ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 3 de Maio de 2011 *

Documentos relacionados
O TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção),

Coletânea da Jurisprudência

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção) 29 de Novembro de 2007 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 11 de Setembro de 2007 *

1) Rewe-Zentralfinanz eg, Colónia,

Processo T-28/03. Hokim (Deutschland) AG contra Comissão das Comunidades Europeias

DESPACHO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Oitava Secção) 13 de fevereiro de 2014 (*)

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 28 de Abril de 2005 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 21 de Julho de 2005 *

Coletânea da Jurisprudência

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 15 de Dezembro de 2011 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 15 de Setembro de 2005 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção) 30 de Abril de 2002 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 18 de Janeiro de 2001 *

Processo C-540/03. Parlamento Europeu contra Conselho da União Europeia

REGULAMENTOS Jornal Oficial da União Europeia L 61/1. (Actos aprovados ao abrigo dos Tratados CE/Euratom cuja publicação é obrigatória)

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL (Sexta Secção) 8 de Março de 1988 *

Dunlop AG, com sede em Hanau am Main (República Federal da Alemanha),

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 13 de Dezembro de 2005 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 7 de Outubro de 2010 (*)

TÍTULO VI AS REGRAS COMUNS RELATIVAS À CONCORRÊNCIA, À FISCALIDADE E À APROXIMAÇÃO DAS LEGISLAÇÕES CAPÍTULO 1 AS REGRAS DE CONCORRÊNCIA SECÇÃO 1

Universidade do Minho Escola de Direito

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 3 de Março de 1994 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 11 de Janeiro de 2001 *

Tratado Sobre o Funcionamento da União Europeia. (Excertos)

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Sesção) 4 de Dezembro de 1990*

DESPACHO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 9 de Janeiro de 2007 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 20 de Setembro de 2007 *

Processo C-321/99 P. Associação dos Refinadores de Açúcar Portugueses (ARAP) e o. contra Comissão das Comunidades Europeias

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 6 de Dezembro de 2005 *

belgo-luxemburguês, Grécia», assinado em Atenas, em 9 de Julho de 1961, e do protocolo 14 visado pela 3, do Regulamento

DESPACHO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 3 de Julho de 2001 *

COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DAS COMUNIDADES EUROPEIAS ACÓRDÃO TRAGHETTI DEL MEDITERRANEO 2003 PROCESSO C-173/03

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 9 de Novembro de 2000 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL (Sexta Secção) 8 de Outubro de 1987*

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 5 de Outubro de 2004*

1612/68, relativo à livre. de secção, A. M. Donner, R. Mónaco, J. Mertens de Wilmars, P. Pescatore, No processo 36/74, 1. Bruno Nils Olaf Walrave

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 14 de Dezembro de 2000 *

Tribunal de Justiça da União Europeia Secção Minhota. Processo M-6/16

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 22 de Março de 2007 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 3 de Outubro de 2006 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 15 de Junho de *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 1 de Março de 2011 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sétima Secção) 28 de Julho de 2011 (*)

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 12 de Abril de 1994 *

Coletânea da Jurisprudência

Coletânea da Jurisprudência

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 30 de Junho de 1966 <appnote>*</appnote>

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 5 de Fevereiro de 2004 *

Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

TEXTOS JURÍDICOS E LEGISLATIVOS. Declaração de direitos de autor. Consulte:

Modernização das regras comunitárias de aplicação dos artigos 81 e 82 do tratado

23 de Março de 2006 *

26 de Outubro de 2006 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Nona Secção) 19 de novembro de 2015 (*)

ÍNDICE GERAL. apresentação da 8ª edição 7 apresentação da 7ª edição 9 apresentação da 6ª edição 11 apresentação da 1ª edição 13

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar PROJECTO DE PARECER. dirigido à Comissão dos Assuntos Jurídicos

COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 12de Julho de 2005 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Segunda Secção) 7 de Outubro de 2004*

