Fungos associados às sementes de alface e pimentão Natalia de Jesus Ferreira Costa 1 ; Mônica Shirley Brasil dos Santos e Silva 1 ; Antonia Alice Costa Rodrigues 1 ; Leonardo de Jesus M Gois de Oliveira 1 ; Francisco Nóbrega dos Santos 1 ; 1 UEMA Universidade Estadual do Maranhão/ CCA- Centro de Ciências Agrárias/ DFF - Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade. Cidade Universitária Paulo VI Tirical, São Luís/ MA, 65055-000, natalia.jfc@gmail.com, shirleybrasil.85@hotmail.com, aacrodrigues@bol.com.br, leonardo_jesus@hotmail.com, nobregacca@hotmail.com RESUMO A maioria das espécies cultivadas é oriunda da propagação via sementes, desse modo, ressalta-se a importância da qualidade sanitária que a semente deve ter para se obter uma elevada produção agrícola. Considerando que as principais doenças de importância econômica são transmitidas pela semente, o conhecimento das espécies fúngicas que são transportados pelas sementes é essencial para elaboração das recomendações de manejo de uma cultura. Portanto, o objetivo deste experimento foi realizar um levantamento dos fungos associados às sementes das hortaliças alface e pimentão. No experimento foram utilizadas as sementes de hortaliças alface (Lactuca sativa L.) e pimentão (Capsicum annuum L.), onde a detecção das espécies de fungos presentes nas sementes foi efetuada pelo método Blotter Test, segundo a Regra Para Análise de Sementes. Foram usadas quatro cultivares de alface (Grandes Lagos Americana, Simpson, Vitória Verão, Americana Delícia) e três de pimentão (Itapuá, All Big, Casca Dura Ieka). As sementes de alface cultivar Grandes Lagos Americana apresentou maior incidência de espécies fúngicas dentre as cultivares analisadas, sendo estas a maioria do gênero Aspergillus. A cultivar Vitória de Verão, apresentou a menor incidência de fungos. As sementes de pimentão da cultivar All Big apresentou maior incidência de espécies fúngicas, e a cultivar Casca Dura Ieka apresentou a menor incidência, representada apenas pela espécie A. niger. Desta forma, os resultados obtidos confirmam a potencialidade das sementes como principais veículos disseminadores de microrganismos fitopatogênicos. PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa L., Capsicum annuum L, levantamento. ABSTRACT Fungi associated with seeds of lettuce and peppers Most cultivated species comes from the propagation of seeds, hence it emphasizes the importance of sanitary quality seed should have to obtain a high agricultural production. Since the major diseases of economic importance are seed-borne, knowledge of fungal species that are transported by the seeds is essential for developing recommendations Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014 S 0656
for the management of a culture. Therefore, the objective of this experiment was to conduct a survey of fungi associated with seeds of vegetables lettuce and peppers. In the experiment, seeds of vegetables lettuce (Lactuca sativa L.) and pepper (Capsicum annuum L.), where detection of the fungal species present in the seeds was performed by Blotter Test were used, under Rule To Seed Analysis. Four cultivars of lettuce (Grandes Lagos Americana, Simpson, Vitória Verão, Americana Delícia) and three peppers pimentão (Itapuá, All Big, Casca Dura Ikeda) were used. The seeds of lettuce cultivar Grandes Lagos Americana showed a higher incidence of fungal species among the cultivars analyzed, these being the majority of the genus Aspergillus. The cultivar Vitória Verão, had the lowest incidence of fungi. The seeds of the pepper cultivar All Big with higher incidence of fungal species, and cultivar Casca Dura Ikeda presented the lowest incidence, represented only by the species A. niger. Thus, these results confirm the potential of seeds as the main disseminators of pathogenic microorganisms vehicles. Keywords: Lactuca sativa L., Capsicum annuum L., survey. A alface ((Lactuca sativa L.) e o pimentão (Capsicum annuum L.) são duas hortaliças de grande destaque, sendo estas cultivadas em larga escala em todo território nacional. Segundo Costa & Sala (2005), a alface é considerada a hortaliça folhosa de maior importância para o Brasil, por ser a mais consumida e produzida. E o pimentão, está entre as 10 hortaliças mais cultivadas no Brasil (Henz et al., 2007). Para o estabelecimento das produções agrícolas ou hortícolas, geralmente é efetuado com o uso de sementes, sendo que cerca de 80 % das espécies vegetais cultivadas são propagadas por sementes. A emergência rápida e uniforme, seguida do estabelecimento de estande vigoroso garante o desempenho adequado das plantas, o que resultará em um alto rendimento final da cultura e em produtos de qualidade (Marcos Filho, 2005). Contudo, esta produção pode ser reduzida pelos fitopatógenos transmissíveis pelas sementes. No geral, as principais doenças de importância econômica são transmitidas pela semente (Almeida et al., 1996), assim como, nas sementes de pimentão (Lopes & Santos, 1994), de tomate (Valarini & Spadotto, 1995), melão (Muniz et al., 2004), entre outras. Portanto, o aspecto sanitário das sementes é de grande importância para prevenção de doenças vinculadas potencialmente por seu intermédio. Sendo assim, este Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014 S 0657
