Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis



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Transcrição:

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Avaliação do Uso de Accruals Discricionários: Uma Abordagem Qualitativa Quanto às Práticas de Auditoria e seu Poder de Mitigação Rodrigo Romanato Leite São Paulo 2012

Rodrigo Romanato Leite Avaliação do Uso de Accruals Discricionários: Uma Abordagem Qualitativa Quanto às Práticas de Auditoria e seu Poder de Mitigação Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Controladoria Empresarial. Orientador: Prof. Dr. Henrique Formigoni São Paulo 2012

L533a Leite, Rodrigo Romanato Avaliação do uso de accruals discricionários : uma abordagem qualitativa quanto às práticas de auditoria e seu poder de mitigação / Rodrigo Romanato Leite 2012. 125f. : il., 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012. Orientação: Prof. Dr. Henrique Formigoni Bibliografia: f. 109-114 1. Gerenciamento de resultados. 2. Manipulação das informações contábeis. 3. Escolhas contábeis. 4. Accruals. 5. Empresas de auditoria. I. Título. CDD 657.45

Rodrigo Romanato Leite Avaliação do Uso de Accruals Discricionários: Uma Abordagem Qualitativa Quanto às Práticas de Auditoria e seu Poder de Mitigação Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Controladoria Empresarial. Aprovado em BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Henrique Formigoni Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Roberto Fernandes dos Santos Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Prof. Dr. Octávio Ribeiro de Mendonça Neto Universidade Presbiteriana Mackenzie

Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto Decano de Pesquisa e Pós-Graduação Professor Dr. Moisés Ari Zilber Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Professor Dr. Sérgio Lex Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

Aplica o teu coração à instrução e os teus ouvidos às palavras do conhecimento. Provérbios 23:12

AGRADECIMENTOS Durante todo o curso do mestrado, grandes professores e amigos passaram pelo meu caminho, ensinando e também apreendendo, incentivando a busca pelo saber, pela pesquisa e dedicação. Agradeço a todos os professores pela contribuição dada! Agradeço de maneira especial ao Prof. Dr. Henrique Formigoni, pela grande paciência e alto nível de orientação dada durante todo o período de elaboração da minha dissertação. Sua orientação e colaboração crítica neste trabalho foram muito importantes! Muito obrigado, mestre e amigo. Agradeço, ainda, ao Prof. Dr. Ricardo Lopes Cardoso, exemplo profissional e acadêmico, sempre me incentivou e orientou, e à Prof.ª Dra. Maria Thereza Pompa Antunes, a qual sempre cobrou de nós alunos uma dedicação diferenciada, principalmente nas questões metodológicas (e nos prazos também!). Não posso me esquecer dos amigos de mestrado Carlos e Matheus, pelos momentos compartilhados, alegrias, tensões, preocupações, pelos finais de semana de estudo e viagens semanais até São Paulo. Meu eterno agradecimento aos amigos de trabalho e meio acadêmico, Profs. Mário Presente, Antonio Marcos Favarin e Marcos Francisco Rodrigues Sousa, os quais contribuíram na minha formação profissional e acadêmica! Agradeço a todos os colegas do mestrado, aos funcionários da Universidade Mackenzie, à empresa em que atualmente atuo (Consulcamp), a qual sempre incentivou os estudos e colaborou de muitas maneiras para a conclusão deste curso, especialmente quanto à flexibilidade dos horários. Por fim, agradeço aos meus pais, Paulo Roberto Leite, Tania Regina Romanato Leite e minha irmã Roberta Romanato Leite pelo incentivo incondicional e apoio dados em todas as etapas deste trabalho. Agradeço à minha noiva, Daniela Miquelon Buzzo, pela compreensão, apoio, conforto e companheirismo oferecido. Ao eterno avô Antonio Romanato, pelas lições e exemplo de vida deixado, muito obrigado. Amo vocês! Obrigado Deus e Nossa Senhora Aparecida por ajudar a entender e assimilar as dificuldades, a vencer todos os obstáculos encontrados em cada momento da minha vida! A conclusão deste trabalho e obtenção do título de mestre em Controladoria Empresarial é mais do que a obtenção de um simples diploma, é a realização de um projeto pessoal e familiar. Este trabalho foi financiado em parte pelo Fundo Mackenzie de Pesquisa.

RESUMO As práticas de gerenciamento de resultado passaram a ser estudadas com mais intensidade, no âmbito internacional, após os escândalos corporativos ocorridos no início da década de 2000. No Brasil, as pesquisas sobre esse tema têm focado, principalmente, as abordagens quantitativas (avaliação de accruals discricionários e discussão dos modelos operacionais). A pesquisa que originou o presente estudo evidenciou, segundo os testes estatísticos que empresas auditadas pelas Big Four possuem menor grau de accruals discricionários em relação às demais empresas auditadas por empresas Non Big Four, indicando, assim, que as empresas de auditoria de maior porte possuem uma maior capacidade para mitigar práticas de earnings management. No contexto apresentado, este trabalho objetivou investigar quais são os principais fatores que determinam o maior poder das grandes empresas de auditoria (Big Four) na mitigação das práticas de gerenciamento de resultado. Complementarmente, identificaram-se as ferramentas utilizadas pelas empresas de auditoria independentes para o processo de execução dos trabalhos, as quais, entre outros aspectos, pudessem facilitar o processo de identificação de práticas de gerenciamento de resultado. A pesquisa realizada foi de natureza exploratória, com o uso do método qualitativo, utilizando como procedimento para a coleta de dados, entrevistas em profundidade com oito profissionais de auditoria. Os dados coletados foram tratados por meio da análise de conteúdo com a utilização do software NVIVO. Como principais resultados identificaram-se os principais fatores de diferenciação do trabalho das empresas objeto deste estudo: ambiente de inserção da empresa e relacionamento com o exterior; estrutura da empresa de auditoria; exposição da empresa de auditoria; ferramentas de auditoria; atendimento às normas de independência; metodologia de trabalho e procedimentos de auditoria; treinamento e qualificação dos auditores. Ainda, verificou-se que as empresas de auditoria podem ou não utilizar ferramentas customizadas para a execução dos trabalhos, e processos de extração de amostras e projeção de resultados, sendo que a utilização das mesmas pode estar relacionada ao tamanho da empresa de auditoria. Palavras-chave: Gerenciamento de resultados. Manipulação das informações contábeis. Escolhas contábeis. Accruals. Empresas de auditoria.

