Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Documentos relacionados
Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Supremo Tribunal Administrativo:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE TRANSMISSÃO ONEROSA DE IMOVEIS ISENÇÃO FISCAL PRÉDIO URBANO PARTE INDIVISA

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

2 Não foram apresentadas contra alegações. 4 - Colhidos os vistos legais, cabe decidir.

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

1.1. Terminou a alegação de recurso com as seguintes conclusões:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo. Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo I-RELATÓRIO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

IMPUGNAÇÃO JUDICIAL LIQUIDAÇÃO IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS TEMPESTIVIDADE DA IMPUGNAÇÃO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo. Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: I-RELATÓRIO

Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: - Relatório -

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

VERIFICAÇÃO DE CRÉDITOS IRS PRIVILÉGIO CREDITÓRIO GARANTIA REAL

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Supremo Tribunal Administrativo:

Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

DO ACTO TRIBUTÁRIO DECLARAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO LIQUIDAÇÃO CORRECTIVA PRAZO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de

Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: I O Instituto da Segurança Social, IP Centro

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

PRAZO DE ARGUIÇÃO PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL FALTA ELEMENTOS ESSENCIAIS DO ACTO PENHORA

Acordam nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

FORMALIDADE AVISO DE RECEPÇÃO ASSINATURA DO AVISO POR PESSOA DIVERSA DO DESTINATÁRIO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0734/05. Data do Acórdão: Tribunal: 2 SECÇÃO. Relator: JORGE LINO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo. Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Nas alegações, conclui o seguinte:

PORTAGEM COIMA NOTIFICAÇÃO ADMINISTRADOR DA INSOLVENCIA

Transcrição:

Acórdãos STA Processo: 053/10 Data do Acordão: 12-05-2010 Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Tribunal: Relator: Descritores: Sumário: 2 SECÇÃO PIMENTA DO VALE IMPOSTO DE SELO USUCAPIÃO TRANSMISSÃO I - É o acto de usucapião de imóvel usucapido que constitui o objecto de incidência de tributação em imposto de selo e não também a aquisição de benfeitorias realizadas pelo usucapiente no mesmo imóvel. II - Deste modo, tendo sido adquirido por usucapião apenas o prédio rústico onde foi erguida uma construção, só o valor daquele deve ser considerado para efeitos de incidência de imposto de selo. Nº Convencional: JSTA000P11799 Nº do Documento: SA220100512053 Recorrente: FAZENDA PÚBLICA Recorrido 1: A... Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam nesta Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: 1 A Fazenda Pública, não se conformando com a sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga, que julgou procedentes as impugnações judiciais deduzidas por A e B, melhor identificados nos autos, contra o acto de liquidação do imposto do selo referente a aquisição por usucapião de um prédio situado na freguesia de Pereira, concelho de Barcelos, inscrito na matriz predial urbana sob o artº 369, dela vem interpor o presente recurso, formulando as seguintes conclusões: I. Por força do disposto no artº. 7º do Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12.11, foi alterado substancialmente o Código do Imposto de Selo (de aqui em diante designado

CIS), tendo, no âmbito da incidência do imposto, sido integradas a título de transmissões gratuitas as aquisições por usucapião do direito de propriedade ou de qualquer outro direito real de gozo sobre bens imóveis. II. As aquisições por usucapião são ficcionadas pelo legislador do CIS como tal, ou seja, como se tratando de transmissões a título gratuito pois que o artº. 1º, n.º 3, alínea a) do CIS dispõe que são consideradas transmissões gratuitas, designadamente as que tenham por objecto direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis, incluindo a aquisição por usucapião. III. Constituindo o tributo encargo do adquirente dos bens, no caso o usucapiente/impugnantes, nos termos do preceituado no art. 3º, nºs 1 e 3, alínea a) do CIS. IV. No que toca ao nascimento da obrigação tributária determina a alínea r) do artº. 5º do CIS que A obrigação tributária considera-se constituída nas aquisições por usucapião, na data em que (...) for celebrada a escritura de justificação notarial. V. Por seu lado, o artº. 13º, n.º 1 do CIS dispõe que o valor dos imóveis a atender nas transmissões a título gratuito é o valor patrimonial tributário constante da matriz nos termos do CIMI ou o determinado por avaliação, quanto aos prédios omissos ou inscritos sem valor patrimonial. VI. Por último, a verba 1.2 da Tabela Geral do CIS estabelece que a aquisição gratuita de bens, incluindo por usucapião é tributada à taxa de 10% sobre o valor dos mesmos. VII. Para além dos normativos legais ínsitos no CIS acabados de referir importa, ainda, atentar que da concatenação dos artºs. 92º do Código do Notariado (CN) e 117º-A do Código do Registo Predial (CRP) resulta que a aquisição por usucapião formalizada por escritura de justificação realizada na vigência do CIS só pode reportarse aos direitos reais inscrito na matriz à data da celebração da escritura pública de justificação notarial ou cuja inscrição se encontre pedida na mesma data. VIII. Acrescendo, ainda, que nos termos do disposto no artº. 30º, n.º 1 do CRP nos títulos respeitantes a factos sujeitos a registo, a identificação dos prédios não pode ser feita em contradição com a inscrição na matriz. IX. Voltando ao caso sub judicio, é patente que o objecto da dita aquisição é a realidade imobiliária existente à data da celebração da escritura e não qualquer outra.

