O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO AMBIENTAL



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Transcrição:

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO AMBIENTAL Jordana de Oliveira Dorta* RESUMO: A constituição Federal em seu artigo 225 dispõe que é um direito de todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado, visando uma vida saudável. Entretanto, como se pode observar, atualmente está cada vez mais difícil manter um ambiente tranqüilo, eis que a degradação ambiental vem se tornando constante. Neste sentido, será analisada a Lei de Crimes ambientais, que visa punir os que praticam atos lesivos ao ecossistema, gerando uma instabilidade no desenvolvimento sustentável. Ver-se-á que a referida Lei, prevê diversas sanções a fim de reparar, ou então prevenir ato lesivo ao bem juridicamente tutelado. Outrossim, o presente artigo almeja apresentar breves considerações acerca do Direito Penal Ambiental nacional, passando por um breve histórico do surgimento deste instituto. Será analisada a aplicabilidade do princípio da insignificância dentro do direito ambiental vigente, a partir da Lei de n 9. 605/98. Palavras chave:. direito ambiental, princípio da insignificância, crimes ambientais. ABSTRACT: The article 225 of Brazilian Federal Constitution states that everyone has the right to a balanced environment, oriented by the aim of common welfare. However, as noticeable, it is becoming harder to achieve the alluded purpose, due to the increasing and constant environmental degradation. Therefore, it will be analyzed the Law of Environmental Crimes, which pursuits the punishment of those who practice harmful acts against ecosystem, engendering instability of the sustainable development. It will be evidenced that the mentioned law prescribes several penalties, in order to repair or even prevent a noxious act over protected legal interest. Furthermore, the current study craves the offering of succinct remarks about the Brazilian environmental criminal legislation, mentioning concise historic notes. It will be examined the applicability of the principle of insignificance to the current environmental law, according to the Law 9.605/98. Key words:. environmental law; principle of insignificance; environmental crimes. * Especialista em Ministério Público Estado Democrático de Direito pela Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Paraná FEMPAR Londrina 1

SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO. 2 DESENVOLVIMENTO. 2.1 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AO MEIO AMBIENTE. 2.2 O DIREITO PENAL AMBIENTAL. 2.3 O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. 2.4 O PRINÍCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO PENAL AMBIENTAL. 2.4.1 CONSEQUÊNCIAS DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFIÂNCIA NO DIREITO PROCESSUAL PENAL. 3. CONCLUSÃO. BIBLIOGRAFIA. 1. INTRODUÇÃO O artigo será elaborado utilizando-se a pesquisa bibliográfica e documental, analisando-se o princípio da insignificância e sua aplicação no direito ambiental, segundo a legislação, doutrina e a jurisprudência. Visa considerar o princípio da insignificância no âmbito do direito ambiental, sendo que para tanto, serão analisadas doutrinas e jurisprudências atuais sobre o respectivo tema. Com a constante evolução, bem como o aumento caótico de complexos industriais e, uma gradação quanto aos seus efeitos nocivos bastantes variáveis, podendo atingir tão-só o meio local, o regional ou até comprometer o equilíbrio biológico do próprio planeta, é chegada à era ambiental. O referido tema encontra-se ligado ao Direito Penal e ao Direito Constitucional, repercutindo ainda, no processo penal. O direito ambiental, por estar em fase de desenvolvimento, necessita de adaptações e análises de cada caso concreto, buscando soluções para as agressões ao meio ambiente, tipificando as condutas humanas relevantes ao contexto. O presente estudo aborda ainda a viabilidade de se excluir a tipicidade nas infrações ambientais, que sendo mínimas, independentemente da situação econômica do agente ou da vítima, conduzem a concluir que em nenhum momento atingem o bem jurídico tutelado. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AO MEIO AMBIENTE Primeiramente, deve-se atentar ao início do direito ambiental. No Brasil, com a revolução industrial, na Europa, e depois da segunda guerra mundial, houve um acúmulo de pessoas nas cidades, gerando grande preocupação em relação ao meio ambiente. Dessa forma, a sociedade passou a ter o pensamento de abandono dentro do contexto ambiental. Guiado pela idéia de desenvolvimento a qualquer custo, sem perceber que o maior 2

atingido pela má utilização dos recursos naturais seria ele próprio e as futuras gerações, fez-se necessária à criação de normas que tutelassem o bem ambiental e disciplinassem a relação do homem com a natureza. Diante este contexto, houve a necessidade de cada vez mais colocar limites à ação humana, freando dessa forma, a devastação do ambiente em escala planetária. A princípio, o direito ambiental era tutelado apenas no âmbito internacional, tendo como marco inicial a Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, no ano de 1972, firmado em Estocolmo, na Suécia. Nesse sentido, Fernando Magalhães Modé, apud Vânya Spagolla 1 A preocupação com a proteção do meio ambiente, seja tomada por motivações nacionais ou internacionais, atingiu maturidade com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972. A partir dessa Conferência das Nações Unidas emergiram tratados e convenções internacionais sobre o meio ambiente, bem como surgiu em âmbito nacional uma série de providências institucionais e legislativas que, nos últimos 30 anos, buscou tratar de forma sistematizada o tema. Em síntese, essa Declaração alega que o homem possui como direito fundamental a condição de uma vida satisfatória, ou seja, um ambiente adequado a se viver com dignidade. Outrossim, além dos direitos, informa que o ser humano tem por dever salvaguardar o ambiente em que vive. No ano de 1985, firmou-se a Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, visando a diminuição da emissão do gás clorofluorcarboneto (principal substancia causadora do buraco na camada que filtra os raios ultravioletas a incidirem sobre a superfície terrestre), seguida pelo Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de Ozônio em 1987. Em 1992, realizou no Brasil a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio/92. Essa Conferência firmou como primordial proteção o meio ambiental. Em 1997, realizou-se o 2º Congresso Internacional de Direto Ambiental, com a intenção de avaliar os resultados concretos da ECO-92, firmada cinco anos antes. 1 SPAGOLLA, Vânya Senegalia Morete. Marília, 2008. 176 folhas. Tributação Ambiental: Proposta para Instituição de um Imposto Ambiental no Direito Brasileiro (tese defendida para obtenção de título de Mestre) Universadidade de Marília. 3