ABSTRACT The earnings management practices started to be researched more intensely, concerning international terms, after the corporate scandals occurred in the beginning of 2000 years In Brazil, this research topic has mainly focused the quantitative approaches (discretionary accruals evaluation and operational models discussion). The research that resulted the present work has highlighted, according to the statistical tests, that the companies audited by the Big Four have less degree of accruals discretionary regarding to the other companies audited by companies Non Big Four, then, showing that the largest audit companies have a larger capacity to mitigate earnings management. In the presented context, this work aimed to investigate which are the main factors that specify the higher power of the big audit companies (Big Four) in mitigating the earnings management practices. Also, it has being identified the tools used by the independent audit companies for the work performance process, which, among other aspects, could make easier the earnings management practices identification process. The research herein presented was performed using the qualitative method (exploratory by nature), and using as procedure the data collecting, heartfelt interview with eight audit professionals. The data collected were analyzed through content analysis, using the software NVIVO. In this research it was identified the main job differential factors of these companies: company insertion environment and abroad relationship, audit company structure, audit company exposure, audit tools, compliance with the independence rules, work methodology and audit procedures, auditors training and qualification. Also, it was noticed that the audit companies are able or not to use customized tools to perform the jobs, sampling extraction processes and results projection, being its utilization related to the audit company size. Keywords: Earnings management. Accounting information handling. Accounting choices. Accruals. Audit companies.

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Esquema Típico de Bônus... 19 Figura 2: Gerenciamento das Informações Contábeis: Atividades Operacionais e Escolhas Contábeis... 27 Figura 3: Diagrama Ilustrativo Accruals... 31 Figura 4: Modelo da Pesquisa... 37 Figura 5: Esquema Básico da Análise de Conteúdo... 48 Figura 6: Modelo Decorrente da Análise de Conteúdo... 103

LISTA DE QUADROS Quadro 1: Gerenciamento de Resultados Escolhas Contábeis... 21 Quadro 2: Gerenciamento de Resultados Práticas Fraudulentas... 22 Quadro 3: Incentivos e Tipologias das Práticas de Gerenciamento de Resultados... 23 Quadro 4: Identificação das Empresas e Profissionais Entrevistados... 41 Quadro 5: Caracterização dos Entrevistados 1... 51 Quadro 6: Caracterização dos Entrevistados 2... 51 Quadro 7: Caracterização das Empresas de Atuação... 51 Quadro 8: Categorias Resultantes da Análise de Conteúdo... 55 Quadro 9: Categorias e Subcategorias Formadas... 55 Quadro 10: Unidades de Significado Formação Categoria 01... 56 Quadro 11: Unidades de Significado Formação Categoria 02... 58 Quadro 12: Unidades de Significado Formação Categoria 03... 60 Quadro 13: Unidades de Significado Formação Categoria 04... 64 Quadro 14: Unidades de Significado Formação Categoria 05... 67 Quadro 15: Unidades de Significado Cat. 05 Subcategoria 1... 68 Quadro 16: Unidades de Significado Cat. 05 Subcategoria 2... 69 Quadro 17: Unidades de Significado Cat. 05 Subcategoria 3... 70 Quadro 18: Unidades de Significado Formação Categoria 06... 72 Quadro 19: Unidades de Significado Cat. 06 Subcategoria 1... 74 Quadro 20: Unidades de Significado Cat. 06 Subcategoria 2... 76 Quadro 21: Unidades de Significado Cat. 06 Subcategoria 3... 77 Quadro 22: Unidades de Significado Cat. 06 Subcategoria 4... 79 Quadro 23: Unidades de Significado Cat. 06 Subcategoria 5... 81 Quadro 24: Unidades de Significado Formação Categoria 07... 84 Quadro 25: Unidades de Significado Cat. 07 Subcategoria 1... 85 Quadro 26: Unidades de Significado Cat. 07 Subcategoria 2... 87 Quadro 27: Unidades de Significado Cat. 07 Subcategoria 3... 89 Quadro 28: Tipo de Ferramenta Utilizada Pelas Empresas de Auditoria 1... 101 Quadro 29: Tipo de Ferramenta Utilizada Pelas Empresas de Auditoria 2... 101 Quadro 30: Tipo de Ferramenta Utilizada e Faturamento das Empresas... 101

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Arrecadações das Receitas Administradas pela SRF... 25

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 12 1.1 Problema de Pesquisa... 14 1.2 Objetivos... 14 1.3 Relevância do Estudo... 14 1.4 Caracterização da Pesquisa e Estrutura do Trabalho... 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO... 16 2.1 Introdução e Estudos Antecedentes... 16 2.2 Gerenciamento de Resultados... 17 2.3 Accruals Discricionários... 28 2.4 Conflito de Agência e Assimetria Informacional... 31 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 36 3.1 Modelo da Pesquisa... 36 3.2 Métodos de Pesquisa... 37 3.2.1 Método Qualitativo... 38 3.2.1.1 Delimitação do Problema... 39 3.2.1.2 População e Amostra... 40 3.2.1.3 Instrumentos Utilizados na Coleta de Dados... 42 3.2.1.4 A Elaboração do Roteiro de Entrevista... 42 3.2.1.5 Técnicas para a Análise dos Dados Pesquisa Qualitativa... 43 3.2.1.6 A Técnica da Análise de Conteúdo... 44 3.2.1.7 Etapas da Análise de Conteúdo... 45 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS... 50 4.1 Coleta de Dados Execução da Pesquisa... 50 4.2 Aplicação da Análise de Conteúdo... 52 5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS... 105 REFERÊNCIAS... 109 OUTRAS BIBLIOGRAFIAS... 113 GLOSSÁRIO... 115 APÊNDICES... 117 Apêndice I Roteiro de Entrevista... 117 Apêndice II Formalização do Convite para Participação da Pesquisa... 120 Apêndice III Palavras mais Utilizadas nas Entrevistas... 121 Apêndice IV Categorias e Matriz de Unidades de Significado... 123

