CONSELHO NACIONAL DO CDS Lisboa, 30 de Maio de Intervenção de Mário Cunha Reis Conselheiro Nacional Membro da Comissão Executiva da TEM/CDS

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Transcrição:

CONSELHO NACIONAL DO CDS Lisboa, 30 de Maio de 2019 Intervenção de Mário Cunha Reis Conselheiro Nacional Membro da Comissão Executiva da Senhor Presidente do Conselho Nacional Senhora Presidente do CDS Senhores Conselheiros Caros amigos, Gostaria de começar por saudar o Nuno Melo e felicitá-lo pela sua eleição como Deputado do CDS ao Parlamento Europeu, sabendo que teve que enfrentar uma campanha particularmente difícil, não só pelas perturbações políticas que se viveram antes e durante o período de campanha, mas também pelo clima adverso que se vive dentro do partido, em várias das estruturas concelhias e distritais. Pelo seu esforço e empenho, o nosso bem-haja! o CDS perdeu entre o acto eleitoral de 2011 1, em que o CDS concorreu sozinho, e o presente 2, mais de 93 mil votos 3. Em 2011 o CDS obteve 8,36% de votação (2 mandatos) e em 2019 o obteve 6,2% (1 mandato). Mais do que qualquer consideração sobre a abstenção, que, certamente, afecta mais os partidos de menor dimensão, importa perceber quais os motivos que contribuíram para uma diminuição tal dos votos. A senhora, enquanto Presidente do Partido é responsável pelo clima interno que se vive no partido, e também pelos resultados. 1 2011: 298.423 votos 2 2019: 205.106 votos 3 Diferença: 93.317 votos

Pergunto: Qual foi a vantagem de ter anunciado com um ano de antecedência o nome dos principais candidatos ao Parlamento Europeu? Que trabalho foi feito pelo Partido como forma de projectar a imagem de capacidade e competência dos candidatos durante este ano? Quantas reuniões foram realizadas com as entidades do sector social? Quantas reuniões foram realizadas com think tanks, com a comunidade académica e com outras instituições que produzem conhecimento na área da política internacional e da política europeia? Quantas reuniões foram realizadas com as entidades que pertencem ao cluster do mar? Empresas, associações empresariais, estruturas associativas do sector das pescas, da energia, da biotecnologia, na indústria, na academia. O que feito da nossa bandeira da Economia do Mar? Qual foi o trabalho realizado pelo secretário-geral durante este ano, junto das estruturas? Quantas reuniões o secretário-geral realizou com as concelhias e com as distritais, para os auscultar e lhes transmitir o argumentário para a esta campanha? Quantas reuniões fez para coordenar as acções de campanha, assegurando a mobilização dos dirigentes e dos militantes? o trabalho que tinha que ser feito não foi feito, e a responsabilidade é, em primeiro lugar, sua. A responsabilidade é também do Secretário-Geral, que acumulou a função de Director de Campanha das Europeias. Não reúne com as estruturas, não dialoga, não lhes presta atenção, tratando-as muitas vezes como meros instrumentos. Não tem o perfil dialogante e de proximidade necessário. Não reúne, portanto, as condições para se manter como Secretário-Geral.

Qual foi a vantagem de anunciar as listas para a Assembleia da República antes das Europeias? Nenhuma. O Partido está a viver um período de convulsão interna, em Viana do Castelo, em Braga, no Porto, e noutros distritos, onde ocorreram demissões e onde virão a ser conhecidas mais nos próximos dias, porque não houve diálogo, nem vontade de acolher as legítimas aspirações das estruturas. Dirigentes e militantes estão desmoralizados e não têm qualquer entusiasmo para a mobilização e para o combate político. Por outro lado, pergunto: Que combate foi feito e está a ser feito na Assembleia da República ao politicamente correcto? Que combate está a ser feito às políticas animalistas? Que combate está a ser feito à ideologia de género, que, entretanto, passou a ser liderada por um sector do PSD, não obstante os inúmeros alertas feitos pela TEM, em vários momentos, nos órgãos do partido? Que combate político está a ser feito nos órgãos de comunicação social, na imprensa e na televisão? O que vemos é a esquerda e a extrema-esquerda a ocupar todo o espaço mediático a discutir política, enquanto alguns dos nossos andam entretidos a discutir futebol.

O CDS perdeu parte importante do seu eleitorado. Mais de 30%. Esta perda deve-se, na minha opinião, à falta de clareza na afirmação de valores e à falta de definição clara de bandeiras que o CDS sempre teve e deixou de ter. Deve-se à sua tentativa de sedução de um eleitorado ao centro. Um centro que está e sempre esteve ocupado pelos partidos da alternância. O nosso eleitorado está na área do centro para a direita. E é na direita, na direita democrática, mas convicta, que o CDS deve posicionar-se de forma clara. Não cabe ao CDS defender bandeiras que não são as suas, e que, muitas vezes, conflituam com a sua estrutura de valores. Porque o tempo é escasso, aponto apenas três momentos políticos que resultaram na perda de votos: 1) A oposição feita ao Governo da Hungria e ao partido do Governo, quer pela votação favorável ao Relatório Sargentini" (elaborado por uma eurodeputada da esquerda, dos verdes), em Setembro de 2018, quer pelo pedido de expulsão do Fidesz do PPE, um partido europeísta mas anti-federalista, como nós, em Fevereiro passado. Não se compreende. 2) O caso das passadeiras LGBT em Arroios. Um caso que não acontece por mero acaso, mas pela permissividade da direcção nacional relativamente aos activismos LGBT, uma bandeira da esquerda progressista e dos liberais, a que, por vezes, parece que o CDS pretende aderir. 3) Por último, a trapalhada da negociação dos professores, que não se compreende. São três momentos, entre vários outros, que afastaram os eleitores europeístas mas soberanistas, os eleitores democrata-cristãos e conservadores, mas também daqueles que desde a bancarrota socialista perderam uma boa parte do seu rendimento disponível, e que não aceitam qualquer medida que aumente, sequer potencialmente, a carga tributária.

Assumiu o compromisso de liderar um projecto político para quatro anos. Tem o dever e a responsabilidade de levar o CDS às eleições legislativas e obter um bom resultado para todos nós. Dialogue com as estruturas e corrija o que houver a ser corrigido. Reúna uma direcção de campanha experiente, Adapte a estratégia e corrija a linha política de modo a ir de encontro às expectativas de um eleitorado menos liberal e mais conservador. Se o fizer, acredito sinceramente, que obteremos um bom resultado.