De modo recente, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, conhecida por Rio+10, reuniu-se na cidade de Johannesburgo, na África do Sul, no ano de 2002, para dar seguimento às discussões iniciadas trinta anos antes com a Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. Teve como objetivo primordial, encontrar medidas diligente para contribuir com a implementação do desenvolvimento sustentável, proteção da biodiversidade, e ainda, diminuição das conseqüências do efeito estufa 2. Falando-se do plano interno, tem-se que a proteção jurídica ambiental teve seu marco histórico através das ordenações do Reino, período este do descobrimento do Brasil. As primeiras normas dirigidas à tutela ambiental estiveram presente, inicialmente, na legislação portuguesa e espanhola que permaneceram vigente no país. Passados anos e com eles novas convenções, com a vinda da família real para o Brasil, intensificou-se a proteção ao meio ambiente na medida em que havia promessas de recompensas aos escravos, caso estes delatassem o contrabando, bem como o corte ilegal de árvores. Com o Código Civil de 1916, a Constituição Federal ganhou força pra criar mais legislação visando à proteção ambiental. Dessa forma, as constituições de 1934, 1937, 1946, 1967 e ainda a de 1969 outorgaram a proteção específica às belezas naturais, dentre outras. Em se tratando de normas infraconstitucionais, tem-se como exemplo o Código Florestal, sendo este a Lei 4771/65, o Código Das Águas, Código de Pesca e o Código de Mineração. Contudo, o Direito Ambiental teve sua grande importância com a entrada no ordenamento jurídico da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Segundo dispõe a referida Lei, estabeleceu-se padrões de qualidades a serem respeitados pelo homem, alertando que em caso de não se respeitar o meio ambiente, serão responsabilizados pelos prejuízos. A Lei nº 6.938/81, no inciso I, do seu artigo 3º, definiu o meio ambiente, como o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas 3. 2 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de Direito Ambiental. 2 ed. Saraiva: São Paulo, 2003, p. 22. 3 SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo: Malheiros 4

Pode-se ainda, ser definido como complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações 4. Ou ainda, um conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do Direito reunidos por sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao seu meio ambiente. 5 A Lei 7343/85, lei esta que disciplinou ação civil pública, tornou-se um instrumento importante na medida em que colocou à disposição do homem o poder de exigir do poluidor a reparação específica e ainda, pecuniária dos danos ambientais causados. Igualmente, garantiu o direito em evitar que situações futuras venham acontecer. José Afonso da Silva nesse contexto afirma que As Constituições Brasileiras anteriores à de 1988 não traziam nada especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural. A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental. Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista. Assumiu o tratamento da matéria em termos amplos e modernos. Traz um capítulo da ordem social. Mas a questão permeia todo o seu texto, correlacionada com os temas fundamentais da ordem constitucional 6. Ainda, Edis Milaré Nesta visão crítica, o traço mais marcante da nossa legislação ambiental é o seu perfil assistemático, gravíssimo pecado para um sistema normativo que, pela sua abrangência e caráter transdisciplinar (interno e externo), não se mantém de pé sem um mínimo de organicidade e sistematicidade. No emaranhado de normas existentes, difícil mesmo é encontrar matérias nas quais não existam conflitos normativos, em que os dispositivos, nos vários níveis legislativos, falem a mesma língua. Nada mais proveitoso para o degradador ambiental do que a existência de normas que se antagonizam, com isso deixando o terreno livre para o exercício de atividades altamente lesivas ao meio ambiente 7. Dessa forma, surge o interesse em codificar as normas ambientais, ou seja, reunir todas disposições legais sobre o mesmo assunto. Diante todo o contexto, há de se notar que as leis ambientais são esparsas e criadas em vários momentos. 4 MILARÉ. Edis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 5 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. 6 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p.25. 7 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente a gestão ambiental em foco. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 747. 5

