Análise da fragilidade de solos arenosos em processo de voçorocamento no Sudoeste do Rio Grande do Sul

Documentos relacionados
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FRAGILIDADE DO SOLO DE FLORESTA DECIDUAL NO MUNICÍPIO DE PANTANO GRANDE - RS 1

CLASSIFICAÇÃO TEXTURAL DOS SOLOS CULTIVADOS COM CANA-DE- AÇUCAR NO MUNICIPIO DE QUIRINÓPOLIS, GOIÁS

Curso de Solos: Amostragem, Classificação e Fertilidade. UFMT Rondonópolis 2013

Solos arenosos no Sudoeste de Goiás: caracterização ambiental, uso, degradação e reabilitação

Características dos Solos Goianos

Atributos químicos do solo sob diferentes tipos de vegetação na Unidade Universitária de Aquidauana, MS

NATUREZA E TIPOS DE SOLOS ACH1085

Ademar Barros da Silva Antônio Raimundo de Sousa Luciano José de Oliveira Accioly

SISTEMA DE CULTIVO NAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-HÍDRICAS EM LATOSSOLO DISTROCOESO SOB CERRADO NO MARANHÃO (1)

CALAGEM COMPACTA O SOLO? FATOS E HIPÓTESES

Solo características gerais. Definição: solo = f(rocha+ clima + relevo+biota)

EFEITOS DA DEGRADAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS DO SOLO

Atributos químicos no perfil de solos cultivados com bananeira sob irrigação, no Projeto Formoso, Bom Jesus da Lapa, Bahia

Manejo de solos para piscicultura

Potencialidades e Limitações para o Uso Agrícola de Solos Localizados no Entorno do Lago de Sobradinho em Remanso BA

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Solos Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Documentos 192

%

FICHA DE DISCIPLINA CH TOTAL TEÓRICA: 30 OBJETIVOS

Unidade IX. José Ribamar Silva

Aptidão Agrícola de Áreas Sob Pastagem no Sul do Estado do Tocantins

CONSERVAÇÃO DO SOLO E ÁGUA

SOLO. Matéria orgânica. Análise Granulométrica

Solo como componente do ambiente e fator para os processos erosivos: características e atributos das classes de solo no Brasil

Figura 07: Arenito Fluvial na baixa vertente formando lajeado Fonte: Corrêa, L. da S. L. trabalho de campo dia

Propriedades Químicas

ANÁLISE DOS PROCESSOS EROSIVOS PLUVIAIS EM ARGISSOLOS ATRAVÉS DE PARCELAS EXPERIMENTAIS PARA O MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE - SP.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA NUCLEO DE GEOLOGIA PROPRIEDADES DO SOLO. Profa. Marciléia Silva do Carmo

CARACTERIZAÇÃO DE ARGISSOLOS BRUNO-ACINZENTADOS NA REGIÃO DO BATÓLITO DE PELOTAS RS E ENQUADRAMENTO NA ATUAL CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE SOLOS

Perfil do solo: desenvolvimento radicular em áreas de milho safrinha, com e sem braquiária

Quantificação da serapilheira acumulada em um povoamento de Eucalyptus saligna Smith em São Gabriel - RS

DENSIDADE DE SEMEADURA E DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO TRIGO DE SEQUEIRO CULTIVADO EM PLANALTINA-DF

PCS 502 CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. Aula 5: Levantamento Conservacionista e classes de capacidade. Prof. Marx Leandro Naves Silva

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

Manejo do solo e preservação ambiental

Comparação de métodos de análise granulométrica para diferentes solos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina

Estudos Ambientais. Solos CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP

Hidrologia Bacias hidrográficas

MORFOLOGIA DO PERFIL DO SOLO

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS VOÇOROCAS DA SERRA DA FORTALEZA EM CAMPOS GERAIS, SUL DE MINAS GERAIS

CONCEITO DE SOLO CONCEITO DE SOLO. Solos Residuais 21/09/2017. Definições e Conceitos de Solo. Centro Universitário do Triângulo

