Aspectos da trajetória de o Esporte na imprensa juazeirense

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Transcrição:

Aspectos da trajetória de o Esporte na imprensa juazeirense Paloma Jasmini Silva CAMPOS 1 Patrícia Lais de Souza GONÇALVES 2 Tâmara Tárcia B. T. PASSOS 3 Andréa Cristiana SANTOS 4 A imprensa chegou a Juazeiro em 1885. Com a compra da primeira tipografia, dez anos depois, é publicado o jornal A Cidade de Juazeiro, pelo comerciante Raimundo de Azevedo. Visando maior aprofundamento acerca da história da comunicação juazeirense, este artigo pretende compreender aspectos dessa trajetória por meio da análise do periódico Esporte, órgão da Liga Desportiva Juazeirense, publicado pelo tipógrafo José Diamantino Assis. Levando em consideração que o jornal é uma importante fonte histórica, a pesquisa teve como corpus de análise seis edições, duas da primeira fase de circulação, na década de 1940, e quatro da 2ª fase, publicado em 1969. Por meio da análise de conteúdo do jornal e comparações com as editorias atuais relacionadas ao esporte, o artigo abordou aspectos referentes à linguagem; ao leitor (a quem se destinava a mensagem), critérios de noticiabilidade, publicidade e a função social que o periódico cumpriu durante sua circulação. Além de importante órgão noticioso, o Esporte é também uma fonte histórica de lembranças de uma época marcada pelo amor ao futebol juazeiresene. Aos que não vivenciaram esse período, é possível compreender a paixão que movia o povo juazeirense ao acompanhar os acontecimentos esportivos relatados nas páginas do jornal. Palavras-chave: História da imprensa; Esporte; Jornalismo; Memória. 1 Estudante de Graduação 3º semestre de Comunicação Social/ Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Email: paloma_jasminy@hotmail.com 2 Estudante de Graduação 3º semestre de Comunicação Social/ Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Email: patylaiz@hotmail.com 3 Estudante de Graduação 3º semestre de Comunicação Social/ Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Email: tamytarcy@hotmail.com 4 Professora do Departamento de Ciências Humanas, Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Email: andcsantos@uneb.br

Na contemporaneidade, o uso de jornais antigos como fonte de pesquisa sobre a formação de uma sociedade vem se tornando cada vez mais frequente. Os impressos contêm textos de natureza documental que, ao serem interpretados, refletem a memória de uma época, possibilitando a compreensão de fatos que tiveram importância em uma determinada época. Diante da importância dos jornais como documentação de uma época, este artigo pretende analisar aspectos da história da comunicação em Juazeiro-BA e Petrolina-PE, e assim aprofundar os conhecimentos acerca desse tema 5. Para tanto, o jornal Esporte foi escolhido como objeto de estudo. O jornal teve duas fases, circulou em Juazeiro na década de 1940, voltando a ser impresso alguns anos depois, na segunda fase, em 1969 6. Neste artigo, analisamos as edições da segunda fase de circulação do jornal. A metodologia usada para o desenvolvimento da pesquisa foi a análise de conteúdo do jornal, procurando identificar aspectos da linguagem jornalística, público leitor (a quem se destinava mensagem), critérios de noticiabilidade, publicidade e a função social que o impresso cumpriu durante sua circulação. Também foi feita a análise comparativa com alguns aspectos do jornalismo esportivo atual. Foram feitas pesquisas bibliográficas a partir dos textos de Nelson Werneck Sodré (1999) e Marialva Barbosa (2011) sobre a trajetória da imprensa no Brasil; artigos científicos sobre a imprensa local e pesquisa sobre o esporte juazeirense. Da imprensa brasileira ao futebol em Juazeiro-Ba A imprensa chegou ao Brasil em 1808, trazida pela corte portuguesa quando se mudou para o país. Dom João VI criou a Imprensa Régia a qual está 5 Este artigo teve sua primeira versão realizada na disciplina de História da Comunicação, oferecida no curso de Comunicação Social Jornalismo em Multimeios, do Departamento de Ciências Humanas. 6 Para essa pesquisa, foram encontradas seis edições. Duas da primeira fase de circulação, datadas de 01 de Setembro de 1946 e 20 de Outubro de 1946. Quatro da 2º fase de circulação, datadas de 06 de Agosto de 1967, 11 de Fevereiro de 1969, 25 de Fevereiro de 1969 e 09 de Março de 1969.