12 1 INTRODUÇÃO Conforme a literatura existente, as práticas de auditoria iniciaram-se com a evolução do sistema capitalista e, segundo Brown (1962), foram realizadas desde antes do século XVI, na Itália, com o objetivo central de verificar fraudes nos navios que chegavam de outros continentes. No Brasil, a literatura reconhece não haver uma data precisa para o início das atividades de auditoria, no entanto as mesmas foram observadas no século passado, conforme Ricardino e Carvalho (2004). O surgimento da auditoria, no papel do auditor interno, pôde ser notado no consequente desenvolvimento das empresas, que, visando à obtenção de recursos e maior competitividade no mercado, antes familiares, foram se transformando em meio ao crescimento da atividade econômica. Da mesma forma, as práticas de auditoria foram evoluindo, visando a proporcionar ao mercado e investidores maior credibilidade e confiança nos números apresentados nas demonstrações contábeis. Especialmente na última década, os escândalos corporativos de grandes companhias levaram ao julgamento dos investidores e das empresas o efetivo papel da auditoria e a qualidade do seu trabalho, discutindo-se questões como competências, credibilidade e independência. Não obstante, mesmo antes desses escândalos corporativos observados nos Estados Unidos, as práticas de auditoria já vinham sendo estudadas, como, por exemplo, o trabalho que analisou a relação entre o porte das firmas de auditoria e a qualidade dos seus serviços (DEANGELO, 1981). Dessa forma, é nesse cenário que a produção acadêmica, especialmente a internacional, procurou estudar, de forma mais intensa, as atividades de auditoria, as empresas, clientes e suas relações, em um momento que o efetivo papel das empresas de auditoria era questionado pelo mercado de capitais e usuários das informações contábeis. As informações e conteúdo das demonstrações financeiras podem atender a diversos usuários, os quais os utilizam para inúmeras atividades que podem ser impactadas pelos números evidenciados e apresentados ao mercado de capitais. Assim, destaca-se a importância das informações que são apresentadas, as quais afetam diretamente as decisões que são tomadas pelos usuários.

13 No contexto apresentado, as empresas podem administrar a forma de como essas informações são apresentadas nas demonstrações financeiras de uma companhia, como, por exemplo, o resultado de um determinado período, visando, assim, ao atendimento de interesses próprios dos administradores (SCOTT, 2006). As práticas de gerenciamento de resultado são provenientes das oportunidades existentes no sistema contábil que permitem determinados julgamentos sobre a aplicação das normas contábeis, sobre os valores de estimativas contábeis e sobre a divulgação da performance econômica da firma (HEALY; WAHLEN, 1999; LOPES; MARTINS, 2005). As decisões que são tomadas no tratamento e aplicação dos princípios contábeis podem alterar o resultado contábil das empresas e, segundo Paulo e Martins (2008), o gerenciamento de resultado contábil, através das escolhas contábeis (principalmente por meio de accruals), é uma das possibilidades de manipulação da informação contábil. Nessa linha, os autores sustentam que a manipulação das informações contábeis é o conjunto de práticas desenvolvidas pelos administradores, seja através das escolhas contábeis ou alteração das atividades operacionais normais da empresa, com o objetivo de interferir, intencionalmente, na informação contábil reportada. É nesse meio que a contabilidade surge com um papel fundamental na redução da assimetria informacional. Conforme Iudícibus e Lopes (2004), a assimetria informacional está presente nas grandes empresas, onde os acionistas aparecem em desvantagem informacional em relação aos altos executivos da empresa. Em termos de governança corporativa, a auditoria interna exerce o papel de controlar e fiscalizar internamente o sistema da estrutura organizacional, priorizando a transparência das informações, agregando valor à empresa e gerando mais confiança aos interessados na companhia (SLOMSKI et al., 2008). Já a auditoria externa, também conhecida como auditoria independente, objetiva verificar as demonstrações financeiras a fim de detectar se as informações que são apresentadas nestas estão de acordo com a realidade da empresa, gerando uma relação de confiabilidade entre gestores e investidores (SLOMSKI et al., 2008). Almeida e Almeida (2009) investigaram a relação entre o porte das firmas de auditoria e a sua capacidade de mitigação de gerenciamento de resultado e após os testes estatísticos, apuraram que as empresas auditadas pelas Big Four possuem menor grau de accruals discricionários em relação às demais empresas auditadas por Non Big Four. Esse resultado indica que as empresas de auditoria de maior porte têm mais capacidade para mitigar práticas de earnings management nas empresas auditadas.

14 1.1 Problema de Pesquisa Considerando o trabalho de DeAngelo (1981) que avaliou a qualidade dos trabalhos relacionada ao tamanho da firma de auditoria, bem como Hakim e Omri (2009) que avaliaram os recursos utilizados pelas empresas Big Four e Non Big Four, e demais trabalhos realizados que analisam as atividades de auditoria, para este trabalho, baseando-se especificamente no trabalho de Almeida e Almeida (2009) o qual afirma que empresas auditadas por grandes firmas de auditoria (Big Four) possuem um menor grau de accruals discricionários em comparação com aquelas auditadas por auditorias Non Big Four, enunciou-se o seguinte problema de pesquisa: Quais sãos os principais fatores determinantes do maior poder de mitigação de práticas de earnings management pelas grandes empresas de auditoria (Big Four)? 1.2 Objetivos Visando a explorar os resultados apresentados por Almeida e Almeida (2009), esse estudo tem como objetivo geral identificar os principais fatores que determinam o maior poder das grandes empresas de auditoria (Big Four) de mitigação das práticas de gerenciamento de resultado, comparativamente às empresas Non Big Four, conforme estudos realizados e existentes na literatura. Como objetivo específico, busca-se identificar as principais ferramentas de auditoria utilizadas pelas empresas de auditoria independentes (Big Four e Non Big Four), as quais possam, dentre outros aspectos, facilitar o processo de identificação de práticas de gerenciamento de resultado. 1.3 Relevância do Estudo De acordo com a literatura existente, no Brasil, poucas são as pesquisas relacionadas à auditoria independente e, assim, a academia e o segmento de auditoria carecem de estudos para orientação e evolução do conhecimento aplicado. Identificar os fatores determinantes que levam a empresa auditada por uma grande firma de auditoria (Big Four) a possuir um menor grau de accruals discricionários em comparação

