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Transcrição:

meditando a palavra 3

Pe. Augusto César Pereira, SCJ Meditando a Palavra 3 Páscoa

Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes Revisão: Iranildo Bezerra Lopes Caio Pereira Diagramação: Dirlene França Nobre da Silva Capa: Marcelo Campanhã Ilustrações da capa: Periodici San Paolo S.r.l. La Domenica / Nino Musio Impressão e acabamento: PAULUS 1ª edição, 2015 PAULUS 2015 Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 São Paulo (Brasil) Fax (11) 5579-3627 Tel. (11) 5087-3700 www.paulus.com.br editorial@paulus.com.br ISBN 978-85-349-4105-1

Às Equipes de Pastoral Litúrgica conscientes de seu serviço de animação e educação litúrgica de nossas comunidades espalhadas por todo o Brasil.

ABREVIATURAS DOS LIVROS DA BÍBLIA (em ordem alfabética) Ab Ag Am Ap At Br Abdias Ageu Amós Apocalipse atos dos Apóstolos Baruc Js Jt Jz Lc Lm Lv Josué Judite Juízes Evangelho segundo Lucas Lamentações Levítico Cl 1Cor 2Cor 1Cr 2Cr Ct Colossenses 1ª Coríntios 2ª Coríntios 1º Crônicas 2º Crônicas Cântico dos Cânticos Mc 1Mc 2Mc Ml Mq Mt Evangelho segundo Marcos 1º Macabeus 2º Macabeus Malaquias Miqueias Evangelho segundo Mateus Dn Dt Ecl Eclo Ef Esd Est Ex Ez Fl Fm Gl Gn Hab Hb Is Daniel Deuteronômio Eclesiastes Eclesiástico Efésios Esdras Ester Êxodo Ezequiel Filipenses Filêmon Gálatas Gênesis Habacuc Hebreus Isaías Na Ne Nm Os 1Pd 2Pd Pr Rm 1Rs 2Rs Rt Sb Sf Sl 1Sm 2Sm Naum Neemias Números Oseias 1ª Pedro 2ª Pedro Provérbios Romanos 1º Reis 2º Reis Rute Sabedoria Sofonias Salmos 1º Samuel 2º Samuel Jd Jl Jn Jó Jo 1Jo 2Jo 3Jo Jr Judas Joel Jonas Jó evangelho segundo João 1ª João 2ª João 3ª João Jeremias Tb Tg 1Tm 2Tm 1Ts 2Ts Tt Zc Tobias Tiago 1ª Timóteo 2ª Timóteo 1ª Tessalonicenses 2ª Tessalonicenses Tito Zacarias Abreviaturas dos livros da Bíblia 7

INTRODUÇÃO Celebrar a Páscoa Celebrar é palavra de origem latina que significa tornar célebre, lembrar, para não ser esquecido. Logo, quanto mais celebrado, mais lembrado e menos esquecido. Existem tantas pessoas célebres, momentos célebres, isto é, que devem ser lembrados, para não cair no esquecimento do povo. A Páscoa de Javé Os judeus celebravam o grande fato da saída da escravidão do Egito e entrada na terra prometida, para que essa manifestação de Javé fosse sempre lembrada, e não esquecida pelas gerações. No entanto, não foi o povo que inventou a celebração. Javé sabia da importância de não esquecer as maravilhosas intervenções dele na formação do povo. Para o povo manter-se coeso, Javé deu-lhe a lei anual e perpétua para todas as gerações celebrarem a Páscoa. Até a data da celebração da Páscoa foi determinada por Deus: na primavera, que era o primeiro mês do ano, no dia 14 de Nizã, que corresponde, em nosso calendário, ao primeiro domingo de outono, entre março e abril (cf. Ex 12,1-14). A Bíblia confirma que o povo, logo que tomou posse da terra prometida, celebrou a Páscoa, conforme é narrado em Josué (Js 5,10-11). Também o livro das Crônicas registra a celebração da Páscoa em Jerusalém, com Josias (2Cr 35,1). Outra informação de celebração da Páscoa refere-se à volta do exílio na Babilônia (Esd 6,19-22). Introdução 9

