Voto de Saudação pelo Dia Internacional da Mulher - Por uma participação ativa dos homens no empoderamento das mulheres No dia 8 de março assinala- se o Dia Internacional da Mulher, assim estabelecido oficialmente desde 1975 pelas Nações Unidas após anos de comícios e lutas contra discriminações e injustiças, entre elas a procura de melhores condições laborais e o direito ao voto. Trata- se de um dia para chamarmos a atenção de toda a sociedade e de todas as entidades para a necessidade de continuarmos a evoluir na área da não discriminação entre mulheres e homens, de uma forma mais célere e eficaz. O tema escolhido a nível internacional este ano para a celebração deste dia é Pensar igual, construir de forma inteligente, inovar para a mudança focando- se nas formas inovadoras através das quais podemos evoluir na igualdade de género e no empoderamento das mulheres, sobretudo nas áreas de proteção social, acesso aos serviços públicos e às infraestruturas sustentáveis. O Relatório Global sobre as Disparidades de Género 2018 (The Global Gender Gap Report 2018), produzido pelo Fórum Económico Mundial, demonstra que embora em 2018 o fosso entre mulheres e homens tenha regredido ligeiramente em relação a 2017 (único ano desde 2006 em que aumentou), proporcionalmente menos mulheres estão a participar na vida laboral e na vida política; o acesso à saúde, à educação e ao poder político sofreu um retrocesso e, se mantivermos a taxa atual de mudança, o fosso entre géneros irá demorar 108 anos a fechar e a paridade económica só será alcançada daqui a 202 anos. Todos estes dados devem ser tidos em conta num país onde nos primeiros 48 dias do ano houve 11 mortes de mulheres e 1 de uma menina, vítimas de violência doméstica. 1
A falta de igualdade é precisamente a causa estrutural da violência contra as mulheres e meninas, pois tem subjacente a ideia de se considerar que metade da população mundial (a feminina) é inferior e por isso pode ser minimizada, humilhada, agredida e, em última instância, morta. Embora este seja um crime público, é um crime que tantas vezes tem sido punido com pena suspensa ou visto o processo arquivado. Já não estamos no final no século XVIII, nem no princípio do século XIX quando se celebrou, a 28 de fevereiro de 1909, o primeiro Dia Nacional da Mulher nos Estados Unidos. Mas não deixa de ser interessante e revelador perceber o quanto se evoluiu em tantas matérias, como nas telecomunicações ou na internet, e como tão pouco se mudou o pensamento e diminuiu o fosso entre homens e mulheres. No passado dia 12 de fevereiro, a Fundação Francisco Manuel dos Santos apresentou o estudo "As mulheres em Portugal", coordenado por Laura Sagnier, economista, que analisa as várias dimensões da vida de mulheres entre os 18 anos e os 64 anos, representando perto de 2,7 milhões de mulheres. Alguns dos resultados são reveladores da nossa realidade: - A grande maioria das mulheres sente- se demasiado cansada e dispõe de pouco ou nenhum tempo para si própria nos dias úteis; - Entre as mulheres que vivem com os homens é habitual que estas tenham mais habilitações do que eles, 46% ganham menos do que os companheiros mas contribuem financeiramente com um montante equivalente para as despesas da família, o que as coloca, embora ativas no mercado de trabalho e com ordenado, com pouca independência; - Quase todas as mulheres com experiência no mercado de trabalho concordam com a afirmação as mulheres têm dificuldades em progredir hierarquicamente porque a maioria das empresas é dirigida por homens e estes preferem promover outro homem ; 2
- 71% das mulheres analisadas têm emprego e, em todos os níveis de rendimentos, aquelas cujo horário de trabalho lhes permite compatibilizar bem o trabalho e a vida pessoal/familiar sentem- se mais felizes com o trabalho pago do que as dos níveis de rendimentos superiores, que têm um horário que não lhes permite essa compatibilização; - As mulheres, independentemente de terem ou não emprego, destinam mais de 50% do seu tempo em que estão acordadas a tarefas domésticas, não pagas - uma média de quase quatro horas por dia em casa nos dias úteis e uma média de duas horas fora de casa (em recados, compras e transporte de dependentes), ou seja, em cada dia útil as mulheres gastam 6 horas por dia em trabalho não remunerado, além do seu trabalho remunerado de 8 horas; - No caso de mulheres que vivem com homens e têm descendentes, as mulheres suportam o triplo do