Comprimento de estacas no enraizamento de Turnera subulata Sm. Ricardo Carlos Pereira da Silva 1 ; Sandra Sely Silveira Maia 2 ; Maria de Fátima Barbosa Coelho 3 ; Francisco Nildo da Silva 3 ; Mychelle Karla Teixeira de Oliveira 1 ; Ana Cláudia da Silva 1 ; Emanoela Pereira de Paiva 1 1 UFERSA Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Rodovia 110, Km 47, 59625-900 Bairro Pres. Costa e Silva, Mossoró-RN. ricarlos_agro@hotmail.com, ana_claudia@hotmail.com.br. 2 Docente da Faculdade Nova Esperança (FACENE), 3 UNILAB - Docente da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira. Av. da Abolição, 3, Centro, 62790-000, Redenção-CE. coelhomfstrela@gmail.com, fnildos@yahoo.com. RESUMO Turnera subulata Sm. (Turneraceae) é uma espécie medicinal muito utilizada na medicina popular do Nordeste brasileiro como tratamento de acne, tumores, diabetes, albuminúria, amenorréia e processos inflamatórios do sistema respiratório. A espécie é herbácea e sua multiplicação é realizada apenas por sementes. O presente trabalho teve por objetivo avaliar a influência de diferentes tamanhos de estacas no enraizamento de T. subulata. O ensaio foi conduzido em casa de vegetação. O delineamento experimental foi em inteiramente casualizado com quatro tamanhos de estacas diferentes (5 cm, 10 cm, 15 cm e 20 cm) e quatro repetições, sendo 10 estacas por repetição. As características avaliadas: porcentagem de sobrevivência, porcentagem de enraizamento, comprimento da maior raiz, numero de folhas, massa seca da parte aérea e de raiz. Conclui-se que o comprimento das estacas de T. subulata interfere no desenvolvimento das mudas. Recomenda-se as estacas com 5 cm de comprimento de T. subulata, para a produção de mudas por propagação vegetativa PALAVRAS-CHAVE: xanana, planta medicinal, reprodução, medicina popular ABSTRACT Length of the rooting of cuttings in vegetative propagation of Turnera subulata Sm. Turnera subulata is a medicinal plant widely used in popular medicine in Northeast Brazil as a treatment for acne, tumors, diabetes, albuminuria, amenorrhea, and inflammation of the respiratory system. The species is a herbaceous and its multiplication is considered only by seeds. This study aimed to evaluate the influence of different sizes on the rooting of cuttings of Turnera subulata. The test was conducted in the greenhouse. The experimental design was a totally randomized size of four different cutting sizes (5 cm, 10 cm, 15 cm and 20 cm) and four replications and ten cuttings for replication. The characteristics were evaluated: survival percentage, percentage rooting, length of the bigger root and the leaf and root dry weight. Conclude that the cutting length T. subulata interferes with the growth of seedlings. It is recommended cuttings with 5 cm of length T. subulata, for the production of seedlings by vegetative propagation. Keywords: medicinal plant, reproduction, folk medicine INTRODUÇÃO As espécies de Turnera são conhecidas no Nordeste brasileiro pelo nome popular de "chanana", cujas raízes são comercializadas em feiras livres da região. Turnera subulata Sm. (Turneraceae) conhecida como xanana, chanana e damiana, é uma planta herbácea, empregada medicinalmente, para o tratamento de acne, tumores, diabetes, albuminúria, amenorréia e processos inflamatórios do sistema respiratório. (Arbo 2004 e 2005; Sousa & Lorenzi 2008). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 5870
Apesar da existência de alguns estudos químicos e farmacológicos, poucas são as informações agronômicas relativas a essa espécie, na literatura, principalmente a forma de propagação. Há, portanto, necessidade de se investigar meios e fatores que possam contribuir para o sucesso de sua reprodução. Mesmo que a espécie possa ser reproduzida sexualmente, o estudo da propagação assexuada é importante ser estudado, pois abre perspectivas para a produção de mudas mais uniformes e de alta qualidade. O sucesso da propagação vegetativa sofre a influência de vários fatores, entre eles a posição da estaca no ramo, o grau de lignificação, tamanho (comprimento) das estacas e etc. O comprimento das estacas é um fator de grande importância no desenvolvimento do sistema radical adventício, uma vez que estacas maiores apresentam quantidade maior de reservas, as quais podem ser translocadas para a base da estaca e auxiliar na formação das