trabalho teve como objetivo determinar as espécies de fungos mais comumente associadas às sementes de alface e pimentão e sua interferência na germinação, com a finalidade de obter informações para o estabelecimento de futuras estratégias de controle de doenças nas áreas de produção. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia, pertencente ao Núcleo de Biotecnologia Agronômica do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da Universidade Estadual do Maranhão UEMA. As sementes de alface e pimentão utilizadas no experimento, foram obtidas no comércio local, sendo analisadas quatro cultivares de alface (Grandes Lagos Americana, Simpson, Vitória de Verão e Americana Delícia) e três cultivaes de pimntão (Itapuá, All Big e Casca Dura Ieka). A análise da qualidade sanitária das sementes foi efetuada empregando-se o método do papel de filtro Blotter Test (Brasil, 2009), onde foram detectadas as espécies fúngicas presentes nas sementes. Foram utilizadas 400 sementes de cada variedade de ambas as hortaliças, de acordo com as Regras de Análise de Sementes (Brasil, 2009), distribuídas em 20 repetições, para realização do Blotter Test. Inicialmente, as amostras das sementes foram desinfestadas por meio da tríplice lavagem, através de imersão, com duração de um minuto em cada solução, de hipoclorito de sódio (NaOCl) na proporção 3:1, em seguida na solução de álcool à 50 %, e por ultimo em água destilada. Em seguida, as sementes foram plaqueadas em placas de Petri, previamente desinfetadas por autoclavagem a 1 atm, por 20 minutos e por exposição à luz ultravioleta (UV) durante 20 minutos, contendo três camadas de papel de filtro esterilizado e umedecido com água destilada esterilizada. O levantamento da população fúngica das sementes não germinadas e das plântulas foi realizado com auxílio de microscópio estereoscópico e óptico, identificando os fungos com base nas suas características morfológicas, após sete dias do plaqueamento. As colônias desenvolvidas sobre as sementes e plântulas foram transferidas para meio batata dextrose ágar (BDA), além de preparo de microculturas para sua posterior identificação. Os resultados foram expressos em percentagem de sementes sadias e contaminadas, germinadas e não germinadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014 S 0658
Na análise das sementes de alface, no geral, foram detectados seis espécies de fungos, sendo os de maior ocorrência do gênero Aspergillus. A cultivar Grandes Lagos Americana foi a que apresentou maior número de espécies de fungos (Chaetomium globosum, Aspergillus fumigatus, Aspergillus niger, Aspergillus flavus e Curvularia lunata) e percentual de sementes contaminadas (5 %). Já as cultivares Americana Delícia e Vitória Verão, apresentaram menor quantidade de espécies fúngicas, sendo que foi identificada apenas uma espécie em cada, Chaetomium globosum e Curvularia lunata respectivamente, e com percentual de contaminação (1,75 %) e (0,75 %) respectivamente. (Tabela 1). Quanto ao percentual e germinação, as sementes da cultivar Vitória de Verão obtiveram o maior percentual de germinação (88,2 %) entre as cultivares estudadas, e a Grandes Lagos Americana o menor percentual de germinação (63,75 %). Ruiz Filho et al. (2004) afirma que ao fungo Chaetomium globosum está também associado à deterioração de sementes e sua ação é dependente das condições físicas e fisiológicas das mesmas, por ocasião do início da armazenagem, e dos fatores ambientais predominantes no decorrer desse período. Apesar das baixas porcentagens de contaminação ou infecção de sementes, Anselme (1985) afirma que elas podem ocorrer a níveis de 1 até 100 %, com ou sem conseqüências drásticas para a cultura. Porém, os riscos estão sempre presentes, pois a probabilidade de transmissão, a partir de uma baixa porcentagem, pode ser compensada pela taxa de reprodução do patógeno (Faiad & Cornélio, 1994). Nas sementes de pimentão, no geral, foram identificados cinco espécies de fungos (Fusarium sp., Aspergillus fumigatus, Aspergillus niger, Aspergillus flavus e Curvularia lunata). A cultivar All Big apresentou a maior percentagem de sementes contaminadas (3 %) e maior diversidade de espécies fúngicas detectadas. A cultivar Casca Dura Ieka, foi considerada com menor percentual de sementes contaminadas (0,25 %) em relação às outras cultivares que foram testadas, identificado apenas uma espécie fúngica (Aspergillus niger). (Tabela 2). Quanto ao percentual e germinação, as sementes da cultivar Casca Dura Ieka obtiveram o maior percentual de germinação (94,25 %) entre as cultivares estudadas, e a Itapuá apresentou o menor percentual de germinação (59,25 %). Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014 S 0659