trabalho doméstico não remunerado e o triplo do trabalho no que respeita à educação dos filhos e filhas; - Para as mulheres que vivem com um homem, se ambos partilharem tanto o trabalho não pago como as responsabilidades pelos gastos do casal, as mulheres sentem- se mais realizadas e felizes com a relação; - O estudo concluiu mesmo, apesar da análise de várias idades e gerações, que o trabalho não pago feito em casa continua a ser um assunto de mulheres e que a maioria dos homens continua a ter um papel muito passivo nas tarefas não pagas, enquanto que as mulheres assumiram um papel ativo na contribuição das despesas familiares. O estudo revela ainda que esta situação vivida pelas mulheres tem impacto na natalidade, no absentismo laboral, nos sistemas de proteção social, na educação das crianças e jovens e nos índices de divórcio. Por tudo isto e por muitas outras desigualdades e discriminações que se banalizaram, como os piropos não desejados e o assédio, ou as anedotas machistas, ou tantos e tantos exemplos que deixamos diariamente passar, o Dia da Mulher deve ser um dia de reflexão e de chamada de atenção 3
para todas estas questões. Persistem injustiças e desigualdades baseadas no género. Persistem também em Lisboa, onde há violência de género, exclusão social, discriminação no mercado de trabalho e em outras áreas da vida pública e privada, o desrespeito pela vida privada e familiar, dificuldade no acesso a bens e serviços, saúde, educação e desporto. Uma importante questão que tem vindo a ser cada vez mais focada é o necessário envolvimento de homens e meninos na temática da igualdade de género, pois não só se começa desde muito cedo a assistir a relações desiguais dentro do seio da famíia, como se está a colocar em causa crenças baseadas no poder entre homens e mulheres, noções de masculinidade e perceções que cada pessoa construiu de si própria e entende que a sociedade espera do seu desempenho, questionando desta forma o intímo de cada ser. Por isso, não há dúvida que é essencial que os homens sejam agentes agentes ativos e partes interessadas para que se possam transformar os comportamentos e estereótipos de género que perpetuam a discriminação e a desigualdade, de forma mais ágil e eficaz. Mas há um caminho de vitórias e há sinais positivos a surgirem em diversas frentes. Em Portugal temos a recente Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação 2018-2030, que dá enfâse à desconstrução de estereótipos de género. Há cada vez mais estudos, conferências e legislação em matéria de direitos das raparigas e mulheres. As mulheres e meninas já são um tema na nossa sociedade e há cada vez mais pessoas, homens e mulheres, a aparecerem nas marchas e a reagir a notícias onde a discriminação é clara, sobretudo quando parte de quem tem a obrigação constitucional de a respeitar e fazer cumprir. Relembrando sempre que a igualdade de género significa acesso a iguais oportunidades para todas as pessoas, independentemente do seu género, para aceder aos direitos e às decisões e para participar 4
de forma plena em todos os quadrantes da vida, não podemos deixar de entender o Dia Internacional da Mulher, por tudo o conseguido, como um dia de celebração pelos progressos alcançados, no qual devemos lembrar as pessoas, mulheres e homens, que se envolveram desde sempre e ao longo do tempo nesta causa dos direitos humanos e que nos permitiram chegar hoje, aqui. Como escrevemos no voto do ano passado Foi um longo caminho percorrido mas há um longo caminho a percorrer para alcançarmos a igualdade de género universal. O direito à igualdade não deveria ainda ser questionável, mas sim assegurado desde sempre. O Grupo Municipal do Pessoas - Animais Natureza propõe que a Assembleia Municipal de Lisboa, na sua Sessão Ordinária de 26 de fevereiro de 2019, delibere: a. Saudar o Dia Internacional da Mulher; b. Saudar todas as mulheres e homens que ao longo dos tempos têm lutado pela igualdade de género; c. Congratular todos os movimentos que todos os dias, ao longo do ano, se manifestam nas ruas de Lisboa pelos direitos das mulheres; d. Convidar todos os homens a abraçar esta causa dos direitos humanos; e. Saudar todas as meninas e mulheres. f. Remeter este voto de saudação às associações e movimentos cívicos que atuam na área dos direitos das mulheres. Lisboa, 22 de fevereiro de 2019 5
O Grupo Municipal do Pessoas - Animais Natureza Miguel Santos Inês de Sousa Real (Deputados Municipais) 6