MAPEAMENTO DE SEMENTES CRIOULAS NO SERTÃO ALAGOANO: REVISÃO DE LITERATURA

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Transcrição:

MAPEAMENTO DE SEMENTES CRIOULAS NO SERTÃO ALAGOANO: REVISÃO DE LITERATURA Cássio Laurentino Veloso (1); José Madson da Silva (2); Denisson Lima do Nascimento (3); Jailson de Oliveira (4); Cristian José Simões Costa (5) (1) Graduando do curso de Engenharia Agronômica Campus Piranhas - IFAL - Instituto Federal de Alagoas (cassioveloso2008@hotmail.com); (2) Doutor em Agronomia e Professor do Curso de Engenharia Agronômica do IFAL - Instituto Federal de Alagoas (josemadsonp@hotmail.com); (3) Graduando do curso de Engenharia Agronômica Campus Piranhas - IFAL - Instituto Federal de Alagoas (denisso_2011@hotmail.com); (04) Graduando do curso de Engenharia Agronômica Campus Piranhas - IFAL - Instituto Federal de Alagoas (jailson.2110@gmail.com); (05) Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPB e Professor de Botânica do Curso de Engenharia Agronômica do IFAL- Instituto Federal de Alagoas; (cristiancost@gmail.com). Resumo: Com a economia baseada principalmente da agricultura, o Sertão Alagoano é repleto de pequenas comunidades rurais que realizam suas plantações com auxílio de bancos de sementes localizados em diferentes povoados. Estas sementes que são chamadas de crioulas ou nativas possuem uma grande contribuição com a produção de grãos e vegetais em diversos municípios da região. Com o objetivo de mostrar o mapeamento e identificação dos tipos de variedades de sementes crioulas que são cultivadas pelas comunidades rurais localizadas nas proximidades da cidade de Piranhas/AL, este artigo foi realizado através de um levantamento bibliográfico de artigos em variados periódicos nacionais fruto de uma pesquisa PIBIC que está sendo realizado no Instituto Federal de Alagoas, Campus Piranhas. Com base e posse dos dados obtidos possibilitou-se analisar as culturas crioulas no município de Piranhas, bem como visita as propriedades que detém os bancos de sementes do município. Sendo verificados dois bancos de sementes que fortalecem a agricultura familiar deste município. A partir do mapeamento teórico e de dados, foi possível perceber, que há uma diversidade de espécies no município, onde que essas sementes beneficiam as unidades de produção familiar dos agricultores. Podendo destacar as espécies de feijão com 13 variedades, milho 6 variedades, andu e fava 3 variedades cada e gergelim e girassol representadas por uma 1 variedade, totalizando 23 variedades. Torna-se importante a utilização de meios que conservem e preservem essas variedades crioulas e toda a sua diversidade, sendo de grande importância a sua prática constante em uma região, uma vez que tem uma função essencial na soberania alimentar das famílias dos pequenos agricultores de todas as comunidades. Palavras-chave: Comunidade, Sementes crioulas, Bancos de sementes, Mapeamento, Identificação. INTRODUÇÃO O Sertão Alagoano é uma das três mesorregiões pertencente ao estado de Alagoas. Caracterizado pela presença do bioma Caatinga, é formado por 26 municípios divididos em quatro microrregiões numa área total de 8.633,10 km² (IBGE, 2010). Com a economia baseada principalmente da agricultura, o Sertão Alagoano é repleto de pequenas comunidades rurais que realizam suas plantações com auxílio de bancos de sementes localizados em diferentes povoados. Estas sementes que são chamadas de crioulas ou nativas possuem uma grande contribuição com a produção de grãos e vegetais em diversos municípios da região.

