ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE BIÓPSIAS REALIZADAS EM UMA CLÍNICA ODONTOLÓGICA UNIVERSITÁRIA NO PERÍODO ENTRE 2011 E 2018

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Transcrição:

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE BIÓPSIAS REALIZADAS EM UMA CLÍNICA ODONTOLÓGICA UNIVERSITÁRIA NO PERÍODO ENTRE 2011 E 2018 EPIDEMIOLOGICAL SURVEY OF BIOPSIES PERFORMED IN A DENTAL SCHOOL CLINIC IN THE PERIOD FROM 2011 TO 2018 THALIA CRISTINA GOMES DA SILVA 1 FERNANDA AURORA STABILE GONNELLI 2 LILIA ALVES ROCHA 3 LUIZ FELIPE PALMA 4 RESUMO A grande quantidade de patologias com características clínicas semelhantes possibilita a coexistência de vários diagnósticos diferenciais frente a uma única lesão na mucosa bucal. Muitas vezes a realização de exames complementares, como a biópsia, torna-se mandatória para confirmação do diagnóstico sugestivo. Realizar levantamento dos laudos histopatológicos provenientes de biópsias executadas em uma clínica-escola odontológica no período entre 2011 e 2018. A partir dos prontuários odontológicos, as informações foram coletadas e tabuladas. Foram determinadas a frequência de cada lesão em relação ao total e ao seu próprio grupo de doenças e as características dos indivíduos. Um total de 106 diagnósticos de 105 pacientes (idade média 47,5 anos), sendo a maioria do sexo feminino (68 indivíduos - 64,8%) e leucoderma (67 indivíduos - 63,8%), foram avaliados. Em relação aos grupos de doenças, o mais representativo foi o das neoplasias benignas epiteliais ou mesenquimais (35 casos - 33%), seguido pelo dos processos proliferativos não neoplásicos (30 casos - 28,3%). Quanto aos diagnósticos, foram observados 25 diferentes, nos quais se destacaram o fibroma (30 casos - 28,3%) e a hiperplasia fibrosa inflamatória (22 casos - 20,8%). Não foi constatada nenhuma patologia maligna. Traçar o perfil epidemiológico de certo grupo de indivíduos pode muitas vezes facilitar os diagnósticos, além de auxiliar na implementação de medidas de prevenção e na orientação dos assuntos a serem abordados nos cursos das instituições de ensino superior. UNITERMOS: Estudo epidemiológico; Biópsia; Patologia; Doenças estomatognáticas. INTRODUÇÃO A mucosa oral é sítio de inúmeras lesões e alterações do padrão de normalidade 1, tornando o processo de diagnóstico complexo 2. A grande quantidade de patologias com características clínicas semelhantes possibilita a coexistência de vários diagnósticos diferencias em um único caso 3, sendo necessários anamnese detalhada e exame físico minucioso 4 para a sugestão de hipóteses de diagnóstico 4,5. Com estes dados em mãos, é imprescindível também a solicitação de exames complementares em alguns casos, de acordo com o quadro clínico 6. Ao deparar-se com uma lesão na cavidade oral, o exame histopatológico, análise microscópica de um fragmento de tecido obtido cirurgicamente por mei o do procedimento denominado biópsia, é frequentemente indicado para confirmação do diagnóstico sugestivo, sendo muitas vezes o único modo para tal 7. Ademais, estudos epidemiológicos das lesões bucais são úteis não somente para o estabelecimento de diagnósticos e tratamentos 1, mas também para o planejamento e execução de programas de saúde pública 3,8 e de conteúdos programáticos a serem 1 Graduanda em Odontologia. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas Curso de Odontologia, São Paulo, SP, Brasil. 2 Doutorado em Ciências, Especialização em Estomatologia, MBA em Gestão de Saúde. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas Curso de Odontologia, São Paulo, SP, Brasil. 3 Doutorado em Estomatopatologia, Mestrado em Estomatopatologia. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas Curso de Odontologia, São Paulo, SP, Brasil. 4 Doutorado em Ciências, Especialização em Morfologia Humana, Especialização em Implantodontia, Especialização em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais, MBA em Gestão de Saúde. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas Curso de Odontologia, São Paulo, SP, Brasil. Revista Odontológica de Araçatuba, v.40, n.1, p. 52-55, Janeiro/Abril, 2019 52