diretamente ligada a Corte, e com ela surgiu a Gazzeta do Rio de Janeiro, periódico que tinha autorização de ser impresso em terras brasileiras. Segundo Isabel Lustosa (2005), o primeiro jornal brasileiro foi o Correio Brasiliense, produzido na Inglaterra por Hipólito da Costa, considerado o patrono do Jornalismo Brasileiro, e distribuído sem a permissão da corte. Mesmo estando em Londres, Hipólito denunciava as atitudes do rei D. João VI em relação à colônia. Essa fase da imprensa no Brasil foi marcada pela luta em favor da independência e pela liberdade de imprensa. Muitos jornais circulavam no Brasil, sempre baseados na disputa entre aqueles que promoviam o patriotismo, tentando gerar na população o sentimento em favor da independência, e aqueles pertencentes à imprensa régia, promovendo sempre as ideologias da elite dominante (SODRÉ, 1999). Na Bahia, esse cenário não era diferente por aqui circularam jornais dos dois tipos. A exemplo temos Idade D Ouro do Brazil (1811-1823), que pertencia a Imprensa Régia, e O Diário Constitucional (1821), importante instrumento na luta pela independência (SODRÉ, 1999). Com a proclamação da Independência por D. Pedro I, alguns jornais deixaram de circular e muitos outros estrearam no Brasil. Jornais de opinião, de natureza política, alguns independentes, outros informativos que contribuíram para a história da imprensa do país. Em Juazeiro, cidade do norte da Bahia, a imprensa também se fez presente. Em 1885, o comerciante Raimundo de Azevedo comprou uma tipografia para fundar o jornal A Cidade de Juazeiro, sob a responsabilidade do tipógrafo Clóvis de Oliveira Mudo. Contudo, o primeiro jornal a ser publicado seria o Sertanejo, em 1895; e A Cidade de Juazeiro, em 1896. Nascia assim, em Juazeiro, a imprensa de natureza artesanal (SANTOS, 2011). Com o advento do capitalismo, surgiram outros modelos de imprensa. Os jornais passaram a ter colaboradores, as funções passaram a ser hierarquizadas e surgiram na cidade de Juazeiro os meios de radiodifusão e de televisão. Disputas baseadas na inter-relação político-financeira

permaneceram ao longo da história da imprensa juazeirense. Os primeiros comunicadores eram, em geral, médicos, poetas, professores, políticos e comerciantes (SANTOS, 2011, p.4). Ao longo dos anos, Juazeiro sempre foi um polo atrativo para comercialização de bens, tendo como base a agropecuária e, nas últimas décadas, a fruticultura irrigada. Desde o início o século XX, o povo juazeirense foi despertado pela paixão futebolística, cujo interesse permanece até os dias de hoje. O futebol chegou a Juazeiro em 1915, porém só, em 1923, com a criação da Liga Desportiva Juazeirense (LDJ) foi oficialmente consolidada a prática futebolística. Veneza, Juazeiro, Pirajá, Castro Alves e Vitória foram os primeiros times amadores que fizeram parte da história esportiva de Juazeiro. Um estudo sobre a história futebolística local permite analisar que essa fase foi marcada por grande sucesso. A população se mobilizava nas ruas e lotava o Estádio de Juazeiro a fim de assistir a um verdadeiro espetáculo oferecido por grandes jogadores que, até hoje, permanecem na memória da comunidade, a exemplo de Bartolomeu de Brito Monteiro, o Caboclinho. Depois da criação da Liga Desportiva Juazeirense, o que era apenas um futebol amador foi se aprimorando e ganhando seu espaço no que se refere ao futebol profissional. Assim, se destacaram as equipes Fluísco, XV de Novembro, Juventus, América, Carranca e, principalmente, Olaria e Veneza. A repercussão do futebol juazeirense era muito grande, chegando até a despertar interesse de técnicos de outras partes do estado pelos jogadores que aqui brilhavam. O futebol amador juazeirense projetou vários jogadores para o cenário do esporte nacional. O desportista e comentarista esportivo Augusto Moraes, que participou diretamente de diversas fases do futebol local, relembra: por volta dos anos 60 e 70, o time do Galícia de Salvador, por exemplo, vivendo sua época áurea no futebol profissional, levou daqui seis jogadores, como Jaime Pirrucha, Taladinho e Zé Odorico que constituíram a base do time que era a sensação da Bahia (GUIMARÃES, 2011)