Em suma, fundamentado na Constituição Federal em seu artigo 225, o direito ambiental promove a segurança de que todos os cidadãos sejam da presente ou da futura geração tenham um ambiente equilibrado: Art. 225 CF Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Prevê, ainda neste mesmo artigo, que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado traduz-se em um direito fundamental, uma vez que atua como essencial à qualidade de vida da população, o qual deve ser defendido e preservado pelo poder público e pela coletividade no sentido mais amplo de cooperação que a expressão pode alcançar. Trata-se, pois de direito difuso 8 - todo aquele que protege interesses que vão além dos individuais e atingem um número indeterminado ou indeterminável de indivíduos. Tais interesses tocam os indivíduos sem, necessariamente, exigir que os mesmos pertençam a grupos ou categoria determinada. Dessa forma, espalhado pela sociedade, do qual todos são titulares, enquadram-se como direito de terceira dimensão ou geração, ou seja, são os direitos que transcedem o ser humano a fim de se atingir outros grupos da sociedade. É neste contexto que surge a Lei Ambiental. Antigamente, esta Lei preocupava-se com a criação de normas jurídicas dispersas reguladoras das infrações penais contra o meio ambiente, fato que foi suprimido, com o surgimento da Lei 9.605/98, chamada de Lei Penal Ambiental. A Nova lei Ambiental (Lei n 9.605/98) tipificou como crime diversas condutas anteriormente tidas como ilícitos administrativos ou civis ou ainda, as que não eram objetivos de regulamento, assim, adequou as sanções penais à realidade, tendo por base a proporcionalidade, a significância e o resultado dos delitos. A Lei nº 9.605/98 sistematizou normas de Direito Ambiental, proporcionando o conhecimento pela sociedade, além de aprimorar o instrumento de execução pelos órgãos encarregados da defesa do meio ambiente. Ainda, a referida Lei fixou pressupostos para as responsabilidades das pessoas jurídicas, sendo que as condutas e atividades lesivas o ambiente têm tripla conseqüência 8 LEIGOS, Juristas. Direito Ambiental. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewfile/32493/31706>. Acesso em 28 de dezembro de 2010. 6

jurídica na mencionada Lei, ou seja, pode haver sanção na esfera administrativa, civil e penal, de forma alternativa ou cumulativamente. 2.2 O DIREITO PENAL AMBIENTAL Diante todo o exposto no capítulo anterior, surge o direito penal ambiental, na medida em que existindo a necessidade e a relevância do delito, deve-se aplicar sanções aos agentes, a fim de se punir e evitar novos acontecimentos. A intervenção do Direito Penal na área ambiental é autorizada por uma norma constitucional, prevista na Constituição de 1988, na medida em que, o artigo 225, em seu parágrafo 3º 9 assegura o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a sadia qualidade de vida, procurando em várias oportunidades fazer com que se possa assegurar a efetividade desses direitos: Art. 225, 3º: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Ainda, no que se refere a este dispositivo, tem-se que o mesmo traz o que chamamos de Mandamento expresso de Criminalização, no que se fazer referência a ao meio ambiente. O mencionado mandamento destaca, de maneira expressa, a necessidade da intervenção penal para a proteção ambiental. Além disso, sobre o mencionado mandamento, pode-se afirmar que são um instrumento da Constituição para oferecer proteção adequada e suficiente a alguns direitos fundamentais, diante de lesões ou ameaças vindas de agentes estatais ou de particulares 10. Eles indicam sobre quais matérias o legislador deixa de ter a faculdade de legislar, passando a ter como primórdio a obrigação de tratar do assunto, protegendo os bens jurídicos indispensáveis ao meio ambiente e à sociedade. Nota-se que o mandado e criminalização dá ordens, a quais, vinculam o legislador a legislar sobre a proteção de um bem jurídico-penal. Assim, o legislador ordinário terá a competência para estabelecer as normas dessa proteção, tendo por base, um instrumento normativo adequado. 9 ANGHER, Anne Joyce. Vade Mecum Acadêmico de Direito. 8. ed., São Paulo: Rideel, 2009, p. 75. 10 REIS, Adriana Tenório Antunes. Mandados de criminalização e princípio da codificação. Disponível em <http://jus.uol.com.br/revista/texto/14937/mandados-de-criminalizacao-e-principio-da-codificacao> Acesso em 26 de janeiro de 2011. 7

O mandado constitucional não define a conduta incriminada, nem lhe estabelece sanção, define apenas, e de forma nem sempre específica, a conduta por incriminar. Esse mandamento expresso faz com que a previsão penal perca seu caráter de subsidiariedade passando a ser obrigatória, ou seja, o que chama-se de questões de conveniência e oportunidade, não podem ser alegadas para justificar a omissão em dar cumprimento à Lei Maior. A exemplo do mandamento expresso na Constituição Federal de 1988 tem-se no artigo 5º, os seguintes: (1) racismo no inciso XLII; (2) tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e crimes hediondos no inciso XLIII; e (3) ação de grupos armados, civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado Democrático no inciso XLIV. No art. 7º, inciso X, está presente a retenção dolosa do salário dos trabalhadores. No art. 227, 4º, há o abuso, a violência e a exploração sexual de criança ou adolescente. E, por fim, no art. 225, temos as condutas lesivas ao meio ambiente. A gravidade e dimensão do problema ecológico, que coloca em risco a própria sobrevivência da humanidade, confrontado com o reconhecimento do direito ao meio ambiente sadio e equilibrado, enquanto direito fundamental do homem, exigiram a proteção desses valores na esfera penal. Por suas repercussões em tais direitos fundamentais explicitamente garantidos pela Constituição, de forma implícita, temos como princípio penal o da mínima intervenção do Direito Penal. No entanto, a aplicação do direito penal ambiental não pode se dar de maneira abusiva. Mesmo sendo utilizado na proteção penal ambiental, não pode o Direito Penal Ambiental deixar sua característica de ultima ratio, ou seja, deve-se recorrer ao direito penal ambiental somente depois de esgotados os outros meios disponíveis para a solução do caso concreto. O atual Direito Penal considera relevante a exigência da clareza na tipificação das condutas puníveis, como indispensável da segurança jurídica, definindo o tipo penal como uma descrição concreta, objetiva e neutra das condutas proibidas. A Lei nº. 9605/98, que regulamenta os Crimes Ambientais assinala possibilidades de aplicação de sanções tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas, podendo estas ser de direito público ou privado, mostrando que as sociedades civilizadas estão se valendo das normas jurídicas de proteção ao meio ambiente, em especial as penais. 8