abordados nos cursos de graduação e pósgraduação das diversas áreas médicas 2. Desta forma, o objetivo do presente estudo é realizar lev antam ento dos l audos histopat ológi cos provenientes de biópsias realizadas em uma clínicaescola odontológica no período entre 2011 e 2018. Quanto aos diagnósticos, foram observados 25 tipos diferentes, nos quais se destacaram o fibroma (30 casos - 28,3%) e a hiperplasia fibrosa inflamatória (22 casos - 20,8%) (Tabela 3). Não foi constatada nenhuma patologia maligna. MÉTODOS A partir do liv ro de registro de peças operatórias e prontuários dos pacientes, foram analisados todos os diagnósticos histopatológicos de lesões biopsiadas na Clínica Odontológica das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU São Paulo/ SP/Brasil) entre os anos de 2011 e 2018. Foram levantadas informações referentes à frequência de cada lesão em relação ao total, a frequência de cada lesão dentro do seu próprio grupo de classificação de doenças e as características epidemiológicas dos indivíduos portadores (idade, sexo, etnia). As informações coletadas foram tabuladas com o Software Microsoft Office Excel 2010 e submetidas à estatística descritiva por meio do Software BioEstat 5.3. Este trabalho foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número de parecer 2.734.234 (CAAE 91199418.2.0000.8447). RESULTADOS Foi levantado um total de 106 diagnósticos oriundos de 105 indivíduos, sendo a maioria mulher (68 indivíduos - 64,8%) e leucoderma (67 indivíduos - 63,8%) (Tabela 1). A idade média observada foi de 47,5 anos (informação não encontrada em 10 casos - quatro mulheres e seis homens) (Tabela 2). Tabela 1 - Etnia dos indivíduos Tabela 3 - Diagnósticos histopatológicos. Número de casos e distribuição de cada diagnóstico em relação ao grupo de doenças pertencente e ao total. Em relação aos grupos de doenças, o mais representativo foi o das neoplasias benignas epiteliais ou mesenquimais, seguido pelo dos processos proliferativos não neoplásicos, outros, doenças de glândulas salivares, lesões potencialmente malignas, cistos odontogênicos ou não, lesões pigmentadas e doenças infecciosas (Figura 1). Distribuição da etnia (números e porcentagem) dos 105 indivíduos estudados. Tabela 2 - Idade dos indivíduos Idades mínima, máxima e média e desviopadrão (DP) dos indivíduos estudados. Informações não encontradas em nove casos (quatro mulheres e seis homens). Figura 1 Gráfico da frequência dos grupos de doenças. DISCUSSÃO O presente estudo av aliou 106 laudos histopatológicos, número relativamente restrito ao se considerar a quantidade de habitantes de São Paulo, porém representativo, visto o grande número de cirurgiões-dentistas, clínicas-escola e serviços de estomatologia disponíveis por toda a cidade. A ampla faixa etária dos pacientes aqui avaliados pode ser uma das possíveis explicações para a variedade de lesões diagnosticadas, já que Revista Odontológica de Araçatuba, v.40, n.1, p. 52-55, Janeiro/Abril, 2019 53

