Primado do Direito e Julgamento Justo

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Transcrição:

Federal Ministry for Foreign Affairs of Austria

O primado do Direito é mais do que o uso formal dos instrumentos jurídicos, é também o Primado da Justiça e da Proteção para todos os membros da sociedade contra um poder governamental excessivo. Comissão Internacional de Juristas, 1986.

Primado do Direito e Qualquer sociedade democrática que prentenda fomentar e promover os direitos humanos tem de reconhecer o primado do Direito como um princípio fundamental. O primado do Direito abrange várias áreas: aspetos políticos, constitucionais, jurídicos e de direitos humanos. O direito a um julgamento justo é um dos pilares da sociedade democrática baseada no primado do Direito.

Primado do Direito Não existe consenso quanto aos seus elementos. A lei tem de ser de conhecimento público, tem de ser aplicada de forma igualitária e o seu cumprimento tem de ser, efetivamente, aplicado. O primado do Direito fornece os alicerces para a condução justa das relações entre as pessoas. O primado do Direito é um pilar essencial do processo democrático que assegura a prestação de contas e o controlo daqueles que estão no poder através do Direito.

Primado do Direito - História 1066: Guilherme, o Conquistador. 1215: Magna Carta Libertatum, que concedeu certos direitos. 1679: Lei do Habeas Corpus. Séculos XVII e XVIII: Revoluções civis na Europa. Atualmente: o primado do Direito é um princípio fundamental em todo o mundo.

O é um elemento fundamental do primado do Direito. Está relacionado com a administração da justiça, tanto no contexto civil como no penal. O Estado tem de estabelecer instituições que salvaguardem o sistema jurídico (tribunais independentes, procuradorias independentes e polícia). Estas instituições encontram-se vinculadas às garantias dos direitos humanos, como estabelecido nos tratados universais e regionais de proteção dos direitos humanos, como o PIDCP, a CEDH, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

Componentes Igualdade perante a lei e perante os tribunais. Independência e imparcialidade. Audiência pública. Direito à presunção da inocência. Direito a ser julgado sem demora excessiva. Direito a uma defesa adequada. Direito a estar presente no julgamento. Direito a obter a comparência e a interrogar ou fazer interrogar as testemunhas. Direito à assistência gratuita de um intérprete. Acesso a mecanismos de proteção judiciais justos e eficazes. O princípio nulla poena sine lege. Direito à caução.

Implementação Os Estados têm de......estabelecer e manter a infraestrutura institucional necessária para a correta administração da justiça....promulgar e implementar novas leis e regulamentos que garantam processos justos e equitativos. Problema: apesar do princípio ser reconhecido em termos gerais, a interpretação do mesmo diverge em diferentes países.

Monitorização Sistemas de relatórios previstos em vários documentos internacionais. Mecanismos de queixas individuais previstos no Prot. Fac. ao PIDCP, CEDH (Art.º 34º), Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Art.º 44º) ou Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Art.º 55º). Relator Especial das Nações Unidas: sobre as execuções arbitrárias, sumárias ou extrajudiciais (desde 1982). sobre a tortura e penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes (1985) sobre a independência dos juízes e advogados (1994). sobre a violência contra as mulheres, as suas causas e consequências (1994) sobre a situação dos defensores de direitos humanos (2000) sobre a promoção e proteção dos direitos humanos na luta contra o terrorismo (2005). Grupo de Trabalho da Comissão de Direitos Humanos sobre a detenção arbitrária (1991).

Boas Práticas e Tendências São criadas agências especializadas, como o Escritório para as Instituições Democráticas e Direitos Humanos (ODIHR) no seio da OSCE. Os Tribunais Internacionais contribuem para acabar com a impunidade, tendo em consideração que também as vítimas têm direito a um julgamento justo. A mediação e arbitragem ajudam a resolver conflitos. (Re) Estabelecer o primado do Direito tornou-se uma das grandes preocupações na reconstrução pós-conflito e pós-crise.

Cronologia 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948 Declaração Americana dos Direitos e Deveres Humanos, art. I, II, XVII, XVIII e XXVI 1949 Convenção de Genebra (III) relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra, Art.º 3º, al. d), art. 17º, 82º, 83º, 84º, 85º, 86º, 87º, 88º. 1949 Convenção de Genebra (IV) relativa à Proteção de Civis em Tempo de Guerra, Art.º 3º, al. d), 33º, 64º, 65º, 66º, 67º, 70º, 71º, 72º, 73º, 74º, 75º, 76º. 1950 Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, Arts. 5º, 6º, 7º, 13º. 1965 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, Art.º 5º, al. a), 6º.

Cronologia 1966 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, Arts. 9º, 10º, 14º, 15º, 16º, 26º. 1969 Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Arts. 8, 9. 1977 Protocolo Adicional I às Convenções de Genebra, Arts. 44, n.º4, 75. 1977 Protocolo Adicional II às Convenções de Genebra, Art.º 6º. 1979 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, Art.º 15º. 1981 Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (Carta de Banjul), Art.º 7º, 26º. 1982 Relator Especial das Nações Unidas sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias.

Cronologia 1984 Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Art.º 15º. 1984 Protocolo nº 7 à CEDH, Arts. 1º, 2º, 3º, 4º. 1984 Comentário Geral N.º 13 sobre o Art.º 14º do PIDCP. 1985 Princípios Básicos das Nações Unidas relativos à Independência da Magistratura. 1985 Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Pequim). 1985 Relator Especial das Nações Unidas sobre a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes. 1989 Convenção sobre os Direitos da Criança, Arts. 37º, 40º.

Cronologia 1990 Princípios Básicos das Nações Unidas Relativos à Função dos Advogados. 1990 Princípios Orientadores Relativos à Função dos Magistrados do Ministério Público. 1991 Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária. 1993 Estatuto do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Jugoslávia. 1994 Estatuto do Tribunal Penal Internacional para o Ruanda. 1994 Relator Especial das Nações Unidas sobre a Independência de Juízes e Advogados. 1994 Relator Especial das Nações Unidas para a Violência contra as Mulheres, as suas Causas e Consequências.

Cronologia 1998 Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. 2000 Relator Especial das Nações Unidas sobre a Situação dos Defensores de Direitos Humanos. 2004 Carta Árabe dos Direitos Humanos, Art.º 12º, 13º, 15º, 16º, 17º, 19º. 2005 Relator Especial das Nações Unidas sobre a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos na Luta Contra o Terrorismo. 2006 Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Art.º 5º, 12º, 13º, 14º. 2007 Comentário Geral N.º 32 sobre o Artº. 14º do PIDCP.