As sementes crioulas são caracterizadas por não terem sofrido modificações, como por exemplo, melhoramento genético, e são assim chamadas porque, geralmente, seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos etc (TRINDADE, 2006), participando da história e cultura dessas identidades. Vale destacar ainda que o patrimônio cultural rural possui uma dimensão muito mais extensa que a exposta pelas sementes crioulas, instituindo-se como um conjunto de diversos costumes, construções, músicas, danças e gastronomia. Tais sementes transportam em seu material genético as características da sobrevivência, da resistência, da continuidade, da perpetuação, fruto de um extenso processo natural de seleção resistente, até que as condições do ambiente lhe fossem adequados (ALMEIDA & FREIRE, 2003). As sementes são muito mais que um recurso com a finalidade da produtividade estabelecido hoje pela agricultura convencional, elas podem ser consideradas a base do produto de culturas para as sociedades através da história. Portanto, esse trabalho tem como objetivo mostrar através de uma revisão bibliográfica, o mapeamento e identificação das variedades de sementes crioulas que são cultivadas pelas comunidades rurais localizadas nas proximidades do município de Piranhas, região semiárida do estado de Alagoas. METODOLOGIA Para o levantamento bibliográfico, optou-se pela busca de artigos em periódicos nacionais disponíveis nas bases de dados pertencentes à Biblioteca Virtual da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), bem como teses, anais de eventos, livros e outros. Para colaborar com a pesquisa realizou-se o georreferenciamento das comunidades rurais da região. Revisão Bibliográfica Banco de Sementes De acordo com García (2004), os bancos de sementes constituem núcleos que funcionam em coletividade mutua para assegurar a preservação destas variedades crioulas, assegurando assim a autonomia e segurança alimentar das famílias rurais.

Para Queiroga et al. (2011) os bancos de sementes são de essencial importância, onde que as variedades nativas são guardadas e protegidas e tornam-se fonte de pesquisa para novas cultivares não só para a sobrevivência de quem consume, mas também para melhorar a qualidade de vida e a produtividade do cultivo. A singularidade dos bancos de sementes reside em sua capacidade de reunir as reservas individuais das famílias agricultoras em um projeto coletivo de base local. Santos et al., (2017) movidos nessa lógica, afirmam que os Bancos Comunitários de Sementes Crioulas estão dispostos a fortalecer e a expandir três princípios básicos importantíssimos: a diversificação entre cultivos e espécies; a construção dos estoques de sementes crioulas; e a criação de uma rede de inter-relação mutua para o desenvolvimento do conhecimento e das trocas de sementes e saberes que propor-se propagar e partilhar o material armazenado. A partir do levantamento bibliográfico foi possível visualizar um conjunto de resultados importantes para o fortalecimento da estratégia de acesso às sementes crioulas. Segundo dados da ASA/AL (2017) o Semiárido de Alagoas possui cerca de 89 bancos comunitários de sementes, difundidos em 17 municípios (Tabela 1), entre as Mesorregiões do Agreste e Sertão do estado, destacados na cor verde (Figura 1). Figura 1. Mapa dos municípios do Estado de Alagoas. Fonte. ASA/AL, 2017

Tabela 1. Localidades dos Bancos de sementes do Semiárido Alagoano. MESORREGIOES DO AGRESTE MESORREGIOES DO SERTÃO Palmeiras dos Índios Batalha Dois Riachos Minador do Negão Poço das trincheiras Santana do Ipanema Craibas Maravilha Batalha Igaci Pão de Açúcar Olho d água do casado Inhapi Pariconha São José da Tapera Água Branca Piranhas Fonte. ASA/AL, 2017 Com base e posse dos dados obtidos possibilitou-se analisar as culturas crioulas no município de Piranhas, Alagoas, microrregião do Semiárido do Estado, bem como visita as propriedades que detém os bancos de sementes do município. Sendo verificados dois bancos de sementes que fortalecem a agricultura familiar deste município (Figura 2). Figura 2. A e B. imagens aéreas da localização dos bancos de sementes do Município de Piranhas, Alagoas, C. Banco Comunitário de sementes: Comunidade Poço Doce II, D. Banco de Sementes e Terreiro de Secagem: Comunidade lajes.