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Sexta Secção) 20 de Junho de 1991 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 13 de Julho de 2006 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 20 de Janeiro de 2005 *

III. (Actos preparatórios) CONSELHO

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quarta Secção) 6 de setembro de 2012 (*)

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA COMISSÃO DE ASSUNTOS CONSTITUCIONAIS, DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS RELATÓRIO COM (2013) 404 final PROPOSTA DE DIRECTIVA DO

Processo C 431/04. Recurso interposto por. Massachusetts Institute of Technology. (pedido de decisão prejudicial apresentado pelo Bundesgerichtshof)

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 14 de Setembro de 2000 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 17 de Junho de 1999 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 14 de Setembro de 2006 *

Processo 0524/04. Test Claimants in the Thin Cap Group Litigation contra Commissioners of Inland Revenue

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 11 de Julho de 2006 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 5 de Outubro de 1988 *

Declarações para a Acta do Conselho

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 16 de Março de 2006 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL 22 de Fevereiro de 1990 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 8 de Junho de 2000 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 4 de Junho de 2002 *

Coletânea da Jurisprudência

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0734/05. Data do Acórdão: Tribunal: 2 SECÇÃO. Relator: JORGE LINO

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção) 22 de Novembro de 2001 *

Processo C-210/04. Ministero dell'economia e delle Finanze e Agenzia delle Entrate. contra. FCE Bank plc

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 13 de Janeiro de 2004 *

TEXTO consolidado CONSLEG: 1999R /06/2001. produzido pelo sistema CONSLEG. do Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção) 5 de outubro de 2016 (*)

Processo T-315/01. Yassin Abdullah Kadi contra Conselho da União Europeia e Comissão das Comunidades Europeias

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Quinta Secção) 1 de Julho de 1999 *

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

C Estatísticas judiciárias do Tribunal Geral

ENQUADRAMENTO COMUNITÁRIO DOS AUXÍLIOS ESTATAIS SOB A FORMA DE COMPENSAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO

Lei n.º 46/2011 de 24 de Junho

COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DAS COMUNIDADES EUROPEIAS ACÓRDÃO GUIMONT PROCESSO C-448/98

Jornal Oficial da União Europeia L 322/33. (Actos adoptados em aplicação do título VI do Tratado da União Europeia)

RESUMO DA AVALIAÇÃO DE IMPACTO

FCE BANK. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Segunda Secção) 23 de Março de 2006

COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Proposta de DECISÃO DO CONSELHO

Transcrição:

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção) 3 de Maio de 2011 * No processo C-375/09, que tem por objecto um pedido de decisão prejudicial nos termos do artigo 234. o CE, apresentado pelo Sąd Najwyższy (Polónia), por decisão de 15 de Julho de 2009, entrado no Tribunal de Justiça em 23 de Setembro de 2009, no processo Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji i Konsumentów contra Tele2 Polska sp. z o.o., actualmente Netia SA, O TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Grande Secção), composto por: V. Skouris, presidente, A. Tizzano, J. N. Cunha Rodrigues, K. Lenaerts, J.-C. Bonichot, D. Šváby, presidentes de secção, A. Rosas, E. Juhász (relator), J. Malenovský, E. Levits e A. Ó Caoimh, juízes, * Língua do processo: polaco. I - 3082

advogado-geral: J. Mazák, secretário: K. Malacek, administrador, TELE2 POLSKA vistos os autos e após a audiência de 21 de Setembro de 2010, vistas as observações apresentadas: em representação do Governo polaco, por M. Dowgielewicz, K. Zawisza e M. Laszuk, na qualidade de agentes, em representação do Governo checo, por M. Smolek, na qualidade de agente, em representação da Comissão Europeia, por F. Castillo de la Torre e K. Mojzesowicz, na qualidade de agentes, em representação do Órgão de Fiscalização da AECL, por X. Lewis e M. Schneider, na qualidade de agentes, ouvidas as conclusões do advogado-geral na audiência de 7 de Dezembro de 2010, I - 3083