raízes (Hartmann et al., 2002). Estudos com espécies medicinais têm sido realizados para verificar a relevância do tamanho ou comprimento de estacas, como um fator na influencia do sucesso na estaquia, tais como, Lippia sidoides (Carvalho Júnior et al. 2009), Lippia alba (Mota & Araújo, 2009; Biasi & Costa, 2003), Melaleuca alternifolia (Oliveira et al. 2008), Ocimum selloi (Costa et al., 2007), Ocimum gratissimum (Ehlert et al., 2004), Baccharis sp. (Bona et al. 2004), Pfaffia glomerata (Nicoloso et al., 2001). Considerando que estudos com a propagação de T. subulata são escassos, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a influência de diferentes tamanhos de estacas no enraizamento de T. subulata. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em casa de vegetação do Setor Solos do Departamento de Ciências Ambientais, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) no mês de maio de 2010. As estacas foram provenientes de uma população plantas de ocorrência espontânea silvestres do Campus da UFERSA. A coleta dos ramos foi realizada no período da tarde, sendo em seguida acondicionados em recipientes com água. No mesmo dia da coleta, foram confeccionadas as estacas herbáceas nos tamanhos 5, 10, 15 e 20 cm de comprimento as quais foram plantadas em sacos de polipropileno contendo substrato arisco. O arisco, também conhecido como saibro, é definido como solo proveniente de granitos e gnaisses, com minerais parcialmente decompostos, sendo arenosos ou siltosos, com baixo teor de argila e de cor variada (ABNT, 1995). O comprimento das estacas foi mensurado com auxílio de uma régua em cm. Foi deixado em todos os tamanhos um par de folhas inteiras. As estacas foram mantidas em casa-de-vegetação e irrigadas diariamente. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 5871
Após 30 dias do plantio, as mudas foram retiradas cuidadosamente dos sacos para evitar perdas da parte aérea e do sistema radicular, lavadas em água corrente e, em seguida, avaliadas as seguintes características: porcentagem de enraizamento (através do percentual do número de estacas enraizadas em relação ao número total de estacas dos tratamentos), comprimento da maior raiz, número de folhas, massa seca da parte aérea e de raiz. O comprimento maior da raiz foi medido por uma régua em centímetros, e foi também determinado o número de folhas. A parte aérea e radicular foram separadas e acondicionadas em sacos de papel e levadas à estufa com temperatura de 65 ºC, durante 48 horas, para posterior avaliar a ação da biomassa seca. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com quatro tamanhos de estacas diferentes e quatro repetições, sendo 10 estacas por repetição. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Scott Knott, a 5% de probabilidade com o auxílio do programa estatístico SISVAR (Ferreira 2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO O comprimento de estaca influenciou em todas as características avaliadas, com exceção do número de folhas (Tabela 1). Verificou-se que os melhores resultados foram para as estacas 5 cm e 15 cm. A estaca de 5 cm apresentou a maior percentagem de enraizamento com 93% (Tabela 1). E os demais resultados não diferiram estatisticamente entre si (Tabela 1). Nota-se que o comprimento influenciou na percentagem de enraizamento, esses resultados concordam com Oliveira et al. (2008) com alecrim pimenta (Lippia sidoides); Carvalho et al. (2009) com melaleuca (Melaleuca alternifolia). Por outro lado, esses dados discordam de Costa et al. (2007) (atroveran Ocimum selloi) e Nicoloso et al. (2001) (giseng Pfafia glomerata). Ainda em relação à percentagem de enraizamento, observa-se que a menor estaca proporcionou a maior percentagem, esses resultados diferem de Carvalho Júnior et al. (2009), no qual as estacas com maior tamanho variando de 14,1 a 17 cm apresentaram o melhores resultados e que os tamanho entre 5 e 11 cm apresentaram porcentagens de enraizamento inferiores. Entretanto, deve-se considerar que o efeito do comprimento da estaca no enraizamento da muda pode ser muito variável de acordo com a espécie (Costa et al. 2007; Nicoloso et al. 2001; Oliveira et al. 2008). Quanto ao comprimento médio da maior raiz, nota-se que os tamanhos 5 cm e 15 cm apresentaram os maiores valores em comparação com os demais tratamentos. Esses resultados são semelhantes os encontrados em trabalhos de Biasi & Costa (2003), com Lippia alba (erva cidreira). Entretanto, esses resultados discordam dos estudos de Carvalho Júnior et al. (2009) (Lippia sidoides), Oliveira Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 5872