C D Fonte. Arquivo pessoal, 2018 Almeida e Cordeiro (2002) afirmam que os bancos de sementes são organizações comunitárias, que visam à autossuficiência de um grupo no fornecimento de sementes de determinadas espécies. Dessa forma os Bancos de Sementes Crioulas tornam-se um local físico onde são guardadas as sementes após estarem secas e selecionadas. As famílias produtoras levam suas sementes para o Banco e a retiram quando necessitam. É um ambiente de permuta que também auxilia no resgate, na melhoria genética e na armazenagem das variedades locais. Sementes crioulas Bevilaqua et al. (2014), asseguram que a importância de cultivar as sementes crioulas refere-se aquele germoplasma que vem sendo multiplicado e preservado por agricultores e por suas associações através do tempo, podendo ser de origem de outras regiões, tornando o fruto da inter-relação entre os povos, e cujo cultivo conduz à adaptação específica ao ambiente local em decorrência da seleção natural, artificial ou pela combinação de ambas, sendo realizado pelo agricultor. Para Ribeiro (2017), as sementes crioulas possuem características que permite a capacidade de fornecer grãos que contenham uma nutrição apropriada às necessidades e, sobretudo respeitando os aspectos culturais que atribuem aos grupos rurais. Os conhecimentos contidos nas sementes crioulas são transmitidos através dos tempos pelos povos e comunidades rurais através das interações entre si destas populações e com a biodiversidade.

De acordo com Teixeira (2012), as populações crioulas são inferiormente produtivas em comparação as sementes modificadas, ainda que proporcionem grande variabilidade genética, resistentes e adaptadas ao seu local de origem. O cultivo dessas sementes é uma das primícias da Agroecologia, pois permite aos agricultores familiares à redução de custos de produção, ocasionando o aumento da renda e reduzindo a dependência da compra de sementes modernas. De acordo com Cunha (2013), as sementes crioulas são a consequência do manejo e da adaptação de suas variedades em cada região do país. O saber empírico dos agricultores familiares, a transmissão de suas experiências para a comunidade e futuras gerações, além de práticas agrícolas que colaboram para manutenção da diversidade como o consórcio, a rotação das culturas e pousios. Sevilla Guzmán (2005), ressalta que a semente crioula apresenta grande importância por consolidar os princípios de respeito às culturas locais, constituindo uma grande e adequada tecnologia para as comunidades por serem adaptáveis e possuírem uma maior variabilidade genética. Destaca-se que as diversidades de sementes permitem garantir a abundância e a variedade alimentar em cada comunidade, servindo de base para uma alimentação adequada, absolutamente saudável e permitindo o desenvolvimento desejado pelos pequenos agricultores. A partir deste mapeamento teórico e de dados, foi possível perceber, que há uma diversidade de espécies no município de Piranhas, Alagoas, onde essas sementes beneficiam as unidades de produção familiar dos agricultores (Figura 3). Podendo destacar as espécies de feijão com 13 variedades, milho 6 variedades, andu e fava 3 variedades cada e gergelim e girassol representadas por uma 1 variedade.totalizando 23 variedades (Tabela 2). Destaca-se que as diversidades de sementes permitem garantir a abundância e a variedade alimentar em cada comunidade, servindo de base para uma alimentação adequada, absolutamente saudável e permitindo o desenvolvimento desejado pelos pequenos agricultores e também a não dependência das sementes melhoradas pelas indústrias. Sendo assim, as sementes crioulas transportam consigo uma estrutura econômica e variedades adequadas voltadas a lógica produtiva dos grupos rurais (SHIVA, 2003). Deste modo, as famílias agricultoras estão entendendo que mantendo suas diversidades de sementes, estão colaborando de forma participativa para a preservação do patrimônio genético e sociocultural dos povos.