15 com aquelas auditadas pelas demais empresas de auditoria (Non Big Four), permite entender e atuar de modo preditivo, conduzindo e disseminando as práticas de auditoria. A identificação dos fatores determinantes pode auxiliar no processo de entendimento do melhor desempenho dos serviços realizados pelas Big Four e, assim, contribuir para o desenvolvimento da profissão de auditor independente. 1.4 Caracterização da Pesquisa e Estrutura do Trabalho Tendo como base a investigação dos fatores mencionados acima, a pesquisa se caracteriza como de natureza exploratória e, para atender os objetivos geral e específico, utilizou-se o método qualitativo. Para a coleta de dados, entrevistas foram realizadas em uma amostra por conveniência, compreendendo empresas de auditoria Big Four e empresas Non Big Four no Brasil, cuja técnica adotada para tratamento dos dados foi a análise de conteúdo, conforme Bardin (2007). A análise de conteúdo foi organizada por meio de temas, de acordo com um modelo aberto, onde categorias de análise foram estruturadas, com utilização do software NVIVO versão 9. Este trabalho está disposto em 5 capítulos, os quais apresentam os seguintes conteúdos: O capítulo 1 é referente aos aspectos de Introdução sobre o assunto, já o capítulo 2, apresenta o referencial teórico utilizado no trabalho, necessário para o entendimento e a contextualização dos tópicos apresentados e discutidos nos demais capítulos. O capítulo 3 apresenta os métodos e procedimentos metodológicos, o qual apresenta o modelo de pesquisa, métodos e instrumentos utilizados para a coleta e análise dos dados. Por fim, os capítulos 4 e 5 apresentam a análise dos resultados, as conclusões e considerações finais.

16 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo, apresenta-se o referencial teórico deste trabalho, o qual está dividido de forma a apresentar e discutir os estudos antecedentes e os principais conceitos necessários para o entendimento desta pesquisa, seus objetivos e resultados. 2.1 Introdução e Estudos Antecedentes O estudo sobre gerenciamento de resultados e seus modelos operacionais tem aumentado nos últimos anos, haja vista a importância do tema nos dias atuais, impulsionado pelo sólido desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais. No cenário nacional, estudos dessa natureza começaram a ser realizados a partir de 2001, segundo Martinez e Faria (2007), replicando modelos da literatura internacional. De acordo com o trabalho realizado por Rosa et al. (2010), após análise de 39 artigos publicados no anos de 2004 a 2009, constatou-se que os autores nacionais que mais produziram sobre o tema de gerenciamento de resultado foram: Paulo, Martinez, Almeida e Baptista, no entanto, quanto aos autores mais referenciados, observou-se grande participação de autores internacionais (62,5%). Daqueles autores internacionais, os mais citados foram Dechow, Jones, Healy, Whalen, Sloan, Kang e Sivaramakrishnan. Os estudos observados neste referencial teórico são, principalmente, relativos às discussões sobre o gerenciamento de resultados e seus modelos de estimação, relacionamento com as empresas de auditoria, tamanho e qualidade dos serviços. O estudo de DeAngelo (1981) evidencia que a qualidade da auditoria depende do tamanho da firma de auditoria, mesmo considerando uma mesma capacidade tecnológica existente nessas empresas. Ainda para a autora, pelo fato das grandes empresas de auditoria ter um elevado número de clientes, isto as expõe e afeta a sua reputação, considerando as possíveis implicações na ocorrência de falhas e erros na emissão de seus relatórios. Deste modo, como consequência, o fator mencionado alavanca a qualidade de auditoria nas grandes firmas de auditoria. Os estudos realizados por St. Pierre e Anderson (1984) e Palmrose (1988) evidenciaram que grandes empresas de auditoria tendem a ter menor incidência de litígios decorrentes de suas

17 operações. Já o estudo de Teoh e Wong (1993) mediu indiretamente a qualidade de auditoria com coeficientes de lucros, identificando uma reação mais forte dos investidores cujas demonstrações foram auditadas por grandes empresas de auditoria. Nessa linha de pesquisa das atividades de auditoria, os trabalhos de Dopuch, Holthausen e Leftwich (1987) e de DeFond, Wong e Li (2000) trataram da emissão do parecer com ressalvas como um indicador de auditoria independente, encontrando evidências de que grandes empresas de auditoria tendem a ser mais conservadoras na emissão de suas opiniões. No trabalho realizado por Hakim e Omri (2009), no contexto da avaliação de auditores Big Four e Non Big Four, os autores consideram que as empresas Big Four certamente possuem mais recursos do que as demais, provendo, portanto, uma maior qualidade de auditoria. Nessa mesma corrente, o trabalho de Nelson, Elliott e Tarpley (2002) relata evidências de que os auditores de empresas Big Four detectaram tentativas de gerenciamento de resultado, requerendo os ajustes apropriados. Para Watts e Zimmerman (1981), grandes firmas de auditoria oferecem serviços de mais alta qualidade, considerando uma vantagem competitiva no monitoramento do comportamento individual do auditor. 2.2 Gerenciamento de Resultados A contabilidade pode ser vista como uma ferramenta importante para o fornecimento de informações úteis para os seus usuários, entre eles bancos, fornecedores, clientes, governo etc., assim as decisões que são tomadas diariamente nas empresas e no mercado de capital são impactadas diretamente pelos números evidenciados nos relatórios contábeis. Como indicador para a tomada de decisão, o lucro é a medida mais importante de uma demonstração financeira, conforme McKee (2005), que indica a extensão pela qual a companhia gerou valor por meio de suas atividades. Com base na importância dessa medida (lucro), as empresas podem gerenciar a forma pela qual esses lucros são apresentados nas demonstrações financeiras. A opinião é compartilhada por Scott (2006), o qual afirma que os administradores possuem fortes interesses nos resultados de uma companhia. O gerenciamento das informações visando a alterar a capacidade operacional de geração de caixa de uma companhia é um exemplo disso, essa capacidade é medida pelo indicador