X. Na verdade, os ora impugnantes, como se deu como provado na douta sentença ora recorrida, construíram um prédio em terreno de terceiro, facto este que não lhes confere a propriedade do mesmo, pois tal construção se revela uma mera benfeitoria útil, cfr. n.º 3 do art. 216º do Código Civil (CC). XI. Nem sendo, igualmente, legalmente admissível que o valor das benfeitorias seja deduzido ao valor tributável para efeitos de tributação da aquisição por usucapião. XII. Tendo na douta sentença ora recorrida se decidido de forma diversa é inevitável que se conclua que foram violados os arts. 1º, n.º 3, alínea a), 5º, alínea r), 13º, n.º 1 todos do CIS e, bem assim, a verba 1.2 da Tabela Geral do CIS. XIII. Destarte é entendimento da AT que a factualidade dos presentes autos preenche os pressupostos de incidência previstos no CIS, sendo, por isso passível de tributação nos exactos moldes que o foram e que constam dos actos tributários ora em crise. Os recorridos não contra-alegaram. O Exmº Procurador-Geral Adjunto emitiu parecer no sentido de ser negado provimento ao presente recurso, sufragando-se, para o efeito, na jurisprudência desta secção do STA, que cita. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir. 2 A sentença recorrida fixou a seguinte matéria de facto: a) No dia 28 de Novembro de 2005, foi celebrada no Primeiro Cartório Notarial de Braga, a escritura de justificação cujo teor consta de fls. 11 a 14 e aqui se dá por reproduzido. b) Através dessa escritura pública, declararam A e mulher B, agora Impugnantes, que são donos e legítimos possuidores do prédio urbano composto por casa de rés-do-chão e andar, com a área coberta de cento e quarenta metros quadrados e logradouro, com a área de trezentos e oitenta e cinco metros quadrados, situado no lugar de Varziela, freguesia de Pereira, concelho de Barcelos, inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 369. c) Mais declararam que adquiriram o terreno onde implantaram o citado prédio por doação meramente verbal que lhes foi feita por C e mulher D, não chegando, no entanto, a realizar-se a projectada escritura de doação. d) E ainda declararam que estão na detenção e fruição do citado prédio, a qual foi adquirida e mantida sem violência

e exercida sem interrupção ou qualquer oposição ou ocultação de quem quer que seja, de modo a poder ser conhecida por todo aquele que pudesse ter interesse em contrariá-la. E que tal posse, durando há mais de 20 anos, faculta-lhes a aquisição do direito de propriedade do dito prédio por usucapião. e) Essas declarações dos Impugnantes foram confirmadas, através da mesma escritura pública, por E, F e G. f) Em 15 de Janeiro de 2007, a administração tributária procedeu às liquidações do imposto do selo relativo à transmissão gratuita a que se reporta a escritura pública atrás referida, cujas demonstrações constam de fls. 9 destes autos e de fls. 9 da impugnação apensa e aqui se dão por reproduzidas. g) Como consta das referidas demonstrações, foi considerado a matéria tributável de 32.890,00 euros por cada liquidação, correspondente a metade do valor patrimonial tributário do prédio urbano inscrito na matriz predial da freguesia de Pereira sob o artigo 369. h) A data limite para o pagamento voluntário do imposto liquidado foi a de 31 de Março de 2007. i) Em 1 de Fevereiro de 2007, os Impugnantes apresentaram reclamações graciosas contra as referidas liquidações. j) Essas reclamações graciosas foram indeferidas pelos despachos datados de 28 de Julho de 2008 do Chefe do Serviço de Finanças de Barcelos cujos teores constam dos processos administrativos apenso e aqui se dão por reproduzidos. k) No essencial, a fundamentação desse despacho foi a seguinte: Quanto à sujeição a Imposto do Selo, a figura da usucapião está prevista na alínea a) do n 3 do art. 1 do Código do Imposto do Selo, sendo que o nascimento da obrigação tributária, conforme prevê a alínea r) do art. 5 do CIS, se considera constituída na data em que é celebrada a escritura de justificação notarial, incidindo sobre o valor patrimonial tributário constante da matriz, conforme disposto no n 1 do art. 13 do mesmo diploma, sendo a taxa aplicável da 1.1. da tabela Geral do CIS. l) Os Impugnantes foram notificados dos despachos que indeferiram as reclamações graciosas em 6 de Agosto de 2008. m) As petições iniciais das presentes impugnações judiciais foram apresentadas em 3 de Janeiro de 2008. 3 A questão que aqui se coloca consiste em saber se o