Em se tratando das sanções penais, nota-se que o artigo 21 da Lei 9065/98 faz referencia à pena de multa, restritivas de direitos e prestação de serviços á comunidade, podendo ser aplicada alternativamente ou cumulativamente. Ainda, o artigo 22 da mesma lei dispõe penas restritivas de direito aplicáveis as pessoas jurídicas, sendo suspensão parcial ou total de atividades, interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade proibição de contratar com o Poder Publico, bem como dele obter subsídios, subvenções e doações. A suspensão de atividade será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. Em se tratando de pena de multa, tem-se que esta não possui um critério certo, embora a Lei estabeleça que sua fixação deverá observar as condições econômicas do infrator (artigo 6º) e calculada de conformidade com o estipulado no Código Penal, podendo ser aumentada em até três vezes. Pode-se dizer que o bem jurídico tutelado pela norma penal ambiental é o equilíbrio dos ecossistemas, buscando atingir a manutenção adequada da saúde pública e da dignidade da pessoa humana. Como já exposto anteriormente, a tutela penal só será usada nos casos em que as condutas provoquem ou possam provocar danos a bens jurídicos relevantes quando se constitui a única forma de impedir que o mesmo ocorra. 2.3 O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Derivado do latim principium que quer dizer origem, os princípios são a base do ordenamento jurídico e verdadeiros norteadores dos legisladores, dos aplicadores do direito no exercício da profissão e até mesmo das pessoas que se relacionam com o meio ambiente, seja explorando-o economicamente ou apenas usufruindo de seus bens naturais para o lazer. Assim, para que o Direito Ambiental tenha aplicabilidade e efetividade, é de suma importância que, além da ciência das leis e das demais legislações ambientais, sejam do senso comum seus princípios fundamentais, pois são estes as normas de valor genérico que orientarão sua compreensão, aplicação e integração ao sistema jurídico como um todo, estando tais princípios positivados ou não. 9

O Direito Ambiental está amparado por princípios próprios, específicos e interligados entre si, devido à relevância e à magnitude de seu objeto de proteção: o meio ambiente. Muito embora existam vários princípios de Direito Ambiental, optou-se por mencionar, neste trabalho, aquele que de maneira interligada ao direito penal, relaciona-se ao tema proposto: O Princípio da Insignificância no Direito Ambiental. Tratando-se do âmbito do direito penal, há de se observar que a finalidade deste instituto é proteger os bens jurídicos importantes, a fim de se atingir uma harmonia na sociedade. Entretanto, para que essa finalidade seja atingida, o legislador analisa o conjunto de fatos com os valores, ou seja, deve-se observar as condutas dos agentes, com a possibilidade de lesar os bens ou valores protegidos. No ordenamento jurídico pátrio é impossível que o legislador consiga prever todos os tipos penais que devam ficar sob sua tutela. Sendo assim, surgem casos em que o direito penal para verificar a tipicidade da conduta, deverá se ater em verificar se o fato praticado além de estar adequado à conduta descrita na legislação, causou também a lesividade ao bem jurídico. Quanto ao seu surgimento propriamente dito, há duas teorias que relatam a sua origem, sendo elas: a que acredita que o seu nascimento se deu no direito romano, a partir do brocardo mininus non curat praeto, e a outra afirma que surgiu na Europa durante a primeira Guerra Mundial diante da situação desesperadora da população que, sem alternativas, praticava pequenos furtos. Neste contexto, surge no Direito Penal o princípio da insignificância 11 - aquele que permite infirmar a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela, desprovidas de reprovabilidade, de modo a não merecerem valoração da norma penal, exsurgindo, pois, como irrelevantes - que, uma vez aplicado, afasta a tipicidade material e, conseqüentemente, a tipicidade penal, tornando dessa forma, a conduta atípica em face de sua irrelevância. Sobre o referido princípio, Edílson Mougenot Bonfim e Fernando Capez afirmam que: 11 LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Princípio da Insignificância no Direito Penal. 2ª Edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p.51. 10