Figura 2. Sementes que são preservadas no município de piranhas, Alagoas. Fonte. Arquivo pessoal, 2018 Essas coleções das diferentes culturas são disponibilizadas tanto para os bancos de sementes quanto para a avaliação e seleção local das melhores cultivares, e, assim, tornaremse novas opções de renda dos agricultores. Como os próprios agricultores contribuem para a manutenção dessas sementes. Tabela 2. Quantificação e identificação das sementes crioulas presentes no município de Piranhas, Alagoas. Andu Fava Feijão Milho Cultura Variedade Quantidade Vermelho Rajado 3 Preto Vermelha Rajadinha 3 Ureia de velho Vagem roxa Mulatão Bico de ouro Figo de galinha Carioca Preto Rosinha 13 Leite Fogo de serra Rajadinha Vagem fofa Mulatinho Gordo Jaboatão Palha roxa 6 Milho alho

Dente de cavalo Branco Sabugo fino Gergelim Gergelim branco 1 Girassol Girassol 1 Total 27 Fonte. Arquivo pessoal, 2018 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim é de grande importância a utilização de meios que conservem e preservem as variedades crioulas e toda a sua diversidade, sendo fundamental a sua prática constante em uma região, uma vez que além da função essencial na soberania alimentar das famílias dos pequenos agricultores de todas as comunidades, as mesmas armazenam os elementos genéticos da diversidade relacionados à resistência e a manutenção da vida em condições adversas A identificação e a localização de cultivares crioulas com características peculiares tornam-se um importante diferencial para contribuir na ampliação do uso das sementes crioulas e ajudar na geração de renda aos agricultores, as associações e para as comunidades se desenvolverem pela comercialização dessas sementes gerando além do emprego e renda uma função social e ambiental. REFERÊNCIAS ALMEIDA, P.; CORDEIRO, A. Semente da paixão: estratégia comunitária de conservação de variedades locais no semi-árido. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2002. 72p. ALMEIDA, P.; FREIRE, A. Conservando as sementes da paixão: duas histórias de vida, duas sementes para a agricultura sustentável na Paraíba. In: Sementes, patrimônio dos povos a serviço da humanidade. H.M Carvalho (org). São Paulo: Ed. Expressão popular. p. 279-302. 2003. ARAÚJO, S. L.; MORAIS, R. C.; MORAIS, R.; NUNES, F. R.; COSTA, C.; SANTOS, M. S.. Guardiões e guardiãs da agrobiodiversidade nas regiões do Cariri, Curimataú e Seridó Paraibano. Cadernos Agroecológicos, 8(2): 1-5. 2013. BEVILAQUA ET AL. Agricultores Guardiões de Sementes e Ampliação da Agrobiodiversidade. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 31, n. 1, p. 99-118, jan./abr. 2014 - G. A. P. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico de 2010. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/resultados>. Acesso em 09 dez. 2018.

QUEIROGA, V. P., SILVA, O. R. F., ALMEIDA, F. A. C. Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: Bancos Comunitários de Sementes. 1.ed. Campina Grande: Fraternidade de São Francisco de Assis / Universidade Federal de Campina Grande, 2011, p. 157. SEVILLA GUZMÁN, E. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável in Agroecologia Princípios e técnicas para uma agricultura orgânica sustentável. Brasília. Embrapa, 2005. RIBEIRO, W. M. Sementes crioulas: autonomia, identidade e diversidade dos grupos camponeses em Orizona e Vianópolis - GO. 2017. 99 f. Dissertação (Mestrado em Agronegócio) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017. SANTOS, M. S.; BARROS, M. K. L. V.; BARROS, H. M. M.; BAROSI, K. X. L.; CHICÓ, L. R. Sementes crioulas: Sustentabilidade no Semiárido Paraibano. Agrarian Academy, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.4, n.7; p. 2017. SHIVA, V. Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia (tradução AZEVEDO, D. A.). São Paulo: Gaia, 2003. TRINDADE, C. C. Sementes crioulas e transgênicos: Uma reflexão sobre sua relação com as comunidades tradicionais. ln: Congresso Nacional do Conpedi, 15., 2006. Anais... Manaus, 2006. 15p. TEIXEIRA, W.V., MALTA, C.G., LEANDRO, W.M. Produtividade e avaliação da capacidade de expansão de milho pipoca crioulo em cultivo isolado e consorciado com feijãode-porco. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8, N.14, p. 778 2012.