imposto do selo devido por transmissão gratuita de imóvel, deverá recair apenas sobre o valor patrimonial do prédio rústico ou também sobre o valor do prédio nele edificado pelos impugnantes. Esta questão tem sido dirimida por esta secção do STA no sentido de que, pelo imposto do selo tributam-se, inter alia, os actos de aquisição de imóveis, incluindo o acto de aquisição por meio de usucapião. Deste modo, é o acto de «aquisição por usucapião» do imóvel usucapido o objecto de incidência de tributação em imposto de selo, e não também o acto de aquisição de obras ou benfeitorias realizadas no mesmo imóvel pelo próprio usucapiente. A este propósito escreveu-se no recente Acórdão de 18/2/10, in rec. nº 805/09, que seguiu o Acórdão de 13/01/10, in rec. nº 1124/09, cujas conclusões são idênticas e que por isso e para obter uma interpretação e aplicação uniformes do direito (cfr. artº 8º, nº 3 do CC), aqui vamos seguir, que O Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro veio também estender ou alargar a transmissões gratuitas o campo de incidência do Código do Imposto do Selo. Com efeito, foi alargado o âmbito da incidência objectiva deste imposto, sendo que o mesmo tributa as transmissões gratuitas que tenham por objecto, entre outros, o direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito sobre bens imóveis, incluindo a aquisição por usucapião. Assim, sob a epígrafe Incidência objectiva, o artigo 1.º, n.º 1, do Código do Imposto do Selo estabelece que «O imposto do selo incide sobre todos os actos, contratos, documentos, títulos, livros, papéis, e outros factos previstos na Tabela Geral, incluindo as transmissões gratuitas de bens». E, por seu lado, a alínea a) do n.º 3 do mesmo artigo 1.º do Código do Imposto do Selo preceitua que «Para efeitos da verba 1.2 da Tabela Geral, são consideradas transmissões gratuitas, designadamente, as que tenham por objecto direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito sobre bens imóveis, incluindo a aquisição por usucapião». Por sua vez, e segundo a verba 1.2 da Tabela Geral do Imposto do Selo, o imposto do selo recai em 10% sobre o valor dos respectivos contratos de «aquisição gratuita de bens, incluindo por usucapião ( )». Chama-se usucapião à posse do direito de propriedade ou de outros direitos reais de gozo, mantida por certo lapso de tempo, o que faculta ao possuidor, salvo disposição em

