A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional. Número 83 Junho de 2009

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Transcrição:

A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional Número 83 Junho de 2009

A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional Como parte das ações que visam avançar no entendimento acerca dos impactos da crise internacional no Brasil e, sobretudo, subsidiar o movimento sindical brasileiro em seus processos de negociação coletiva, o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apresenta nesta Nota Técnica uma síntese dos reajustes salariais negociados em 2009. No transcorrer dos cinco primeiros meses do ano, o SAS-DIEESE (Sistema de Acompanhamento de Salários) analisou o resultado das negociações salariais de 100 categorias de todo o Brasil. Uma mudança importante em relação à metodologia de pesquisa merece ser destacada: com o intuito de construir um diagnóstico mais preciso dos impactos da crise na negociação dos reajustes salariais, a opção foi acompanhar em 2009 as mesmas unidades de negociação analisadas em 2008 1 e, ao longo da análise, considerar somente as negociações com informação de reajustes salariais nos dois anos. Neste estudo serão considerados, portanto, os reajustes salariais de 2008 e 2009 das mesmas 100 unidades de negociação. Análise dos resultados A análise dos reajustes de 2009 revela ligeira melhora diante do ano anterior: se em 2008, 89% das negociações consideradas asseguraram pelo menos a recomposição das perdas ocorridas durante a data-base, em 2009, esse percentual subiu para 96% das negociações. Por conseguinte, o percentual de negociações com reajustes inferiores ao INPC-IBGE 2 passou de 11%, em 2008, para 4%, em 2009. No entanto, o percentual de negociações que garantiu reajuste acima do índice de preços permaneceu quase inalterado: 77%, em 2008, e 78%, em 2009. No geral, é visível a aproximação dos valores dos reajustes salariais à variação do INPC-IBGE. Em 2008, 12% tiveram reajustes que exatamente zeraram as perdas ocasionadas pela alta dos preços. Em 2009, os reajustes localizados nessa faixa atingem 18% do total. 1 Em 2008, foram analisados pelo SAS-DIEESE 706 reajustes salariais. 2 Índice Nacional de Preços ao Consumidor medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, principal índice inflacionário utilizado nas negociações salariais de todo o país.

Outra constatação que confirma esta aproximação é o expressivo aumento de categorias com ganhos de até 0,5% acima da inflação: em 2009 somaram 25% e em 2008, 15%. Por outro lado, em 2009, são verificados quatro reajustes em patamar de ganho real acima de 4,5% do índice inflacionário, algo não observado no ano anterior (Tabela 1). TABELA 1 Distribuição dos reajustes salariais segundo o INPC-IBGE Brasil, 2008 e 2009 2008 2009 Variação nº % nº % Acima do INPC 77 77,0 78 78,0 Mais de 5% acima 0-3 3,0 De 4,51% a 5% acima 0-1 1,0 De 4,01% a 4,5% acima 1 1,0 1 1,0 De 3,51% a 4% acima 0-2 2,0 De 3,01% a 3,5% acima 3 3,0 0 - De 2,51% a 3% acima 3 3,0 4 4,0 De 2,01% a 2,5% acima 5 5,0 6 6,0 De 1,51% a 2% acima 9 9,0 2 2,0 De 1,01% a 1,5% acima 23 23,0 18 18,0 De 0,51% a 1% acima 18 18,0 16 16,0 De 0,01% a 0,5% acima 15 15,0 25 25,0 Igual ao INPC 12 12,0 18 18,0 De 0,01% a 0,5% abaixo 9 9,0 2 2,0 De 0,51% a 1% abaixo 2 2,0 1 1,0 De 1,01% a 1,5% abaixo 0-1 1,0 Abaixo do INPC 11 11,0 4 4,0 Total 100 100,0 100 100,0 Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE Sistemas de Acompanhamento de Salários Resultados segundo os setores econômicos Ao analisar os reajustes salariais segundo os setores da economia, observam-se resultados heterogêneos. Nas unidades de negociação da indústria certamente o setor mais afetado pela crise, o percentual de reajustes acima da inflação sofre ligeira redução: variou de 86% para 83%. De outro lado, 11% das unidades de negociação obtiveram reajuste idêntico ao INPC-IBGE, apenas recompondo o poder de compra dos salários (em 2008, foi A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 3

