Universidade de São Paulo Escola de Comunicação de Artes

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Transcrição:

Universidade de São Paulo Escola de Comunicação de Artes Operação Margem Protetora: estigmas sociais no discurso jornalístico israelense Orientadora Professora Doutora Rosana de Lima Soares Projeto de Iniciação Científica Manuela Ferraro 2018

Resumo Essa pesquisa tem como objetivo analisar o discurso jornalístico sobre a Operação Margem Protetora nos veículos israelenses, que ocorreu em julho e agosto de 2014. O principal enfoque será a construção de estigmas sociais nas notícias, editoriais e escolhas imagéticas dos veículos. Introdução No dia 12 junho de 2014, três jovens israelenses desapareceram. Seus corpos foram achados 18 dias depois, perto da cidade de Telem, após uma grande operação de busca e apreensão do exército. Israel atribuiu os crimes ao Hamas, partido que governa a Faixa de Gaza desde 2007. No dia 2 de julho, em um 1 ato de aparente vingança, um garoto palestino de 16 anos, chamado Mohammed Abu Khdeir foi raptado e queimado vivo por extremistas judeus no lado leste de Jerusalém. A tensão na região aumentou rapidamente, alimentada por uma crescente e extrema retórica 2 anti-palestina. Uma série de protestos eclodiu em todo território ocupado e mísseis foram lançados por grupos armados palestinos da Faixa de Gaza em direção à região sul de Israel. Esse foi o estopim para a operação Protective Edge (Margem Protetora) deflagrada pelas Forças Armadas de Israel na Faixa de Gaza no dia 8 de julho de 2014, que ocorreu em três fases, uma área, uma terrestre e outra com bombardeios aéreos e cessar fogo alternado. O conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas criou uma comissão independente para analisar as operações deflagradas na Guerra de Gaza, a partir do dia 13 de junho de 2014, tanto para investigar as violações de direitos humanos alegadas quanto para examinar os mecanismos de accountability existentes e o impacto do conflito nas populações afetadas. O relatório, lançado no ano seguinte apontou o descumprimento da lei humanitária internacional tanto por Israel - também criticado pela falta de colaboração com a comissão - quanto pelos grupos armados Palestinos. Mas a Guerra de Gaza ultrapassou suas dimensões físicas. Pela primeira vez no conflito israelo palestino, o twitter e o facebook foram usados como ferramentas de jornalismo em tempo real, com repórteres noticiando para o exterior diretamente de Gaza. As duas mídias também foram plataformas de 3 propaganda política, responsáveis por divulgar diversas imagens e informações falsas ou distorcidas. Mesmo o nome da operação foi alvo de disputa e teve seu significado modificado na tradução para o 4 inglês para transmitir uma conotação mais defensiva para a ação dos militares. 1 https://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/mohammed-abu-khdeir-murder-israeli-man-convicted-of-b urning-palestinian-teenager-to-death-in-revenge-a6991251.html#gallery 2 Report of the independent commission of inquiry established pursuant to Human Rights Council resolution S-21/1 1* 2** 3*** 3 http://palestinemonitor.org/details.php?id=e7z1qda9081yb6zdofu12 4 https://www.timesofisrael.com/name-protective-edge-doesnt-cut-it/

Historicamente, a mídia israelense tem adotado uma postura mobilizada durante períodos de grande tensão. Ela também ocupa um lugar central na deslegitimação de protestos palestinos, ajudando, desse modo, a reproduzir divisões entre judeus e palestinos (RINNAWI, 2007). Dentro desse cenário de graves violações de direitos humanos, do uso principiante e crescente das mídias sociais e de uma guerra de palavras, significados e propaganda, como a mídia israelense construiu discurso sobre palestinos e israelenses durante a cobertura da Guerra de Gaza? Objetivos O objetivo dessa pesquisa é analisar a construção do discurso jornalístico israelense sobre a operação Margem Protetora, principalmente como ela elabora e dispõe estigmas sociais. Para isso, propõe-se a selecionar e examinar matérias de uma amostra representativa de veículos israelenses nos principais momentos do conflito. A análise observará alguns critérios, como a seleção de pautas, as escolhas imagéticas, os aspectos narrativos e discursivos, e a relação entre o público e a publicação, para entender como o jornalismo media o lugar de personagens que carregam esses estigmas, ou essas categorias invariantes que despertam nos outros, ao mesmo tempo, sentimentos de atração e repulsa (Soares, 2012). Metodologia A primeira parte da pesquisa se concentrará no aprofundamento bibliográfico sobre o tema estabelecido. Logo em seguida, será selecionada uma amostra representativa dos veículos israelenses e também uma amostra de notícias, editoriais e reportagens mais importantes para a leitura do período. Em um segundo momento, as matérias serão analisadas de acordo os conceitos da Análise de Discurso Crítica (ADC), que é norteada por três esferas: o contexto sociocultural de produção, os conteúdos dirigidos ao leitor, a apropriação e recepção do público, compreendendo as esferas da descrição, da análise e da interpretação. O foco principal da análise serão os estigmas sociais relacionados a palestinos e israelenses, seus modos de produção e reprodução em narrativas midiáticas e os discursos a eles relacionados. Referências Bibliográficas BARTHES, R. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 2006. BARTHES, R. Introdução à análise estrutural da narrativa. In: Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 1976. BRANDÃO, H. N. Analisando o discurso. Portal da Língua Portuguesa (mimeo.), s/d.

BRANDÃO, M. H. N. Introdução à análise do discurso. 2a. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1993. DEARDEN, L. Mohammed Abu Khdeir murder: Israeli man convicted of burning Palestinian teenager to death in revenge killing: Judges dismissed an insanity plea by Yosef Haim Ben David's lawyers. Disponível em: < https://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/mohammed-abu-khdeir-murder-israeli-man-con victed-of-burning-palestinian-teenager-to-death-in-revenge-a6991251.html#gallery >. Acesso em: 19 abr. 2016. ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os Estabelecidos e os Outsiders Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: UnB, 2001. FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. FREUD, S. Psicologia de grupo e análise do ego. Rio de Janeiro: Imago, 1972. GOFFMAN, E. Estigma. 2 a. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978. GOMES, M. R. Jornalismo e ciências da linguagem. São Paulo: Edusp, 2000. LIEBES, T; KAMPF, Z. Routinizing Terror: Media Coverage and Public Practices in Israel, 2000-2005. Harvard International Journal Of Press/politics, [s.l.], v. 12, n. 1, p.108-116, jan. 2007. SAGE Publications. http://dx.doi.org/10.1177/1081180x06297120. RINNAWI, K. De-legitimization of Media Mechanisms. International Communication Gazette, [s.l.], v. 69, n. 2, p.149-178, abr. 2007. SAGE Publications. http://dx.doi.org/10.1177/1748048507074927. SERELLE, M. V.; SOARES, R. L. Mediações críticas: representações na cultura midiática. São Paulo: ECA/USP, 2017. SOARES, R. L.; GOMES, M. R. Por uma crítica do visível. São Paulo: ECA/USP, 2016. SOARES, R. L.;. Narrativas da notícia: jornalismo e estigmas sociais. Animus : Revista interamericana de comunicação midiática, Santa Maria, v. 3, n. 1, p.71-79, jan. 2004.