18 EBITDA, sigla inglesa que significa lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações. A ideia é de que empresas que possuam uma maior geração de caixa sejam mais atrativas, conforme Vasconcelos (2002); com isso, manipulações nesse sentido podem ocorrer. Vasconcelos (2002) afirma, também, que decisões de gerenciamento de resultados tipicamente afetam os usuários porque cada um deles depende das demonstrações financeiras para o processo de tomada de decisão. Os chamados stakeholders, termo que pode ser traduzido como partes relacionadas, possuem conflitos de interesses, sendo que a alteração nos ganhos pode ser visto positivamente por um grupo e negativamente por outro (MCKEE, 2005). Para Scott (2006, p. 344), o gerenciamento de resultado é a escolha por um administrador da política contábil de forma que atinja alguns objetivos específicos. Segundo o autor o gerenciamento de resultado pode ser avaliado sob a perspectiva dos relatórios financeiros e contratos. No primeiro caso, os administradores utilizam-se do gerenciamento de resultados para atender às previsões de lucros dos analistas, evitando, assim, compartilhar uma reação negativa de preços seguida pelas expectativas dos investidores. Na perspectiva de contratos, o gerenciamento de resultado pode ser utilizado como uma forma de proteger a firma de determinadas consequências de eventos não previstos quando os contratos são rígidos e incompletos. O esquema típico de bônus apresentado na Figura 1 evidencia também essa ideia, ou seja, quanto maior os resultados da companhia, maior o volume de bônus que será obtido pelos administradores. No entanto, isso deve ocorrer até um determinado ponto, pois há uma tendência na adoção de políticas e procedimentos contábeis que visam a reduzir o lucro para não haver uma perda de bônus quando o limite já foi alcançado (linha pontilhada). Por sua vez, os gestores são motivados à adoção de práticas e procedimentos para aumentar o lucro reportado para atingir o bônus máximo possível (distância entre L e U ).

19 Figura 1: Esquema Típico de Bônus Fonte: Scott (2006). Para Parfet (2000), o gerenciamento de resultado diz respeito à intervenção proposital do gestor sobre o desempenho operacional da firma quando da criação de receitas inexistentes e estimativas contábeis. Ainda, o autor afirma que o julgamento e a subjetividade são desejáveis, havendo a aplicação dos conhecimentos para a melhor determinação dos registros contábeis. Conforme definição de Schipper (1989), gerenciamento de resultado é uma intervenção proposital no processo de elaboração das demonstrações financeiras externas, com a intenção de obter algum ganho pessoal. De acordo com Healy e Wahlen (1999), o gerenciamento de resultado decorre da prática dos julgamentos que são realizados pelos administradores nos relatórios contábeis e estruturação das transações (que afetam os relatórios), visando, assim, a enganar alguns stakeholders sobre o desempenho econômico da empresa. Já para McKee (2005), gerenciamento de resultado pode ser definido como uma decisão gerencial legal e razoável, visando a obter resultados financeiros estáveis e previsíveis. O gerenciamento de resultado compreende medidas tomadas pelos gestores instruídos com informações financeiras enviesadas divulgadas. Os administradores são capazes de influenciar os usuários dessas informações (WAGENHOFER, 2006). O autor ainda relata que assumindo a hipótese de mercado eficiente, os investidores são capazes de identificar o gerenciamento de resultado, alertando que, na Teoria dos Jogos, não

20 existe um equilíbrio no jogo sem que haja o gerenciamento de resultado. Isso compreende a situação do Dilema do Prisioneiro (Prisoner s Dilemma). É melhor para o administrador se ele conseguir convencer os participantes do mercado de capitais que ele não está adotando práticas de gerenciamento de resultado. Contudo, desde que ele não obtenha esse crédito, o mercado racionalmente espera um viés e o administrador não tem outra melhor solução do que enviesar seu relatório até que as expectativas sobre o viés sejam cumpridas na média. Isso evidencia como pode ser difícil evitar o gerenciamento de resultado (WAGENHOFER, 2006). Com base nas definições aqui apresentadas, pode-se notar que, dada a flexibilidade das normas e aplicação da subjetividade, o gerenciamento de resultado afeta o conteúdo dos demonstrativos contábeis, não necessariamente representando uma fraude contábil. São coisas diferentes, pois a fraude é um ato ilegal, já o gerenciamento de resultado não o é, apesar de ser uma forma de manipulação dos dados. De acordo com a definição da Associação Nacional dos Examinadores Certificados de Fraude (ACFE), uma fraude financeira é a ação intencional de uma distorção, omissão de fatos materiais ou dados contábeis, o qual é enganador e, quando consideradas que todas as informações disponíveis causaria a mudança de julgamento por parte do usuário (mudança de decisão). Conforme McKee (2005), demonstrações financeiras que apresentem uma das situações abaixo podem ser passíveis de fraude: registro de vendas fictícias; registro de vendas antes do embarque dos produtos; alteração de datas das faturas de vendas; falta de registro de despesas; permutas de transações de vendas ou serviços superavaliados ou subavaliados; superavaliação de ativos; capitalização inapropriada de despesas. Por exemplo, não realizar vendas na última semana do mês de dezembro, considerando que a meta definida já foi atingida, é uma forma de gerenciamento de resultado, no entanto não estaria intervindo no número contábil gerado e evidenciado nos relatórios contábeis.