Baseado na relevância que o futebol juazeirense alcançou, os profissionais da imprensa da época sentiram a necessidade de criar um veículo de comunicação que pautasse esses acontecimentos futebolísticos. Foi aí que nasceu o Esporte, com a epígrafe Jornal Oficial do Esporte Juazeirense, sob a direção e propriedade de José Diamantino Assis. O Esporte era impresso em formato tablóide, composto por quatro páginas e circulava semanalmente. Tomaremos como base para a análise as edições que circularam durante a segunda fase de circulação. Em editorial publicado na edição número 02, de 6 de agosto de 1967, o jornal se reapresenta para o público-leitor vinte anos depois da última edição, que circulara na década de 1940. O texto esclarece que, devido ao grande sucesso do futebol juazeirense, o jornal estava voltando a circular a fim de dar maior visibilidade aos acontecimentos futebolísticos. Nossa reapresentação: Não iremos chatear os leitores com história comprida cheia de retórica, para dizer que estamos circulando pela 2ª vez, porém achamos que devemos uma explicação ao público desportista do porque do nosso reaparecimento. É que com o agigantamento do futebol juazeirense, o seu evidente progresso não poderia ficar sem um porta-voz legítimo para divulgar os seus grandes feitos, defender as suas aspirações junto aos poderes competentes e também projetá-los além fronteira. Há 20 anos passados já o fizemos com êxito. O futebol juazeirense era conhecido e respeitado por aí a fora... Hoje, estamos pedindo que nos ajude a sobreviver. E a bem do nosso querido futebol, o futebol de Bozinho, de Artur, de Caboclinho, que tantas glórias nos deram e continuam nos proporcionando tardes imperecíveis. Queremos apenas a vossa compreensão. Nada mais. TUDO PELO ESPORTE DE NOSSA TERRA. (ESPORTE, Edição nº 02, de 06 de Agosto de 1969) É importante ressaltar que esse jornal era diretamente vinculado a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), como esclarecido na edição de Nº 3, de 25 de fevereiro de 1969: Não nos responsabilizamos por conceitos emitidos assinados por colaboradores. Este órgão é oficial da LDJ. A LDJ era o órgão responsável pela organização dos torneios e, em alguns anos, enfrentou crises

que refletiram no cenário esportivo de Juazeiro, a exemplo da grande dificuldade em encontrar um novo presidente para a Liga. A edição de 11 de fevereiro de 1969 traz na matéria de capa as eleições e posse do novo presidente da LDJ. No dia 01 de fevereiro, havia sido empossado Álvaro dos Santos Lisboa como presidente, e Olicio Barreto, como vice-presidente. O texto traz uma ironia relacionada à dificuldade de encontrar um presidente. Após longo e exaustivo Procura-se um presidente, pois ninguém queria assumir a reponsabilidade de dirigir a nossa mentora do futebol association, foi eleito no dia 20 e empossado a 1º do corrente, no cargo de presidente da Liga Desportiva Juazeirense o senhor Álvaro dos Santos Lisboa, gerente e distribuidor da Cia Brahma nesta cidade e para vice-presidente o nosso prezado amigo Sr. Olicio Barreto (ESPORTE. Edição Nº 3, de 11 de fevereiro de 1969). As conquistas e evoluções da LDJ eram sempre noticiadas por meio de manchete na capa. Os campeonatos, sempre muito bem apreciados pelo público, as boas condições do Estádio Juazeirense, que passara a ser Estádio Adauto Morais, e principalmente a parceria com a prefeitura (quando firmada, pois muitas vezes o jornal criticava a falta de interesse do poder público em promover o esporte) eram acontecimentos jornalísticos que se faziam presentes em quase todas as edições. O Esporte tem caráter crítico e opinativo, o que fica evidenciado nas críticas que o jornal faz à diretoria e ao treinador do Veneza, depois da derrota por goleada do seu maior rival, o Olaria. Quando o jornal emite sua opinião com relação a algumas medidas tomadas pela direção local de futebol, o redator expõe sua opinião por meio da frase: somos contra isso. Tomando como base o contexto cultural da época é fácil identificar que o público eram homens. Além de a sociedade da época ser marcada pelo machismo, e de o futebol ser uma paixão tipicamente masculina, pois conforme Decreto-Lei 3.199 de 1941 vigente até 1975, as mulheres eram proibidas de praticar o esporte.