Na verdade, o princípio da bagatela ou da insignificância (...) não tem previsão legal no direito brasileiro (...) sendo considerado, contudo, princípio auxiliar de determinação da tipicidade, sob a ótica da objetividade jurídica. Funda-se no brocardo civil minis non curat praetor e na conveniência da política criminal. Se a finalidade do tipo penal é tutelar um bem jurídico quando a lesão, de tão insignificante, torna-se imperceptível, não será possível proceder ao seu enquadramento típico, por absoluta falta de correspondência entre o fato narrado na lei e o comportamento iníquo realizado. É que, no tipo, somente estão descritos os comportamentos capazes de ofender o interesse tutelado pela norma. Por essa razão, os danos de nenhuma monta devem ser considerados atípicos. A tipicidade penal está a reclamar ofensa de certa gravidade exercida sobre os bens jurídicos, pois nem sempre ofensa a um bem ou interesse juridicamente protegido é capaz de se incluir no requerimento reclamado pela tipicidade penal, o qual exige ofensa de alguma magnitude a esse mesmo bem jurídico 12. (grifo nosso). O Direito Penal não deve estender seu alcance, aplicando a mais grave das sanções, diante um fato que pode ser tutelado por maneira menos onerosa. Esse âmbito jurisdicional deve ser preservado a tutelar casos em que os demais ramos do direito são insuficientes para se atingir a pacificação. Ou seja, não há motivos para se aplicar o meio mais gravoso, quando se tem a possibilidade de se utilizar outros meios mais brandos. Assim, cada vez mais se acentua o caráter subsidiário do Direito Penal, reservado para as violações mais graves, consagrando, assim, seu aspecto de ultima ratio. Nesse sentido, segue decisão: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO SIMPLES. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. POSTERIOR REJEIÇÃO. ART. 43, I E III, DO CPP. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. MANUTENÇÃO DA REJEIÇÃO. PRESCRIÇÃO VIRTUAL. IMPOSSIBILIDADE. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INSTRUMENTALIDADE. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. LEGITIMAÇÃO DA PENA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A extinção da punibilidade pela prescrição regula-se, antes de transitar em julgado a sentença, pelo máximo da pena prevista para o crime (CP, art. 109) ou, depois do trânsito em julgado para a acusação, pela pena efetivamente aplicada (CP, art. 110), conforme expressa previsão legal. Portanto, não existe norma legal que autorize a extinção da punibilidade pela prescrição em perspectiva. 2. O devido processo legal, ainda que instrumento do ius puniendi, é garantia constitucional do acusado de observância dos princípios da dignidade da pessoa humana, da nãoculpabilidade e da liberdade, uma vez que, ainda que advenha decisão condenatória, será justa, pois assegurado o direito de amplamente se defender. Legitima, portanto, a aplicação da pena pelo Estado. 3. O devido processo legal não pode servir como óbice à aplicação dos princípios que norteiam o direito penal, ultima ratio, que deve se ocupar do combate aos comportamentos humanos indesejáveis que gerem relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. 12 BONFIM, Edílson Mougenot. Capez, Fernando. Direito Penal Parte Geral. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, p. 121-122. 11

4. O princípio da insignificância, característica do princípio da intervenção mínima, tem incidência na tipicidade material do delito que, quando ausente a lesão ao bem jurídico tutelado, impõe a própria atipicidade da conduta. 5. A aplicação do princípio da insignificância, por importar em atipicidade, não impõe, obrigatoriamente, a instrução processual, podendo ser declarada, com o fim de absolvição, em qualquer fase do processo. 6. A tentativa de subtrair 1 bicicleta avaliada em R$ 80,00 (oitenta reais), embora se amolde à definição jurídica do crime de furto tentado, não ultrapassa o exame da tipicidade material, mostrando-se desproporcional a imposição de pena privativa de liberdade, uma vez que a ofensividade da conduta se mostrou mínima; não houve nenhuma periculosidade social da ação; a reprovabilidade do comportamento foi de grau reduzidíssimo e a lesão ao bem jurídico se revelou inexpressiva. 7. Recurso parcialmente provido para afastar a extinção da punibilidade e restaurar os fundamentos da decisão monocrática. (REsp 1114157/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2010, DJe 15/03/2010) (grifo nosso). Ou seja, leva em conta a tolerância da sociedade com relação à determinada conduta de pouca gravidade, estando regulada pelo desvalor do resultado. O princípio da insignificância encontra-se ligado aos princípios da ofensividade que informa que se não houver lesão não há crime. Para haver lesividade há necessidade de haver um sujeito ativo, o autor do crime, e de outro o sujeito passivo, a vítima, que sofreu algum abalo em seu patrimônio jurídico. Segundo este princípio não há como se punir os comportamentos de cunho imoral ou pecaminoso, mas apenas aqueles que causam lesão ao bem jurídico alheio... Este princípio mantém relação com o princípio da insignificância, no sentido de que, ainda que típica a atitude, ela não tem o condão de causar uma lesão relevante ao patrimônio jurídico do sujeito passivo, a vítima, por isso será considerado um crime de bagatela ou uma insignificância 13 ; 1 ao princípio da fragmentariedade, o qual "se concentra o direito penal não sobre um todo de uma dada realidade, mas sobre fragmentos dessa realidade de que cuida, é dizer, sobre interesses jurídicos relevantes cuja proteção penal seja absolutamente indispensável". E por conseguinte esta fragmentariedade traz em seu âmago imperfeições de ordem legislativa bem como de ordem técnica. Para corrigir estas imperfeições uma das ferramentas de a que se socorrem os operadores do direito é o princípio da insignificância, segundo Queiroz, "é para obviar os excessos da imperfeição da técnica legislativa, que acaba, na prática, por permitir incida o direito penal sobre condutas socialmente insignificantes, que se impõe a aplicação desse princípio 14 ; ao princípio da intervenção mínima 13 WILLEMANN, Zeli José. O Princípio da Insignificância no Direito Ambiental. Disponível em <http://jus.uol.com.br/revista/texto/6753/o-principio-da-insignificancia-no-direito-ambiental> Acesso em 27 de dezembro de 2010. 14 Idem. 12

