MODELAGEM DA EVOLUÇÃO DE UMIDADE E VOLÁTEIS DOS GRÃOS DE CAFÉ DURANTE A TORRA 1

Documentos relacionados
VARIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DE CAFÉ ARÁBICA DURANTE A TORRA PARTE I: CARACTERÍSTICAS

Avaliação da Capacidade de Expansão de Grão de Café Moca e sua Comparação à Grãos de Café Convencionais RESUMO

VARIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DE CAFÉ ARÁBICA DURANTE A TORRA PARTE II: CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS

Pâmella de Carvalho Melo¹, Arlindo Modesto Antunes¹, Paulo Henrique Ribeiro Dias Alves², Jéssica Antônia Andrade Alves³, Ivano Alessandro Devilla 4

DETERMINAÇÃO E MODELAGEM MATEMÁTICA DA SECAGEM DE ARROZ AROMÁTICO

Avaliação Cinética da Gaseificação com CO 2 do Bagaço de Maçã

CINÉTICA DE SECAGEM DA BORRA DE CAFÉ EM ESTUFA COM CIRCULAÇÃO DE AR

Modelagem e simulação da secagem de grãos de café

ANÁLISE DA QUALIDADE DO CAFÉ OBTIDO POR TORREFAÇÃO A VÁCUO

TEMPERATURA DA MASSA DOS GRÃOS DE CAFÉ AO ATINGIR OS DIFERENTES GRAUS DE TORREFAÇÃO

COMPARAÇÃO DE MODELOS FENOMENOLÓGICOS PARA A HIDRATAÇÃO DE GRÃOS DE SOJA

A introdução dos grãos de café no torrador.

PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FRUTOS DE MAMONA DURANTE A SECAGEM

SPECIALTY COFFEE ASSOCIATION OF AMERICA

GUILLERMO ASDRÚBAL VARGAS ELÍAS AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E QUALIDADE DO CAFÉ EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE TORREFAÇÃO

CONTRAÇÃO VOLUMÉTRICA DOS FRUTOS DE MAMONA DURANTE A SECAGEM

Modelagem Matemática da Secagem de Café Natural Beneficiado com Alto Teor de Água

CORRELAÇÃO ENTRE OS PARÂMETROS DE TORRA E A QUALIDADE FINAL DA BEBIDA CAFÉ

CINÉTICA DE SECAGEM DE MASSA ALIMENTÍCIA INTEGRAL. Rebeca de L. Dantas 1, Ana Paula T. Rocha 2, Gilmar Trindade 3, Gabriela dos Santos Silva 4

SECAGEM DA ABÓBORA (CUCRBITA MOSCHATA, L.) EM SECADOR DE LEITO FIXO

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Modelos matemáticos na secagem intermitente de arroz

CINÉTICA DE SECAGEM DE RESÍDUOS DE Artocarpus heterophyllus Lam

Difusividade Efetiva da secagem da pimenta Cumarí do Pará (Capsicum chinense Jacqui)

USO DE PLANEJAMENTO COMPOSTO CENTRAL NA AVALIAÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPERAURA E CONCENTRAÇÃO DE SOLVENTES NO ESTUDO DA SOLUBILIDADE DA UREIA

AVALIAÇÃO DO TEMPO DE COZIMENTO DA MASSA DE QUEIJO SOBRE A UMIDADE DE QUEIJO PRATO DURANTE A MATURAÇÃO

PSICROMETRIA PSICROMETRIA PSICRÔMETRO 15/10/2018 PROPRIEDADES DAS MISTURAS AR SECO-VAPOR 1. COMPOSIÇÃO AR ÚMIDO VAPOR D ÁGUA AR SECO.

RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS COLORIMETRICOS PARA CAFÉ TORRADO E MOÍDO COM DIFERENTES TONALIDADES

TÍTULO: COMPARAÇÃO DE MODELOS MATEMÁTICOS PARA DESCRIÇÃO DA CINÉTICA DE SECAGEM DE CASCAS DE CENOURA (DAUCUS CAROTA L.) E BETERRABA (BETA VULGARIS).