Quantificação de argila e silte em solos de textura leve por diferentes métodos de análise granulométrica (1)

Rodrigo Santana Macedo (1) ; Wenceslau Geraldes Teixeira (2) ; Gilvan Coimbra Martins (2) ; Maria do Rosário Lobato Rodrigues (2)

Se formam a partir de materiais praticamente inertes, extremamente resistentes ao intemperismo (areias de quartzo);

EFEITO DA APLICAÇÃO DE VINHAÇA AO LONGO DO TEMPO NOS ATRIBUTOS QUÍMICOS DE LATOSSOLOS COM DIFERENTES TEXTURAS

Planejamento de Uso Integrado da Terra Disciplina de Classificação de Solos

Hélio do Prado. Pedologia Fácil. Aplicações em solos tropicais. 4ª edição Piracicaba Pedologia. Fácil. Hélio do Prado

Endereço (1) : Av. Colombo, 5790, Bloco D-90, Bairro Zona Sete, Maringá/PR, CEP Fone: (44)

GEOGRAFIA. Solos. Prof ª. Ana Cátia

ATRIBUTOS FÍSICOS DE LATOSSOLOS EM DOIS SISTEMAS DE MANEJO, VISANDO A IRRIGAÇÃO EM MATO GROSSO DO SUL

Geologia e conservação de solos. Luiz José Cruz Bezerra

Quadro 1 - Fatores para conversão de unidades antigas em unidades do Sistema Internacional de Unidades.

ANAIS. Artigos Aprovados 2014 Volume I ISSN:

Palavras-chave: química do solo, mobilização mecânica, práticas conservacionistas

Construção de Perfil do Solo

LEVANTAMENTO DE ÁREAS AGRÍCOLAS DEGRADADAS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Otrigo é uma das principais culturas para produção

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA Luiz de Queiroz LSO Gênese, Morfologia e Classificação de Solos SOLOS SOLOS POUCO DESENVOLVIDOS RASOS

MÓDULO 03 GEOGRAFIA II

Formação do Solo. Luciane Costa de Oliveira

DEGRADAÇÃO DOS SOLOS

AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO PARA IMPLANTAÇÃO DE PASTO EM SÃO MIGUEL DO GUAMÁ-PARÁ Apresentação: Pôster

UNIDADE 4 USO DE INFORMAÇÕES SOBRE SOLOS

Universidade Federal do Acre. UNIDADE 5 Perfil de Solo - Parte II Descrição Morfológica

SUSCEPTIBILIDADE À EROSÃO DE TRÊS CLASSES DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE RIO PARANAÍBA MG.

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

ATRIBUTOS MORFOLÓGICOS, FÍSICOS, QUÍMICOS E MINERALÓGICOS DE NEOSSOLOS E SAPRÓLITOS DO SEMI-ÁRIDO PERNAMBUCANO

DEGRADAÇÃO DAS MATAS CILIARES E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA NASCENTES DO MUNICÍPIO DE MARAVILHA, SERTÃO DE ALAGOAS

MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO: Amostragem, interpretação, recomendação de calagem e adubação.

Lauro Charlet Pereira Francisco Lombardi Neto - IAC Marta Regina Lopes Tocchetto - UFSM Jaguariúna, 2006.

Fertilidade do solo para culturas de inverno

4. Características da CTC do Solo

Lauro Charlet Pereira Francisco Lombardi Neto IAC W. J. Pallone Filho FEAGRI/UNICAMP H. K. Ito - IBGE Jaguariúna, 2006.

AVALIAÇÃO DO USO DE RESÍDUO ORGÂNICO E ADUBAÇÃO FOSFATADA NO CULTIVO DE GERGELIM (Sesamum indicum L. cv. Trhébua)

Dinâmica de fósforo em solos amazônicos: novos ou velhos desafios?