"estabelece que o direito penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos relevantes para os indivíduos e para a sociedade, bens imprescindíveis à convivência pacífica dos homens e que não podem ser protegidos de outra forma." Além da relevância do bem jurídico, o direito penal deve considerar a gravidade do fato, Muñoz, referido por Batista, alega que o "direito penal só deve intervir nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes, e as perturbações mais leves da ordem jurídica são objeto dos outros ramos do direito." Por sua vez o princípio da insignificância vai verificar se estes bens jurídicos são realmente relevantes para os indivíduos e para a sociedade e se, portanto, carecem da proteção estatal 15 ; e por fim, ao da proporcionalidade é o justo equilíbrio que deve haver entre o resultado do delito e a pena; entre a gravidade do fato ilícito praticado e a pena cominada; é a relação entre a magnitude da lesão ao bem jurídico e a medida de segurança a ser aplicada. E o princípio da insignificância está intimamente ligado ao princípio da proporcionalidade, pois, como sugere Rebelo o fundamento do princípio da insignificância está, também na idéia de proporcionalidade que a pena deve guardar em relação à gravidade do crime nos casos de ínfima afetação ao bem jurídico o conteúdo do injusto é tão pequeno que não subsiste nenhuma razão para o pathos ético da pena de sorte que a mínima pena aplicada seria desproporcional à significação social do fato 16. Tem-se que os citados princípios auxiliam na interpretação da lei penal incriminadora, delimitando seu alcance àquelas condutas que realmente afetem de modo relevante o bem juridicamente protegido. Seguindo este entendimento, o Supremo Tribunal Federal entende que: 15 Idem. 16 Idem. E M E N T A: PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DOS VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE POSTULADO DE POLÍTICA CRIMINAL - CONSEQÜENTE DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU ASPECTO MATERIAL - DELITO DE FURTO - CONDENAÇÃO IMPOSTA A JOVEM DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS DE IDADE - "RES FURTIVA" NO VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61% DO SALÁRIO MÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR) - DOUTRINA - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA JURISPRUDÊNCIA DO STF - PEDIDO DEFERIDO. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL. - O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a 13

inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público. O POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO PENAL: "DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR". - O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. (HC 84412, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19/10/2004, DJ 19-11-2004 PP-00037 EMENT VOL-02173-02 PP-00229 RT v. 94, n. 834, 2005, p. 477-481 RTJ VOL-00192-03 PP-00963) Sendo assim, tem-se que o legislador deve se atentar às condutas que produzam resultados relevantes ou que efetivamente prejudique o bem jurídico tutelado pela norma, ao invés de acumular ações insignificantes. 2.4 O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO PENAL AMBIEMTAL A respeito da aplicação do princípio da insignificância no direito penal ambiental, tem-se que a intervenção mínima justifica a aplicação da insignificância, posto que o direito penal só deve atuar na defesa de bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica dos homens e que não podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa. Nesse sentido, a legislação penal só intervirá quando for extremamente necessária para a sobrevivência da comunidade. A Lei dos Crimes Ambientais determina em seu artigo 79, de forma expressa, a aplicação subsidiária do Código Penal e do Código de Processo Penal art 79: Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal 17. A subsidiariedade informa que o direito penal responde de forma secundária, ou seja, passa a substituir os demais ramos do direito. No caso ambiental, responde quando o direito administrativo e o direito civil não se apresentem satisfatórios resultados. Neste contexto, Maurício Macêdo dos Santos e Viviane Amaral Sêga, citando Muñoz Conde a intervenção do direito penal só ocorre quando fracassam as demais formas de tutela do bem jurídico predispostas pelos demais ramos do direito 18. 17 ANGHER, Anne Joyce. Op. cit., p.1549. 14

Assim, há de se notar que a deriva da idéia de que sua sanção deve ser aplicada em casos extremos, devendo ser ministrado apenas quando nenhum outro se mostrar suficiente para resolver o conflito. Ainda, a fragmentariedade penal informa que nem todos os atos e omissões eticamente considerados reprováveis serão objeto do direito penal (direito penal ambiental), apenas os mais relevantes, os mais graves; os demais podem até sofrer alguma sanção de natureza administrativa ou civil. (grifo nosso) Nesse sentido HABEAS CORPUS. PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 34 DA LEI 9.605/98. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL. TEORIA CONSTITUCIONALISTA DO DELITO. INEXPRESSIVA LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ORDEM CONCEDIDA. 1. O princípio da insignificância surge como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal que, de acordo com a dogmática moderna, não deve ser considerado apenas em seu aspecto formal, de subsunção do fato à norma, mas, primordialmente, em seu conteúdo material, de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva lesividade ao bem jurídico tutelado pela norma penal, consagrando os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima. 2. Indiscutível a sua relevância, na medida em que exclui da incidência da norma penal aquelas condutas cujo desvalor da ação e/ou do resultado (dependendo do tipo de injusto a ser considerado) impliquem uma ínfima afetação ao bem jurídico. 3. A conduta dos pacientes, embora se subsuma à definição jurídica do crime ambiental e se amolde à tipicidade subjetiva, uma vez que presente o dolo, não ultrapassa a análise da tipicidade material, mostrando-se desproporcional a imposição de pena privativa de liberdade, uma vez que a ofensividade da conduta se mostrou mínima; não houve nenhuma periculosidade social da ação; a reprovabilidade do comportamento foi de grau reduzidíssimo e a lesão ao bem jurídico se revelou inexpressiva. 4. Ordem concedida para determinar a extinção da ação penal instaurada contra os pacientes. Em conseqüência, torno sem efeito o termo de proposta e aceitação da suspensão condicional do processo, homologado pelo Juízo da 5ª Vara Criminal da Comarca de Londrina/PR. (HC 86.913/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 28/05/2008, DJe 04/08/2008) A segurança jurídica quanto à aplicação do princípio da insignificância decorre da observação criteriosa de alguns princípios do direito penal e do direito ambiental. Ainda, há de se observar que fica proibida a aplicação subsidiária aqui tratada quando houver a possibilidade de resultar em prejuízo à situação do transgressor, tendo em vista a proibição da analogia in malam partem (é aquela onde se adota lei prejudicial ao réu). 18 SANTOS, Maurício Macedo dos. e SÊGA, Viviane Amaral. Sobrevivência do princípio da insignificância diante das disposições da Lei 9099/95. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/950/sobrevivenciado-principio-da-insignificancia-diante-das-disposicoes-da-lei-9099-95> Acesso em 26 de janeiro de 2011. 15

