DESEMPENHO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO HERBÁCEO NO ESTADO DO CEARÁ * Francisco das Chagas Vidal Neto 1, Eleusio Curvelo Freire 2, Francisco Pereira de Andrade 3, José Welington dos Santos 4, Gildo Pereira de Araujo 5. (1) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, 58107-720 Campina Grande, PB, e-mail: vidal@cnpa.embrapa.br, (2) Embrapa Algodão, e- mail: eleusio@cnpa.embrapa.br, (3) Embrapa Algodão, e-mail: chico@cnpa.embrapa.br, (4) Embrapa Algodão, e-mail: jwsantos@cnpa.embrapa.br, (5) Embrapa Algodão Barbalha-Ce, e-mail: gildo@cnpa.embrapa.br RESUMO O ensaio regional de competição de cultivares e linhagens de algodão herbáceo representa a etapa final, que antecede ao lançamento de uma cultivar, em que as linhagens promissoras são avaliadas em competição com cultivares testemunhas recomendadas para a região. Foi conduzido sob irrigação por aspersão convencional e constou de 15 tratamentos e quatro repetições no delineamento de blocos ao acaso. Os tratamentos foram avaliados em relação às características agronômicas e tecnológicas da fibra. A linhagem BRS 97-4565 destacou-se em relação às características agronômicas. Em relação às características da fibra destacaram-se as linhagens CNPA 96-117, CNPA 96-114 e CNPA 97-88. INTRODUÇÃO Através do seu programa de melhoramento genético a Embrapa Algodão está sistemática e continuamente desenvolvendo cultivares, visando atender à evolução das demandas da Cadeia Produtiva do algodão na Região Nordeste do Brasil. Deste modo, segundo Beltrão e Santana (2.002), o desenvolvimento de novas cultivares de algodoeiro herbáceo para o cultivo irrigado no Nordeste deve priorizar a resistência a doenças (bactérias, fungos, vírus e fitoplasmas), produtividade superior a 4.000kg/ha de algodão em caroço, porcentagem de fibra superior a 40% e boas qualidades intrínsecas da fibra (comprimento médio; acima de 31,0 finura - 3,8 a 4,2 de I.M.; resistência acima de 28 gf/tex; fiabilidade superior a 2100 e elevada reflectância). Freire e Costa (1.999) complementam estas informações, sugerindo um peso de capulho maior do que 5g, uniformidade de comprimento superior a 45%, maturidade maior do que 80% e índice de fibras curtas menor do que 3%. Para atender a estas demandas, a Embrapa Algodão mantém uma seqüência de ensaios, onde o ensaio regional de competição de cultivares e linhagens, que representa o passo final para o lançamento de genótipos superiores, no qual são avaliadas, entre outros aspectos, a produtividade e a adaptação e cujos resultados são apresentados neste trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Algodão, localizado no município de Barbalha, estado do Ceará, em solo aluvial, sob irrigação por aspersão convencional. Foram avaliadas 15 linhagens/cultivares de algodão herbáceo, no delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições. A área útil das parcelas constou de 2 fileiras de 5m de comprimento, espaçadas de 0,9m. A densidade de plantio foi de oito plantas por metro linear de fileira. Para efeito de avaliação foram computadas as seguintes variáveis agronômicas e da qualidade da fibra: peso médio de capulho (g), * Pesquisas financiada pelo Fundeci Banco do Nordeste