Alguns processos erosivos que contribuem para o empobrecimento do solo

CARBONO DA BIOMASSA MICROBIANA EM DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO NO BIOMA CERRADO. Apresentação: Pôster

CONSTRUÇÃO DA FERTILIDADE E MANUTENÇÃO DE AMBIENTES DE ELEVADO POTENCIAL PRODUTIVO. Álvaro Resende

Experiências Agroflorestais na Comunidade de Boqueirão. Renato Ribeiro Mendes Eng. Florestal, Msc

O ALUMÍNIO EM SOLOS CULTIVADOS COM CAJUEIRO (Anacardium occidentale L.) NO PIAUÍ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE DISCIPLINA DE SOLOS I UNIDADE VII

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DE CROSTAS EM SUPERFÍCIES DE SOLOS DEGRADADOS EM MANAUS (AM): UMA ABORDAGEM PRELIMINAR.

Atividade desenvolvida na disciplina de Fertilidade do Solo do Curso de Graduação de Agronomia no IRDeR/DEAg/UNIJUI 2

SOLOS E APTIDÃO EDAFOCLIMÁTICA PARA A CULTURA DO CAJUEIRO NO MUNICÍPIO DE GRAJAÚ-MA

Aptidão Natural para o Cultivo de Açaí (Euterpe oleraceae Mart. e Euterpe precatoria Mart.) no Estado do Acre

Caracterização da fitofisionomia e de solos na Sub-bacia hidrográfica do Alto Médio Gurguéia por Sistemas de Informações Geográficas SIG

Fertilidade de Solos

Escolha da área para plantio Talhonamento Construção de aceiros e estradas

Aptidão Natural dos Solos do Estado do Acre para o Cultivo da Mandioca

NUTRIÇÃO MINERAL GÊNESE DO SOLO. Rochas da Litosfera expostas ao calor, água e ar. Alterações físicas e químicas (intemperismo)

Desenvolvimento de Métodos de Estimativas de Riscos Climáticos para a Cultura do Girassol: Risco Hídrico

Potencial de Uso Agrícola das Terras

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA EM FUNÇÃO DA CALAGEM, ADUBAÇÃO ORGÂNICA E POTÁSSICA 1

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS, QUÍMICAS E MINERALÓGICAS TÊM COMO OBJETIVO COMPLEMENTAR AS DESCRIÇÕES MORFOLÓGICAS

MANEJO DO SOLO PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

Perfil, características e planejamento do uso do solo da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

Soluções da pesquisa para o Arenito Caiuá

ATIVIDADE DE HIDROLASES EM SOLOS DE CULTIVO ANUAL E PERENE NO ESTADO DE GOIÁS

USO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS NA RECUPERAÇÃO DA FERTILIDADE DE ÁREAS DEGRADADAS. Apresentação: Pôster

Transcrição:

Análise da fragilidade de solos arenosos em processo de voçorocamento no Sudoeste do Rio Grande do Sul Bomicieli, R. O. 1 ; Deobald, G. A. 1 ; Dalla Rosa, M. P. 1 ; Reckziegel, R. B. 1 ; Bertolazi, V. T.; Pedron, F. A. 1 ; Suzuki, L. E. 2 ; 1 Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, e-mail: bomicieli@ymail.com; Apresentador 2 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, e-mail: dusuzuki@gmail.com. Resumo Os Neossolos Quartzarênicos são aqueles que apresentam considerável fragilidade devido a sua textura arenosa que confere a estes solos baixa fertilidade natural e alta suscetibilidade à erosão hídrica e eólica. Na região Sudoeste do Rio Grande do Sul (RS) estes solos estão associados a processos de voçorocamento e formação de areais, caracterizando impacto ambiental considerável. Nesse sentido, este trabalho objetivou caracterizar e analisar perfis de Neossolos Quartazênicos em áreas de voçorocamento, visando obter dados que permitam entender melhor as fragilidades destes solos, no intuito de contribuir com o seu manejo sustentável. Verificou-se, através dos dados dos quatro perfis estudados que os Neossolos Quartzarênicos do Sudoeste do RS apresentam textura arenosa e baixa fertilidade natural, que lhes conferem uma baixa resiliência e alta fragilidade natural. Estes solos devem ser manejados com muitos cuidados para evitar danos ambientais irreparáveis. Introdução O emprego de solos de extrema vulnerabilidade à degradação, no processo produtivo, tem condicionado mudanças conceituais no que diz respeito a uso do solo. Na região Centro-Oeste do Brasil, por exemplo, segundo Sales et al. (2010), os incentivos fiscais e a valorização das terras com elevado potencial agrícola levaram à ocupação de solos considerados de baixa aptidão sem a realização prévia da avaliação dessa capacidade de uso, resultando na adoção de sistemas de manejo inadequados. Não diferente disso esta ocorrendo no Sudoeste do Rio Grande do Sul, onde áreas consideradas, antes marginais a produção agropecuária vem sendo constantemente agregadas as já tradicionais. Os solos arenosos são considerados ecologicamente muito frágeis, e o uso agrícola destes deveria ser evitado ou, pelo menos, usados racionalmente, respeitando suas limitações. Na região Sudoeste do Rio Grande do Sul, a ocorrência de Neossolos Quartzarênicos é comum e a sua utilização, principalmente com campo nativo para pecuária de corte, tem trazido prejuízos relacionados à erosão hídrica e eólica. Embora esses solos possuam grande permeabilidade e profundidade (Embrapa, 2006), a sua textura arenosa ao longo do perfil é considerada uma séria limitação referente ao uso. Além de conferir baixa coesão entre as partículas, tornando-os bastantes suscetíveis à erosão, não é raro, após intervenção antrópica, a ocorrência de voçorocas (Keret al., 1992), mesmo em áreas pouco declivosas,

com consequências drásticas, particularmente relacionadas à contaminação e assoreamento dos cursos de água (Oliveira et al., 2001), e aumento dos riscos de desertificação (Corrêa, 1997). No RS os Neossolos Quartzarênicos têm sido muito pouco estudados, havendo uma demanda considerável por informações sobre o comportamento e fragilidade destes solos. Neste contexto, o presente trabalho objetivou caracterizar e analisar perfis de Neossolos Quartzarênicos em áreas de voçorocamento, visando obter dados que permitam entender melhor as fragilidades destes solos, no intuito de contribuir com o seu manejo sustentável. Material e métodos A coleta de amostras e descrição dos perfis foi realizada na região Sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul em áreas sob condições de voçorocamento, nos municípios de Quaraí, Manoel Viana e São Francisco de Assis, localizada entre as coordenadas 30.469417 a 29.595844 de latitude Sul e 56.249181 a 55.116833 de longitude Oeste. O clima segundo Maluf (2000) é o TE UM v, onde a temperatura média anual gira ao redor de 17,8 C e a precipitação entre 1.388 mm, podendo ocorrer chuvas torrenciais de mais de 160 mm em 24 horas e geadas de abril a novembro. Períodos com 100 mm de déficit hídrico são verificados em 8 de cada 10 anos e uma vez a cada 10 anos se verifica déficit de 300 mm (Brasil, 1973). Foram selecionados quatro locais de ocorrência dos Neossolos Quartzarênicos, com diferentes feições geomorfológicas. A descrição morfológica e ambiental e a coleta de amostras dos perfis foram realizadas conforme metodologia proposta por Santos et al. (2005). As amostras deformadas foram secas ao ar, destorroadas e passadas em peneiras de malha de 2 mm, para obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA). A análise granulométrica foi realizada pelo método da pipeta (Embrapa, 1997). As análises químicas de ph em água, Na e K, Ca e Mg, H + Al, Al, carbono orgânico e capacidade de troca de cátions a ph 7,0 foram realizadas de acordo com metodologia padrão descrita em Embrapa (1997). A classificação taxonômica dos perfis foi efetuada pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006). Resultados e discussão Os perfis analisados ocorrem em relevo ondulado a suave ondulado, propiciando o aparecimento de voçorocas. Os solos analisados encontravam-se sob campo nativo, com exceção do perfil 2 que encontra-se também sob reflorestamento. O campo nativo para uso de uma exploração pecuária extensiva se mostrou sem maiores cuidados, com a pastagem empobrecida e degradada, apresentando em diversos pontos processos erosivos do tipo voçorocas. Os perfis foram classificados em Neossolo Quartzarênico Órtico típico e Neossolo Quartzarênico Órtico solódico conforme o Tabela 1. Os perfis apresentam boa profundidade e drenagem variando de 140 a 170+ cm. O horizonte A apresenta espessura de até 22cm, exceto o V1, com 65cm. A profundidade do horizonte A é