21 Dessa forma, a escolha de um método contábil confere ao administrador de uma companhia o poder de gerar informações melhores ou piores aos usuários. É nessa linha que Jackson e Pitman (2001) defendem que os gestores abusam do grau de discricionariedade oferecido pelos princípios contábeis (GAAP), distorcendo as informações contábeis das demonstrações financeiras. Considerando a abordagem apresentada, a discussão então diz respeito às escolhas que são realizadas pelos administradores e gestores, bem como seus incentivos. Conforme Muldorf e Comisky (2002), o jogo dos números financeiros pode ser realizado de diversas formas, mas com um único objetivo final, o de alterar a verdadeira performance dos negócios de uma empresa. Os autores trazem, ainda, possibilidades de gerenciamento de resultados, com base na flexibilidade dos princípios de contabilidade, a saber: constituição de provisão para devedores duvidosos; alteração de vida útil de máquinas e equipamentos (afetando a depreciação); criação de provisões para despesas de reestruturação e para baixa dos estoques (write down); alteração de estimativas dos valores residuais dos ativos; criação de provisões para tributos diferidos, decisões sobre políticas de riscos com derivativos. No Quadro 1 apresenta-se a comparação das práticas de gerenciamento de resultado, com base nas práticas que estão em consonância com as Normas e Princípios Contábeis, e aquelas práticas que são aceitáveis. Quadro 1: Gerenciamento de Resultados Escolhas Contábeis

22 Escolhas Contábeis - Dentro do GAAP Escolhas Contábeis - Práticas Legais Contabilidade Conservadora Contabilidade Agressiva Redução Fluxo de Caixa Líquido Aumento Fluxo de Caixa Líquido Alto volume de reconhecimento de provisões contábeis Reconhecer ou não determinadas provisões. Baixar agressivamente provisões ou reservas Retardar o processo de reconhecimento de vendas Postergar o reconhecimento de despesas com P&D ou publicidade Sobrevalorização de empresas nos processos de aquisição (P&D) Alterar vida útil de bens, alterando as cotas de depreciação Acelerar o reconhecimento de despesas com P&D ou publicidade Acelerar o processo de reconhecimento de vendas Fonte: Adaptado de Dechow e Skinner (2000). Por outro lado, no Quadro 2, apresentam-se determinadas práticas que podem ser consideradas fraudes contábeis, ou seja, aquelas que não são permitidas, representando decisões e manejos abusivos que distorcem o conteúdo das demonstrações financeiras. Quadro 2: Gerenciamento de Resultados Práticas Fraudulentas Contabilidade Fraudulenta - Violação do GAAP Reconhecer vendas inexistentes Reconhecer de forma antecipada vendas Reconhecer passivos por valores inferiores aqueles existentes Reconhecer estoques inexistentes Fonte: Adaptado de Dechow e Skinner (2000). Almeida e Almeida (2009) resumem os incentivos e tipologias de práticas de gerenciamento de resultado, as quais podem ser verificadas no Quadro 3.

23 Quadro 3: Incentivos e Tipologias das Práticas de Gerenciamento de Resultados Incentivos Contratuais Mercado Regulatórios Tipologias Debt covenants, remuneração dos executivos, job security e acordos bilaterais (associações, sindicatos). Relação entre lucro divulgado e valor da firma, abertura de capital (IPO); litígio; previsão dos analistas, crescimento da firma. Fatores políticos, regras setoriais; agências reguladoras, políticas Antitrust; aspectos fiscais e tributários. Fonte: Adaptado de Almeida e Almeida (2009). Conforme McKee (2005), um grande número de empresas utiliza-se de práticas de gerenciamento de resultado, visando, assim, a manter um crescimento constante dos lucros ou evitar apresentar demonstrações financeiras com prejuízos. Para ilustrar os termos relacionados às práticas de gerenciamento de resultado, o autor menciona algumas denominações comuns, entre elas: nivelamento de rendimentos; contabilidade mágica; administração das demonstrações financeiras; jogo dos números; contabilidade agressiva; reengenharia das demonstrações de resultado; contabilidade criativa; manipulação das demonstrações financeiras; emprestando receitas do futuro; artifícios financeiros; alquimia contábil.

24 Para Martinez (2001), com base nas motivações, têm-se diversas modalidades de gerenciamento dos resultados contábeis, destacando-se: Target Earnings Gerenciamento de resultado visando a aumentar ou diminuir os lucros. Dessa forma, os resultados são gerenciados de modo a atingir determinadas metas; Income Smoothing Gerenciamento de resultado para reduzir a variabilidade. A ideia é manter os resultados em determinado nível, evitando, assim, a excessiva flutuação; Big Bath Gerenciamento de resultado visando à redução dos lucros correntes, beneficiando lucros futuros. A intenção é gerenciar o resultado atual (piorando), objetivando apresentar melhores resultados no futuro. Conforme discutido por Paulo (2007), os incentivos para manipulação das informações contábeis são provenientes da regulamentação, contratos de dívidas, remuneração dos altos executivos e emissão e negociação de títulos mobiliários. Entre os pontos mencionados, a redução da carga tributária das empresas é um exemplo de mecanismo de gerenciamento de resultado. A sistemática de tributação das empresas pode exercer um impacto nos números reportados pelas empresas nas suas demonstrações contábeis, considerando a incidência de tributos sobre o lucro ou mesmo sobre as receitas. A discussão sobre o gerenciamento de resultados e o planejamento tributário também é analisada por Shackelford e Shevlin (2001), os quais apontam que as estratégias de planejamento tributário são importantes porque, com frequência, resultam em uma redução dos números que são reportados. Os autores afirmam que muitos contratos financeiros com credores, clientes, fornecedores, gestores e usuários utilizam como base os números contábeis, influenciando, assim, as decisões de reportar resultados menores. Quando se reflete sobre o cenário brasileiro, pode-se notar uma alta carga tributária exercida sobre as empresas, representando, em 2010, por exemplo, 35,13% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