ESTUDO TEÓRICO DA VARIAÇÃO DO COEFICENTE DE DIFUSÃO EFETIVA COM A CONTRAÇÃO VOLUMÉTRICA DOS FRUTOS DE CAFÉ DURANTE A SECAGEM

Isotermas de dessorção de grãos de café com pergaminho

Modelagem matemática das curvas de secagem de grãos de feijão carioca cultivar brs pontal RESUMO

ESTUDO DO PROCESSO DE SECAGEM DE PEÇAS CERÂMICAS (CHAMOTA- ARGILA) UTILIZANDO UM SECADOR TIPO TÚNEL

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICO-QUÍMICA DOS CAFÉS ESPECIAIS DAS REGIÕES MATAS DE MINAS E SUL DE MINAS 1

ANÁLISE ENERGÉTICA DA SECAGEM DE CAFÉ EM SECADORES HORIZONTAL E VERTICAL DE FLUXOS CRUZADOS

Introdução. Definição

DETERMINAÇÃO DA CURVA DE EQUILÍBRIO HIGROSCÓPICO DO URUCUM

EFEITO DA UMIDADES DE GRÃOS DE SOJA EM SEU ESCOAMENTO NO PROCESSO DE SECAGEM 1 EFFECT OF SOYBEAN MOISTURE ON ITS FLOW IN THE DRYING PROCESS

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA CINÉTICA DE SECAGEM DO MORANGO.

Programa Analítico de Disciplina ENG370 Secagem e Armazenagem de Grãos

CINÉTICA DE EXTRAÇÃO DE LIPÍDIOS DE MICROALGA SPIRULINA

DETERMINAÇÃO DE FUNÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE PROCESSOS QUÍMICOS ATRAVÉS DO MÉTODO DE EVOLUÇÃO DIFERENCIAL UTILIZANDO O SCILAB

AVALIAÇÃO TÉRMICA DO PROCESSO DE SECAGEM DE MISTURAS DE GRAVIOLA E LEITE EM SECADOR DE LEITO DE JORRO

EFEITO DA TORREFAÇÃO NA GASEIFICAÇÃO DE SERRAGEM COM VAPOR DE ÁGUA

ESTUDO EXPERIMENTAL DA SECAGEM DO CARPELO DA MACADÂMIA EM LEITO DE JORRO

CINÉTICA DE SECAGEM DO ESPINAFRE (Tetragonia tetragonoides)

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO PROCESSO DE SECAGEM DO BAGAÇO DE CANA VIA CICLONE SECADOR: SIMULAÇÃO

DETERMINAÇÃO DAS CURVAS DE SECAGEM EM CAMADA DELGADA DE PIMENTA DE CHEIRO (Capsicum chinense) A DIFERENTES TEMPERATURAS

CINÉTICA DE SECAGEM DAS FOLHAS DE MORINGA OLEÍFERA LAM RESUMO

ÍNDICE DE COR E QUALIDADE DO CAFÉ ARMAZENADO EM COCO COM DIFERENTES TEORES DE UMIDADE

Secagem de Grãos de Arroz em Distintas Temperaturas e Utilizando Lenha com Diferentes Teores de Água

Avaliação da queima de serragem em fornalha

DETERMINAÇÃO DO CALOR ISOSTÉRICO DE SORÇÃO E DA ENTROPIA DIFERENCIAL DO CAJÀ EM PÓ MICROENCAPSULADO COM DIFERENTES FORMULAÇÕES RESUMO

AVALIAÇÃO DA HOMOGENEIDADE DA EXPANSÃO DOS GRÃOS DE CAFÉ TORRADOS EVALUATION OF THE EXPANSION HOMOGENEITY OF ROASTED COFFEE BEANS

MODELAGEM MATEMÁTICA DA SECAGEM DO CAFÉ (Coffea canephora Pierre) EM TERREIROS DE CONCRETO E HÍBRIDO 1

PLATAFORMA DIGITAL PARA MENSURAÇÃO DE GRÃOS DE CAFÉ ESPECIAIS: ESCALA AGTRON OBTIDA ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS 1

EFEITO DA TEMPERATURA DE GASEIFICAÇÃO DE BIOMASSA NA ADSORÇÃO DE CORANTE REATIVO

ATIVIDADE DE ÁGUA DO CAJÁ EM PÓ MICROENCAPSULADO COM DIFERENTES MATERIAIS DE PAREDE RESUMO

STUDIES ON CABBAGE SEED STORAGE SUMMARY

Interação da torra e moagem do café na preferência do consumidor do oeste paranaense