contrário, a aquisição do direito a cujo exercício corresponde a sua actuação nos termos do artigo 1287.º do Código Civil. Do específico regime legal do imposto do selo, logo se vê que o imposto do selo incide sobre todos os actos, contratos, documentos, títulos, livros, papéis, e outros factos previstos na Tabela Geral do Imposto do Selo, incluindo as transmissões gratuitas de bens. E, constituindo embora a usucapião uma aquisição originária (artigo 1287º e seguintes do Código Civil), é a aquisição por usucapião considerada, para efeitos fiscais, uma transmissão gratuita de bens imóveis. Tal aquisição, consonantemente, aliás, com o princípio da expressão formal dos actos tributáveis em imposto do selo, só ocorre no momento em que se torna definitivo o documento que titula essa aquisição ou transmissão : a data em que transitar em julgado a acção de justificação judicial ou for celebrada a escritura de justificação notarial cf. a alínea r) do artigo 5.º do Código do Imposto do Selo [ Nascimento da obrigação tributária ]. O que é certo, no entanto, é que o acto tributário tem que ter por base uma situação de facto ou de direito, concreta, prevista abstracta e tipicamente na lei fiscal como geradora do direito ao imposto. Tal base é, pois, o pressuposto de facto ou o facto gerador da imposição cf. Cardoso da Costa, Curso de Direito Fiscal, 1972, p. 266. Segundo o ensinamento de Alberto Pinheiro Xavier, in Conceito e Natureza do Acto Tributário, p. 263 e ss., no Direito Fiscal vigora o princípio da tipicidade, que se traduz no brocardo latino nullum tributum sine lege, ou nullum vectigal sine lege, paralelo àquele outro, vigente no Direito Penal, nullum crimen sine lege. Assim como não há crime que não corresponda a uma definição legal, a um tipo legal, também não haverá imposto que não corresponda a uma definição legal, a um tipo legal. Nisto consiste a tipicidade do imposto. O facto tributável, com ser um facto típico, só existe como tal, desde que na realidade se verifiquem todos os pressupostos legalmente previstos, que, por esta nova óptica, se convertem em elementos do próprio facto, bastando a não verificação de um deles para que não haja, pela ausência de tipicidade, lugar à tributação. No Direito Tributário, a tipologia é dominada não só por um princípio de taxatividade como também por um princípio de exclusivismo. Opera-se o fenómeno que a lógica jurídica designa por implicação

intensiva. Verifica-se a implicação intensiva sempre que os elementos enunciados no pressuposto não são apenas suficientes, mas ainda necessários para a verificação da consequência: se esses elementos se verificarem, segue-se a consequência, mas esta só se segue se eles se verificarem. Sobre o conceito de "implicação intensiva", cf. Castanheira Neves, Questão-de-facto-Questão-dedireito, p. 264, e ainda J. Baptista Machado, Introdução ao Estudo do Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina, 1991, 5.ª reimpressão, p. 187. A tributação resulta, assim, da verificação concreta de todos os pressupostos tributários, como tais previstos e descritos, abstractamente, na lei de imposto. Cf. o que vem de dizer-se no acórdão desta Secção do Supremo Tribunal Administrativo, de 21 de Outubro 2009, proferido no recurso n.º 652/09. No caso sub judicio, a sentença recorrida pondera, além do mais, como segue. [ ] o imposto de selo, mesmo quando está em causa uma aquisição por usucapião, só incide sobre o bem que, ab initio, não se encontrava no património do adquirente pois que só esse bem foi, na perspectiva da lei fiscal, presumivelmente transmitido. Se a aquisição por usucapião é, em termos fiscais, uma transmissão, ela só pode ter relevância, enquanto tal (enquanto transmissão fiscal) na medida em que tenha por objecto algo que não integrava o património do transmissário, algo que não era sua propriedade, pois só desse modo se pode conceber uma transmissão uma coisa que passa do património de uma pessoa para o património de outra, uma coisa que se transmite. E é sobre essa transmissão que incide o imposto do selo. Por outro lado, importa não perder de vista que as transmissões tributáveis em imposto do selo são as transmissões gratuitas, isto é, aquelas que não implicaram qualquer contrapartida económica da parte do transmissário. Sendo isto assim, facilmente se pode concluir que a liquidação do imposto de selo aqui impugnada é ilegal. Com efeito, a administração tributária, partindo de uma escritura de justificação notarial de posse realizada pelos Impugnantes considerou que estes adquiriram por usucapião e que, portanto, lhes foi transmitido gratuitamente um prédio urbano. Trata-se, salvo o devido respeito, de claro equívoco.