25 Entre os principais tributos calculados sobre o faturamento, temos: Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Programa de Integração Social e Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pis/PASEP); Contribuição para a Seguridade Social (Cofins); Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE-Combustível); e Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). No caso do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), o mesmo pode ser aplicado sobre o lucro fiscal ou, até mesmo, sobre as receitas. Na primeira sistemática, após a apuração do lucro contábil, ajustes são realizados (adições e exclusões) visando, assim, a apurar o lucro fiscal tributável (lucro real). Já na sistemática da tributação sobre a base de cálculo das receitas, o lucro é presumido de acordo com a natureza das atividades realizadas pelas empresas. Apresenta-se na Tabela 1, em termos de tributos federais, o montante da arrecadação do IRPJ e CSLL, os quais totalizam, em 2010, 16,92% e em 2011, 17,32% do total das receitas administradas pela Secretaria da Receita Federal (SRF). Já no caso dos demais tributos (IPI, PIS, COFINS e CIDE), estes representaram 27,08% em 2010 e 25,78% em 2011. Tabela 1: Arrecadações das Receitas Administradas pela SRF Receitas (em milhões de reais) 2010 2011 Valor % Valor % Receita Previdenciária 254.855 29,19% 277.870 29% Imposto de Renda e Contribuição Social - PJ - Presumido 31.303 3,59% 35.745 3,72% Imposto de Renda e Contribuição Social - PJ - Real e Outros 116.393 13,33% 130.889 13,61% Imposto de Renda Retido na Fonte - Rend. Capital 26.337 3,02% 34.982 4% Contribuição para a Seguridade Social e PIS 196.722 22,53% 204.848 21% Imposto de Importação e IPI Vinculado 35.407 4,06% 41.413 4% Imposto de Renda Retido na Fonte - Rend. Trabalho 65.364 7,49% 70.579 7% Imposto de Renda - Pessoa Física 18.834 2,16% 22.501 2% Imposto sobre Operacão Financeira - IOF 29.039 3,33% 32.564 3% Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI (Ex. Vinculados) 31.283 3,58% 34.008 4% Imposto de Renda Retido na Fonte - Rend. Res. Exterior 12.321 1,41% 13.733 1% Contribuição Interv. Domínio Ec. - CIDE-Comb. 8.457 0,97% 9.152 1% Imposto de Renda Retido na Fonte - Outros Rendimentos 7.145 0,82% 7.494 1% Demais Receitas Administradas 39.701 4,55% 46.102 5% Total 873.161 100,00% 961.880 100% Fonte: Brasil (2012).

26 Os valores evidenciados demonstram a carga tributária no Brasil, conferindo a possibilidade de algum tipo de manipulação das informações relativas a impostos, visando, assim, à redução dos tributos, o que pode afetar o nível de receitas registradas e os números apresentados nas demonstrações reportadas pelas companhias. Cabe ressaltar que não foi observado no Brasil nenhum estudo nesse sentido, o que poderia contribuir para um entendimento melhor sobre o tema em questão. Dado o contexto apresentado, pode-se notar que o conteúdo da informação contábil traz consigo impactos relevantes para os seus usuários, bem como pode afetar a distribuição das riquezas dos acionistas, mudar a percepção de risco e a forma de alocação dos investimentos, segundo Beaver (1981). Nessa mesma linha, conforme relatado por McKee (2005), existe uma crítica comum a respeito do impacto do gerenciamento de resultado na transparência, no sentido de esconder o verdadeiro ganho das empresas. Apesar dessa crítica, os autores relacionados a seguir argumentam sobre o problema de avaliar o valor da transparência aos acionistas, considerando que o nível e o padrão dos lucros podem transmitir informações e, mesmo quando o gerenciamento de resultado omitir informações, isso pode ainda ser benéfico para os usuários. Arya, Glover e Sunder (2003) definem: That earnings management reduces transparency is a simplistic idea. A fundamental feature of decentralized organizations is the dispersal of information across people. Different people know different things and nobody knows everything. In such an environment, a managed earnings stream can convey more information than an unmanaged earnings stream. (p. 11-112). Conforme evidencia a Figura 2, a seguir, diversos mecanismos podem ser utilizados pelas empresas para o processo de manipulação das informações contábeis, os quais passam muitas vezes pelos negócios reais da empresa e as respectivas escolhas contábeis, visando, assim, ao gerenciamento da informação desejada.

27 Figura 2: Gerenciamento das Informações Contábeis: Atividades Operacionais e Escolhas Contábeis Fonte: Adaptada de McKee (2005). A auditoria, então, como instrumento de fiscalização, por sua característica de firma independente, executa os trabalhos de verificação e certificação dos relatórios contábeis elaborados pela administração da empresa, avaliando se estes correspondem à real posição financeira e patrimonial da companhia, de acordo com os Princípios Fundamentais da Contabilidade. Essa avaliação da auditoria é importante, pois, na execução dos registros contábeis, temos oportunidades para a realização das práticas de gerenciamento de resultado, dadas as flexibilidades existentes para tomada de decisões e a realização de outros julgamentos (criação de estimativas contábeis, critérios e métodos de contabilização, entre outros.). No Brasil, as empresas de auditoria surgiram nas últimas décadas, em função das regras e normas legais, especialmente relacionadas aos Estados Unidos da América, considerando a necessidade da realização de trabalhos de auditoria no caso de manutenção de investimentos no exterior (ALMEIDA, 2003). A determinação da obrigatoriedade da auditoria das demonstrações financeiras ou contábeis veio com a Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404/1976), a qual dispôs sobre a necessidade de sua realização para as companhias abertas.

28 Assim, o papel das empresas de auditoria ganhou forte evidência no mercado de capitais, levando o desenvolvimento e instalação de diversas empresas de auditoria no Brasil. O papel da auditoria na redução da assimetria de informação é discutida por Becker et al. (1998), o qual menciona que a auditoria reduz a assimetria de informação existente entre os gestores e todos aqueles interessados na empresa, possibilitando a credibilidade das demonstrações financeiras. De acordo com Palmrose (1989), na realização das atividades de auditoria, os auditores exigem provas suficientes para a sustentação da regularidade das demonstrações financeiras quanto a omissões ou distorções materiais. Com base nos conceitos aqui apresentados, nota-se que o estudo sobre gerenciamento de resultado apresenta-se mais robusto na literatura internacional, havendo diversas definições para o tema, considerando os incentivos existentes e demais fatores. Conforme Dechow e Skinner (2000), o conceito de earnings management ainda precisa ser discutido visando à formulação de uma teoria única. 2.3 Accruals Discricionários A apuração do resultado de um determinado período deve ser realizada com base no reconhecimento de receitas e correspondentes despesas, não considerando o efeito financeiro dos recebimentos e pagamentos (fluxo de caixa) e sim o efeito econômico dos eventos. De acordo com Lopes e Martins (2005), esse procedimento deve ser realizado para que se apure o resultado líquido do evento econômico. A sistemática mencionada diz respeito ao regime da competência, o qual compreende dois Princípios Contábeis: realização das receitas e confronto das despesas. O regime da competência está previsto no artigo 9º da Resolução do CFC nº 750/1993, o qual menciona que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. De acordo com o parágrafo único desse artigo, o princípio pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas.