AVALIAÇÃO DE UM SECADOR COM REVERSÃO DO FLUXO DE AR E COM SISTEMA PNEUMÁTICO DE MOVIMENTAÇÃO DOS GRÃOS

DETERMINAÇÃO DA SOLUBILIDADE DE UREIA EM MISTURAS ETANOL-ÁGUA EM TEMPERATURAS DE 278,15 A 333,15 K

CINÉTICA DE SECAGEM DE ABACAXI CV PÉROLA EM FATIAS RESUMO

Avaliação energética de um secador de grãos do tipo cavalete

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E DE AMINOÁCIDOS DE CAFÉ VERDE, TORRADO E DE BORRA DE CAFÉ SOLÚVEL 1

SELEÇÃO DE EXTRATORES E TEMPO DE EXTRAÇÃO PARA DETERMINAÇÃO DE AÇÚCARES EM CAFÉ TORRADO 1

CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA VITAMINA C DURANTE A PRODUÇÃO DE SUCO CONCENTRADO DE ABACAXI COM HORTELÃ

AJUSTE DE DADOS EXPERIMENTAIS DA SOLUBILIDADE DA UREIA EM SOLUÇÕES DE ISOPROPANOL+ÁGUA COM O USO DE EQUAÇÕES EMPÍRICAS

RACHEL PRADO RUSSO DELORENZO NARDI ESTUDO DA CINÉTICA DE LIBERAÇÃO DE GENTAMICINA A PARTIR DE MEMBRANAS DE QUITOSANA

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NOS PARÂMETROS DE MODELOS BI- PARAMÉTRICOS QUE PREDIZEM ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DE UMIDADE DO GUARANÁ

Definição de Secagem. Secagem e Armazenagem de Grãos e Sementes. Importância da Secagem. Aula 05

XLVI Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2017 Hotel Ritz Lagoa da Anta - Maceió - AL 30 de julho a 03 de agosto de 2017

PROVA ESCRITA DE CONHECIMENTOS EM QUÍMICA

ESTUDO DA CRISTALIZAÇÃO DA LACTOSE A PARTIR DA ADIÇÃO DE ETANOL RESUMO

UM EXPERIMENTO RELATIVAMENTE SIMPLES E RÁPIDO DE CINÉTICA DA DESTRUIÇÃO DE LEVEDURAS PELO CALOR 1

Minimização do gasto energético no processo de secagem intermitente de grãos de arroz

AÇÚCARES TOTAIS, REDUTORES E NÃO-REDUTORES, EXTRATO ETÉREO E UMIDADE DE DIFERENTES PADRÕES DE BEBIDA DO CAFÉ ARÁBICA E DO CAFÉ CONILON

SIMULAÇÃO DA CINÉTICA REACIONAL PARA PROCESSO DE PRODUÇÃO DO BIODIESEL

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DE GRÃOS DE FEIJÃO- CAUPI

ESTUDO DA CINÉTICA DE SECAGEM DO GENGIBRE (Zingiber officinale Roscoe)

INFLUÊNCIA DO USO DE UM GASEIFICADOR AUTOMATIZADO DE BIOMASSA NA QUALIDADE DA SECAGEM DE CAFÉ CEREJA 1

CAFÉ E SAÚDE: EXTRAINDO O MELHOR DA MATÉRIA PRIMA ADRIANA FARAH NÚCLEO DE PESQUISA EM CAFÉ PROF. L.C.TRUGO, INST. NUTRIÇÃO, INST.

AULA PRÁTICA 4 Série de sólidos

O PONTO DE ARMAZENAMENTO DO EM CÔCO ( 1 )

Estudo de Qualidade Café Conilon

ANÁLISE DA CINÉTICA DE SECAGEM E DO ENCOLHIMENTO DAS CASCAS DE CACAU

Determinação da Curva de Umidade do Grão de Milho Por Medida de Capacitância

EFEITO DA UMIDADE NAS PROPRIEDADES FISICAS DE SEMENTES DE CEVADA BRASILEIRA. Tecnologia de Alimentos RESUMO

Eficiência no Processo de Secagem de Sementes em Cooperativa Agroindustrial na Região do Planalto Paranaense

CINÉTICA DE SECAGEM DA BANANA VERDE PACOVAN (Musa x paradisiacal) KINETIC DRYING BANANA PACOVAN