importante devido a sua maior disponibilidade de nutrientes (Brasil, 1973). Além disso, dada as limitações de retenção de água devido à textura arenosa e ao clima mais seco nesta região, a espessura dos horizontes é importante no desenvolvimento das raízes. Tabela 1. Dados ambientais, morfológicos e classificação taxonômica dos perfis de Neossolos Quartzarênicos estudados neste trabalho. Perfil* Relevo Uso atual Cor úmida no Classificação taxonômica horizonte C (Embrapa, 2006) V1 1 Ondulado Campo nativo 10YR 4/5 Neossolo Quartzarênico Órtico típico V2 1 Suave Campo nativo e ondulado reflorestamento 10YR 4/5 Neossolo Quartzarênico Órtico solódico V3 2 Suave Ondulado Campo nativo 7,5YR 4,5/6 Neossolo Quartzarênico Órtico típico V4 3 Ondulado Campo nativo 5YR 4,5/6 Neossolo Quartzarênico Órtico solódico *Quaraí 1, Manoel Viana 2, São Francisco de Assis 3 As raízes têm boa penetração em todos os perfis diminuindo sua ocorrência com a profundidade (Tabela 2). Esta redução em profundidade deve-se as características fisiológicas e morfológicas das espécies dominantes na cobertura vegetal. Com base nas observações de campo e nos dados de granulometria, os perfis não apresentaram limitações físicas ao desenvolvimento de raízes. A transição entre horizontes apresentou variação nos perfis, com predomínio da transição clara e plana. Nos perfis V3 e V4 a transição do horizonte superficial A para o subjacente ocorre de maneira clara e plana, apenas no V1 e V2 esta transição ocorre de maneira diferente, sendo ela plana e gradual e irregular e abrupta respectivamente. Em relação à granulometria, outro aspecto marcante nestes solos, 100% dela ocorreu na fração terra fina em todos os perfis e horizontes analisados. Na fração terra fina, se verificou o predomínio da fração areia em todos os perfis, ficando eles enquadrados na classe textural areia, apenas nos horizontes C1 do V1 e C3 do V2 houve uma redução no percentual desta fração e uma leve elevação na fração argila ficando eles enquadrados na classe areia franca. Dessa forma a fração argila onde se encontra a reatividade dos solos e por consequência sua fertilidade, tem sua expressão extremamente reduzida. A argila natural (dispersa em água), foi elevada para os 2 primeiros horizontes de cada perfil, com exceção do V1. Houve predomínio de valores acima de 50% do teor da argila total, evidenciando a fragilidade destes perfis a dispersão natural da argila e enfraquecimento dos agregados, o que pode elevar a suscetibilidade destes solos à erosão hídrica. No aspecto químico estes solos possuem uma deficiência significativa dos principais minerais analisados, o que é bastante compreensível visto que estes nutrientes encontram-se na fração argila e esta tem uma participação bastante discreta na composição destes perfis.

