VARIABILIDADE ESPACIAL APLICADA A PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEIS.

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Transcrição:

VARIABILIDADE ESPACIAL APLICADA A PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEIS. SPATIAL VARIABILITY APPLIED TO RESEARCH AND DEVELOPMENT OF SUSTAINABLE PRODUCTION SYSTEMS FRANCHINI, J.C. 1 ; DEBIASI, H. 1 ; DIAS, W.P. 1. 1 Embrapa Soja, Londrina, PR; e-mail: franchin@cnpso.embrapa.br A variabilidade espacial (VE) de parâmetros químicos, físicos e biológicos do solo é a regra em sistemas de produção. O grau da VE é determinado pelas características dos atributos a serem avaliados e da variabilidade natural do solo dentro das propriedades rurais. A variabilidade dos atributos avaliados também pode ser aumentada ou diminuída de acordo com o tipo de manejo do solo e das culturas aplicado às unidades de produção ou talhões. Desta forma, a VE natural ou induzida por práticas e processos de produção pode ser utilizada para o melhor entendimento do funcionamento e das limitações dos sistemas de produção exclusivos ou integrados. No entanto, o grande desafio para o uso da VE como ferramenta de gerenciamento da propriedade visando maximizar a produção e a sustentabilidade econômica, ambiental e social relaciona-se à intensidade de amostragem utilizada para o diagnósticos da área. Atualmente, o mais comum é o uso de grades de amostragem pradonizadas, que muitas vezes podem ser insuficientes para a adequada caracterização da área. Associado a isso, os dados não recebem o adequado tratamento geoestatístico, sendo normalmente usados ajustes automáticos disponíveis nos programas de gerenciamento de dados. Deste modo, os mapas gerados muitas vezes apresentam distorções associadas ao tamanho da grade amostral e ao método de interpolação empregado. Assim, o uso da VE, nos moldes atuais, não tem sido efetivo para identificar as causas da variabilidade nos rendimentos das áreas de produção. A exemplo de outras instituições de ensino e pesquisa, a Embrapa Soja tem utilizado a VE como ferramenta para a pesquisa e o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, principalmente quando os trabalhos são realizados em grandes áreas. Neste contexto, a avaliação da VE tem sido importante para identificar as maiores limitações das áreas de estudo, estabelecer relações entre o desenvolvimento das plantas e atributos de solo e determinar a intensidade de amostragem mais adequada para cada problema focalizado. Assim, o objetivo desta palestra é apresentar os principais resultados de pesquisa obtidos pela Embrapa Soja no que se refere à aplicação da VE na pesquisa e desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis. Cabe salientar que todos os dados aqui apresentados receberam tratamento geoestatístico segundo os conceitos apresentados por Vieira et al. (2002). A VE tem sido utilizada para o estudo do efeito de sistemas integrados de produção sobre a variabilidade de atributos químicos do solo, particularmente o carbono e fósforo. que são os atributos mais influenciados pela interação entre sistemas agrícolas e pecuários. Nesse sentido, a VE e temporal do C e do P no solo foi avaliada em sistemas de integração lavourapecuária (SILP) no Mato Grosso, usando conceitos de geoestatística. As avaliações foram realizadas em uma área de 110 ha por meio do uso de grades de amostragem de 2 ha e 1 ha nos anos de 2009 e 2010, respectivamente. Os semivariogramas foram ajustados e utilizados para a krigagem dos mapas da área. Os resultados demonstram que as áreas de pastagem permanente contribuem para o aumento do C e diminuição do P no solo (Figura 1). A rotação entre as áreas de pastagem permanente e de lavoura permitiu elevar o C nas áreas anteriormente ocupadas por lavoura e o P nas áreas anteriormente ocupadas por pastagem permanente. Os resultados indicam que em SILPs o P pode ser mantido dentro de níveis adequados, enquanto o C pode ser aumentado com a evolução dos sistemas no tempo. A análise geoestatística foi eficiente em detectar os efeitos dos SILPs sobre a VE dos teores de C e P no solo e demonstrou que durante o desenvolvimento dos sistemas integrados existe um aumento na VE da área, o que requer aumento na intensidade de amostragem. 1