8%). Quanto ao percentual de negociações com reajustes localizados nas duas faixas mais próximas ao índice (0,01% até 0,5% e 0,51 até 1%), nota-se um salto: passou de 28%, em 2008, para 58% neste ano. Sobre a ocorrência de reajustes abaixo do INPC-IBGE, estes permaneceram próximo dos 6% (Tabela 2). TABELA 2 Distribuição dos reajustes salariais na indústria em comparação com o INPC-IBGE Brasil - 2008 e 2009 2008 2009 Variação nº % nº % Acima do INPC 31 86,1 30 83,3 Mais de 5% acima 0-1 2,8 De 4,51% a 5% acima 0-0 - De 4,01% a 4,5% acima 0-0 - De 3,51% a 4% acima 0-0 - De 3,01% a 3,5% acima 2 5,6 0 - De 2,51% a 3% acima 0-1 2,8 De 2,01% a 2,5% acima 1 2,8 0 - De 1,51% a 2% acima 6 16,7 1 2,8 De 1,01% a 1,5% acima 12 33,3 6 16,7 De 0,51% a 1% acima 7 19,4 9 25,0 De 0,01% a 0,5% acima 3 8,3 12 33,3 Igual ao INPC 3 8,3 4 11,1 De 0,01% a 0,5% abaixo 1 2,8 1 2,8 De 0,51% a 1% abaixo 1 2,8 0 - De 1,01% a 1,5% abaixo 0-1 2,8 Abaixo do INPC 2 5,6 2 5,6 Total 36 100,0 36 100,0 Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE Sistemas de Acompanhamento de Salários No comércio, a situação é um pouco diferente. Assim como ocorre na indústria, o percentual de negociações com reajustes iguais ao INPC-IBGE subiu. Porém, quanto aos reajustes acima e abaixo da inflação, o comportamento foi diferente. Houve redução no número de reajustes acima do INPC-IBGE embora em número pouco significativo e nenhuma ocorrência de reajustes abaixo do índice, contra 13% observados em 2008 (Tabela 3). A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 4

TABELA 3 Distribuição dos reajustes salariais no comércio em comparação com o INPC-IBGE Brasil - 2008 e 2009 2008 2009 Variação nº % nº % Acima do INPC 11 73,3 10 66,7 De 3,51% a 4% acima 0-1 6,7 De 3,01% a 3,5% acima 0-0 - De 2,51% a 3% acima 0-0 - De 2,01% a 2,5% acima 0-1 6,7 De 1,51% a 2% acima 1 6,7 0 - De 1,01% a 1,5% acima 3 20,0 4 26,7 De 0,51% a 1% acima 5 33,3 2 13,3 De 0,01% a 0,5% acima 2 13,3 2 13,3 Igual ao INPC 2 13,3 5 33,3 De 0,01% a 0,5% abaixo 2 13,3 0 - Abaixo do INPC 2 13,3 0 - Total 15 100,0 15 100,0 Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE Sistemas de Acompanhamento de Salários O setor de prestação de serviços é, sem dúvida, o que apresenta o melhor desempenho na comparação entre 2008 e 2009. Como ser visto na Tabela 4, o percentual de categorias com perdas salariais no setor foi reduzido de 14% para 4% e o percentual das que conquistaram aumentos reais subiu de 71% para 78%. Além disso, em 2009, o número de negociações com aumentos reais situados nas faixas mais altas da tabela é superior ao observado em 2008. Quanto aos reajustes iguais ao INPC-IBGE, subiram de 14%, em 2008, para pouco mais de 18%, em 2009. A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 5