Tabela 2. Dados morfológicos relativos à sequência dos horizontes, textura, transição entre horizontes e raízes dos Neossolos Quartzarênicos. Perfil V1 V2 V3 V4 Hz Prof. Areia Silte Argila Total cm ---------------------g kg -1 ---------------------- Argila Natural Raízes Transição entre horizontes* Ap 0 20 955 18 27 7 muitas ir cl A 20 65 947 15 38 8 comuns pl gr C1 65 94 844 34 122 84 poucas cl gr C2 94-150+ 905 29 66 29 poucas A 0 12 942 28 30 18 muitas ir ab C1 12 40 947 30 23 21 comuns cl pl C2 40 80 923 31 46 33 poucas pl gr C3 80 160+ 846 42 112 59 raras A 0 22 949 20 31 22 muitas cl pl C1 22 53 912 35 53 36 muitas cl pl C2 53 93 898 57 45 29 poucas pl gr C3 93 150+ 917 28 55 29 poucas A 0 20 949 14 37 11 muitas cl pl C1 20 66 930 39 31 19 comuns cl gr C2 66-100 915 37 48 36 poucas cl pl C3 100-170+ 947 22 31 7 raras *ir: irregular; cl: clara; pl: plana; gr: gradual; ab: abrupta; Os perfis de uma maneira geral apresentaram uma grande variação nos dados químicos, essa variação é comum levando-se em conta os diferentes locais onde foram coletados. O V1 apresentou melhores condições químicas em relação à disponibilidade de nutrientes para as plantas, mas mesmo este perfil apresenta baixa fertilidade natural capaz de comprometer a produtividade da maioria das culturas de grãos. O V4 apresentou condição química extremamente limitante ao desenvolvimento vegetal. Estas características são dependentes da reatividade dos constituintes minerais e orgânicos que compõem o solo. Foi verificado que os perfis apresentam teor de C org. muito baixo associado ao teor de argila também muito baixo, condição que restringe a qualidade destes solos. Segundo Siqueira Neto (2006), existe uma correlação, nos solos arenosos, entre a CTC e o teor de C org., assim, solos com pouca participação da fração argila em sua constituição, a matéria orgânica toma para si a reatividade do sistema. No entanto, esta relação não foi observada no V1 que apresentou valores baixos para as variáveis C org., argila e valores de CTC superiores aos demais perfis. Os valores relativamente elevados de CTC no V1 são resultados dos altos valores de Ca que, embora não sejam comuns para este tipo de solo, podem ocorrer devido a práticas antrópicas como adubações ou calagens.