O Estado responde apenas às lesões importantes, pois nem todos os bens jurídicos se colocam sob a proteção do direito penal. Se o direito penal não dá a proteção a todos os bens jurídicos, há a necessidade da intervenção estatal. É importante evidenciar-se que o princípio da insignificância, não obstante ausente da lei brasileira, tem sua aplicação assegurada por analogia ou por interpretação iterativa, até mesmo por ser um fato da vida, desde que não seja contrário à lei. Dessa forma, Francisco de Assis Toledo (...) segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas 19. O art. 6º da Lei nº 9.605/98 indica a forma de aplicação da sanção penal, in verbis: Art. 6: Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente; II (...); III (...) ; (grifo nosso) Sendo assim, não havendo gravidade não há necessidade de ser considerado o fato como crime, embora possa ser aplicada uma sanção administrativa ou civil. Neste caso, há a possibilidade da aplicação do princípio da insignificância, aliado ao princípio da proporcionalidade insculpido no art. 59 20 do Código Penal e seus desdobramentos: adequação, necessidade e proporcionalidade estrito senso: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Confira-se o julgado abaixo HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 34 DA LEI N. 9.605/98. AUSÊNCIA DE DANO AO MEIO AMBIENTE. CONDUTA DE MÍNIMA OFENSIVIDADE PARA O DIREITO PENAL. ATIPICIDADE MATERIAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. TRANCAMENTO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio da insignificância tem 19 NOGUEIRA, Caroline Vilela de Faria Alves. A aplicabilidade do princípio da insignificância nos crimes de roubo. Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1151> Acesso em 29 de dezembro de 2010. 20 ANGHER, Anne Joyce. Op. cit., p.335. 16

como vetores a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. Hipótese em que, com os acusados do crime de pesca em local interditado pelo órgão competente, não foi apreendido qualquer espécie de pescado, não havendo notícia de dano provocado ao meio-ambiente, mostrandose desproporcional a imposição de sanção penal no caso, pois o resultado jurídico, ou seja, a lesão produzida, mostra-se absolutamente irrelevante. 3. Embora a conduta dos pacientes se amolde à tipicidade formal e subjetiva, ausente no caso a tipicidade material, que consiste na relevância penal da conduta e do resultado típicos em face da significância da lesão produzida no bem jurídico tutelado pelo Estado. 4. Ordem concedida para, aplicando-se o princípio da insignificância, trancar a Ação Penal n. 2009.72.00.002143-8, movida em desfavor dos pacientes perante a Vara Federal Ambiental de Florianópolis/SC. (HC 143.208/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/05/2010, DJe 14/06/2010). (grifo nosso) Zeli José Willemann 21, apud, Costa Neto adverte que ao se fazer o juízo de tipicidade deve-se levar em consideração o princípio da insignificância juntamente com o princípio da adequação social, na perspectiva da intervenção mínima do direito penal, alertando que a formação do juízo de tipicidade não pode prescindir hodiernamente da observância de dois importantes princípios, os quais sejam: o princípio da adequação social e o princípio da insignificância. Pelo primeiro, impõem-se aferir se a conduta tipificada configura ou não um comportamento socialmente permitido, considerando-se como parâmetro os padrões médios de ética e moralidade vigentes na sociedade. Quanto ao segundo, sob a perspectiva de um Direito Penal de intervenção mínima, recomenda-se verificar se o fato penalmente tipificado não constitui uma bagatela, em face da diminuta repercussão da conduta sobre o bem jurídico protegido. Ainda, citando Abreu 22, diz que só em casos excepcionais deve-se aplicar o princípio da insignificância, sugerindo que o reconhecimento do princípio da insignificância deverá ser reservado para as hipóteses excepcionais, principalmente pelo fato de que as penas previstas na Lei nº 9.605/98 são leves e admitem transação ou suspensão do processo (Lei nº 9.099/95, arts. 76 e 89). Dessa forma, pode-se concluir que o princípio em análise será utilizado apenas nos casos em que não há mais solução, eis que a própria legislação ambiental dispõe outras formas mais brandas para se punir um infrator, tais como a transação ou a suspensão do processo. 21 WILLEMANN, Zeli José. Op. cit. 22 Idem. 17