profere o presente Acórdão 1 O pedido de decisão prejudicial tem por objecto a interpretação do artigo 5. o do Regulamento (CE) n. o 1/2003 do Conselho, de 16 de Dezembro de 2002, relativo à execução das regras de concorrência estabelecidas nos artigos 81. o e 82. o do Tratado (JO 2003, L 1, p. 1, a seguir «regulamento»). 2 Este pedido foi apresentado no âmbito de um litígio que opõe o Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji i Konsumentów (presidente da Autoridade da Concorrência e da Protecção dos Consumidores, a seguir «Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji») à Tele2 Polska sp. z o.o., actualmente Netia SA, a respeito de uma decisão tomada pelo referido presidente nos termos do artigo 82. o CE. Quadro jurídico Regulamentação da União 3 A primeira frase do primeiro considerando do regulamento prevê: «A fim de estabelecer um regime que assegure a não distorção da concorrência no mercado comum, há que proceder à aplicação eficaz e uniforme dos artigos 81. o [CE] e 82. o [CE] na Comunidade.» I - 3084

TELE2 POLSKA 4 A primeira frase do oitavo considerando do regulamento enuncia: «A fim de assegurar uma aplicação eficaz das regras comunitárias de concorrência e o funcionamento adequado dos mecanismos de cooperação constantes do presente regulamento, é necessário impor às autoridades responsáveis em matéria de concorrência e aos tribunais dos Estados-Membros que apliquem igualmente os artigos 81. o [CE] e 82. o [CE], nos casos em que apliquem a legislação nacional em matéria de concorrência a acordos e práticas que possam afectar o comércio entre os Estados-Membros.» 5 Nos termos do décimo quarto considerando do regulamento: «Em casos excepcionais, quando o interesse público comunitário o exija, poderá também ser útil que a Comissão aprove uma decisão de carácter declaratório em que constate a não aplicação da proibição estabelecida pelos artigos 81. o [CE] ou 82. o [CE], a fim de clarificar a legislação e assegurar a sua aplicação coerente na Comunidade, especialmente no que se refere a novos tipos de acordos ou práticas que não estejam consagrados na jurisprudência existente, nem na prática administrativa.» 6 O artigo 3. o, n. o 1, do regulamento dispõe: «Sempre que as autoridades dos Estados-Membros responsáveis em matéria de concorrência ou os tribunais nacionais apliquem a legislação nacional em matéria de concorrência a acordos, decisões de associação ou práticas concertadas na acepção do n. o 1 do artigo 81. o [CE], susceptíveis de afectar o comércio entre os Estados- -Membros, na acepção desta disposição, devem aplicar igualmente o artigo 81. o [CE] a tais acordos, decisões ou práticas concertadas. Sempre que as autoridades dos Estados-Membros responsáveis em matéria de concorrência ou os tribunais nacionais I - 3085

apliquem a legislação nacional em matéria de concorrência a qualquer abuso proibido pelo artigo 82. o [CE], devem aplicar igualmente o artigo 82. o [CE].» 7 O artigo 5. o do regulamento, sob a epígrafe «Competência das autoridades dos Estados-Membros responsáveis em matéria de concorrência», estabelece: «As autoridades dos Estados-Membros responsáveis em matéria de concorrência têm competência para aplicar, em processos individuais, os artigos 81. o [CE] e 82. o [CE]. Para o efeito, podem, actuando oficiosamente ou na sequência de denúncia, tomar as seguintes decisões: exigir que seja posto termo à infracção, ordenar medidas provisórias, aceitar compromissos, aplicar coimas, sanções pecuniárias compulsórias ou qualquer outra sanção prevista pelo respectivo direito nacional. Sempre que, com base nas informações de que dispõem, não estejam preenchidas as condições de proibição, podem igualmente decidir que não se justifica a sua intervenção.» I - 3086