CONTROLE DA TEMPERATURA DE SECAGEM ARTIFICIAL DE GRÃOS 1

Propriedades dos fluidos Aula 2

TÉCNICAS PARA A DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR DURANTE A OPERAÇÃO DE FRITURA. Nathalia Pezini¹; Gustavo Ferreira Leonhardt²

EFEITO DA TEMPERATURA NA DECOMPOSIÇÃO TÉRMICA DE RESÍDUOS PLÁSTICOS E DE BIOMASSA

5. Verificação Numérica do Modelo

SÍNTESE DE CARVÃO ATIVADO FISICAMENTE COM VAPOR DE ÁGUA VISANDO TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS PARA FINS DE REÚSO

AULA PRÁTICA 05 Solubilidade: Misturas homogêneas e heterogêneas

INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS SUPERSATURAÇÃO E POPULAÇÃO DE SEMENTES NO RENDIMENTO DE ÁCIDO CÍTRICO NA ETAPA DE CRISTALIZAÇÃO

DETERMINAÇÃO DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA DE LEGUMES UTILIZANDO O MÉTODO GRÁFICO DE HEISLER

Transcrição:

MODELAGEM DA EVOLUÇÃO DE UMIDADE E VOLÁTEIS DOS GRÃOS DE CAFÉ DURANTE A TORRA 1 VITORINO, M.D. ; FRANCA, A.S. ; OLIVEIRA, L.S. E RODRIGUES, M.A.A. 1 Apoio: CAPES/CPGEQ -UFMG, CNPq, FAPEMIG, Sindicafé-MG. Dep. Engenharia Química/UFMG - R. Espírito Santo, 35 - o andar - 31-3 Belo Horizonte-MG, Telefone: 3317 - Fax: 33179, franca@deq.ufmg.br RESUMO: A qualidade final do café, caracterizada pelo sabor e aroma, é resultante da combinação de centenas de compostos que são produzidos por reações pirolíticas e outras que ocorrem durante a torrefação. A cinética de torrefação não está totalmente compreendida, em razão de o número de compostos envolvidos nas reações ser grande e, também, devido ao fato de muitos dos compostos presentes não terem sido identificados. Nesse sentido, este trabalho é parte integrante de um projeto de pesquisa que objetiva o estabelecimento de critérios de qualidade para cafés torrados, com base em uma maior fundamentação científica e correlacionando as características fisico-químicas da matéria-prima e os parâmetros de processamento (torrefação) com a qualidade do produto final de consumo. Para isso, será efetuado um estudo do processo de torrefação, de forma a elucidar aspectos de cinética de torrefação, tendo em vista um controle mais rigoroso do processo e a conseqüente melhoria da qualidade do produto. O presente trabalho caracteriza-se como uma primeira etapa deste estudo, em que a evolução do teor de umidade e voláteis de grãos de café durante a torra é modelada matematicamente. Foram utilizados modelos usuais para representar a secagem de grãos. Os modelos avaliados demonstraram representar bem a variação de umidade e voláteis durante a torra. Palavras-chave: modelos de secagem, qualidade de bebida. MODELLING THE EVOLUTION OF MOISTURE CONTENT AND VOLATILE COMPOUNDS OF COFFEE GRAINS DURING THE ROASTING PROCESS ABSTRACT: The quality of coffee used for beverage, identified by its flavor and aroma, results from the combination of hundreds of chemical compounds produced during roasting. The roasting process is not well understood, due to the great number of substances that take part in the chemical reactions, many of which have not yet been identified. Therefore, the present article is part of a research project that aims the 1551