altura média da planta (cm), porcentagem de fibra (%), produtividade de algodão em rama (kg/ha), aparecimento da primeira flor (dias), aparecimento do primeiro capulho (dias), índice de fiabilidade, resistência (gf/tex), elongação (%), comprimento SL 2,5% (mm), uniformidade de comprimento (%), micronaire (µg/pol), índice de fibras curtas (%). As características da fibra foram determinadas em HVI pertencente ao Laboratório de Fibras da Embrapa Algodão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados sobre as características agronômicas são apresentados na tabela 1. Observa-se que não houve diferenças significativas para altura média da planta, produtividade de algodão em caroço e aparecimento da primeira flor. A produtividade média do ensaio foi de 3.522,8 kg/ha, com variação de 2.960,5 (CNPA 96-114 fibra longa) a 3.839,7 kg/ha (BRS Aroeira). A altura média de plantas do ensaio foi de 72,5cm, variando de 66,5 (BRS 97-668) a 78,5cm (BRS201). A média geral do ensaio para o aparecimento da primeira flor foi de 45,5 dias. Os tratamentos mais precoces floraram com 44,5 dias (CNPA 97-77 e CNPA 96-114) e os mais tardios com 46,7 dias (BRS 97-668 e CNPA 96-117). Todos os genótipos apresentaram peso de capulho dentro da faixa desejável, sendo que o maior valor ocorreu na linhagem de fibra longa CNPA 96-117 (7,4g) e o menor, na cultivar BRS 201 (5,6g). As linhagens CNPA 97-77, BRS 97-668, BRS 97-1682 e BRS 97 4565, além das cultivares BRS 201, BRS Sucupira e BRS Ipê, apresentaram porcentagem de fibra igual ou superior ao limite desejável, que é de 40%. A linhagem BRS 97 4565 foi a melhor em % de fibra (42,8%) e em rendimento de fibra (1.612,1kg/ha), enquanto a cultivar BRS Sucupira e as linhagens CNPA 97-77 e BRS 97-668 tiveram rendimentos superiores a 1.500kg/ha. A linhagem CNPA 96-114 foi a mais precoce para abertura do primeiro capulho (88,5 dias) e a CNPA 96-117 (95,5 dias), a mais tardia. Em geral, todos os genótipos apresentaram índices de fiabilidade, dentro da categoria desejável, de acordo com Beltrão e Santana (2.002), que é de 2.000 e 2.500 (Tabela 2). Os maiores valores ocorreram nas linhagens CNPA 96-117 (2.533,5) e CNPA 96-114 (2.467,7), que são materiais de fibra longa. Todos os materiais apresentaram resistência da fibra bem acima do mínimo desejado, que é de 26gf/tex (Freire e Costa, 1999). Os maiores valores ocorreram nas linhagens de fibras longas: CNPA 96-117 (44,3gf/tex) e CNPA-96-114 (42,5gf/tex). Entre os materiais de fibra média, a melhor resistência foi da cultivar BRS Aroeira (39,2gf/tex) e todas as linhagens foram superiores às testemunhas BRS 8H e BRS 201. Todos os materiais apresentaram alongamento na categoria muito alta (maior do que 7,6%), de acordo com Santana et al. (1999). Os maiores valores ocorreram nos materiais: BRS Ipê, BRS Itaúba, CNPA 97-88, CNPA 97-668, BRS 97-4565, CNPA 96-117, CNPA TB 90 e CNPA 96-114. As linhagens CNPA 96-117 (33,4mm) e CNPA 97-88 (32,2mm) apresentaram fibras com comprimento na categoria muito longa (acima de 32mm). Os materiais BRS 8H, BRS 201, BRS Ipê, BRS Itaúba e CNPA TB 90, apresentaram comprimento de fibra na categoria longa (29 a 30mm) e todos os demais, fibra média (25 a 29mm). A uniformidade da fibra variou de uniforme a muito uniforme e o maior valor ocorreu na linhagem CNPA 97-77 (86,4%). A finura situou-se na categoria média, exceto para a linhagem de fibra média BRS 97-668 (5,2µg/pol - grossa) e as de fibras longas CNPA 96-117 e CNPA-96-114 (3,8µg/pol - fina). O índice de fibras curtas obtidos pelas linhagens foi classificado na categoria muito baixo, de conformidade com Santana et al. (1999). Mesmo assim, apenas os materiais os materiais BRS Aroeira, CNPA 97-77, CNPA 97-88, CNPA 96-117 e CNPA 96-114 apresentaram índices de fibras curtas iguais a 3,5%, considerado ideal para a indústria têxtil, segundo Beltrão e Santana (2.002).