TELE2 POLSKA 8 Nos termos do artigo 10. o do regulamento: «Sempre que o interesse público comunitário relacionado com a aplicação dos artigos 81. o [CE] e 82. o [CE] assim o exija, a Comissão, pode, através de decisão, declarar oficiosamente que o artigo 81. o [CE] não se aplica a um acordo, decisão de associação de empresas ou prática concertada, quer por não estarem preenchidas as condições do n. o 1 do artigo 81. o [CE] do Tratado, quer por estarem preenchidas as condições do n. o 3 do artigo 81. o [CE]. A Comissão pode do mesmo modo fazer declaração semelhante relativamente ao artigo 82. o [CE].» Direito nacional 9 O artigo 8. o da Lei da Concorrência e da Protecção dos Consumidores de 15 de Dezembro de 2000 (ustawa o ochronie konkurencji i konsumentów, Dz. U de 2005, n. o 244, ponto 2080), na versão aplicável aos factos no processo principal (a seguir «lei da concorrência e da protecção dos consumidores»), dispõe: «1. É proibido o abuso de uma posição dominante no mercado em questão por uma ou mais empresas. [...] I - 3087

3. Os actos constitutivos de um abuso de posição dominante são nulos na sua totalidade ou na parte relevante.» 10 O artigo 11. o da lei da concorrência e da protecção dos consumidores prevê: «1. [O Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji] adoptará uma decisão que conclui pela inexistência de prática restritiva da concorrência, se não verificar nenhuma violação das proibições definidas no artigo 5. o ou no artigo 8. o [ ]» Litígio no processo principal e questões prejudiciais 11 O Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji, agindo na qualidade de autoridade nacional da concorrência na acepção do artigo 3. o, n. o 1, do regulamento, deu início a um procedimento contra a Telekomunikacja Polska SA, por suspeita de esta ter violado o artigo 8. o da lei da concorrência e da protecção dos consumidores e o artigo 82. o CE (actual artigo 102. o TFUE). No final deste procedimento, o mesmo constatou que o comportamento da empresa em causa, que tinha uma posição dominante no mercado, não configurava um abuso dessa posição e que, assim, esse comportamento não constituía uma violação do direito nacional e do artigo 102. o TFUE. Por consequência, o Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji adoptou uma decisão, nos termos do direito nacional, na qual concluiu que a empresa em causa não tinha levado a cabo nenhuma prática restritiva, tendo declarado, no que se refere à violação do artigo 102. o TFUE, que não havia que conhecer do mérito da causa em razão da sua falta de objecto. I - 3088