establishment of scientifically based quality criteria for roasted coffee, correlating green coffee properties and processing conditons to product quality. This will be based on a study of the roasting process, in order to elucidate roasting kinetics. In the present work, the first step in such study, the evolution of moisture and volatile components loss during roasting was monitored and modeled by employing drying models. The models used were able to describe well the evolution of moisture and volatiles during roasting. Key words : drying models; quality of coffee beverage. INTRODUÇÃO O café verde é desprovido do agradável aroma, mundialmente apreciado, do café torrado. Uma infusão aquosa de seus grãos é amarga e desagradável ao paladar. Contudo, o aquecimento controlado destes grãos dá origem a uma série de reações químicas que geram os vários compostos aromáticos responsáveis pelo sabor e aroma da bebida e do produto seco. Esse processo de pirólise moderada dos grãos é denominado torrefação. O processo de torrefação pode ser dividido em três fases consecutivas: secagem, torrefação e resfriamento. A fase de secagem é caracterizada pela liberação de água e compostos voláteis presentes nos grãos. Esta fase é lenta, sendo responsável por aproximadamente metade do tempo total de processamento. Durante esse período, a cor dos grãos muda de verde para amarelo. A segunda fase, ou torrefação propriamente dita, é caracterizada por reações de pirólise que resultam numa modificação drástica da composição química dos grãos, acoplada à liberação de grandes quantidades de gás carbônico. A temperatura dos grãos varia de 1 a 3 o C. Os grãos de café escurecem (cor marrom) devido à caramelização dos açúcares. O final desta etapa é caracterizado pelo estouro dos grãos, cujo volume duplica. A partir desse ponto, faz-se necessário o resfriamento imediato dos grãos (terceira fase), para evitar a sua carbonização. O grau de torrefação pode ser medido pela cor ou pela perda de peso que ocorre durante o processo. A redução de peso é uma conseqüência da perda de umidade e de uma fração de material orgânico volatilizado durante o processo pirolítico. O teor de umidade decresce com a torrefação, atingindo teor menor que % tanto para o café Arábica quanto para o café Robusta (Sivetz e Desrosier, 1979). 155

Este trabalho é parte integrante de um projeto de pesquisa que objetiva efetuar um estudo do processo industrial de torrefação de café, no sentido de aprimorar os conhecimentos sobre este e de possibilitar a correlação entre as características da matéria-prima e os parâmetros de processamento com a qualidade do produto final de consumo. Propõe-se, neste trabalho, a modelagem da perda de umidade e de compostos voláteis por grãos de café durante o processo de torrefação. METODOLOGIA Matéria-Prima A matéria-prima utilizada nos ensaios de torrefação foram grãos verdes de café tipo arábica provenientes da região do Vale do Jequitinhonha-MG (C1) e da região de Viçosa-MG (C). Os grãos de café C1 e C foram classificados pela prova de xícara como bebidas riada/rio e mole, respectivamente. Torrefação O sistema utilizado na torrefação dos grãos consistiu de um cilindro rotativo acoplado a um sistema de captação dos gases de exaustão. O torrefador, em movimento rotativo a rpm, era préaquecido e então carregado com 1.5 g de café. A torra era finalizada quando se verificava a queima dos grãos, caracterizada pela liberação excessiva de fumaça, pelo cheiro característico de café queimado e por uma coloração escura dos grãos. Foram efetuados ensaios de torra, em duplicata, utilizando os cafés C1 e C. Durante cada ensaio, foram coletadas amostras dos grãos a cada dois minutos. Estas amostras foram acondicionadas em placas de Petri previamente pesadas. Teor de Umidade e Voláteis As amostras destinadas à avaliação do teor de umidade e voláteis dos grãos foram armazenadas em um dessecador até atingirem a temperatura ambiente e, em seguida, o conjunto amostra/placa de Petri foi pesado em balança analítica. A metodologia utilizada na determinação do teor de umidade dos grãos de café consistiu em secar a amostra em estufa por 1 horas a 3ºC (Clarke e Macrae, 197). Durante o procedimento, a tampa da placa de Petri foi mantida na estufa. Após esse período, a placa de Petri foi tampada e a amostra foi retirada da estufa e acondicionada em um dessecador. Após atingir a temperatura ambiente, o conjunto amostra/placa de Petri foi novamente pesado e o teor de umidade foi calculado. 1553