O significado da palavra Páscoa (pesach) é passagem de uma para outra situação. Também encontrei a explicação interessante de salto para a frente, indicando direção. De fato, a Páscoa dos judeus abriu novos caminhos em direção à liberdade e soberania do povo (cf. Ex 23; 27). O grande símbolo da libertação do povo está no sangue com que pintaram a soleira da casa. O sangue distinguia o judeu e o poupava do extermínio e dava condições de sair para a liberdade, a caminho da terra de Canaã; embora marcar com sangue de animais as portas fizesse parte da tradição popular de proteção contra os ataques do demônio ao rebanho e à família (cf. Ex 12,23). Jesus na e da Páscoa Jesus Cristo participou da celebração da Páscoa judaica quando foi a Jerusalém aos doze anos (Lc 2,41-42). Ele próprio celebrou a Páscoa nos últimos dias de sua vida. Porém, a maior celebração de Jesus foi a Páscoa dele próprio. Já no final da ceia pascal judaica com os apóstolos, ele instituiu a ceia pascal cristã e autorizou a celebrá-la em sua memória (Lc 22,14-20). Por isso se diz que a Páscoa dos judeus é a mãe da Páscoa cristã. Nas reflexões que seguem, perceberemos que alguns elementos contidos na Páscoa judaica foram aproveitados por Jesus ao instituir a Páscoa cristã. Por exemplo, a partilha, a vida, a lembrança dos feitos de Deus pelo povo, a libertação e a fundação do povo judeu, entre outros. Os cristãos celebram, isto é, recordam as maravilhosas intervenções de Deus, para que jamais sejam esquecidas pelas gerações presentes e futuras. Na Páscoa cristã, o povo lembra os acontecimentos memoráveis da história da salvação, para que jamais possam ser esquecidos. A cada ano, a celebração da Páscoa aviva a lembrança e reforça a memória de tantas maravilhas. Quanto mais celebrada, mais lembrada é a Páscoa. Quanto mais celebrada e lembrada, mais a Páscoa estará marcada na memória do povo de Deus! 10 Meditando a Palavra 3

Identidade e missão Celebrar é muito importante para manter a memória do povo. Auxilia na formação da cidadania. Dá entusiasmo para reforçar os laços de amizade e solidariedade entre o povo. Celebrar leva as pessoas a estreitar os laços comuns. Celebrar dá novas forças para o povo enfrentar os desafios e construir o futuro. Celebrar irmana as pessoas e faz a base da identidade e da missão do povo. A liturgia é educadora Na Igreja Católica, a liturgia é a grande pedagoga, a educadora que forma o povo para a vida cristã. Importa notar que o cristão não é apenas um carimbado com o selo de Cristo. O cristão é quem segue Jesus Cristo. Seguir não significa ir atrás como fã, mas é viver concretamente o estilo de vida de Jesus Cristo. A liturgia vai dando-nos razões que convencem a prosseguir no modelo de Jesus Cristo. O tempo da Quaresma nos ajuda na revisão de vida e decisão de retornar ao melhor da vida cristã. Particularmente na Semana Santa e, especialmente, no Tríduo Pascal, a liturgia educa para nos decidirmos a viver a Páscoa de Cristo na vida cotidiana. É a passagem de Jesus em nossa vida e em nosso tempo. Nós não podemos nos comportar como simples espectadores que vão à igreja para ver o espetáculo. Não se trata de um teatro para admirar. Aliás, muitas das chamadas encenações da Paixão não passam de espetáculo. Espetáculo que pode até comover a plateia, mas não aterrissa na vida do dia a dia. Pois é nesse cotidiano que acontece a Paixão de Cristo, na paixão do povo; a Ressurreição de Cristo, na ressurreição do povo. A Páscoa de Cristo é a nossa Páscoa, hoje, aqui onde estamos. Estejamos atentos às orientações de nossa mestra, a liturgia. Não se trata de ingênuo oba-oba, pois a liturgia é vida e educa para a vida cristã. Visão de conjunto do Tríduo Pascal A Páscoa, em muitas gerações passadas, era uma festa de pastores que celebravam o nascimento das ovelhas. Depois pas- Introdução 11

