arrepio na areia que se cobre de ouro! O vento ainda fresco, Envolve - me, não pàra! Em todo o horizonte há brilhos de tesouro! O olhar dos caçadores estende-se no além: Tranquilo, na certeza de um dia que começa. O meu coração canta e bate forte também: Entre este céu e mar e areia, não tropeça Estou aqui, é meu lar, sonho e minha raiz! E o calor do meu sangue que se confunde e diz: Meu Amor, meu deserto, decerto vou voltar! Não encontrei no mundo outra terra para amar!
MEU SENTIMENTO É sentimento que sai Sem medidas e sem curvas É mutiate que não cai em tempestades e chuvas.. Passou por mim sem querer e arrasta-me pelas matas sem defesas, sem poder: Quebrou meu cerco de estacas Mupanda da minha serra onde a rôla não se cala, é riso nascido da terra! É chuva no meu deserto Faz brotar flores de surpresa Quando, suave chega perto! 20/06/2007
Saudade de Moçamedes Decima da minha serra estendia longe o olhar Por curvas e arvoredos e ao abrir das planuras Para a alma não me fugir afundava o respirar Dei às rochas e macópios sorrisos e ternuras Descidas rareando ia o espaço a estender Welwitchias que surgiam e espinheiras baixinhas E o cheiro do mar breve vinha envolver Meus sonhos e alegrias: doces saudades minhas Da Chela ao Namibe cresceu o meu coração Nas areias douradas minha alma enriqueceu Pôr de Sol, despertar do céu grande Portão Verduras do Lubango meu lar de dia a dia Moçâmedes sol e mar tesouros da minha alma Comecei a morrer ao ver que vos perdia Jovita Gavino de Nóbrega 31/05/2007
Se fores a Angola Se fores a Angola, traz-me Mas não tragas No teu cabelo traz-me do sul, primeiro,o cheiro do vento quando atravessa a chana. E, nesse momento, traz-me também a extensão da paisagem e a majestade da serra se, em viagem, desceres as suas curvas, devagarinho com coração de ver, e amar esse caminho Traz-me na tua boca o brilho e a cor da folha da Mupanda.. No teu gesto, o aprumo, a autonomia do vôo duma Janda! Nunca, porém me tragas a saudade! Não a terei jamais, pois aqui sou a terra: Estão dentro de mim, a chana, o sol e a serra! No teu olhar traz-me, sim, quando olhares serra abaixo, mistérios e murmúrios; e, também, um cacho de flores rosadas dali, daquele cacto! E já agora a tropelia de um macaco!... Não me tragas, porem, essa saudade: - Já não preciso dela em mim, pois, na verdade, sempre tenho comigo as cores, as flores, o som e a liberdade No teu andar, traz-me o cheiro do mar o balanço da calema; A gargalhada de alguém que rir não tema, porque nasceu ali, em tempo de alegria! Cresceu pelas planuras caminhando sem guia. Nunca, me tragas, NUNCA! O ódio dos partidos e a ganância; A doença dos meninos com olhos de uma ânsia de ser criança sem fome e, aconchegada, tendo o DIREITO, sim, de ser amada!
OLHO PRA TI SEKULO Vejo todos os caminhos do tempo Águas secas de rios do deserto sulcando portas fechadas pelo vento. E chuva d outras mágoas, onde o perto com o longe se confunde na memória Com afectos e dores já tantos e tantas, as cordilheiras do teu rosto são a história escrita em relevo nesse quadro que encanta! Meu coração, já decifra, quebrado, em ti, que em teu olhar já nada cobras os hieróglifos de todo o teu passado! Ao sorrir devagar, escondes nas dobras bem fundas desse muro de segredos, debaixo de prata e cinza de luares, a que roubaste horas,amores e medos de tudo o que eu deixei além dos mares SEKULO, Ó VELHO!... És bem o quadro vivo da saudade que é minha e tem o tempo retorcido gravada na quietude e na verdade dos sulcos definitivos do meu gemido