Assim, se alguém ou alguma empresa comete uma infração prevista nos crimes ambientais, havendo a possibilidade de aplicação das formas mais brandas, estas deverão ser utilizadas com o intuito de não deixar sem punição àqueles que cometem um ato ilícito. 2.4.1 Conseqüências da aplicação do princípio da insignificância no direito processual penal Para analisar a aplicação do princípio da insignificância no direito processual penal, deve-se primeiramente ter em mente que para haver crime é imprescindível a existência de tipicidade e antijuridicidade. Por tipicidade entende-se que é a descrição de uma conduta previamente considerada proibida, estabelecendo-se uma sanção para quem infringir, enquanto que a antijuridicidade pode ser definida como a contrariedade da conduta face ao ordenamento jurídico. A antijuridicidade limita-se a observar a existência da anterioridade da norma em relação à conduta do indivíduo. Assim, haverá crime quando o comportamento humano é, expressamente, descrito, e amolda-se ao tipo penal, o que incide sobre a proteção do princípio geral de direito, nullum crimen sine lege, ou seja, não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal (artigo 1º do Código Penal). Neste contexto, o princípio da insignificância tem como finalidade a interpretação restritiva do tipo penal, atendo-se à regra constitucional do artigo 1º do Código Penal, que nada mais faz do que revelar a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal. Da análise do anteriormente exposto, tem-se que a incidência da insignificância exclui a tipicidade, mas só pode ser estabelecida mediante consideração da norma, ou, seja, o fato torna-se irrelevante, a partir do momento em que ao ser analisado o resultado, a conduta e a culpabilidade, verifica-se a desnecessidade da aplicação da sanção. O Direito Penal, com já dito, não se ocupa com todos comportamentos antijurídicos que decorrem das relações, mas, apenas daqueles que mais causam lesividade aos bens jurídicos tutelados. Com o reconhecimento da atipicidade do ato, são excluídos todos os efeitos processuais decorrentes da ação penal. Para alguns autores, o postulado atuaria como causa de exclusão da imputação objetiva do resultado, enquanto que, para outros, hipótese de exclusão do injusto típico. 18

Assim, pode-se concluir que a aplicação do princípio da insignificância é uma forma excludente da tipicidade impedindo a configuração do Injusto Penal e conseqüentemente a absolvição do infrator face ao fato de que não constituiu o fato infração penal, conforme dispõe artigo 386, III do Código de Processo Penal. 3. CONCLUSÃO Com a realização do artigo e após análise de doutrinas e jurisprudência, pode-se concluir que o princípio da insignificância ou delito de bagatela decorre da existência de um dano mínimo, que não impõe um prejuízo importante a outrem, não exigindo a inclemência do direito penal. Ainda, traz para o direito penal uma maneira de atenuar as conseqüências de se tipificar, por um fato que, devido à pouca lesividade ou ofensividade ao bem jurídico protegido, torna-se irrelevante. O princípio da insignificância na legislação ambiental, em especial, a Lei de Crimes Ambientais (Lei n 9.605/98) não evidencia a possibilidade de sua aplicação. Considerando o art. 6º em seu inciso I, ou seja, a gravidade do fato e suas conseqüências, se não há gravidade não há necessidade de ser considerado crime, ainda que possa ser aplicada uma sanção administrativa ou civil, passa a ser caso em que há a possibilidade da aplicação do princípio da insignificância. Constata-se que o princípio referido anteriormente merece aplicação na esfera do Direito Penal Ambiental devido o caráter subsidiário do direito penal. Entretanto, nota-se que a aplicação do mencionado princípio deve ser feita de maneira diversa daquela utilizada no âmbito penal, uma vez que neste, a preocupação maior repousa no desvalor imediato do dano, da ação e da culpabilidade. Deve-se ter em mente que nas questões referente ao meio ambiente não deve prevalecer, tão-só, uma preocupação imediata, mas sim as repercussões que possam ocorrer daquela ação. Ou seja, para que uma ação humana seja considerada típica, esta deve se ajustar formalmente a um tipo legal de delito previsto na legislação pertinente, e ainda, ser materialmente lesivo aos bens jurídicos tutelados. A aplicação do princípio da insignificância do direito ambiental, mais especificamente nos crimes ambientais, é sim possível e justa. Porém, por se tratar de um 19

assunto que envolve uma questão importantíssima e que interessa a toda a sociedade, a aplicação do princípio em estudo nos crime ambientais deve sofrer limitações. Somente pode ser adotado como exceção e em determinados casos, cabendo sempre ao intérprete analisar o caso concreto e constatar se houve dano ambiental, se o mesmo é de natureza grave, se tem reflexos no equilíbrio ambiental e capacidade de ser revertido. Concluiu-se então que o princípio da insignificância, auxiliado pela Lei de Crimes ambientais, e ainda, pelo princípio da intervenção mínima, almeja, pois, desafogar a máquina judiciária, onde processos sem o menor potencial jurídico de importância ocupam tempo e despesas processuais, de outros que, por comoverem bem mais a sociedade, deveriam andar mais celeremente. BIBLIOGRAFIA ADEDE y CASTRO, João Marcos. Crimes Ambientais: comentários à Lei n9.605/98. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris. Ed., 2004. ANGHER, Anne Joyce. Vade Mecum Acadêmico de Direito. 8. ed., São Paulo: Rideel, 2009. BONFIM, Edílson Mougenot. Capez, Fernando. Direito Penal Parte Geral. São Paulo: Editora Saraiva, 2004. FREITAS, Vladimir Passos e Giberto Passos. Crimes contra a natureza de acordo com a Lei 9.605/98. 7 ed., revista atualizada e ampliada. São Paulo: 2001. LEIGOS, Juristas. Direito Ambiental. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewfile/32493/31706>. Acesso em 28 de dezembro de 2010. LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Princípio da Insignificância no Direito Penal. 2ª Edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. MILARÉ. Edis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente a gestão ambiental em foco. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. 20