as diversas disciplinas do curso de graduação da instituição utilizam-se do mesmo arquiv o de prontuários. A literatura é heterogênea frente à idade média dos indiv íduos, com alguns estudos semelhantes demonstrando valores próximos de 36 1,7, 40 9, 44 3 e 47 anos 10. Observ ou-se aqui mai or número de diagnósticos provenientes de mulheres, como também em outros estudos 1,3,5,7-10, provavelmente não porque sej am portadoras de l esões bucais m ais frequentemente, mas porque compõem a maior parte dos usuários dos serviços de saúde, ou seja, procuram mais os cuidados em relação à saúde que os homens 2. A etnia leucoderma foi a mais prevalente, assim como em outros trabalhos 8,10. Em uma parcela dos prontuários avaliados tal dado não foi presente, denotando f alhas no preenchimento dessa documentação pelos alunos ou omissão do dado pelo próprio paciente. É importante ressaltar que a falta de informações levantadas no exame clínico pode dificultar ou até mesmo impedir o processo de construção do diagnóstico diferencial. Não foi possível realizar comparações diretas da frequência dos grupos de doenças, uma vez que as classificações adotadas na literatura são as mais diversas e levariam a resultados distorcidos e tendenciosos. Um estudo publicado por nosso grupo e realizado na mesma instituição no período entre 2001 a 2010 com 581 biópsias 2, revelou que o perfil epidemiológico dos indivíduos ficou praticamente inalterado, já que a maioria também era do sexo feminino (62.4%) e leucoderma (61.89%), com idade média de 44 anos. As lesões mais frequentes continuaram sendo o fibroma e a hiperplasia fibrosa inflamatória, porém com a ordem alterada e valores pouco mais altos. Por outro lado, foi observada uma queda expressiva nas neoplasias malignas, estas diagnosticadas anteriormente 11 vezes e ausentes atualmente. Em um estudo na cidade de Recife no período entre 1999 e 2009, Vaz et al. (2011) 1 expuseram que a hiperplasia fibrosa inflamatória (11.3%) e o fibroma (12.7%) também foram diagnosticadas com mais frequência. Para os autores, tal fato é justificado pela causa destas lesões: traumas mecânicos crônicos (geralmente associados a próteses mal adaptadas) e irritações locais. Melo et al. (2003) 7, no período entre 2002 e 2010 e na cidade de Aracaju, reportaram dados parecidos, com a hiperplasia fibrosa inflamatória sendo a mais frequente (17.2%), seguida pelo fibroma (11.7%). Igualmente, na cidade de Curitiba entre 2003 a 2006, Bertoja et al. (2007) 3 observaram prevalência da hiperplasia fibrosa inflamatória (30.6%) e do fibroma (21.29%) e, entre 2003 a 2008 na São Paulo, Prado et al. (2010) 8 também. Silva et al. (2013) 5, em um estudo retrospectivo na cidade de Caruaru entre 1999 e 2010, reportaram dados semelhantes, com a hiperplasia fibrosa presente em 16.3% dos casos, porém seguida da mucocele (8.7%) e, então, do fibroma (8.6%). De maneira muito similar, Pereira et al. (2013) 9, entre 2001 e 2010 na cidade de Cam po Grande, observaram as frequências de, respectivamente, 27.5%, 13.5% e 8%. Hoff et al. (2015) 10, em contrapartida, constataram que as lesões mais prevalentes entre 2000 e 2013 na cidade de Passo Fundo foram o fibroma (15.1%), a candidíase (7.6%) e a hiperplasia fibrosa inflamatória (7.3%). CONCLUSÃO A maior frequência do fibroma e da hiperplasia fibrosa inflamatória corroboram dados de outros estudos realizados em diferentes cidades brasileiras e períodos. Frente à div ersidade de diagnósti cos histopatológicos observada, ressalta-se a importância de conhecimento abrangente de estomatologia, parte essencial na elaboração do diagnóstico diferencial. Ademais, traçar o perfil epidemiológico de certo grupo de indivíduos pode muita vezes facilitar os diagnósticos, além de auxiliar na implementação de medidas de prevenção e na orientação dos assuntos a serem abordados nos cursos das instituições de ensino superior. ABSTRACT A large number of pathologies with similar clinical features may allow coexistence of several