Os valores-notícias do jornal Esporte eram acontecimentos factuais e de interesse do público como as partidas ocorridas no final de semana. As matérias de capa eram basicamente relatos/ resumos trazidos exclusivamente para aqueles que não puderam acompanhar o jogo no estádio e também para os que estiveram presentes. Era um publico leitor que desejava saber os comentários dos jornalistas, além de esperarem pela divulgação do craque da rodada. Esse direcionamento ao público que gostava de esporte pode ser notado também através de algumas palavras e expressões, típicas do meio futebolístico, usadas pelos repórteres. São elas: baqueou (derrotou); penal (pênalti), certame (campeonato), ponta (atacante), aza media (meio-campo) e ponteiro (lateral). O jornal seguiu uma linha editorial que se assemelhava com a objetividade jornalística em relação ao conteúdo das partidas que eram divulgadas. Porém, não se isentou de usar figuras de linguagem (sendo a metáfora a mais comum) expressas através de termos linguísticos e gírias da época a exemplo de osso duro, águas a baixo, espirito de porco. O texto jornalístico se utilizava de palavras inglesas, derivadas da origem do futebol na Inglaterra e que foram incorporadas no Brasil e assimiladas pelo público que gostava de esporte. As expressões eram empregadas entre aspas e não vinham acompanhadas de seu significado, como por exemplos as palavras escore (resultado); match (jogo); pelotada (chute forte); goal (gol); boys (meninos); five (cinco); teams (equipes). Devido ao perfil do proprietário do jornal, que gostava de festejos carnavalescos, o Esporte trouxe algumas vezes matérias sobre outros temas, a exemplo da edição nº 3 de 25 de fevereiro de 1969 que abordava o carnaval de Juazeiro. Em uma página, o repórter relata os principais acontecimentos que marcaram o festejo juazeirense, como também faz críticas a prefeitura, por não ter investido na ornamentação e parabeniza os blocos tradicionais pela alegria e sucesso da festa.

Assim como matérias referentes a outros temas, o jornal trazia também notícias relacionadas aos times nacionais. Breves resumos das partidas (escalação do time, substituições feitas durante a partida e placar final), compra e venda de jogadores e informações a respeito de investimentos feitos pela diretoria eram algumas das notícias divulgadas no jornal. Por exemplo, a edição número 3 de 25 de fevereiro de 1959 traz uma matéria (referentes ao futebol, não só local como também nacional) intitulada Alteração Disciplinar, narrando os detalhes do resultado de uma reunião na qual o Conselho Nacional de Desportes altera os dispositivos do Código Brasileiro Disciplinar de Futebol (CBDF). As alterações ocorridas nos artigos do CBDF tratam das punições estabelecidas caso haja desordens esportivas, maus comportamentos dos atletas, agressões ao arbitro ou a outros representantes. Tinha ainda a sessão Notas Diversas, onde eram noticiados, de forma sintética, alguns dos acontecimentos mais importantes ocorridos na cidade. Em um das edições, a redação parabeniza a Emissora Rural pela nova equipe esportiva, divulga uma nova proposta para a direção do Veneza e saúda o repórter da TV Irapurú, de João Pessoa-PB que visitara a cidade de Juazeiro. As campanhas publicitárias eram marcas registradas no jornal Esporte na sua segunda fase, o que evidenciam mudanças no padrão de jornalismo da