sou a ser celebrada com a festa dos pães ázimos, festa agrícola, principalmente na terra de Canaã. A Páscoa judaica passou a ser escrita, para levantar o ânimo do povo no exílio da Babilônia. Era importante lembrar ao povo sofrido que Javé o havia tão maravilhosamente libertado da escravidão no Egito e que faria o mesmo na situação de opressão na Babilônia. Porque a libertação do Egito passou a ser o início da história nacional de Israel. Daí o costume de celebrar os grandes feitos de Javé em favor de seu povo, principalmente nas situações mais difíceis. Portanto, a Páscoa dos judeus deve ser lida, entendida e celebrada como memorial da libertação do povo por ações diretas de Javé. Este era o motivo de celebrar a Páscoa. Apresentava os fatos de vitória sobre o poder de opressores, a partilha da terra e dos bens, o sangue dos animais como sinal de defesa e promoção da vida e memorial tanto da libertação dos sofrimentos como das alegrias da fundação de um povo livre, soberano e estabelecido em seu chão. O mistério pascal de Jesus Cristo é o conteúdo essencial e insubstituível da fé cristã. Por isso, todo o ano litúrgico é a celebração da Páscoa, todas as vezes que o celebramos até que ele venha (1Cor 11,26). Tudo é Páscoa na Ressurreição do Senhor. Cada tempo litúrgico encarna a seu modo a celebração da Páscoa. Também a celebração dos santos, particularmente dos mártires. O tempo pascal começa com o Tríduo Pascal na Quinta- -feira Santa, com a missa vespertina da ceia do Senhor, seguida da Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor; e do Sábado Santo com a missa da vigília pascal. O próprio Jesus não quis esses acontecimentos todos num só dia. Ele viveu esses três momentos em dias diferentes, como está na Bíblia. E nós, celebrando esses três momentos também em três dias diferentes, podemos aprofundar e saborear muito mais o significado de cada um desses dias para Jesus e para nós. A celebração da Páscoa acontece em três momentos ou dimensões: na Quinta-feira Santa, na Sexta-feira Santa e no Sábado Santo. São três dias para celebrar o acontecimento gigantesco da Páscoa. A liturgia católica conta os dias conforme o sistema 12 Meditando a Palavra 3

judaico. Para os judeus, o dia começa quando aparece a primeira estrela no céu. Portanto, para nós, à noitinha. Porém, não importa o número de dias, mas o significado de cada celebração. Não são celebrações isoladas, cada uma para si, mas mostram o mistério pascal de Jesus Cristo Salvador no total inteiramente global. Logo, o Tríduo Pascal não é apenas uma preparação para a Páscoa, mas é a própria Páscoa celebrada em três dias. O Tríduo Pascal começa com a celebração da Ceia do Senhor na quinta-feira à noite e termina com o canto de Vésperas ou a missa paroquial do domingo à tarde (Guia Litúrgico-Pastoral/CNBB, p. 11, n. 1.3; NALC = Normas para o ano litúrgico e o Calendário 18). Quinta-feira Santa Na ceia pascal judaica, que Jesus, como judeu que era, celebrou e no final instituiu o novo mandamento do amor, o lava- -pés e a Eucaristia são celebrados em função do mandamento do amor. Tudo se torna novo com o amor. Lava-pés Simboliza o amor com que Jesus se colocou a serviço da salvação do povo. Na ceia da Páscoa judaica, ele se veste com o avental de serviço para lavar os pés dos apóstolos. O Mestre e Senhor lava os pés. Esse ato não é sinal da humildade de Jesus, mas do amor que o leva a servir aos irmãos. O avental é veste de quem se põe a serviço. Assim fez Jesus; assim devem fazer os discípulos uns aos outros. Jesus dá novo significado ao serviço entre irmãos. Eucaristia A Eucaristia é a celebração da entrega de Jesus pelo povo. O gesto de comer o pão e de beber o vinho consagrado é o sinal que faz acontecer na missa a entrega de Jesus na cruz. A maneira é diferente, mas a entrega é a mesma. Essa é a nova ceia da nova aliança. Então, foi a última ceia de Jesus com seus discípulos e, ao mesmo tempo, é a primeira ceia do Novo Testamento. Introdução 13

