O potencial produtivo de uma lavoura de milho é definido pelas condições oferecidas ao desenvolvimento das plantas, desde a semente até a colheita, sendo o período inicial de estabelecimento da cultura um dos maiores balizadores do potencial produtivo da lavoura. Dentro do sistema de produção a semente participa de forma significativa no custo total de uma lavoura e não raro, produtores e técnicos questionam as empresas produtoras de sementes quanto à qualidade fisiológica das sementes entregues, principalmente as produzidas em safras anteriores. É importante lembrarmos que toda a produção e a armazenagem das sementes são submetidas à rigorosos processos tecnológicos que garantem a manutenção da qualidade, processos estes em que são investidos, de forma continuada, expressivos valores, seguindo os padrões mínimos exigidos pelo Ministério da Agricultura. Durante este caminho, periodicamente, são realizadas análises para monitorar a qualidade da semente, garantindo que permaneça em elevados patamares. Além disto, todo lote de sementes à ser comercializado deve obedecer aos padrões de qualidade exigidos na legislação, passando por reanalises. A comercialização de sementes fora dos padrões oficias estabelecidos, além das implicações legais, causaria enormes perdas às próprias empresas produtoras, face à alta competitividade que caracteriza o mercado brasileiro de sementes de milho. Em todas as safras são observadas lavouras com problemas de estabelecimento da cultura, que, na sua grande maioria, decorrem de problemas na operação de semeadura. No entanto, os produtores costumam atribuir as falhas observadas no stand à qualidade das sementes. Este artigo pretende descrever algumas das situações mais comuns observadas a campo e que são atribuídas à qualidade de semente ou safra de produção. Atraso e Desuniformidade na Emergência O correto estabelecimento de uma lavoura de milho decorre de três aspectos principais: Qualidade da semente: Manejo inicial, principalmente a operação da semeadura e 1 GT Produção Milho
Condições do ambiente no entorno da semente, como a temperatura e a umidade do solo que possuem papel chave na velocidade de germinação e estabelecimento das plântulas. Na semeadura, a correta distribuição das sementes na área - distribuição horizontal - é fundamental para o perfeito desenvolvimento da planta, contribuindo para uma melhor captação de água e nutrientes e a interceptação da luz. Portanto, distribuições irregulares das sementes, principalmente um número excessivo de duplas e falhas, podem acarretar atraso do desenvolvimento de algumas destas plantas e originar plantas de baixo potencial produtivo. São as chamadas plantas dominadas ou plantas vencidas. 2 GT Produção Milho
Além disto, a profundidade de semeadura - distribuição vertical - é um dos fatores que mais contribuem na uniformidade de emergência. A variabilidade da profundidade de deposição da semente observado nos últimos anos é altíssima e tem causado preocupação. Vários fatores, como ajustes incorretos da semeadora podem causar esta alta variabilidade na distribuição das sementes, tanto horizontal como verticalmente, mas sem sombra de dúvidas o principal fator é a velocidade excessiva na operação de semeadura. A alta velocidade causa uma maior movimentação vertical e choques das linhas de semeadura, trazendo a deposição da semente muitas vezes sobre a superfície, afetando também a distância entre as sementes. Os fatores relacionados aos erros de deposição horizontal e vertical de sementes agindo de forma associada, potencializam as perdas de rendimentos porque afetam de forma importante o principal componente de rendimento do milho que é o número final de plantas úteis (planta que gera uma espiga normal) por hectare, como pode ser verificado no Gráfico 1, onde a linha azul representa a redução da 3 GT Produção Milho
população final de plantas a medida que a velocidade de plantio aumenta. Nestes ensaios a campo, o objetivo era atingir 72 mil plantas por hectare e o que se verifica é que além de uma redução no número de plantas iniciais, à medida que a velocidade de plantio aumenta, diminui exponencialmente o número de plantas úteis na colheita. Gráfico 1 - Mas porque a velocidade gera esta diferença entre o planejado e o efetivamente realizado? Basicamente porque os equipamentos de plantio que são utilizados no Brasil apresentam na velocidade um fator penalizador da qualidade da operação, que acaba gerando desuniformidade de emergência muitas vezes imputada à qualidade da semente ou mesmo à safra de produção da mesma. No Gráfico 2 verificamos que a produtividade cai à medida que aumentamos a velocidade de plantio e isto pode ser explicado pela redução da 4 GT Produção Milho