differential diagnoses in a single lesion on the buccal mucosa. According to the clinical picture, complementary exams such as biopsy are often mandatory to confirm the suggestive diagnosis. To carry out a survey of histopathological diagnoses from biopsies performed in a dental school clinic in the period from 2011 to 2018. Information from dental records was gathered and tabulated. The frequency of each lesion was determined in relation to the total and its own group of diseases as well as the epi demiologi cal characteristics of the individuals. A total of 106 diagnoses from 105 patients (mean age 47.5 years) were evaluated, being the majority of them female (68 individuals - 64.8%) and white (67 individuals - 63.8%). In relation to the groups of diseases, epithelial or mesenchymal benign neoplasms (35 cases - 33%) were the most representative, followed by nonneoplastic proliferative processes (30 cases - 28.3%). Regarding the diagnoses, 25 different ones were observed, in which fibroma (30 cases - 28.3%) and inflammatory fibrous hyperplasia (22 cases - 20.8%) were more prevalent. No malignant pathology was found. To describe the epidemiological profile of a population can often facilitate diagnoses, besides assisting in the implementation of preventive measures and in the definition of graduate and post-graduate courses scope. Revista Odontológica de Araçatuba, v.40, n.1, p. 52-55, Janeiro/Abril, 2019 54

UNITERMS: Epidemiological study; Biopsy; Pathology; Stomatognathic diseases. REFERÊNCIAS 1.Vaz DA, Valença DL, Lopes RMB, Silva AVC, Pereira JRD. Concordância entre os Diagnósticos Clinicos e Histopatologicos do Laboratório de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Pernambuco. RPG Rev Pós Grad 2011;18(4):236-243. 2.Palma LF, Gonnelli FAS, Santos, JL, Wisniewski, ACTC, Fernandes, FRC. Estudo epidemiológico de 581 biópsias realizadas em uma clínica odontológica universitária no período entre 2001 e 2010. Rev Paul Odontol 2015; 37(2):37-42. 3.Bertoja IC, Tomazini JC, Braosi APR, Zielak JC, Reis LFG, Giovanni AF. Prevalência de lesões bucais diagnosticadas pelo Laboratório de Histopatologia do UnicenP. RSBO 2007; 4(2):41-46. 4.Luz AA, Faria TGS, Catanoze IA, Ferreira LL, Bernabé DG, Miyahara GI. Importância do exame clínico criterioso no diagnóstico de lesões bucais. Rev Odontol UNESP. 2014; 43(N Especial):116. 5.Silva UH, Menezes VA, Souza GC, Callou SWA. Correlação entre diagnósti co cl ínico e histopatológico de lesões orais em pacientes atendidos no Projeto Asa Branca da Faculdade ASCES. Odontol. Clín.-Cient 2013;12(1):25-29. 6.Caubi AF, Xavier RLF, Lima-Filho MA, Chalegre JF. Biópsia. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac. 2004; 4(1):39-46. 7.Melo FCC, Silva LYC, Costa ALL, Galvão HC. Granuloma periapical: análise de 150 casos. Rev Bras Patol Oral 2003; 2(3):2-7. 8.Prado BN, Trevisan S, Passarelli DHC. estudo epidemiológico das lesões bucais no período de 05 anos. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2010; 22(1):25-29. 9.Pereira TTM, Gaetti-Jardim EC, Castillo KA, Paes GB, Barros RMG. Levantamento Epidemiológico das Doenças de Boca: Casuística de Dez Anos. Arch Health Invest 2013; 2(3):15-20. 10.Hoff K, da Silva SO, de Carli JP. Levantamento epidemiológico das lesões bucais nos pacientes atendidos nas clínicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo. RFO 2015; 20(3):319-324. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: LUIZ FELIPE PALMA Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas FMU Av. Santo Amaro, 1239 - Vila Nova Conceição, São Paulo - SP, 04505-002 E-mail: luizfelipep@hotmail.com Revista Odontológica de Araçatuba, v.40, n.1, p. 52-55, Janeiro/Abril, 2019 55