TELE2 POLSKA 12 A Tele2 Polska sp. z o.o., actualmente Netia SA, impugnou essa decisão. 13 O Sąd Okręgowy Sąd Ochrony Konkurencji i Konsumentów (Tribunal Regional Tribunal da Concorrência e da Protecção dos Consumidores) anulou a referida decisão, e o Sąd Apelacyjny w Warszawie (Tribunal de Recurso de Varsóvia) confirmou a anulação dessa mesma decisão, declarando que o Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji deveria ter adoptado uma decisão que concluísse pela inexistência de prática restritiva da concorrência nos termos do artigo 102. o TFUE, uma vez que havia adoptado uma decisão desta natureza em relação à proibição de abuso de posição dominante estabelecida no direito nacional. 14 O Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji interpôs recurso para o Sąd Najwyższy (Supremo Tribunal de Justiça), alegando que o regulamento não lhe permitia adoptar uma decisão negativa sobre o mérito no que respeita à apreciação da conformidade das práticas da empresa em causa com o disposto no artigo 102. o TFUE. 15 Segundo o Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji, o artigo 5. o do regulamento regula a competência das autoridades nacionais da concorrência e restringe as possibilidades decisórias dessas autoridades. Nos termos deste artigo, não lhe é conferida competência para adoptar uma decisão negativa sobre o mérito quanto à apreciação da conformidade das práticas das empresas com o disposto no artigo 102. o TFUE. Assim, no termo do processo instaurado contra a Telekomunikacja Polska SA, quando se verificou que não tinha havido, por parte desta empresa, abuso de posição dominante na acepção do artigo 102. o TFUE, o Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji tomou uma decisão que pôs fim a esse processo, sem decidir sobre o mérito da causa. O artigo 5. o do regulamento enumera quatro tipos de decisão sobre o mérito da causa, não prevendo nenhuma delas que a autoridade nacional da concorrência possa concluir pela inexistência de infracção. Além disso, o artigo 10. o do regulamento, que reconhece à Comissão o direito de adoptar oficiosamente uma decisão que declare que o artigo 102. o TFUE não é aplicável a determinados comportamentos de uma empresa no interesse público comunitário, não confere esse direito às autoridades nacionais da concorrência. Segundo o Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji, o artigo 10. o do regulamento tem por objectivo impedir que as autoridades nacionais da concorrência possam bloquear toda e qualquer possibilidade de a Comissão declarar que foram violados os artigos 101. o TFUE ou 102. o TFUE, adoptando decisões que concluam I - 3089

pela inexistência de violação dessas disposições, tendo em conta o princípio ne bis in idem. 16 O Sąd Najwyższy considera, por um lado, que a autonomia processual neste caso é limitada e não dá ao Prezes Urzędu Ochrony Konkurencji a possibilidade de adoptar uma decisão que conclua pela inexistência de uma prática restritiva da concorrência, visto que essa decisão não faz parte da lista de decisões enumeradas no artigo 5. o, primeiro parágrafo, segunda frase, do regulamento. 17 Por outro lado, o Sąd Najwyższy observa que uma interpretação teleológica e funcional do artigo 5. o, segundo parágrafo, do regulamento, em conjugação com o artigo 5. o, primeiro parágrafo, segunda frase, do regulamento e com as outras disposições do mesmo, pode permitir à autoridade nacional da concorrência tomar uma decisão como a decisão em causa. A redacção do artigo 5. o, segundo parágrafo, do regulamento, que menciona que as autoridades nacionais da concorrência podem decidir «que não se justifica a sua intervenção» sempre que não estejam preenchidas as condições de uma proibição, pode não excluir tal possibilidade. 18 À luz do exposto, o Sąd Najwyższy decidiu suspender a instância e submeter ao Tribunal de Justiça as seguintes questões prejudiciais: «1) Deve o artigo 5. o do [regulamento] ser interpretado no sentido de que a autoridade nacional da concorrência não pode adoptar uma decisão que conclua pela inexistência de uma prática restritiva da concorrência na acepção do artigo 82. o CE, quando considerar, no fim do procedimento, que a empresa não violou a proibição dos abusos de posição dominante que resulta desta disposição do Tratado? I - 3090

TELE2 POLSKA 2) Em caso de resposta afirmativa à primeira questão, na hipótese de as disposições do direito nacional da concorrência habilitarem a autoridade nacional da concorrência a encerrar um procedimento em matéria de repressão de práticas anticoncorrenciais se se verificar que o comportamento da empresa não viola a proibição resultante do artigo 82. o CE [unicamente através da adopção de] uma decisão que conclua pela inexistência de uma prática restritiva da concorrência, deve o artigo 5. o, [segundo parágrafo], do [regulamento] ser interpretado no sentido de que constitui a base jurídica directa para a adopção por esse órgão de uma decisão [que conclui] que não se justifica a sua intervenção?» Quanto às questões prejudiciais Quanto à primeira questão 19 Com a sua primeira questão, o órgão jurisdicional de reenvio pergunta, no essencial, se o artigo 5. o do regulamento deve ser interpretado no sentido de que se opõe a que uma autoridade nacional da concorrência, quando, a fim de aplicar o artigo 102. o TFUE, verifica se estão preenchidas as condições de aplicação desse artigo e, após este exame, considera não ter ocorrido uma prática abusiva, possa tomar uma decisão que conclua pela inexistência de violação do referido artigo. 20 Cabe referir desde logo que, nos termos do artigo 3. o, n. o 1, do regulamento, sempre que as autoridades nacionais da concorrência apliquem a legislação nacional em matéria de concorrência a uma prática abusiva de uma empresa com uma posição dominante no mercado, susceptível de afectar o comércio entre os Estados-Membros, devem igualmente aplicar o artigo 102. o TFUE. I - 3091