Em áreas manejadas sob sistema plantio direto (SPD), tem sido observada uma camada de solo mais compactada a 0,08-0,2 m de profundidade. Em algumas situações, o grau de compactação dessa camada atinge valores limitantes à produtividade das culturas. O estado de compactação do solo pode ser avaliado por meio da resistência do solo à penetração (RP), determinada por meio de penetrometria. A principal vantagem desse método relaciona-se à facilidade e rapidez na obtenção de dados, o que favorece a sua utilização em escala de lavoura. Assim, a VE também tem sido aplicada ao estudo da compactação do solo no SPD e na determinação de grades amostrais mínimas para estimativa da RP. Figura 1. Mapas krigados do teor de P (a esquerda) e de C (a direi ta) no solo em sistema de ilp em Querência, MT, nas coletas de 2009 e 2010. O * indica diferença significativa entre anos no teor de P ou C pelo teste t. A definição de um esquema de amostragem adequado, principalmente no que se refere à intensidade de amostragem, é um dos aspectos mais importantes para a avaliação da VE de atributos do solo, como a RP. Ao mesmo tempo em que o número de amostras deve ser o suficiente para refletir adequadamente a VE da RP, ele é limitado pelo custo e pelo tempo disponível para a avaliação. É importante salientar que a quantificação da RP deve ser realizada no menor espaço de tempo possível, para minimizar as variações no conteúdo de água do solo, que interferem nos valores de RP. O efeito da intensidade de amostragem na VE da RP de um Latossolo Bruno foi determinado em maio de 2011 em uma área de 18,9 ha localizada em Guarapuava/PR, por meio de um penetrômetro eletrônico, nas profundidades de 5, 10, 15, 20, 25 e 30 cm. Foi utilizada uma grade amostral de 30 x 30 m, totalizando 210 leituras de RP. Os dados foram submetidos à análise geoestatística, realizada para diferentes intensidades de amostragem, simuladas pela exclusão de pontos amostrais distribuídos uniformemente pela área (Figura 2). Considerando todos os 210 pontos amostrados, a RP apresentou dependência espacial em todas as profundidades avaliadas. Os modelos ajustados para os semivariogramas variaram de acordo com a profundidade, sendo os piores ajustes obtidos para a camada de maior interesse para avaliação da compactação do solo (0,1-0,2 m). Com a diminuição do número de observações, a RP não apresentou dependência espacial simultaneamente em todas as profundidades entre 0,1-0,2 m. A VE da RP é influenciada pela profundidade e pela intensidade de amostragem, de modo que a redução do número de pontos amostrais promove maior erro na estimativa desta variável por krigagem, principalmente na camada de maior interesse para o monitoramento do estado de compactação (0,1-0,2 m). Associado ao estudo da VE da RP também foram avaliadas, na mesma área, a variabilidade da produtividade e da condutividade elétrica (CE). A VE da produtividade das culturas tem sido atribuída, entre outros fatores, a diferenças nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo. No entanto, os métodos disponíveis para a determinação desses atributos, em geral, são caros e demandam grande quantidade de tempo e mão-de-obra. Nesse contexto, tem crescido o interesse por métodos que permitam determinar a VE de atributos do solo de maneira rápida e barata, de forma a proporcionar a obtenção de um grande número de 2

medidas por unidade de área, como a CE. A CE é definida como sendo a habilidade que o solo tem em transmitir corrente elétrica, sendo dependente de uma série de atributos do solo, como o conteúdo de água, o teor de argila e matéria orgânica, e a concentração de íons na solução do solo. Figura 2. Mapas krigados da resistência à penetração de um Latossolo Bruno, determinada em área agrícola localizada em Guarapuava/PR. Legenda: RP < 2 MPa; 2 MPa RP 3 MPa; RP > 3 MPa. A CE foi determinada por meio do equipamento Veris 3100, nas camadas de 0-0,3 m e 0-0,9 m de profundidade. A produtividade da soja foi determinada com uma colhedora autopropelida de grãos equipada com monitor de colheita. Os dados foram submetidos à análise geoestatística considerando 210 pontos amostrais distribuídos uniformemente pela área. A CE e a produtividade da soja apresentaram dependência espacial e foram mapeadas. A produtividade da soja foi significativamente e inversamente correlacionada com a CE determinada a 0-0,3 m e 0-0,9 m (Figura 3). O melhor ajuste do semivariograma, assim como a melhor correlação com a produtividade da soja, foi observada para a CE medida na camada de 0-0,9. As áreas com menor produtividade coincidiram, em geral, com as áreas onde a CE na camada de 0-0,9 m era maior do que 5,42 ms m -1. A CE mais elevada pode indicar restrições na drenagem e na infiltração de água, o que também pode estar associado à compactação do solo. Desta forma, a CE se mostrou um parâmetro útil na definição de zonas de manejo diferenciadas dentro da lavoura, pois apresenta alta dependência especial, é correlacionada à produtividade da soja e, ainda, é de rápida e fácil determinação em nível de campo. A RP também foi correlacionada com a produtividade da soja, principalmente nas camadas localizadas a 0,1 e 0,2 m, complementando as informações obtidas com a CE. Outra área de pesquisa onde a VE tem sido utilizada com sucesso é a do manejo cultural e do solo para convivência com o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) no Mato Grosso. O nematoide das lesões radiculares representa um importante desafio para a produção de soja na região Central do Brasil, devido a sua ocorrência generalizada e à ausência de cultivares resistentes e estratégias adequadas para o seu manejo. Com o objetivo de estabelecer práticas adequadas de manejo cultural para o problema, foi estabelecida na safra 2010/2011, em Vera-MT, uma metodologia de estudo a campo visando o mapeamento da VE de atributos químicos do solo e da ocorrência dos 3