TABELA 4 Distribuição dos reajustes salariais em serviços em comparação com o INPC-IBGE Brasil - 2008 e 2009 2008 2009 Variação nº % nº % Acima do INPC 35 71,4 38 77,6 Mais de 5% acima 0-2 4,1 De 4,51% a 5% acima 0-1 2,0 De 4,01% a 4,5% acima 1 2,0 1 2,0 De 3,51% a 4% acima 0-1 2,0 De 3,01% a 3,5% acima 1 2,0 0 - De 2,51% a 3% acima 3 6,1 3 6,1 De 2,01% a 2,5% acima 4 8,2 5 10,2 De 1,51% a 2% acima 2 4,1 1 2,0 De 1,01% a 1,5% acima 8 16,3 8 16,3 De 0,51% a 1% acima 6 12,2 5 10,2 De 0,01% a 0,5% acima 10 20,4 11 22,4 Igual ao INPC 7 14,3 9 18,4 De 0,01% a 0,5% abaixo 6 12,2 1 2,0 De 0,51% a 1% abaixo 1 2,0 1 2,0 Abaixo do INPC 7 14,3 2 4,1 Total 49 100,0 49 100,0 Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE Sistemas de Acompanhamento de Salários A Tabela 5, a seguir, apresenta o percentual de negociações com reajustes iguais e acima do INPC-IBGE em 2008 e 2009, segundo a atividade econômica. Na indústria não se observa mudanças no quadro verificado em 2008. Neste setor, as únicas atividades que apresentaram negociações com reajustes abaixo da inflação foram a metalúrgica e a química e farmacêutica, porém em proporção igual nos dois anos. Entre as unidades do setor do comércio, o agregado varejista e atacadista melhorou seu desempenho: em 2008, 80% das negociações garantiram ao menos a recomposição do poder de compra. Em 2009, todas as negociações garantiram esse patamar mínimo. No setor de serviços, os trabalhadores em educação, processamento de dados e bancos e seguros privados tiveram 100% das negociações com percentuais iguais ou acima do INPC- IBGE, em 2009. No turismo e hospitalidade também ocorreu melhora: em 2008, 81% das unidades de negociação garantiram pelo menos a manutenção dos salários, já em 2009, o percentual subiu para 94%. A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 6

Setor/ramo TABELA 5 Total de reajustes salariais e número e porcentagem de resultados iguais ou superiores ao INPC-IBGE Brasil - 2008 e 2009 2008 2009 nº % nº % INDÚSTRIA 34 94,4 34 94,4 Alimentação 3 100,0 3 100,0 Construção e Mobiliário 7 100,0 7 100,0 Extrativista 2 100,0 2 100,0 Gráfica 5 100,0 5 100,0 Instrumentos Musicais e Brinquedos 1 100,0 1 100,0 Metalúrgica, Mecânica e de Mat. Elétrico 3 75,0 3 75,0 Papel, Papelão e Cortiça 1 100,0 1 100,0 Química e Farmacêutica 4 80,0 4 80,0 Fiação e Tecelagem 2 100,0 2 100,0 Vestuário 6 100,0 6 100,0 COMÉRCIO 13 86,7 15 100,0 Varejista e Atacadista 8 80,0 10 100,0 Minérios e Derivados de Petróleo 3 100,0 3 100,0 Propagandistas e Vend. Prod. Farm. 2 100,0 2 100,0 SERVIÇOS 42 85,7 47 95,9 Bancos e Seguros Privados 3 75,0 4 100,0 Comunicação, Public. e Empresas Jornal. 4 100,0 4 100,0 Difusão Cultural 1 100,0 1 100,0 Educação 7 87,5 8 100,0 Processamento de Dados 1 50,0 2 100,0 Segurança e Vigilância 9 100,0 9 100,0 Serviços de Saúde 1 50,0 1 50,0 Transportes 3 100,0 3 100,0 Turismo e Hospitalidade 13 81,3 15 93,8 Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE Sistemas de Acompanhamento de Salários Considerações finais Conforme apresentado nesta Nota Técnica, é possível notar que a instabilidade econômica causada pela crise internacional até o momento não se refletiu de forma negativa nas negociações coletivas dos reajustes salariais. A melhora observada nos resultados pode estar associada a fatores já bastante discutidos pelo DIEESE. Nos últimos anos, todos os estudos que trataram da negociação dos reajustes salariais têm revelado a estreita relação entre o desempenho da ação sindical neste A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 7