O prédio urbano que a administração tributária considerou transmitido para os Impugnantes não o foi, antes foi pelos mesmos construído sobre um terreno que, esse sim, lhes foi transmitido. De resto, a construção do prédio, representou um acto de posse dos Impugnantes sobre o referido terreno conducente, entre outros, à usucapião do dito terreno. Tendo o edifício que se encontra implantado no terreno transmitido e aqui em causa sido construído pelos Impugnantes jamais se pode considerar, por um lado, que o mesmo lhes foi transmitido e, por outro, que o foi a título gratuito. Aliás, mesmo que houvesse dúvidas sobre o sentido interpretativo das normas de incidência e pensamos que não há sempre seria de considerar a substância económica dos factos e, a esta luz, parece-nos indiscutível que edifício construído no terreno resultou do investimento de activos patrimoniais dos Impugnantes e, como tal, não se pode considerar que lhes foi transmitido e muito menos a título gratuito cfr. Artº. 11º, nº 3 da LGT. Finalmente, refira-se que o facto de a norma do artº. 5º alínea r) do CIS estatuir que a obrigação tributária se considera constituída, nas aquisições por usucapião, na data em que transitar em julgado a acção de justificação judicial ou for celebrada a escritura de justificação notarial e de a norma do artº. 13º, n 1 do CIS referir que o valor dos imóveis a considerar nas transmissões gratuitas ser o valor patrimonial tributário constante da matriz nos termos do CIMI à data da transmissão, não permite, em nosso entender, extrair qualquer argumento no sentido de que o valor a considerar para efeitos de tributação é o valor de todo o prédio incluindo, portanto, o edifício que nele se acha implantado. E não permite porque, previamente à questão do valor do bem imóvel a considerar, coloca-se, como prius lógico, a questão da determinação do bem imóvel que foi objecto da transmissão gratuita tributável... Na realidade, o que está em causa não é simplesmente o valor a atender para efeitos de imposto de selo, ou o momento apenas em que esse valor deve ser atendido. A questão que, antes de todas, importa equacionar, previamente a saber qual o valor a atender para efeitos de imposto de selo, é a questão de saber qual o objecto de incidência do imposto de selo devido no caso: o acto de aquisição do prédio usucapido, ou também o acto de

aquisição das benfeitorias nesse prédio levadas a cabo pelos impugnantes, ora recorridos? E o certo é que só o acto de aquisição do prédio usucapido é que pode inscrever-se no âmbito de incidência objectiva do imposto de selo, e não o acto de aquisição das obras ou benfeitorias nesse prédio realizadas. De harmonia com as supracitadas disposições do n.º 1 e do n.º 3, alínea a), do artigo 1.º do Código do Imposto do Selo, e da verba 1.2 da Tabela Geral do Imposto do Selo, é objecto de incidência em imposto de selo não mais que o acto de «a aquisição por usucapião». E, por isso, julgamos que não poderá dizer-se, com carácter genérico, que o valor tributável nas aquisições por usucapião é o valor patrimonial tributário do prédio adquirido, no momento do nascimento da obrigação tributária (trânsito em julgado da acção de justificação judicial ou celebração da escritura de justificação notarial), sem qualquer dedução proposição que estará na base dos actos de liquidação impugnados. Estamos deste modo a concluir, e em resposta à questão decidenda, que as liquidações impugnadas foram operadas exorbitando das normas de incidência objectiva do Código do Imposto do Selo pelo que devem as liquidações impugnadas ser anuladas, na medida de tal exorbitância. Quer dizer: as liquidações impugnadas devem ser anuladas na exacta medida em que as mesmas exorbitam dos limites legais de incidência objectiva, balizados apenas pelo acto de «aquisição por usucapião», fora do qual se encontra evidentemente o acto de aquisição de obras ou de benfeitorias realizadas pelo usucapiente. Então, havemos de convir, em síntese, que pelo imposto do selo tributam-se, inter alia, os actos de aquisição de imóveis, incluindo o acto de aquisição por meio de usucapião. E, assim, o acto de «aquisição por usucapião» do imóvel usucapido é objecto de incidência de tributação em imposto de selo, e não também o acto de aquisição de obras ou benfeitorias realizadas no mesmo imóvel pelo próprio usucapiente. Não existem razões para decidir diferentemente dos arestos acima citados, na medida em que nos presentes autos os factos provados e o direito a aplicar são idênticos, não tendo existido qualquer alteração legislativa susceptível de alterar a posição adoptada. No mesmo sentido, pode ver-se, entre outros, os Acórdãos

desta Secção do STA de 20 e 27/1/10, in recs. nºs 773/09 e 922/09, respectivamente e de 3/3/10, in rec. nº 1.190/09. 4 Nestes termos, acorda-se em negar provimento ao recurso e manter a sentença recorrida. Custas pela recorrente Fazenda Pública, fixando-se a procuradoria em 1/8. Lisboa, 12 de Maio de 2010. Pimenta do Vale (relator) Jorge Lino Casimiro Gonçalves.