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados apresentados a seguir são referentes a ensaios de torra efetuados em duplicata, utilizando grãos de café C1 e C, conforme descrito no item matéria-prima. Esses resultados correspondem a valores médios, e as barras de erro são referentes ao desvio-padrão de cada medida. Foi efetuada a monitorização da temperatura dos gases na saída do torrefador, de forma a verificar e garantir que as condições de operação do equipamento fossem as mesmas para todos os testes efetuados. Os perfis de temperatura obtidos são apresentados na Figura 1. Temperatura dos Gases (oc) 5 15 5 Café C1 Café C 1 1 Figura 1 - Evolução do perfil de temperatura dos gases na saída do torrefador. Uma análise dos perfis de temperatura (Figura 1) indica que as condições de aquecimento foram equivalentes para os testes efetuados, visto que os valores médios de temperatura são praticamente os mesmos para os testes efetuados com as duas qualidades de café (C1 e C). Observa-se queda brusca de temperatura durante o primeiro minuto de torra, seguida de aumento de temperatura até o final do processo. Esta queda de temperatura está associada à introdução dos grãos verdes (~ 5 ºC) no torrefador pré-aquecido (~ 15 ºC na saída dos gases). Esse comportamento não foi o mesmo observado nos testes preliminares (Franca et al., 1), nos quais foi monitorizada a temperatura dos gases no interior do equipamento. Neste caso, observou-se diminuição suave da temperatura durante o início da torra. Este comportamento, característico de um processo endotérmico, foi decorrente da eliminação de umidade e voláteis e de aquecimento dos grãos durante a fase de secagem. Após atingir um valor mínimo, a temperatura aumentou até o final da torrefação. Esse aumento de temperatura foi devido ao fornecimento contínuo de calor, conjugado às reações exotérmicas de pirólise. 155

Apresenta-se, na Figura, a variação do teor de umidade e voláteis dos grãos durante a torrefação. Considerando que o principal componente do grão que é liberado, tanto na fase de secagem como na fase de pirólise, é a água, utilizar-se-á a terminologia teor de umidade para representar o teor de umidade e voláteis. Uma análise da Figura indica que o decréscimo do teor de umidade pode ser caracterizado por três fases distintas. A primeira fase, que ocorre durante os primeiros dois minutos de torra, é caracterizada por diminuição suave do teor de umidade. A partir daí, a taxa aumenta e permanece constante (segunda fase). A terceira fase é caracterizada por uma taxa decrescente de variação do teor de umidade até se tornar praticamente nula (a partir de aproximadamente 1 min). Esse comportamento da variação do teor de umidade, e voláteis durante a torrefação é semelhante ao observado para a variação do teor de umidade durante o processo de secagem de grãos (Strumillo e Kudra, 19). Teor de Umidade (%b.s.) 1 Café C1 Café C 1 1 Figura - Variação do teor de umidade e voláteis dos grãos de café durante o processo de torrefação. Uma comparação entre as curvas obtidas para os cafés C1 e C demonstra um comportamento análogo, com aproximadamente a mesma taxa de decréscimo de umidade durante a segunda fase e o mesmo teor de umidade ao final do processo ( ~1, % b.s.). No entanto, o teor de umidade do café C1 foi sempre inferior ao teor de umidade do café C. Isso era esperado, uma vez que o teor inicial de umidade do café C1 (9,1 % b.s.) era inferior ao do café C (, % b.s.). Vale ressaltar que, aos 1 minutos de torra, o teor de umidade é de aproximadamente % tanto para o café C1 como para o café C. Valores similares de teor de umidade foram reportados na literatura para café torrado comercial (Almeida et al., 1999). Tendo em vista a similaridade do comportamento das curvas de variação de teor de umidade para os processos de torrefação e secagem, dois modelos de secagem foram aplicados aos resultados experimentais referentes à torrefação. Apresentam-se, a seguir, as equações genéricas dos modelos. 1555

Modelo 1 (Strumillo e Kudra, 19): X1 X X Xeq X1 X1eq = exp X1eq X eq [ K(X X )t] 1 eq (1) em que X 1 é o teor de umidade inicial dos grãos, X é o teor de umidade dos grãos no tempo t, X eq é o teor de umidade de equilíbrio dos grãos, X 1eq é o teor de umidade inicial de equilíbrio dos grãos, K é o coeficiente da taxa de secagem e t é o tempo de secagem. Modelo (Madamba et al., 199): X X X 1 eq X eq = exp n ( Kt ) () em que n é o coeficiente do modelo. Os parâmetros utilizados na obtenção das curvas de secagem generalizadas, eqs. (1) e (), são apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Parâmetros dos modelos de secagem Modelo Parâmetro Café C1 Café C 1 K,5731 5,179 X1,97,1 X eq,,7 X 1eq,3, X 1,97,1 X eq,,7 K,17, n 1,913 1,37 As comparações entre os dados experimentais e os valores preditos pelos modelos 1 e são apresentadas nas Figuras 3 e, respectivamente. 155