sintomas do nematoide em soja. Os atributos do solo, a resposta da soja e a população de nematoides no solo foram avaliados usando conceitos de geoestatística. Figura 3. Mapas krigados da produtividade da soja e da condutividade elétrica do solo, determinada em área agrícola localizada em Guarapuava/PR (a esquerda). Coeficientes de correlação entre a produtividade da soja, a resistência e a condutitividade elétrica do solo (a direita). Os resultados indicam maior relação entre a redução de altura das plantas de soja e os valores de ph, alumínio (Al), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) e os atributos derivados como a soma de bases (S) e a saturação por bases (V) (Figura 4). A altura das plantas de soja apresentou melhor relação com esses atributos quando o valor limiar foi de 4,70; 0,08; 1,20; 0,49; 2,00 e 31,0 para ph, Al, Ca, Mg, S e V, respectivamente. A população de nematoides nas raízes da soja não foi relacionada com os atributos químicos ou com a altura das plantas. Os resultados sugerem que as reboleiras ocorrem nas áreas mais ácidas devido à maior suscetibilidade da cultura ao ataque dos nematoides das lesões radiculares. Figura 4. Distribuição espacial dos atributos químicos do solo no valor limiar e de reboleiras na área de estudo em Vera, MT. Unidades: Ca, Mg, K, Al, S e T (cmol c dm -3 ); P (mg dm -3 ); C (g dm -3 ); V (%). Em complementação ao estudo anterior, na safra 2011/2012, no mesmo local, foi desenvolvido um estudo com o objetivo de avaliar a VE da produtividade da soja e da população de nematoides das lesões radiculares nas raízes da soja, visando estabelecer 4

relações entre esses parâmetros para estimar as perdas de produtividade na cultura. Os resultados indicaram forte relação entre a produtividade da soja e a população do nematoide das lesões radiculares (Figura 5). Com base na equação ajustada, foi possível determinar que a cada 82 indivíduos/g de raiz da soja ocorre a perda de 1 saca na produtividade. As perdas de produtividade, estimadas na área do estudo, variaram de 1 a 28 sacas/ha com valor médio de 12 sacas/ha ou 21% da produtividade potencial. Produtividadade (sc/ha) 65 60 55 50 45 40 35 30 25 y = -0.012x + 59.324 r = 0.744 20 0 600 1200 1800 2400 População (indivíduos/g raiz) Figura 5. Mapas krigados da população de nematoides nas raízes, produtividade e perdas de produtividade de soja na área de estudo, em Vera/MT (a esquerda). Correlação linear entre os valores krigados da população de nematoides e da produtividade da soja (a direita). Outros resultados relacionados com a intensidade amostral para as estimativas de atributos químicos do solo e seu impacto nas recomendações de calagem, por exemplo, serão apresentados e discutidos. De forma geral, o grande limitante para o uso da VE como ferramenta efetiva para a tomada de decisões no planejamento da propriedade relaciona-se à baixa intensidade amostral praticada atualmente e a pouca importância atribuída ao tratamento geoestatístico dos dados. A princípio, estes aspectos tem grande impacto no custo do planejamento da propriedade, devido ao aumento do número de amostras no caso da intensidade amostral, e à necessidade de mão de obra qualificada no caso do tratamento geoestatístico dos dados. No entanto, é quase inevitável que esse custo seja considerado como investimento para o melhor aproveitamento do potencial produtivo e pela busca da sustentabilidade dos sistemas produtivos. Referência VIEIRA, S. R.; MILLETE, J.; TOPP, G. C.; REYNOLDS, W. D. Handbook for geoestatistical analysis of variability in soil and climate data. Tópicos em Ciência do Solo, 2:1-45, 2002. 5