Em trabalho realizado por Kikut et al. (2005), os dados referentes à análise sanitária mostraram que a porcentagem de Aspergillus spp. variou de 89 % a 100 %, em sementes de pimentão. Moura et al. (2012) ao comparar diferentes métodos de detecção de fungos em sementes de cebolas, encontrou algumas das espécies fúngicas que também foram identificadas neste trabalho, como Aspergillus niger, Aspergillus flavus, Fusarium sp., Curvularia lunata. Conforme Vechiato (2004), as sementes desempenham um papel importante na disseminação de patógenos por suas características intrínsecas. Como agente disseminador, sua eficiência independe da distância, e os patógenos permanecem viáveis por tempo maior sem alteração de sua patogenicidade. Diante deste resultado, fica evidente a necessidade de melhor manejo de produção de sementes campos, das técnicas de colheita e de armazenamento das mesmas, no sentido de reduzir a incidência de fungos e dessa forma, assegurar uma melhor qualidade sanitária das sementes. REFERÊNCIAS ALMEIDA IMG; MALAVOLTA JÚNIOR VA; ROBBS CF. 1996. Cancro bacteriano do pimentão: infecção sistêmica com transmissão por sementes. Summa Phytopathologica 22: 112-115. ANSELME C. 1985. Mecanisme de la transmission des parasites par les semences et quelques aspects physiologique de la pathologie des semences. In: CURSO DE PATOLOGIA DE SEMENTES, 3, Fortaleza, 1985. 8p. (mimeografado). BRASIL. 2009. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras Para Análise de Sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV. 395p. COSTA CP; SALA FC. 2005. A evolução da alfacicultura brasileira. Horticultura brasileira 23: 1 (artigo de capa). FAIAD MGGC; CORNÉLIO VMO. 1994. Efeitos e Transmssibilidade de Pyricularia oryzae cav. em Sementes de Arroz (Oryza sativa L.) Sob Condições Controladas. Revista Brasileira de Sementes 16: 45-49. HENZ GP; COSTA CSR; CARVALHO S; BANCI CA. 2007. Negócio rentável. Caderno Técnico da edição da Cultivar HF 42: 1-7. KIKUT ALP; MENTEN JOM; MORAES MHD; OLIVEIRA SRS. 2005. Interferência da assepsia em sementes de pimentão submetidas ao teste de envelhecimento acelerado. Revista Brasileira de Sementes 27: 44-49. LOPES AC; SANTOS JRM. 1994. Doenças do tomateiro. Brasília: Embrapa-CNPH. 67p. MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba: FEALQ. 495 p. MOURA JF et al. 2012. Comparação de métodos de detecção de fungos em sementes de cebola. Pesquisa Agropecuária Pernambucana 17: 24-29. MUNIZ M; BRIÃO F; GONÇALVES N; GARCIA DC; KULCZYNSKI SM. 2004. Comparação entre métodos para avaliação da qualidade fisiológica e sanitária de sementes de melão. Revista Brasileira de Sementes 26: 144-149. Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014 S 0660
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Cultivares Tabela 1. Incidência de patógenos e efeito na germinação de sementes de alface (Incidence of pathogens and effect on the germination of lettuce seeds). São Luís, UEMA, 2014. Chaetomium globosum Fungos Aspergillus Aspergillus Aspergillus Curvularia Cladosporium fumigatus niger flavus lunata sp. Germinação Sanidade G NG S C G. L. A. 8 4 5 2 1-63,75 36,25 95 5 Simpson - 6 - - 1 1 81,25 18,75 98 2 Vitória Verão - - - - 3-88,25 11,75 99,25 0,75 A. Delícia 5 - - - - - 84,5 15,5 98,25 1,75 G=germinadas; NG= não germinadas; S= sadias; C= contaminadas; G.L.A= Grandes Lagos Americana. (G = germinated; NG = not germinated; S = healthy; C = contaminated; G.L.A= Grandes Lagos Americana). Tabela 2. Incidência de patógenos e efeito na germinação de sementes de pimentão (Incidence of pathogens and effect on germination of pepper seeds). São Luís, UEMA, 2014. Cultivares Fusarium sp. Aspergillus Fungos Aspergillus Aspergillus Curvularia fumigatus niger flavus lunata Germinação Sanidade G NG S C Itapuá 1 - - - 5 59,25 40,75 98,5 1,5 All Big 1 1-5 5 87,5 12,5 97 3 Casca Dura Ieka - - 1 - - 94,25 5,75 99,75 0,25 G = germinadas; NG = não germinadas; S = sadias; C = contaminadas. (G = germinated; NG = not germinated; S = healthy; C = contaminated). Hortic. bras., v. 31, n. 2, (Suplemento-CD Rom), julho 2014 S 0662
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