Sexta-feira Santa A cruz é o grande serviço prestado por Jesus em favor do povo de Deus. A cruz não representa apenas a morte de Cristo, ela representa o amor com que Jesus se entregou. A cruz é a expressão do extremo a que pode chegar quem ama. O amor anunciado na Quinta-feira Santa celebra-se na Sexta- -feira Santa. Jesus não procurou a cruz. Ele aceitou a cruz, castigo do Sinédrio, que se opôs ao ensinamento de Jesus. Não quis a cruz, mas também não fugiu dela. Abraçou-a como preço e tomada de atitude para testemunhar o seu amor pelo povo. Mais importante que o tipo de morte de Jesus é o sentido que ele deu à sua entrega. A cruz e a morte são símbolos visíveis para todos da oblação de Cristo pelo resgate da humanidade, por amor. O amor é muito mais importante que a cruz e a morte! Usamos a cruz nas igrejas, nas paredes, pendurada ao peito, para lembrar o limite do amor com que Jesus fez sua entrega pela salvação do povo. O crucifixo pascal O crucifixo pascal encerra o significado de Jesus fixado na cruz. Porém, se ele está ressuscitado, por que tanto destaque para o crucifixo? É para lembrar permanentemente que o ressuscitado é o mesmo que foi crucificado, morto e sepultado. Quem foi crucificado, morto e sepultado não é um simples dublê, como os que substituem o ator principal do filme em cenas de maior perigo. Jesus, fixo na cruz, ressuscitou sem querer apagar da memória o sofrimento. Na verdade, a salvação da humanidade não precisava ser pela morte na cruz, porque a cruz era o castigo dos malfeitores, era um vexame muito grande. Jesus mudou o símbolo da cruz para ser o símbolo do amor, pelo qual ele aceitou dar sua vida pela humanidade. Não foi, portanto, o sacrifício que nos salvou, mas o extraordinário amor com que Jesus aceitou o caminho da nossa salvação: o Pai não hesitou em oferecer, no Mistério de Cristo, o seu imenso amor pela humanidade. 14 Meditando a Palavra 3

Devemos lembrar sempre que a paixão de Jesus Cristo foi por amor. Era preciso um gesto de grande impacto para Jesus dar a maior prova de que ele ama a humanidade. Jesus não só disse que dar a vida é a maior prova de amor, ele disse e fez! Por isso o crucifixo é um símbolo pascal que anuncia que o sofrimento é provisório, porque logo ressurgirá a vida. A adoração da cruz A cruz, portanto, tornou-se o símbolo preferido do povo cristão para recordar quanto o Senhor nos amou que chegou até tal extremo. De maneira que não se adora a cruz, mas o símbolo nos faz subir até o seu significado, que é o Cristo morto nela. Sábado Santo É o Sábado Santo da vigília pascal. Vigília não significa a véspera. Vigília é a atitude de quem está acordado, esperando acontecer alguma coisa importante. É a expectativa ansiosa pelo que vem. O terceiro enorme momento/dimensão é celebrado na Páscoa gloriosa, na esplêndida vitória da vida recuperada e repartida em abundância na vigília pascal. Pela Ressurreição, a Páscoa está completa. A Ressurreição garante a toda a humanidade a libertação da morte pela vida nova e a libertação do pecado pela graça do amor. A vigília pascal, no sábado à noite e adentrando a madrugada, faz parte da celebração do domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor, pois ela celebra o acontecimento maior da humanidade e da Igreja. Não se trata apenas de um cadáver que se tornou vivo. A Ressurreição é a vitória da vida sobre a morte; do amor sobre o pecado. É o cumprimento definitivo da promessa de salvação feita pelo Pai. É a confirmação de todo o mistério de Jesus Cristo em sua vida, pregação, perseguições, morte, sepultura e exaltação. A Ressurreição é o fato que não deixa dúvidas sobre Jesus Cristo ungido e enviado para a missão salvadora. Com a celebração da Ressurreição na madrugada do domingo é encerrado o Tríduo Pascal. No Tríduo Pascal se reúnem as três dimensões da Páscoa que enfocamos nos três dias: a dimensão celebrativa na Quinta- Introdução 15