21 O artigo 5. o, primeiro parágrafo, do regulamento precisa a competência das autoridades dos Estados-Membros responsáveis em matéria de concorrência, para aplicar os artigos 101. o TFUE e 102. o TFUE em processos individuais. De acordo com estas disposições, essas autoridades, ao decidirem sobre o mérito, podem, oficiosamente ou na sequência de denúncia, tomar as seguintes decisões: exigir que seja posto termo à infracção, ordenar medidas provisórias, aceitar compromissos e aplicar coimas, sanções pecuniárias compulsórias ou qualquer outra sanção prevista pelo respectivo direito nacional. 22 De acordo com o disposto no artigo 5. o, segundo parágrafo, do regulamento, sempre que, com base nas informações de que dispõem, não estejam preenchidas as condições de proibição, as autoridades nacionais da concorrência podem igualmente decidir que não se justifica a sua intervenção. 23 A redacção desta última disposição indica claramente que, numa situação como esta, a competência da autoridade nacional da concorrência está limitada à adopção de uma decisão que declare não haver justificação para intervir. 24 Esta limitação do poder das autoridades nacionais da concorrência é corroborada pela determinação do poder decisório da Comissão no caso de inexistência de violação dos artigos 101. o TFUE e 102. o TFUE. De acordo com o disposto no artigo 10. o do regulamento, a Comissão pode declarar, através de decisão, que os artigos 81. o CE e 82. o CE não são aplicáveis. 25 O décimo quarto considerando do regulamento indica que essa decisão de carácter declaratório da Comissão pode ser adoptada «em casos excepcionais». O objectivo desta intervenção, nos termos do referido considerando, é «clarificar a legislação e assegurar a sua aplicação coerente na [União], especialmente no que se refere a novos I - 3092

TELE2 POLSKA tipos de acordos ou práticas que não estejam consagrados na jurisprudência existente, nem na prática administrativa». 26 Além disso, o Tribunal de Justiça declarou que, a fim de garantir uma aplicação coerente das regras de concorrência nos Estados-Membros, foi instaurado pelo regulamento um mecanismo de cooperação entre a Comissão e as autoridades nacionais da concorrência, no âmbito do princípio geral da cooperação leal (v., neste sentido, acórdão de 11 de Junho de 2009, X, C-429/07, Colect., p. I-4833, n. os 20 e 21). 27 O facto de autorizar as autoridades nacionais da concorrência a tomar decisões nas quais se declare a inexistência de violação do artigo 102. o TFUE poria em causa o sistema de cooperação instituído pelo regulamento e afectaria a competência da Comissão. 28 Com efeito, tal decisão «negativa» sobre o mérito poderia prejudicar a aplicação uniforme dos artigos 101. o TFUE e 102. o TFUE, que é um dos objectivos do regulamento realçado no seu primeiro considerando, uma vez que poderia impedir a Comissão de concluir posteriormente que a prática em causa constitui uma violação das disposições do direito da União. 29 Por conseguinte, resulta tanto da redacção e da economia do regulamento como do objectivo por este prosseguido que as declarações de inexistência de violação do artigo 102. o TFUE são da competência exclusiva da Comissão, mesmo que este artigo seja aplicado num processo conduzido por uma autoridade nacional da concorrência. I - 3093