Teor de Umidade (%b.s.) Experimental Modelo 1 1 Teor de Umidade (%b.s.) 1 Experimental Modelo 1 1 (a) (b) Figura 3 - Comparação entre os valores experimentais e preditos da variação do teor de umidade dos grãos (a) C1 e (b) C, utilizando o modelo 1. Teor de Umidade (%b.s.) Experimental Modelo 1 1 (a) Teor de Umindade (%b.s.) 1 Experimental Modelo 1 1 (b) Figura - Comparação entre os valores experimentais e preditos da variação do teor de umidade dos grãos (a) C1 e (b) C, utilizando o modelo. 1557

Os resultados apresentados nas Figuras 3 e demonstram que os modelos de secagem são representativos do comportamento da curva de teor de umidade dos grãos de café durante o processo de torrefação. Uma comparação entre as Figuras 3 e indica que o modelo representa melhor o comportamento da curva de variação do teor de umidade dos grãos. A diferença média entre os dados experimentais e o modelo 1 foi de,% b.s. para o café C1 e,37 % b.s. para o café C. A diferença média entre os dados experimentais e o modelo foi de,15% b.s. para o café C1 e,1% b.s. para o café C. Vale a pena ressaltar que, embora os modelos de secagem propiciem uma descrição adequada da variação do teor de umidade na torra, não existe uma correspondência de significado físico dos parâmetros do modelo de secagem em relação ao processo de torrefação. O que se deve ao fato de que, na torrefação, ocorre a formação e liberação de água durante as reações de pirólise. Portanto, a curva de variação do teor de umidade representa a soma da água originalmente presente nos grãos, da água resultante da pirólise destes e dos compostos voláteis liberados durante o processo. CONCLUSÕES O presente trabalho teve como objetivo avaliar e modelar matematicamente a evolução do teor de umidade e voláteis de grãos de café durante a torra. Foram utilizados modelos comumente utilizados para representar a secagem de grãos. Os modelos avaliados demonstraram representar bem a variação de umidade e voláteis durante a torra. No entanto, não existe uma correspondência de significado físico dos parâmetros dos modelos de secagem em relação ao processo de torrefação, o que se deve ao fato de que, na torrefação, ocorre a formação e liberação de água durante as reações de pirólise. Dessa forma, a curva de variação do teor de umidade representa a soma da água originalmente presente nos grãos verdes, da água resultante da pirólise destes, e dos compostos voláteis liberados. Uma comparação entre as curvas obtidas para amostras de café bebida riada/rio (C1) e bebida mole (C) demonstra um comportamento análogo, com aproximadamente a mesma taxa de decréscimo de umidade durante a segunda fase e o mesmo teor de umidade ao final do processo. No entanto, o teor de umidade do café C1 foi sempre inferior ao teor de umidade do café C. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a colaboração de Israel de Souza Costa (Ministério da Agricultura) na classificação das amostras de café utilizadas no presente trabalho. 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, G. M., D'ANDRÉA, C. H. S., FEIJÓ, F. D., OLIVEIRA, R. G., TEIXEIRA, E. F., VITORINO, M. D., e FRANCA, A. S. Estudo do Processo Convencional de Torrefação de Café, Anais da a Jornada de Engenharia Química Uberlândia, MG, 155-15, 1999. CLARKE, R. J.; MACRAE, R. Coffee Volume : Technology, Amsterdam: Elsevier Applied Science, 31p, 197. FRANCA, A. S., OLIVEIRA, L. S., BORGES, M. L. A, VITORINO, M. D. Evolução da Composição do Extrato Aquoso de Café durante o Processo de Torrefação. Revista Brasileira de Armazenamento, vol. especial, n., p. 37-7, 1. MADAMBA, P.S., DRISCOLL, R.H. e BUCKLE, K.A. The thin-layer characteristics of garlic slices, Journal of Food Engineering, 9, 75-97, 199. SIVETZ, M. e DESROSIER, N.W. Coffee Technology, AVI Publishing Company, Inc., Westport, Connecticut, 71 p., 1979. STRUMILLO, C. e KUDRA, T. Topics in Chemical Engineering: Drying - Principles, Applications and Design, Gordon and Breach Science Publishers, vol. 3, 9-97, 19. 1559