29 Segundo Iudícibus (1997), o conceito da competência estabelece o momento em que um determinado componente deixa de integrar o patrimônio, para transformar-se em elemento modificador do Patrimônio Líquido. Conforme Dechow e Skinner (2000), os pronunciamentos do Financial Accounting Standards Board (FASB) podem auxiliar na compreensão do regime da competência. O conceito denominado na literatura internacional de accruals accounting tenta registrar os efeitos financeiros sobre uma entidade nos períodos em que as transações ocorreram, em vez de considerar os efeitos de caixa (recebimentos e pagamentos de uma entidade). Um exemplo didático da aplicação do regime de competência é quando se reconhece mensalmente a provisão para o 13º salário, benefício concedido aos trabalhadores devidamente registrados (CLT), de acordo com a Legislação brasileira. Na prática, o desembolso financeiro integral desse benefício ocorre, normalmente, no final do ano, no entanto o mesmo se refere a todo o período aquisitivo (meses trabalhados), mesmo que proporcional. Assim, mensalmente se reconhece uma parcela desse benefício, confrontando a receita gerada pelo trabalho e as despesas e custos correspondentes. Por meio da aplicação do regime aqui discutido, tem-se uma diferença temporal de reconhecimento (caixa e competência), a qual se denomina accruals. Conforme Eliseu Martins (1999), considerando determinadas exceções, a diferença entre accruals basis e cash basis (fluxo de caixa) é a questão temporal. Para Dichev e Dechow (2001), accruals são ajustes temporários que transferem o fluxo de caixa para o período em que eles são efetivamente reconhecidos. Em uma visão de longo prazo, com base no axioma contábil da continuidade, o resultado dos métodos de reconhecimento pelos regimes da competência e caixa se iguala, representando apenas diferenças temporárias (aspecto temporal). O conceito das acumulações (accruals) é discutido por Martinez (2001), o qual afirma que estas são relativas às contas de resultados que compõem o lucro, mas não refletem necessariamente na movimentação de disponibilidades, sendo conhecidas na literatura internacional como a diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa. O conceito em si de accruals, na sua tradução literal, remete a acréscimos, acumulações, provisões e estimativas que são realizadas. Os accruals discricionários são aqueles que dependem do julgamento pessoal dos gestores.

30 É nesse momento que surge a possibilidade de escolhas contábeis, do gerenciamento de resultado, por exemplo, na determinação do montante de uma provisão para devedores duvidosos. A discricionariedade na aplicação dos princípios contábeis pode levar os agentes a atuarem sobre os accruals, que são subjetivos por natureza e que podem ser distorcidos por incentivos contratuais (debt covenants) do mercado econômico-financeiro ou regulatório (LOPES; MARTINS, 2005; WATTS; ZIMMERMAN, 1990). Watts e Zimmerman (1990) mencionam três situações que são utilizadas na literatura para explicar os motivos das escolhas das práticas contábeis pelos gestores das companhias: hipótese do plano de bônus, alavancagem e custo político. No primeiro caso, a hipótese é de que os gestores das companhias que são detentores de planos de bônus são mais propensos no emprego de métodos contábeis que aumentam o lucro, melhorando, assim, suas remunerações individuais. Já o caso da hipótese de alavancagem diz respeito às empresas que apresentam maior nível de endividamento, e que estão mais propensas à utilização de métodos contábeis que aumentam o lucro, visando, assim, a atingir um covenant. No último caso, hipótese do custo político, as empresas que possuem maior porte são mais propensas à utilização de práticas contábeis de redução dos lucros, objetivando, assim, desviar a atenção política sobre a empresa. Dessa forma, quanto ao gerenciamento de resultados (earnings management), tem-se que os accruals das empresas podem ser afetados pela discricionariedade das decisões dos executivos sobre a contabilidade e, assim, as escolhas contábeis podem alterar o resultado contábil da firma. Sob essa ótica, os accruals discricionários podem ser positivos ou negativos (dependendo do tipo de gerenciamento de resultado, visando a melhorar ou piorar o resultado da entidade). Destaca-se, na Figura 3, o diagrama ilustrativo dos conceitos apresentados:

31 Figura 3: Diagrama Ilustrativo Accruals Fonte: Adaptada de Martinez (2008). Na literatura internacional modelos operacionais de accruals foram elaborados considerando o componente discricionário como uma proxy para o gerenciamento de resultado (HEALY, 1985; JONES, 1991; KANG; SIVARAMAKRISHNAN, 1995). Dado o cenário destacado, como instrumento de proteção ao mercado, governo e acionistas, as empresas de auditoria, por meio de suas práticas e procedimentos, avaliam a aplicação dos julgamentos sobre os fatos contábeis, visando a identificar e eliminar práticas de gerenciamento de resultados, as quais prejudicam as informações contábeis quanto às suas características qualitativas. 2.4 Conflito de Agência e Assimetria Informacional Na evolução das práticas de negócio e gestão das empresas, as quais eram, antigamente, em sua maioria, empresas administradas por seus próprios proprietários, houve, com o avanço do capitalismo e desenvolvimento das empresas uma separação entre gestão e propriedade. Na prática, isso significa que as empresas passaram a ser geridas por administradores contratados, ou seja, gestores escolhidos por meio de um conselho de administração. As sociedades anônimas representam a evolução do modelo societário dessas empresas, sendo que, por meio da pulverização de suas ações, administradores são eleitos para a gestão das atividades empresariais, visando, assim, à condução dos negócios em busca de objetivos