item de pauta com o comportamento dos preços. A partir de 2003, sempre que a inflação regrediu, os ganhos conquistados pelos trabalhadores foram maiores. Em 2009, a trajetória de queda da inflação, observada nos primeiros cinco meses, certamente contribuiu para que os reajustes salariais fossem maiores que a inflação acumulada durante a data-base das categorias. Contudo, o agravamento da crise internacional a partir de setembro de 2008 teve reflexos negativos no nível de emprego industrial, notadamente nos setores exportadores e aqueles dependentes do crédito interno e externo. Mesmo diante das incertezas sobre o futuro, o bom desempenho da atividade econômica observado até setembro do ano passado foi um dos fatores que possibilitou a manutenção da conquista de reajustes salariais nos moldes do que tem sido praticado nos últimos anos. Combinada à queda da inflação e às pressões sindicais, a recomposição das perdas e a conquista de aumentos reais, ainda que modestos, não sofreram nenhuma alteração nos meses que se seguiram a setembro de 2008. Esse dado reforça a hipótese de que o ajuste das empresas em resposta à crise econômica ocorreu principalmente pelo expediente da demissão de trabalhadores, especialmente no setor industrial, e não pelos reajustes salariais das categorias. Já a opção pela demissão tem sido aferida tanto pela Pesquisa de Emprego e Desemprego desenvolvida pelo DIEESE, em convênio com a Fundação Sistema de Análises de Dados/SEADE, quanto pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego. Por fim, é importante ressaltar que a presente Nota Técnica analisa, única e exclusivamente, o desempenho dos reajustes salariais no período 2008-2009, o que impede a extrapolação dos resultados para o comportamento das negociações dos demais itens que compõem a remuneração do trabalhador, como participação nos lucros e/ou resultados das empresas, abono salarial, piso salarial, auxílio alimentação, dentre outros. A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 8

Notas metodológicas 1. As informações que embasam este estudo foram extraídas de acordos e convenções coletivas de trabalho registradas no Sistema de Acompanhamento de Salários SAS- DIEESE. Os documentos foram remetidos ao DIEESE pelas entidades sindicais envolvidas nas negociações coletivas ou pelos escritórios regionais e subseções (unidades de trabalho do DIEESE que funcionam dentro de entidades sindicais). Complementarmente, também foi considerado o noticiário da imprensa escrita e dos veículos impressos ou virtuais do meio sindical jornais e revistas de sindicatos representativos de trabalhadores e de entidades sindicais empresariais. 2. Os dados aqui apresentados têm valor indicativo e buscam captar tendências da negociação salarial no país. 3. O painel de informações utilizado não permite extrapolações para além do conjunto exposto neste trabalho, dado que não se trata de amostra estatística. 4. Cada registro do painel refere-se a uma unidade de negociação. Entende-se, por unidade de negociação, cada núcleo de negociação coletiva entre representantes de trabalhadores e empresários que resulta num documento formalizado entre as partes. 5. Foram excluídos desta pesquisa os contratos assinados por entidades representativas de trabalhadores rurais e de funcionários públicos. Isto se deve às peculiaridades da dinâmica e dos resultados das negociações dessas categorias, que diferem significativamente das desenvolvidas nos demais setores econômicos. 6. O foco exclusivo das análises realizadas nesta pesquisa são as negociações por reajuste dos salários diretos. Não faz parte das pretensões deste trabalho, portanto, a abordagem dos efeitos de vantagens compensatórias acordadas sob a forma de remuneração indireta ou variável (auxílios e adicionais). 7. Os reajustes aplicados aos pisos salariais são frequentemente mais elevados do que os incidentes sobre as faixas de remuneração superiores. Para a elaboração deste estudo, foram desconsiderados os percentuais de reajuste dirigidos exclusivamente aos pisos. 8. No caso de reajustes salariais escalonados por faixas de remuneração, foi registrado o percentual incidente sobre o menor salário ou, quando disponível a informação, sobre a faixa salarial mais abrangente. A negociação de reajustes salariais em meio à crise internacional 9

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