CONCLUSÕES A linhagem BRS 97-4565 destacou-se em relação às características agronômicas, enquanto as linhagens CNPA 97-77, BRS 97-668, BRS 97-1682 e BRS 4565, além das cultivares BRS 201, BRS Sucupira e BRS Ipê, apresentaram porcentagem de fibra igual ou superior a 40%. As linhagens de fibra longa CNPA 96-117 BRS Acala e CNPA 96-114 apresentaram as melhores características da fibra. Entre os materiais de fibra média, destacou-se a linhagem CNPA 97-88. Tabela 1. Valores médios das características agronômicas ensaio regional de cultivares e linhagens de algodão de fibra média irrigado, para o Nordeste. Barbalha-CE, 2002. Peso do Altura da Primeira Primeiro Porcenta-gem Produtivi-dade Tratamento capulho planta Flor capulho de fibra (%) (kg/ha) (g) (cm) (dias) (dias) BRS 8H 6,9 abcd 69,7 38,2 cdefg 3.327,5 45,5 90,5 bc BRS 201 5,6 e 78,5 40,8 abcd 3.622,7 44,7 92,7 abc BRS AROEIRA 6,8 abcd 71,5 38,7 bcdef 3.839,7 45,5 92,7 abc BRS SUCUPIRA 6,7 abcd 75,7 41,1 abc 3.743,2 45,7 92,7 abc BRS IPÊ 6,0 de 67,2 41,5 abc 3.361,2 46,0 93,0 abc BRS ITAUBA 6,4 bcde 76,0 37,6 defg 3.293,0 46,2 91,0 abc CNPA 97-14 6,4 bcde 75,5 38,8 bcdef 3.778,0 45,7 93,0 abc CNPA 97-77 7,0 abc 67,7 41,7 ab 3.672,0 44,5 92,5 abc CNPA 97-88 6,3 cde 71,5 35,3 g 3.762,5 44,7 90,7 abc BRS 97-668 6,5 abcd 66,5 41,8 ab 3.668,7 46,7 93,7 ab BRS 97-1682 6,4 bcde 74,0 40,4 abcd 3.526,5 45,2 90,2 bc BRS 97-4565 6,9 abc 69,5 42,8 a 3.766,7 45,5 93,5 ab CNPA 96-117 7,4 a 77,5 36,8 efg 3.025,0 46,7 95,5 a CNPA TB 90 6,5 abcd 73,2 39,2 bcde 3.495,5 44,7 90,5 bc CNPA 96-114 7,2 ab 70,7 35,6 fg 2.960,5 44,5 88,5 c CV (%) 5,2 13,6 3,3 24,0 2,1 2,0 * Valores seguidos da mesma letra, em cada coluna, não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 2. Valores médios das características da fibra, do ensaio regional de cultivares e linhagens de algodão de fibra média irrigado, para o Nordeste. Barbalha-CE, 2002. Tratamento Fiabilidade Resistência (gf/tex) Elongação (%) Comprimento SL 2,5% (mm) Uniformidade de comprimento (%) Micronaire (µg/pol) Índice de fibras curtas (%) BRS 8H 2.181,7 cde 32,5 efg 11,5 ab 29,0 cde 83,9 c 4,3 bcd 5,5 BRS 201 2.121,0 de 28,9 g 11,6 ab 29,3 bcde 84,9 abc 4,7 abc 4,1 BRS AROEIRA 2.291,0 bcd 39,2 bc 11,4 ab 30,3 abcde 86,2 ab 4,4 bc 3,5 BRS SUCUPIRA 2.293,5 bcd 36,6 cde 11,6 ab 31,2 abcd 85,3 abc 4,5 bc 3,7 BRS IPÊ 2.148,0 de 33,2 defg 12,2 a 28,8 cde 84,7 abc 4,8 ab 4,8 BRS ITAUBA 2.246,2 cd 37,6 bcd 12,3 a 29,7 bcde 85,6 abc 4,3 bcd 3,6 CNPA 97-14 2.195,5 cde 32,1 efg 11,1 ab 28,3 de 84,4 abc 4,4 bc 5,2 CNPA 97-77 2.256,7 cd 34,2 cdef 10,2 b 30,5 abcde 86,4 a 4,8 ab 3,5 CNPA 97-88 2.363,2 abc 35,8 cdef 12,5 a 32,2 ab 85,4 abc 4,2 cd 3,5 BRS 97-668 2.038,7 e 32,5 defg 11,8 a 27,6 e 85,0 abc 5,2 a 4,7 BRS 97-1682 2.140,0 de 35,7 cdef 11,2 ab 28,2 de 84,1 bc 4,7 abc 5,6 BRS 97-4565 2.192,0 cde 34,7 cdef 11,9 a 29,9 bcde 85,4 abc 4,7 abc 3,7 CNPA 96-117 2.533,5 a 44,3 a 11,8 a 33,4 a 86,2 ab 3,8 d 3,5 CNPA TB 90 2.212,2 cde 30,7 fg 12,1 a 29,6 bcde 85,6 abc 4,6 bc 3,8 CNPA 96-114 2.467,7 ab 42,5 ab 11,6 a 31,9 abc 85,5 abc 3,8 d 3,5 CV (%) 3,4 5,6 4,7 4,1 1,0 4,9 21,1 Valores seguidos da mesma letra, em cada coluna, não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELTRÃO, N.E. de M.; SANTANA, J.C.F. de. Atualidade algodoeira no Brasil e no mundo. Bahia Agric., v.5, n.1, p. 19-21, set. 2002. FREIRE, E.C.; COSTA, J.N. da. Objetivos e métodos utilizados nos programas de melhoramento do algodão no Brasil. In: BELTRÃO, N.E. de M. (Org.) O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para transferência de tecnologia, 1.999. v.1, p. 271-293. SANTANA, J.C.F. de, et al. Características da fibra e do fio do algodão: análise e interpretação dos resultados. In: BELTRÃO, N.E. de M. (Org.) O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para transferência de tecnologia, 1.999. v.2, p. 857-880.