época. Eram divulgadas propagandas de farmácias, óticas, oficinas, divulgação de vendas de produtos isolados (como eletrodomésticos, por exemplo), o que demonstravam transformações no acesso aos bens de consumo pelos leitoreres. Algumas delas apareciam com regularidade, como a Ótica Brasil e a Farmácia Pernambucana, que trazia o slogan A farmácia dos desportistas juazeirense, a fim de atrair o público leitor. Considerações Finais Por meio da análise realizada neste artigo, identifica-se que o jornal Esporte evidenciou algumas características do processo de transição da pequena para a grande imprensa. Na sua segunda fase, o jornal apresentou características da empresa jornalística destinada a ter fins lucrativos, com caráter informativo, editorias e as funções são hierarquizadas (possui diretor e repórter), além de conter anúncios publicitários, aspecto a se considerar para definir a grande imprensa. De acordo com o autor Nelson Werneck Sodré (1999), a transição de pequena para grande imprensa ocorreu na passagem do século XIX para o XX, quando os jornais feitos por um homem só deixam de existir dando lugar as grandes empresas jornalísticas. Para Werneck, esse fato é um exemplo de que a imprensa está acompanhando os processos de modernização da sociedade.

A passagem do século, assim, assinala, no Brasil, a transição da pequena à grande imprensa. Os pequenos jornais, de estrutura simples, as folhas tipográficas, cedem lugar às empresas jornalísticas, com estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de sua função. (SODRÉ, 1999, p. 275). Embora o jornal Esporte já apresente algumas características da empresa jornalística, é possível que essa transição estivesse ocorrendo no contexto dos anos 1960. Já em relação à primeira fase do jornal na década de 1940, podemos caracterizá-lo como imprensa artesanal, feita por um homem só e com pouca citação de publicidade, como observado nas duas edições. Podemos perceber também que o jornal cumpriu um papel importante para a sociedade. Seu objetivo era, em primeiro lugar, informar o público leitor sobre as partidas ocorridas, e quanto a isso o Esporte não deixou a desejar. As partidas eram narradas detalhadamente, a fim de fazer com que o leitor sentisse as mesmas emoções que sentiria em assistir ao jogo em tempo real. Outro fato que pode exemplificar o compromisso com a sociedade é a divulgação da renda do dia. Ao final dos textos narrativos, o repórter sempre publicava o total da renda arrecadada em ingressos naquele dia, para que o público fosse informado sobre os gastos e investimentos feitos pela LDJ. Portanto, podemos verificar que o Esporte é uma importante fonte histórica para compreensão da trajetória do esporte em Juazeiro. Por meio de estudo interpretativo, tivemos acesso a informações de grande importância sobre aspectos da sociedade e da cultural regional. No decorrer do estudo, identifica-se a relevância do jornal, trazendo informações sobre o quadro esportivo da cidade de Juazeiro e sendo responsável pelo grande sucesso alcançado pelo futebol juazeirense. Além de importante órgão noticioso, o Esporte é também uma rica fonte de lembranças de uma época marcada pelo amor ao futebol. Aos que não vivenciaram essa fase, é possível compreender a paixão que movia o povo juazeirense e o porquê de tanto saudosismo por parte de quem acompanhou os fatos relatados nas páginas do jornal.

REFERÊNCIAS BARBOSA, Marialva. Como escrever uma história da Imprensa. Disponível em http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/1243.html, acessado em 10 de setembro de 2011. DO CARMO, Juliano Ferreira. Trajetória do jornal O Sertão na imprensa de Petrolina. Texto apresentado no XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste Maceió AL 15 a 17 de junho 2011 GUIMARÃES, Inês. Histórias de um Futebol Juazeirense. Disponível em http://multicienciaonline.blogspot.com/2009/07/historias-de-um-futeboljuazeirense.html, acessado em 11 de setembro de 2011. LUSTOSA, Isabel. A Imprensa brasileira, longe da Pátria. Revista História Viva, São Paulo: n. 15, p. 88-93, jan. 2005. SANTOS, Andréa Cristiana. Mapeamento histórico dos profissionais da imprensa de Juazeiro-Ba (1901-1999). Texto apresentado no XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste Maceió AL 15 a 17 de junho 2011. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro. Mauad: 1999.