-feira Santa; a dimensão dolorosa na Sexta-feira Santa; e a dimensão gloriosa na vigília pascal na Ressurreição, no Sábado Santo. É por isso que os três dias recebem o nome de Tríduo Pascal. Mas o que dá importância ao tríduo é que ele é pascal, isto é, celebra as três grandes dimensões da Páscoa. O Tríduo Pascal é o distintivo, é a identidade da liturgia cristã católica. São três Páscoas? Não! A Páscoa é uma realidade tão grande que envolve três grandes celebrações. A Páscoa encerra toda a vida de Jesus, desde que inaugurou sua passagem entre nós pela encarnação no útero da Virgem Maria até os últimos momentos. Esses grandes momentos/dimensões são o lava-pés com o mandamento do amor, a morte e a ressurreição. Por tudo isso, com o Tríduo Pascal começa a Páscoa. O Tríduo Pascal é Páscoa. O Tríduo Pascal, começado na ceia do Senhor, na quinta- -feira, termina no domingo da Páscoa. Portanto, são três celebrações de três grandes acontecimentos da vida de Jesus em três dias, para celebrar uma só Páscoa. Daí a Igreja insistir que só celebra a Páscoa inteira quem se faz presente nas três celebrações do Tríduo Pascal. Percebe-se, então, que o Tríduo Pascal é um só, uma só comemoração celebrada em três momentos para a comunidade poder, mais profundamente, meditar em cada momento. É muito importante educar a comunidade para o seguinte: o Tríduo Pascal celebra o mistério de Jesus Cristo morto e ressuscitado. As três celebrações, uma em cada dia, não são independentes uma da outra. Tanto são unidas que a Igreja exige que se celebrem as três; não se pode escolher só uma ou duas delas. Como se trata de mistério pascal, a equipe de liturgia pode pensar que, sendo um mistério que ninguém entende, faz-se necessário enfeitar a celebração com muitos acréscimos. Não! O mistério nada esconde: o mistério revela o que se celebra. O símbolo do lava-pés, o símbolo da cruz, o círio pascal (entre tantos) não escondem nada. Eles levam a comunidade a entender cada rito da celebração do mistério pascal. O perigo é que os acréscimos, esses, sim, desviam a comunidade daquilo que se celebra. 16 Meditando a Palavra 3

O Tríduo Pascal é o distintivo, é a identidade da fé cristã. Portanto, a Semana Santa é Páscoa. Podemos chamar os dias que precedem a Páscoa não só de Semana Santa, mas Semana Santa Pascal. Por quê? Porque todas as celebrações da Semana Santa celebram o mistério pascal de Jesus Cristo. Páscoa É a passagem de Jesus Cristo pelo nosso mundo, desde o nascimento até o seu prometido retorno ao mundo para fundar o novo céu e a nova terra. Hoje, vivemos a esperança de que a Páscoa de Jesus Cristo se complete com a prometida segunda vinda. Não somente os três dias, nem mesmo só os sete dias, mas a Páscoa não se entende pela quantidade de dias em que acontece, mas pelas suas dimensões. O dia tem a manhã, a tarde e a noite. São diferentes momentos de um só dia. Não podemos falar em dia sem considerar as três etapas. Nota: Recomendo vivamente o livro do Pe. José Bortolini intitulado Roteiros homiléticos, editado pela Paulus, com abundância de esclarecimentos sobre os textos usados na liturgia. Indicado para sacerdotes que proferem homilias, ministros da palavra e para os apreciadores sedentos da Palavra de Deus. Sugestões para sua reflexão pessoal diária Para que os temas propostos penetrem na sua vida e você obtenha maior proveito, ofereço-lhe os seguintes passos: 1. Leia calmamente ao menos o Evangelho indicado para cada dia. 2. Faça uma oração ao Espírito Santo para que ele inspire o início, o caminho e a conclusão de sua reflexão. 3. Formule um propósito a partir da meditação feita. 4. Encerre pedindo a força do Espírito para que a resolução que você tomou hoje o leve a testemunhar realmente o seu compromisso cristão. 5. Procure dar atenção à reflexão diária do papa Francisco, especialmente nos domingos e nas quartas-feiras. Introdução 17

Nota: Para quem desejar acompanhar a celebração do dia a dia de cada tempo litúrgico na liturgia da Igreja Católica, recomendo, pois é sumamente útil, que tenha em mãos o chamado Diretório Litúrgico, ou seja, o calendário litúrgico diário, que pode ser adquirido nas livrarias católicas, que oferecem vários modelos. Sugestões para a reflexão em grupo Se este encontro for semanal, é livre a escolha de algum dos temas oferecidos neste livro. Neste roteiro, sugiro fazer confronto entre a prática de Jesus Cristo e a prática da comunidade. 1. Como fazia Jesus Cristo? 2. Como faz a nossa comunidade? 3. O que podemos manter e aperfeiçoar? 4. O que precisamos transformar? 5. Quais decisões tomar para transformar alguma situação? Durante a reflexão, é necessário que o grupo mantenha um clima de oração. Um dos participantes pode fazer, espontaneamente, uma oração de encerramento. Bom proveito! 18 Meditando a Palavra 3