população final de planta (Gráfico 1) e pelo aumento na percentagem de falhas (linha verde) e duplas (linha cinza). Percebe-se também o aumento da percentagem de plantas dominadas (linha amarela) que pode ser explicado pela desuniformidade da profundidade de deposição da semente e adequado contato solo/semente que a velocidade impõe, pois à medida que ela aumenta, o equipamento perde a capacidade de copiar as ondulações e imperfeições do relevo, posicionando a semente em diferentes profundidades e, por consequência, à conteúdos de umidade diferentes. Os híbridos de milho atuais têm pouca ou nenhuma plasticidade de espiga e, portanto, não compensam eventuais erros de distribuição, mas estabelecem a competição interespecífica, o que reduz a produtividade. As primeiras 24hrs são decisivas para a imbebição de água pela semente e início dos processos enzimáticos da germinação, assim, o contato da semente com o solo é primordial. Deve-se evitar a formação de bolsões de ar que irão prejudicar este contato e, por sua vez, a absorção da água do solo pelas sementes. O fechamento do sulco também é um fator extremamente impactado pela velocidade de plantio, pela umidade do solo, pelo tipo do solo e regulagem do equipamento. Uma medida pratica para avaliar a qualidade de plantio e por consequência a uniformidade de germinação, amplamente difundida no país que é o maior produtor mundial de milho do mundo, os EUA, é ter todas as plantas de uma mesma lavoura emergidas em 48 horas. Problemas de cobrimento e acomodação do solo junto à semente afetam a absorção de água e por sua vez a velocidade de germinação e emergência, além de criar um ambiente aeróbico maior, próximo à semente, favorecendo o desenvolvimento de patógenos. A semeadura realizada em solos muito úmidos pode acarretar a formação de espelhamento do sulco de cultivo, dificultando o contato semente x solo. Além disto, este espelhamento causa uma compactação lateral nas paredes das linhas de semeadura e dificultam o desenvolvimento radicular das plântulas, resultando em desenvolvimento inicial irregular. 5 GT Produção Milho
Plantios realizados em épocas mais frias, principalmente na região sul, podem afetar consideravelmente o estabelecimento da cultura. A imbebição de água pela semente associada a períodos de baixas temperaturas (<10 C) podem causar injurias à semente, devido ao rompimento de membranas da semente e servir de porta de entrada à patógenos. No sistema de plantio direto preconiza-se a cobertura do solo, sendo que a palhada deve ser distribuída de forma homogênea na lavoura. No entanto, observa-se muitas vezes no campo, uma distribuição desuniforme, seguindo o sentido da colheita. Caso no plantio subsequente à colheita (exemplo, milho safrinha) ocorrer um período de falta de chuva, esta cobertura terá o papel de manter a umidade do solo, mas a distribuição desuniforme dos restos culturais ou palhada, resultará numa maior irregularidade desta umidade, e que associada a deposição irregular das sementes, provocada pela velocidade, resultará em uma germinação desuniforme e um número menor de plantas uteis na colheita. A maioria das máquinas semeadoras utilizadas no Brasil são equipadas com sistema de distribuição de adubo acoplado, realizando a semeadura e a deposição deste na mesma operação. Neste caso recomenda-se que o adubo sempre seja depositado de 5 8 cm abaixo e logo ao lado da semente, para evitar o efeito salino provocado pelo adubo, ou seja, ocorre a redução do potencial osmótico entre o solo e a semente, restringindo a captação de água pela semente, e, por fim, a diminuição da taxa de germinação. No caso de ocorrer com a plântula, este efeito pode restringir o desenvolvimento normal da mesma. Fonte: Madaloz, J.C.C 7 Paula, R.F. Agronomia DuPont Pioneer Mas mesmo que não chegue a matar, permitindo que a plântula se recupere, um atraso no desenvolvimento inicial sempre ocorrerá e esta planta ficará dominada pelas demais ao seu redor, que por ventura não tenham sofrido o mesmo efeito. O grau de salinidade varia conforme o fertilizante e o fato aumentarmos a velocidade de plantio, também altera a distância de deposição dos fertilizantes em relação as sementes 6 GT Produção Milho
nas plantadoras que são equipadas em conjuntos, com sistema de distribuição de adubo acoplado, principalmente nas que usam o sistema de disco desencontrado para a abertura do sulco de plantio. A avaliação da qualidade plantio é possível de ser realizada durante a operação (mais adequado) ou após plantio com objetivo de promover os ajustes necessários para reduzir potenciais perdas. Uma das sistemáticas que tem se mostrados mais eficientes e que inclusive tem servido de parâmetro para pagamento de operações terceirizadas de plantio é a avaliação do percentual do Coeficiente de Variação, que mostra a desuniformidade da distribuição das plantas em relação ao que era esperado. Esta medida é útil, especialmente quando ela é utilizada em conjunto com a avaliação da densidade de semeadura projetada e a que efetivamente está sendo observada e nos mostra a qualidade real do plantio, pois de nada adianta obtermos a densidade de semeadura (sementes/hectare) desejada se o distanciamento entre as sementes e a profundidade de semeadura não está uniforme. O Coeficiente de Variação deve ser inferior a 25%, quando medido em plantas emergidas e inferior a 20% quando medido imediatamente após o plantio. Conclusão: Existe diversos detalhes que podem influenciar, de forma positiva ou negativa, a operação de plantio da cultura do milho, que consome de 60 a 70% do custo de produção da lavoura. Atenção aos detalhes e a decorrente tomada de decisão correta e em tempo hábil, são fundamentais para preservar os investimentos feitos na lavoura de milho. GT Produção 7 GT Produção Milho
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