et al. (2008) (Melaleuca alternifolia) e Costa et al (2007) (Ocimum selloi), esses autores relacionam esse evento ao número de folhas mantidas na estaca, que seria proporcional a quantidade de fotoassimilados fornecidos para a formação das raízes. Observa-se a influência do comprimento das estacas na biomassa seca da parte aérea e das raízes, mas houve variação de resposta do tamanho no acúmulo de massa entre os tratamentos (Tabela 1). O comprimento de estaca não influenciou na característica número de folhas em nenhum tratamento ao teste de Scott knott ao nível de 5% de probabilidade (Tabela 1). Nota-se que na massa seca da parte aérea foi maior na estaca maior (20 cm) (Tabela 1). Provavelmente, esse fato está relacionado a quantidade de reservas nutritivas da estaca (Nicoloso et al. 2001). Já na massa seca de raízes o maior acumulo foi proporcionado pelas estacas com tamanho menor (5 cm) o contrário da massa seca da parte aérea, como pode ser observado na Tabela 1. Conclui-se que o tamanho das estacas de T. subulata afeta o desenvolvimento de mudas dessa espécie. São recomendadas as estacas de tamanho de 5 cm de comprimento na produção de mudas desta espécie. REFERÊNCIAS ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1995. Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas: terminologia. NBR 13529/1995. Rio de Janeiro,. 8p. ARBO, M.M. 2004. Turneraceae (Turnera Family). In: N. Smith et al. (Eds.) Flowering Plants of Neotropics. The New York Botanical Garden. Princeton University Press. ARBO, M.M. 2005. Estudios sistemáticos en Turnera (Turneraceae). III Series Anomalae y Turnera. Bonplandia, v.14, 115-318p. BIASI, L. A. & COSTA, G. 2003. Propagação vegetativa de Lippia alba. Ciência Rural, v.33, n.3, 455-459p. BONA, C. M. de et al. 2004. Propagação de três espécies de carqueja com estacas de diferentes tamanhos. Semina: Ciências Agrárias, v.25, n.3, 179-184p. CARVALHO JUNIOR, W. G. O., MELO, M. T. P. de & MARTINS, E. R. 2009. Comprimento da estaca no desenvolvimento de mudas de alecrim-pimenta. Comprimento da estaca no desenvolvimento. Ciência Rural, v.39, n.7, 2199-2202p. COSTA, L. C. do B., PINTO, J. E. B. P. & BERTOLUCCI, S. K. V. 2007.Comprimento da estaca e tipo de substrato na propagação vegetativa de atroveran. Ciência Rural, v.37, n.4, 1157-1160 p. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 5873
EHLERT, P.A.D., LUZ, J.M.Q. & INNECCO, R. 2004.Propagação vegetativa da alfavaca-cravo utilizando diferentes tipos de estacas e substratos. Horticultura Brasileira, v.22, n.1, 10-13 p. FERREIRA, D. F. 2000. Análise estatística por meio do SISVAR (Sistema para Análise de Variância) para Windows versão 4. 0. In: Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria, 45., 2000, São Carlos. Anais... São Carlos: UFSCar, 255-258p. HARTMANN, H.T., KESTER, D.E., DAVIES JR, R.T. & GENEVE, R.L. 2009. Plant propagation: principles and practices. New Jersey: Prentice Hall. 880p. 2002. MOTA J. H & ARAÚJO, C. Avaliação do tamanho de estacas no enraizamento de erva-doce. Horticultura Brasileira, v.27, S730-S733 p. NICOLOSO, F. T.; CASSOL, L. F. & FORTUNATO, R. P. 2001. Comprimento da estaca de ramo no enraizamento de ginseng brasileiro (Pfaffia glomerata). Ciência Rural, v. 31, n.1, 57-60 p. OLIVEIRA, Y. de, SILVA, A.L.L. da, PINTO, F.; QUORIN, M. & BIASI, L. A. 2008. Comprimento das estacas no enraizamento de melaleuca. Scientia Agrária, v.9, n.3, 415-418p. SOUZA, V. C. & LORENZI, H. 2008. Botânica Sistemática. 2. ed. Nova Odessa: Plantarum, 673p. Tabela 1 - Valores médios de porcentagem de enraizamento (%E) e comprimento da maior raiz (CPR) (cm) de plantas de T. subulata sob a influencia de tamanhos de estacas. Tamanho de %E CPR Número MSPA (g) MSR (g) estaca de folhas 5 cm 93,00 a 21,36 a 7,50 a 1,63 b 0,47 a 10 cm 53,00 b 17,48 b 8,13 a 0,81 c 0,12 b 15 cm 46,00 b 21, 53 a 7,24 a 1,47 b 0,18 b 20 cm 42,00 b 16,35 b 9,25 a 2,19 a 0,16 b CV 20,60 11,87 14,63 9,41 27,15 *Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Skott Knott ao nível de 1% e 5% de probabilidade. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 5874