Tabela 3. Dados químicos dos perfis de Neossolos Quartzarênicos. Perfis ph H 2 O Ca 2+ Mg 2+ K + Na + Al 3+ H+Al 3+ CTC C ph7,0 V% Al% org. --------------------------------------cmol c kg -1 ----------------------------------------- g kg -1 V1 Ap 5,1 4,6 1,0 0,44 0,27 0,3 1,3 7,5 83 4 0,92 V1 A 5,3 3,8 0,7 0,26 0,27 0,3 1,1 6,1 83 5 0,30 V1 C1 5,4 4,0 0,8 0,20 0,27 0,2 1,5 6,7 78 3 0,66 V1C2 5,4 4,4 0,9 0,20 0,40 0,2 1,1 7,0 85 4 0,23 V2 A 5,4 3,0 0,5 0,52 0,48 0,2 1,9 6,4 71 5 1,17 V2 C1 5,4 0,8 0,1 0,29 0,35 0,5 2,3 3,9 42 24 1,27 V2 C2 5,3 0,3 0,1 0,20 0,30 0,4 2,1 2,9 29 32 0,45 V2 C3 5,3 1,4 0,2 0,17 0,27 0,4 1,7 3,7 55 17 0,24 V3 A 5,0 2,2 0,4 0,38 0,22 0,2 1,9 5,0 63 5 1,96 V3 C1 5,1 0,9 0,2 0,13 0,14 0,4 1,9 3,2 41 23 0,67 V3 C2 5,2 0,9 0,1 0,05 0,05 0,5 2,3 3,3 32 33 0,62 V3 C3 5,2 0,1 0,1 0,04 0,11 0,5 2,5 2,8 12 60 0,18 V4 A 4,8 0,1 0,1 0,13 0,32 0,5 2,7 3,2 17 48 0,91 V4 C1 5,0 0,3 0,1 0,08 0,22 0,6 2,5 3,2 22 45 0,77 V4 C2 5,3 0,0 0,0 0,03 0,16 0,4 2,7 2,9 8 62 0,49 V4 C3 5,2 1,1 0,1 0,05 0,18 0,4 2,3 3,7 38 22 0,27 Os valores de ph, Al 3+ trocável e H+Al foram baixos, sugerindo uma baixa acidez quando comparados a outras classes de solos. No entanto, uma análise mais apurada mostra que no V3 e no V4 os valores de Al% sugerem maior atividade destes cátions ácidos quando comparados aos básicos. O uso das áreas com Neossolo Quartzarênico do Sudoeste do Rio Grande do Sul com pastagens, sem o manejo adequado com reforma e reposição de nutrientes, culmina em reduções mais acentuadas da fertilidade e da matéria orgânica do solo, além de favorecer o desenvolvimento de grandes voçorocas, degradando irreversivelmente o ambiente. Enfatiza-se, ainda, a necessidade de mais pesquisas na região, nas áreas de solos arenosos para viabilizar o aproveitamento das terras dentro de uma perspectiva de desenvolvimento social, preservação ambiental e balanço econômico favorável. Conclusão Os dados morfológicos, físicos e químicos dos Neossolos Quartzarênicos analisados sugerem elevada suscetibilidade a erosão hídrica e eólica e baixa fertilidade natural. Estes solos devem ser utilizados com cuidado para evitar danos ambientais irreparáveis resultantes do processo de voçorocamento. Literatura citada BRASIL, Ministério da Agricultura. Divisão de Pesquisa Pedológica. Levantamento de reconhecimento dos solos do Rio Grande do Sul. Recife: DNPEA-MA, 1973. 431p. (Boletim Técnico N 30)

CORRÊA, A.A.M. O deserto de Jalapão. Boletim informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.22, n.3, p.134-136, 1997. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro,1999. 412p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA BRASILEIRA. Centro Nacional de Pesquisas de Solos. Manual de métodos de análises de solo. 2.ed. Rio de Janeiro, 1997. 212p EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA BRASILEIRA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro,2006. 306p. KER, J.C.; PEREIRA, N.R.; CARVALHO JÚNIOR, W.; CARVALHO FILHO, A. Cerrados: solos, aptidão e potencialidade agrícola. In: SIMPÓSIO SOBREMANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLONOCERRADO, 1990, Goiânia. Anais... Goiânia, 1992. p.1-31. MALUF, J. R. T. Nova classificação climática do Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 8, n. 1, p. 141-150, 2000. OLIVEIRA, J.R.A.; MENDES, I.C.; VIVALDI, L. Carbono da biomassa microbiana em solos de cerrado sob vegetação nativa e sob cultivo: avaliação dos métodos fumigação-incubação e fumigação-extração. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.25, n.4, p.863-871, 2001. SALES, L. E. O.; CARNEIO, M. A. C.; SEVERIANO, E. C.; OLIVEIRA, G. C.; FERREIRA, M. M. Qualidade física de Neossolo Quartzarênico submetido a diferentes sistemas de uso agrícola. Ciência Agrotécnica, Lavras. v. 34, n. 3, p. 667-674, maio/jun., 2010. SANTOS, R. D.; LEMOS, R. C.; SANTOS, H. G.; KER, J. C.; ANJOS, L. H. C. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 5. ed., Viçosa: SBCS, 2005. 100 p. SIQUEIRA NETO, M. Estoque de carbono e nitrogênio do solo com diferentes usos no cerrado em Rio Verde. 2006. 159p. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, Piracicaba. SPERA, S.T.; REATTO, A.; MARTINS, E.S.; CORREIA,J.R.; CUNHA, T.J.F. Solos arenoquartzosos no Cerrado: problemas, características e limitações ao uso. Planaltina: Embrapa Cerrados, 1999. 48p. (Documentos, 7).