30 Por consequência, importa responder à primeira questão que o artigo 5. o do regulamento deve ser interpretado no sentido de que se opõe a que uma autoridade nacional da concorrência possa tomar uma decisão que conclua pela inexistência de violação do artigo 102. o TFUE, quando, a fim de aplicar o referido artigo, verifica se estão preenchidas as condições de aplicação desse artigo e, após este exame, considera não ter ocorrido uma prática abusiva. Quanto à segunda questão 31 Com a sua segunda questão, o órgão jurisdicional de reenvio pergunta, no essencial, se o artigo 5. o, segundo parágrafo, do regulamento é directamente aplicável e se, com base nele, uma autoridade nacional da concorrência, que considere que as condições de proibição de uma prática nos termos do artigo 102. o TFUE não estão preenchidas, pode encerrar o processo instaurado contra uma empresa, adoptando uma decisão que declare que não se justifica a sua intervenção, quando, em tais circunstâncias, o direito nacional prevê unicamente a possibilidade de adoptar uma decisão negativa sobre o mérito. 32 Resulta da resposta à primeira questão que uma autoridade nacional da concorrência não pode tomar uma decisão que conclua pela inexistência de violação do artigo 102. o TFUE. Nos termos do artigo 5. o, segundo parágrafo, do regulamento, tal autoridade, sempre que considere, com base nas informações de que dispõe, que não estão preenchidas as condições de proibição de uma prática nos termos do artigo 102. o TFUE, pode, todavia, decidir que não se justifica a sua intervenção. 33 A este respeito, importa recordar que somente quando o direito da União não prevê normas específicas é que uma autoridade nacional da concorrência pode aplicar as suas normas nacionais. I - 3094

TELE2 POLSKA 34 No caso em apreço, uma vez que o artigo 5. o do regulamento é directamente aplicável em todos os Estados-Membros, nos termos do artigo 288. o TFUE, opõe-se à aplicação de uma norma de direito nacional que imponha o encerramento de um processo relativo à aplicação do artigo 102. o TFUE através de uma decisão que declare a inexistência de violação do referido artigo. 35 Cabe assim responder à segunda questão que o artigo 5. o, segundo parágrafo, do regulamento é directamente aplicável e se opõe à aplicação de uma norma de direito nacional que imponha o encerramento de um processo relativo à aplicação do artigo 102. o TFUE através de uma decisão que declare a inexistência de violação do referido artigo. Quanto às despesas 36 Revestindo o processo, quanto às partes na causa principal, a natureza de incidente suscitado perante o órgão jurisdicional de reenvio, compete a este decidir quanto às despesas. As despesas efectuadas pelas outras partes para a apresentação de observações ao Tribunal de Justiça não são reembolsáveis. Pelos fundamentos expostos, o Tribunal de Justiça (Grande Secção) declara: 1) O artigo 5. o do Regulamento (CE) n. o 1/2003 do Conselho, de 16 de Dezembro de 2002, relativo à execução das regras de concorrência estabelecidas nos artigos 81. o e 82. o do Tratado, deve ser interpretado no sentido de que se opõe a que uma autoridade nacional da concorrência possa tomar uma decisão que conclua pela inexistência de violação do artigo 102. o TFUE, quando, a fim de aplicar o referido artigo, verifica se estão preenchidas as condições I - 3095

de aplicação desse artigo e, após este exame, considera não ter ocorrido uma prática abusiva. 2) O artigo 5. o, segundo parágrafo, do Regulamento n. o 1/2003 é directamente aplicável e opõe-se à aplicação de uma norma de direito nacional que imponha o encerramento de um processo relativo à aplicação do artigo 102. o TFUE através de uma decisão que declare a inexistência de violação do referido artigo. Assinaturas I - 3096